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A Educação Física no currículo dos anos iniciais do 

ensino fundamental a partir da visão de suas docentes

La Educación Física en el currículo de los años iniciales de enseñanza básica a partir de la visión de los docentes

The physical educations the curriculum of the years begins of the fundamental teachings starting from the vision of their teachers

 

*Formada em Educação Física – Licenciatura

Centro de Educação Física e Desportos

Universidade Federal de Santa Maria

**Centro de Educação Física e Desportos

Universidade Federal de Santa Maria

Rosane Lorentz Castilhos*

rosanecast@yahoo.com.br

Dra. Maria Cecília Günther**

mceciliacg6@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo tem por objetivo verificar as visões de docentes de anos iniciais sobre o ensino da Educação Física nesta etapa de escolarização. Foi desenvolvido um estudo exploratório de cunho qualitativo, no qual efetuou-se a coleta de informações através da aplicação de questionários com perguntas abertas abordando a temática, em uma escola estadual situada no entorno de Santa Maria. Apartir da análise das informações, foi possível identificar a enfática relevância que as docentes atribuíram à Educação Física nos processos de desenvolvimento dos educandos, entretanto, manifestam a pouca preparação pedagógica que portam em relação ao trabalho especifico que a mesma abrange, e com isso apóiam a presença de um professor especialista atuando com turmas de anos iniciais, argumentando que os alunos possam ter as orientações corretas referentes aos aspectos desenvolvidos pela Educação Física.

          Unitermos: Educação Física. Anos iniciais. Docentes.

 

Resumen

          Este artículo tiene el objetivo de verificar las visiones de los maestros de los años iniciales en la enseñanza de la Educación Física en este período educativo. Se desarrolló un estudio exploratorio de tipo cualitativo en el cual se realizó una recolección de información a través de la aplicación de encuestas con preguntas abiertas que abordan la temática en una escuela estatal en Santa María. A partir del análisis de la información, fue posible identificar la importante relevancia que los maestros le atribuyen a la Educación Física en los procesos del desarrollo de los educandos, sin embargo, ellos manifiestan la poca preparación pedagógica que tienen para el trabajo específico que el mismo conlleva, y con eso ellos apoyan la presencia de un maestro especialista interviniendo con los grupos de los años iniciales, defendiendo la idea de que los educandos puedan tener las orientaciones correctas con respecto a los aspectos desarrollados por la Educación Física.

          Palabras clave: Educación Física. Años iniciales. Docente.

 

Abstract

          This article has for objective to verify the teachers' of initial years visions on the teaching of the Physical education in this education stage. An exploratory study of qualitative stamp was developed, in which occurred the collection of information through the application of questionnaires with open questions approaching the theme, in a state school in I spill him/it of Santa Maria. From of the analysis of the information, was possible to identify the emphatic relevance that the teachers attributed to the Physical education in the processes of the students' development, however, they manifest the little pedagogic preparation that you/they carry in relation to the work specify that the same includes, and with that they support a specialist teacher's presence acting with groups of initial years, arguing that the students can have the correct orientations regarding the aspects developed by the Physical education.

          Keywords: Physical Education. Initial years. Educational.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introduzindo o tema

    O ensino da Educação Física Escolar é uma temática que vem ganhando espaço nas discussões educacionais do cenário nacional. No entanto, ao ressaltar seu trabalho nos anos iniciais de ensino, percebe-se um entrave na exposição de estudos nesta área, possivelmente uma das razões para esta reduzida oferta, venha a ocorrer pelo fato que basicamente, como exemplificado pela Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul, a Educação Física (EF) é desenvolvida pelos professores unidocentes, que são responsáveis por trabalhar todas as disciplinas, contempladas no currículo dos anos iniciais do ensino fundamental, não havendo deste modo, campo de intervenção para os professores especializados em EF nesta fase de ensino.

