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Análise biofotogramétrica das principais 

alterações posturais da coluna vertebral em escolares

Análisis biofotogramétrico de las principales alteraciones posturales de la columna vertebral en escolares

Biophotogrammetric analysis of main postural changes of spine in scholars

 

*Mestrado e Doutorado em Ciência do Desporto. UCB / UTAD, Portugal

**Docente da Universidade Estadual de Montes Claros. UNIMONTES, MG

Membro do Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício

e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM/UNIMONTES

***Mestre em Educação Física UCB / UTAD. Docente da UNIMONTES

***Graduação em Educação Física

(Brasil)

Jean Claúde Lafeta*

jclafeta@yahoo.com.br

Jaime Lisboa Gondin**

jaime_lisboa@yahoo.com.br

Geraldo Magela Durães***

gmdmoc@yahoo.com.br

Ênio Pacífico Faria Junior***

eniopacifico@yahoo.com.br

Marcel Guimarães da Silveira****

marcel@viamoc.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Vários estudos têm demonstrado grande prevalência de desvios posturais em escolares. Entretanto, são limitadas as evidências avaliadas através da análise biofotogramétrica. Portanto, este estudo teve como objetivo verificar as principais alterações posturais da coluna vertebral em escolares, através da biofotogrametria computadorizada. Esta pesquisa pode ser caracterizada como descritiva, como corte transversal e análise quantitativa dos dados. A amostra foi composta por 51 estudantes, de ambos os sexos, com idade entre 11 e 17 anos. Para a coleta foram utilizados uma ficha de avaliação física, uma câmera digital com tripé, balança digital com estadiômetro, uma plataforma com nivelamento por bolhas de ar, fita métrica, etiquetas e marcadores anatômicos. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento (responsáveis), e logo após foram submetidos à análise postural estática pela biofotogrametria e ao índice de massa corporal - IMC (peso e estatura). No tratamento dos dados recorreu-se à estatística descritiva, com médias, desvio-padrão e freqüências. Para comparar os principais desvios posturais em relação ao gênero foi empregado o teste não-paramétrico Mann-Whitney, com nível de significância de 5%. Como resultados evidenciaram-se dados preocupantes, pois todos os estudantes investigados apresentavam protusão de cabeça e algum grau de protusão do ombro E, 92,2% apresentavam escoliose torácica e 96,1% tinham assimetria (elevação) e protusão do ombro D. Com relação às alterações posturais entre os gêneros, houve uma diferença significativa apenas na lordose lombar (p= 0,006) e protusão do ombro E (p= 0,029), sendo mais acentuados nos rapazes.

          Unitermos: Biofotogrametria. Alterações posturais. Escolares.

 

Abstract

          Many studies have shown great prevalence of postural deviations in scholars. However, the evidences evaluated are limited through biophotogrammetric analysis. So, this study has as objective to verify the main postural changes of spine in scholars through the computed biophotogrammetry. This research can be characterized as descriptive and of cross-sectional, with quantitative analysis of data. The sample was composed by 51 students, of both sexes, with age between 11 and 17 years. To collect data, we used a physical evaluation form, a digital camera with tripod, digital balance with stadiometer, a platform with flatness by air bubbles, tape measure, label sand anatomical markers. All participants signed a consent term (responsible) and just after they were submitted to static postural analysis, for biophotogrammetry, and to Body Mass Index – BMI (weight and height). In treatment of data, we recurred to descriptive statistic, with averages, standard deviation and frequencies. To compare the main postural deviations, in relation to gender, it was applied the test Mann-Whitney, with level of significance of 5%. As results, it was evidenced worrying data because all students investigated presented protusion of head and some degree of protusion in shoulder. Furthermore, 92.2% presented thoracic scoliosis and 96.1% had asymmetry (elevation) and protusion in shoulder D. With relation to postural changes between genders, there was a significant difference only in lumbar lordosis (p=0.006) and protusion of shoulder E (p=0.029), being more evident in boys.

          Keywords: Biophotogrammetry. Postural changes. Scholars.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A coluna vertebral apresenta diversas características estruturais peculiares, tornando-a uma estrutura bastante versátil. Ela oferece suporte adequado ao corpo por ser rígida, fornece proteção a medula espinhal, e ao mesmo tempo proporcionam um elevado grau de flexibilidade (JACOB, 1990).

    Os maus hábitos posturais adotados diariamente pelo adolescente, favorecido pelo uso de mochilas escolares e maneiras incorretas podem trazer sérias complicações aos referidos jovens (POLITANO, 2006). Iunes et al. (2010) afirmam que hábitos inadequados podem influenciar na postura corpórea, produzindo, dessa maneira, maior tensão sobre as estruturas que as suportam, e assim acarreta um desequilíbrio de várias partes do corpo, surgindo o aumento de desvios posturais.

    Assim sendo, é fundamental avaliar e detectar as alterações posturais precocemente na infância e adolescência, aspecto importante no tratamento preventivo e com grande chance de sucesso. Diversos métodos para avaliar a postura têm sido utilizados e apresentados em vários estudos, como a avaliação biofotogramétrica computadorizada (SACCO; COSTA; AMADIO, 1997).

    Segundo Barreto (2003), a biofotogrametria computadorizada é uma ferramenta de quantificação da análise cinética e postural, sendo que para Schulz (2003), esse método proporciona diversos benefícios, é uma técnica não invasiva, com altos níveis de reprodução e repetibilidade dos resultados obtidos pelo o alto índice de precisão e o seu baixo custo financeiro.

    O ambiente escolar tem sido descrito como um local onde os estudantes permanecem grande parte do dia, mantendo-se, em muitas ocasiões, em posturas inadequadas e transportando seus materiais de forma incorreta. Assim, a escola deve tornar-se um ambiente onde se promova a educação postural, através de orientações para o manuseio de materiais escolares e manutenção de posturas adequadas tanto no ambiente escolar como domiciliar.

    Para Freire, Teixeira e Sales (2008) são limitadas as evidências na população brasileira acerca da associação entre os principais desvios osteoarticulares e hábitos posturais, principalmente relacionadas ao âmbito escolar. Neste contexto, esta investigação buscou avaliar através da biofotogrametria computadorizada, as principais alterações posturais da coluna vertebral em escolares.

Metodologia

    Essa pesquisa caracteriza-se como um estudo descritivo, com corte transversal e análise quantitativa dos dados coletados. A análise descritiva tem como principal finalidade traçar as características de uma determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de semelhança dentre as variáveis (GIL, 2002).

    Esse estudo foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES, com o parecer consubstanciado nº 2336/2011, autorizando assim o envolvimento de seres humanos na realização da pesquisa empírica. Esse trabalho buscou respeitar as normas éticas estabelecidas pelo Termo de Consentimento do Comitê de Ética, garantindo o anonimato da identidade dos indivíduos envolvidos.

    A população desta investigação foi composta por crianças e adolescentes de duas instituições de ensino público do município de Montes Claros - MG. A amostra foi constituída por 51 alunos, de ambos os sexos, com idade entre 11 a 17 anos, sendo selecionados de forma intencional por conveniência. Como critérios de inclusão os jovens deveriam estar regularmente matriculados, aceitar participar da pesquisa (responsáveis) e não apresentar patologias musculoesqueléticas recentes.

    Para a coleta de dados foi empregada uma ficha de autorização (gestor escolar), o termo de consentimento livre e esclarecido (responsáveis), um prontuário de avaliação física, balança digital (Balmak) com estadiômetro, câmera digital Dynacom Foccus – CC760/ 12 Megapixels, tripé WFWT 37/17, plataforma postural (Sanny), marcadores anatômicos (etiqueta auto-adesiva Pimaco com 14,5 mm de diâmetro).

    Após a autorização para a coleta de dados nas instituições de ensino e a aprovação pelo comitê de ética da Unimontes, os escolares e responsáveis foram informados sobre os procedimentos que seriam adotados na pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

    Os avaliados foram orientados a não realizar atividade física / esportiva no dia da análise postural. Em seguida, todos os sujeitos da amostra foram submetidos à avaliação física, constando de uma anamnese inicial (dados de identificação, estilo de vida, medicação utilizada, sintomatologia, etc.) e de um exame físico (peso, estatura, avaliação postural estática).

    Para o exame biofotogramétrico, foi realizada inicialmente a identificação e demarcação dos pontos anatômicos de forma manual (palpatória). Os pontos analisados ocorreram nos planos anterior, posterior e sagital. Em se tratando da angulação, a localização das referências anatômicas foi executada seguindo as orientações de Hoppenfeld (1987). Os pontos anatômicos que foram demarcados com as etiquetas auto-adesivas foram os processos espinhosos de C7, T7, T12, L3, L5, borda inferior das escápulas, acrômios, tragus da orelha e centro lateral dos ombros.