    Desta forma, o presente trabalho tem como intuito verificar as visões das professoras de uma instituição estadual de ensino, localizada no entorno da cidade de Santa Maria, atuantes nas turmas de anos iniciais do ensino fundamental, sobre o papel que atribuem à EF neste período educacional. Buscando contribuir através da discussão das informações obtidas no trabalho, para uma maior ênfase ao planejamento pedagógico referente às atividades desenvolvidas nas aulas da disciplina.

Educação Física e a legislação educacional no Brasil

    Discorrendo acerca do posicionamento da EF como componente curricular, situa-se como fator introdutório sobre o tema norteador do estudo, um breve aparato histórico sobre sua trajetória e atual situação dentro do sistema educacional brasileiro.

    Abordando como ponto inicial de processos ligados a EF no país, nos dirigimos ao período situado no século passado, onde a mesma era relacionada diretamente a vínculos com Instituições Militares e à classe médica (PCN, p. 19). Somente apartir do decreto 69.450 de 1971, a EF passou a trabalhar atividades ainda ligadas ao meio inicial, desenvolvendo e aprimorando forças físicas e morais, mas com foco dentro do ambiente escolar (PCN, p. 22).

    Nesta mesma época, também no documento da LDB, Leis de Diretrizes e Bases da Educação, norteador das Leis que regem nossos processos educacionais no Brasil, era possível constatar na lei 5692/71 da mesma, que a EF deveria ser incluída nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, mas não definia sua real posição dentro do planejamento escolar.

    A partir da lei LDB 9394/96, a EF passa então a ser denominada como componente curricular obrigatório, mas facultativa nos cursos noturnos. Fatores que sofreram alterações posteriormente, pois através da Lei 10.793 de 2003, que compõem a LDB atual, apresenta-se colocando como caráter obrigatório, a EF a todos os turnos de educação básica , mas ainda facultativa em determinadas condições. Sendo exposta no Artigo 26, citada diretamente no parágrafo 3º do presente documento:

    A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa para quem cumpre jornada de trabalho igual ou superior a seis horas, é maior de trinta anos de idade, que estiver prestando serviço militar e que tenha prole

    Trazendo com isso, a afirmação para que a mesma fosse aplicada com maior suporte pelos profissionais, e que pudesse perder um pouco do olhar somente da aptidão física, como era popularmente relacionada, pela herança do cunho militar, e abranger então outros horizontes de conhecimentos, ligados ao ser e não somente ao corpo.

O trabalho docente nos anos iniciais de ensino

    Mas ainda mesmo com todos os aparatos legais, tratando a EF como parte do planejamento curricular escolar, pode-se perceber que a mesma permanece em condição marginal.

    Passível de afirmar em muitos casos, que nos anos iniciais do ensino fundamental, ela é pouco trabalhada. Uma vez que nesta fase de ensino o professor responsável pela turma é graduado em pedagogia1 e trás consigo, poucas práticas referentes ao âmbito da EF, ficando inseguros quanto aos trabalhos com os seus conteúdos. Segundo Puiati (2009, p.3) “o unidocente não concebe a Educação Física como parte importante para o desenvolvimento do ser humano e acaba por não incluí-la em seus planejamentos”, desconsiderando o caráter obrigatório da disciplina e talvez, desconhecendo sua relevância no processo de escolarização.

    Referente ao modelo de unidocência nos anos iniciais, Negrine (2002, p.22) salienta que “nesse nível de ensino, a atuação de profissionais de diversas formações amplia e solidifica os alicerces necessários ao desenvolvimento do indivíduo como pessoa”. Sendo que, neste processo inicial de ensino da criança, o papel do professor e da escola são relevantes para que os alunos possam se desenvolver positivamente, pois constata-se que é neste período que o educando dá seus primeiro passos em seus processos de aprendizagens.

    Corroborando com a colocação acima, o Coletivo de Autores apresenta o correspondente período de escolarização da seguinte forma:

    O primeiro ciclo vai da pré-escola até a 3ª serie. É o ciclo de organização da identidade dos dados da realidade. Nele o aluno encontra-se no momento da síncrese. Tem uma visão sincrética da realidade. Os dados aparecem (são identificados) de forma difusa, misturados. Cabe à escola, particularmente ao professor, organizar a identificação desses dados constatados e descritos pelo aluno para que ele possa formar sistemas, encontrar as relações entre as coisas, identificando as semelhanças e as diferenças (1992, p. 35).