    Após a fixação das etiquetas auto-adesivas e para realizar a captação das imagens fotográficas, os jovens foram posicionados descalços na plataforma postural, trajando roupas de banho. As medidas de alinhamento foram realizadas em posição estática, sendo que os dois calcanhares foram mantidos a uma distância de aproximadamente 7,5 cm e a parte anterior de cada pé foi abduzida em 10º a uma linha mediana.

    O ambiente para a captação biofotogramétrica foi previamente preparado, contendo uma boa iluminação (natural), com um fundo branco postado numa parede atrás do aluno a uma distância de 15 cm, sendo que a câmera fotográfica permanecia a uma distância de 1,25m do avaliado e o centro de lente estava posicionada a um metro do solo (PAULA et al., 2004).

    Os dados foram analisados através do pacote estatístico Statistical Package for Social Science (SPSS - versão 17.0), no qual foi realizada a análise descritiva dos dados, com média, desvio padrão e freqüências. Para avaliar a distribuição da normalidade da amostra foi empregado o teste de Shapiro-Wilk. Já para comparar as características morfológicas com relação ao gênero, recorreu-se ao teste t de Student para amostras independentes. No entanto, para comparar as principais alterações posturais entre os sexos, empregou-se o teste não- paramétrico de Mann-Whitney, com nível de significância de 5%.

Análise e discussão dos resultados

    Nesse estudo a amostra foi composta por 51 escolares de duas instituições de ensino público, sendo que 58,9% (29) eram do gênero masculino, com média de idade de 14,0 (±1,95) anos e 43,1% (22) eram do feminino com média de idade de 13,4 (±1,47) anos. Com relação à prática regular de exercícios físicos, observou-se que a maior parte desses alunos, 62,7 % (32), praticava regularmente EF e 37,3% (19) não participavam dessa prática salutar.

Tabela 01. Análise Comparativa do IMC, peso e estatura entre os gêneros

    A tabela 01 está demonstrada a análise comparativa do IMC, peso e estatura entre os gêneros. Nesse sentido, observou-se que o peso corporal apresentava maiores índices nos meninos, porém o IMC das meninas demonstrou ser maior, embora de forma não significativa. No entanto, como preconizado pela literatura, apenas a estatura demonstrou uma diferença significativa (p=0,020) entre os sexos. Assim, os sujeitos da amostra demonstraram certa homogeneidade morfológica, que é fundamental para as análises biofotogramétricas comparativas entre os gêneros.

    Com relação à utilização de medicamentos, a maioria dos estudantes (98%) relataram não fazer uso freqüente e apenas 2% (1) utilizava remédios de forma regular. Ao analisar a sintomatologia dolorosa, averiguou-se que grande parte destes alunos não relatava algias em nenhum segmento corpóreo (62,7%), sendo principalmente afetados na coluna lombar (9,8%), coluna cervical, torácica e lombar (5,9%), pernas (5,9%), ombros (3,9%) entre outros. Já em relação à intensidade álgica, foi observado que a maioria dos jovens (19,6%) retratavam sentir dor considerada moderada e apenas 7,9% (4) dos avaliados demonstraram apresentar algias consideradas fortes ou insuportáveis.

    A sintomalogia dolorosa pode representar uma excessiva sobrecarga orgânica, a presença de um distúrbio tecidual em potencial ou em formação. De Vitta, Madrigal e Sales (2003) preconizam que as algias podem surgir de várias causas, e no ambiente escolar, podem estar relacionadas à sobrecarga imposta pela utilização do material escolar (mochila), sendo que o excessivo peso transportado provoca um acréscimo na compressão intradiscal, com maior exigência dos músculos paravertebrais.

Tabela 02. Análise comparativa das principais alterações posturais da coluna vertebral entre os gêneros

    Na tabela 02 está caracterizada a análise comparativa (em graus) das principais alterações posturais da coluna vertebral entre os gêneros. Dessa forma, constatou-se que os rapazes apresentaram índices discretamente superiores na cifose torácica, protusão dos ombros, assimetria escapular e escoliose lombar. Já as mulheres encontravam-se com valores mais elevados na simetria dos ombros, escoliose torácica e protusão de cabeça. Contudo, apenas a lordose lombar (p=0,006) e a protusão de ombro esquerdo (p= 0,029) apresentaram diferenças significativas, com índices mais elevados nos jovens estudantes.