    O que nos remete ao pensamento, que no processo dos anos iniciais, o papel do professor é de suma importância, pois é ele quem apresenta os conteúdos, orienta os processos de aprendizagem, cria e organize os tempos e espaços pedagógicos, enfim faz a mediação da construção do conhecimento das diferentes áreas junto aos seus alunos.

A Educação Física no período inicial de ensino

    Considerando as exposições interligadas à temática do estudo realizadas até o presente momento, abordo enfaticamente a seguir, os âmbitos diretamente relacionados ao componente curricular EF.

    Referente à sua incontestável participação no desenvolvimento da criança, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), manifestam que:

    O trabalho da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental é importante, pois possibilita aos alunos terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções. (BRASIL,2000, p. 15)

    Com base nestes parâmetros, podemos observar a importância da EF ser trabalhada nos anos iniciais com o devido cuidado, pois constata-se que além de trabalhar o repertório motor, desempenha também, um importante papel no desenvolvimento integral da criança.

    A partir de diferentes perspectivas teóricas, são feitas argumentações que justificam a presença da EF desde o início da escolarização. Com base na abordagem do comportamento motor, Gallahue (2001) destaca a importância de experiências motoras diversificadas que assegurem um pleno desenvolvimento de todas as capacidades motoras.

    Betti e Zulliani (2002), embora mais próximos de uma abordagem psicomotora, também sinalizam para a importância de que seja assegurada uma riqueza de vivências de movimento com a finalidade de um pleno desenvolvimento integrado de aspectos afetivos, sociais, cognitivos e motores como base para uma futura condição de viver plenamente toda a abrangência de manifestações que integram a cultura corporal de movimento.

    As citações oferecem elementos importantes para que se discuta, não apenas a presença de EF nos anos iniciais, mas sua configuração no currículo escolar. Entendendo a EF na condição de componente curricular que trata pedagogicamente os temas da cultura corporal, de acordo com o Coletivo de Autores (1992), procura considerar as várias dimensões do ser humano, articulando os aspectos sociais e culturais das diferentes práticas corporais dos alunos.

    Neste caminho, pode-se colocar que a EF objetiva o desenvolvimento global do aluno, formar um indivíduo participativo, visando à integração desse aluno como ser independente, crítico e consciente, adequado à sociedade em que vive (Piccolo, 1995).

    No entanto, apartir da visão de Negrini (2002), não é suficiente dizer que a EF como prática corporal é importante desde a tenra infância, mas sim, é necessário que se construa caminhos para oferecer uma prática pedagógica que impulsione os processos de desenvolvimento e de aprendizagem da criança. Trata-se, portanto, de assegurar espaços pedagógicos específicos para o ensino da EF.

    Sendo muitas vezes, que contribuindo para o aspecto negativo da aplicação da mesma, as aulas de EF são vistas como uma atividade meramente prática, sem o caráter reflexivo (DEBORTOLI, LINHALES e VAGO, 2002).

    O que nos remete a verificar que as práticas desta disciplina nos anos iniciais, são tratadas basicamente como momentos de recreação, sem qualquer compromisso com aspectos educacionais, compreendida ate mesmo com um molde de recreio orientado. Não corroborando assim, com o desenvolvimento dos objetivos que a EF propõem aos seus alunos, quando trabalhada de forma adequada.

    Partindo então, de estudos como os apresentados que expressam a importância imposta pela EF no desenvolvimento integral das crianças, e através de observações realizadas durante estágio com turmas de 2º ano do Ensino Fundamental na Escola “Recanto do Saber”2, surgiram às motivações para estudar as práticas docentes referentes à EF, destas professoras atuantes neste nível inicial de ensino.

Encaminhamentos metodológicos

    Através de um estudo exploratório descritivo de caráter qualitativo, buscou-se compreender a visão das professoras unidocentes sobre a EF. Pois as características do problema proposto, nos parece melhor atendidas a partir desse modelo de pesquisa, conforme justifica Minayo (2004, p. 22):

    A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo nas relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

    Para estudar as compreensões das docentes participantes, aqui chamadas de colaboradoras, referentes à EF, foi utilizado como instrumento de coleta das informações, questionário com perguntas abertas as quais envolveram o assunto, de modo a apresentar um conjunto de questões relacionadas com a temática central. Sendo ainda, que o questionário é considerado um meio de obter respostas por uma maneira que o próprio informante preenche (CERVO; BERVIAN, 2002).

    Outra motivação encontrada para utilização do questionário deu-se pelo fato das participantes sentirem-se mais a vontade em colocar suas respostas, fato que poderia ser prejudicado caso a identidade fosse revelada, podendo distorcer as suas reais visões a respeito da temática.

    A aplicação do questionário deu-se em duas etapas. A primeira constituiu-se da participação em uma reunião pedagógica da escola, onde foram feitos as colocações sobre o tema da pesquisa e os convites às quatro docentes que trabalham com os anos iniciais. E com a positiva aceitação de todas elas em participar da pesquisa, foram entregues os questionários, contendo em anexo o termo de consentimento livre e esclarecido, trazendo colocações sobre a participação na pesquisa, e assegurando a preservação das identidades das participantes. E por fim, combinado o prazo de sete dias para que os questionários fossem respondidos e devolvidos.

    Quando então compareci à escola na data estipulada, para cumprimento da segunda etapa, realizando o recolhimento dos quatro envelopes contendo os questionários respondidos pelas colaboradoras.

    Posteriormente a realização das etapas descritas, iniciou-se então, a análise qualitativa das respostas elaboradas pelas colaboradoras, sobre o tema de pesquisa exposto no artigo.

Análise e discussão das informações

    Com o propósito de verificar inicialmente os perfis profissionais das quatro colaboradoras, apresento que as professoras Ana3 e Bruna possuem graduação em pedagogia, Cíntia em magistério e pedagogia e Débora em magistério e letras, todas com tempo de trabalho em turmas de anos iniciais do ensino fundamental, compreendidos entre vinte e um e trinta anos de profissão.

    Posteriormente as perguntas iniciais ligadas ao caráter pessoal de cada docente, os questionamentos passaram a focar especificamente a EF.

    Iniciando por verificar que as quatro professoras, ressaltaram a utilização principal da quadra de esportes da escola ao serem indagadas sobre os locais que trabalhavam as aulas de EF, e menos enfaticamente, as professoras Bruna e Débora cogitaram os espaços da sala de aula, quando os fatores climáticos não estão favoráveis para ir para a quadra ou nas aulas onde ocorrem a aplicação de atividades mais calmas. Segundo Ayoub (2005, p.6) “considerando a especificidade da educação física, temos a necessidade de trabalhar em espaços amplos, que viabilizem as práticas corporais”.

    Mas como a EF é um componente curricular obrigatório, os alunos tem o direito à sua oferta, seja qual for a estrutura física da escola, pois a EF deve abster-se desse olhar de ser meramente uma disciplina da quadra e que trabalha somente o físico. Pois como apontado pelo PCN:

    O processo de ensino e aprendizagem em educação física, portanto não se restringe ao simples exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim de capacitar o individuo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada (BRASIL, 2000, p.33)

    À respeito da ocorrência semanal das aulas nas suas turmas, as docentes Ana, Bruna e Cíntia, colocaram a periodicidade semanal de duas vezes e Débora colocou que:

    “Trabalha todas as 2ª, 4ª e 6ª feiras com as atividades de educação física”.

    Em relação à organização do tempo pedagógico da EF, todas afirmaram já terem os dias e horários das referidas aulas estabelecidas no cronograma da escola, fato que contrapõe-se a idéia trazida por Ayoub (2005, p.4):

    nas séries iniciais, muitas vezes a Educação Física é lembrada pela sua ausência como uma atividade regular, como algo que acontece esporadicamente, ficando a mercê da “sobra” de tempo das outras matérias consideradas mais importantes.