    No que se refere à prevalência dos desvios posturais nestes escolares foi verificado resultados importantes, visto que todos os participantes da amostra apresentaram protusão de cabeça e do ombro E, assimetrias entre os ombros e protusão no lado direito (96,1%). A escoliose foi visualizada no segmento torácico em 92,2% e lombar em 78,4% dos avaliados. Já em relação à cifose, observou-se que 33,3% apresentavam hipercifose e apenas 9,8% tinham hipocifose torácica. No segmento lombar constatou-se que 31,4% destes estudantes apresentavam hiperlordose e apenas 13,7% tinham hipolordose.

    Com relação ao gênero, pode-se constatar que em ambos os sexos houve uma grande prevalência (100%) de protusão de cabeça e ombro E. As assimetrias do ombro foram encontradas em todas as meninas e em 93,1% dos rapazes. A protusão do ombro direito foi verificada em 96,6% dos jovens e 95,5% das moças. A escoliose no segmento torácico foi observada em 89,7% dos estudantes e 95,5% das escolares, sendo que na região lombar foi encontrada em 90,5% das mulheres e 69% dos homens. A hipercifose torácica foi identificada em 41,4% dos jovens e 22,7% das moças e a hiperlordose lombar foi encontrada em 41,4% dos estudantes do sexo masculino e em 22,7% do feminino.

    Com estes resultados evidenciou-se que em ambos os gêneros houve uma maior prevalência das alterações posturais nos ombros e na cabeça. Os desvios laterais da coluna vertebral (escoliose) foram mais visualizados no sexo feminino e da projeção anterior (lordose lombar) e posterior (cifose torácica) foram mais identificados no sexo masculino.

    Estes achados contrariam a literatura pertinente, que preconizam maior prevalência de desvios posturais da coluna vertebral no sexo feminino. Pereira (2008) avaliou as alterações posturais em 99 estudantes com idade entre 12 a 15 anos. Como resultados contataram que 83,8% (83) destes jovens apresentavam desvios posturais, sendo que dos 52 rapazes analisados, 75% (39) apresentavam algum tipo de alteração postural e das 47 meninas avaliadas, 93,6% (44) apresentavam alterações na coluna vertebral.

    Da mesma forma, Mangueira (2004) em um estudo realizado com 166 estudantes de 11 a 16 anos em Sobral – CE constatou que 38,6% dos alunos que tinham algum tipo de alteração na coluna vertebral, 35,9% eram meninos e 64,1% meninas. Nesse aspecto, observou-se que as mulheres apresentavam maiores alterações posturais.

    Garonce e Garonce (2010) realizaram uma análise postural pela biofotogrametria em 42 estudantes do ensino fundamental de uma instituição publica de Cataguases (MG). Com os resultados observou principalmente a presença de escoliose (97,6%), hiperlordose (60%), protusão de cabeça (71,4%), assimetrias (elevação) dos ombros à direita (15,2%) e esquerda (52%), protusão dos ombros (35,7%), hipercifose (36,67%), dentre outras alterações. Estes autores destacam que variáveis como idade, raça, sexo, peso e altura não apresentaram associações com as alterações apresentadas, sugerindo que estas alterações têm relação com hábitos posturais inapropriados.

    Em outro estudo Souza Jr. et al. (2011) buscaram avaliar os desvios posturais da coluna vertebral em escolares (n=670) de 11 a 19 anos. Com os resultados obtidos, contataram-se uma prevalência de 8,8% nas alterações laterais e 2,4% de gibosidade, além de ser observada a presença de escoliose em portadores de assimetrias de ombros e ilíacos. No entanto, não foi observado influência do peso, altura e índice de massa corporal (IMC) para a prevalência de escoliose.

    Nesta linha de pensamento deve-se destacar a importância da análise biofotogramétrica para a detecção das alterações posturais em escolares, uma vez que quantifica com maior precisão a presença dos desvios osteoarticulares, bem como o grau (gravidade) desta alteração. Neste sentido, pode-se observar uma divergência nos resultados encontrados entre os autores, principalmente relacionados ao método de avaliação postural que foi empregado.

Conclusão

    No ámbito escolar, a avaliação física é fundamental para a prevenção das alterações posturais, uma vez que os alunos necessitam ser avaliados, orientados e os jovens que apresentarem alterações posturais devem ser encaminhados para um programa de reabilitação.

    Nesse estudo foi constatado uma grande prevalência de alterações posturais em escolares, principalmente no segmento superior, com protusão de cabeça e dos ombros, além das assimetrias escapulares. Os desvios laterais da coluna vertebral (escoliose) foram mais verificados nas mulheres e as alterações nas curvaturas antero-posteriores (lordose lombar e cifose torácica) foram mais evidenciadas nos homens.

Referências

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