    Diferindo desta posição colocada pela autora, as professoras asseguram a periodicidade semanal que ocorrem as aulas de EF com suas turmas, colocando-a então, como um componente curricular à ser desenvolvido como os demais do currículo.

    No fator sobre a seleção dos conteúdos a serem trabalhados nestas aulas, as quatro professoras colocaram que realizam apartir da observação das turmas, captando as necessidades de aprendizagens dos alunos, sendo que as professoras Ana e Bruna, também colocaram a proposta de interligar os conteúdos da EF com os demais trabalhados em sala de aula. Apoiando esta colocação, os PCNs para EF trazem a seguinte leitura sobre o assunto:

    Independentemente de qual seja o conteúdo escolhido, os processos de ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social). (BRASIL, 2000, p.24)

    Para desenvolver positivamente a aplicação dos referentes conteúdos, sabe-se que é necessário que o docente construa um planejamento prévio, pois deve-se entender que a aprendizagem escolar é “uma atividade planejada, intencional e dirigida, e não algo casual e espontâneo”(LIBÂNEO, 1994, p.86).

    Partindo deste pressuposto, ao serem indagadas sobre a construção de seus planejamentos, as professoras Ana e Débora, afirmaram que relevam as idades das crianças, a ligação entre os demais conteúdos trabalhados com a turma e principalmente a necessidade de não fragmentar os conteúdos, dando continuidade aos trabalhos já desenvolvidos. Segundo a fala da professora Débora:

    “O plano é desenvolvido a partir da idade das crianças, discussão com o professor do ano anterior. Leva-se em conta a necessidade de dar continuidade ao que vinha sendo aplicado anteriormente”.

    No entanto, as docentes Bruna e Cíntia abstiveram-se de responder à esta questão, acabando por ressaltar, fatores discordantes em relação às colocações feitas anteriormente por elas, como a regularidade da ocorrência das aulas e a preocupação ao elencar os conteúdos das mesmas nas suas turmas. Esta falta de posicionamento, configura uma certa contradição ou falta de clareza quanto ao trato pedagógico com as aulas de EF. Permanece a dúvida se o tempo assegurado é utilizado para atividades específicas e planejadas a partir de uma intencionalidade pedagógica ou se existe o risco de tornarem-se apenas momentos de recreação livre.

    Do ponto de vista do desenvolvimento motor, os anos inicias de escolarização representam, de acordo com Gallahue (2001, P. 257)

    um período no qual as crianças estão envolvidas no processo de desenvolvimento e de refinamento das habilidades motoras fundamentais em uma grande variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos. Isso significa que elas devem desenvolver-se em muitas experiências coordenadas e efetivas em termos de desenvolvimento, projetadas para aumentar o conhecimento do corpo e do seu potencial para o movimento.

    Na perspectiva de fechamento sobre o foco envolvendo os caminhos que desenvolvem-se as práticas das aulas de EF, a totalidade das colaboradoras, vieram a expor que os jogos (futebol), recreação na pracinha de brinquedos e brincadeiras lúdicas são as atividades mais presentes durante as aulas de EF com suas turmas. Como explicitou a colaboradora Cíntia:

    “Normalmente brincadeiras, sempre futebol e recreação na pracinha de brinquedos fazem parte das aulas de EF”.

    Sendo que as professoras Ana e Débora, apontaram também a utilização de atividades que trabalhem com características ligadas à lateralidade, motricidade e equilíbrio dos alunos.

    Ao dissertarem sobre o papel que a EF exerce nos processos de aprendizagens nas suas turmas, as professoras elegeram com unanimidade, a grande relevância que a mesma atribui ao processo positivo de desenvolvimento motor das crianças e também sua contribuição nos demais âmbitos de aprendizagens, totalizando por colaborar na formação integral do aluno. De modo que a professora Bruna apontou:

    “A educação física é muito importante em todo o desenvolvimento motor da criança e para desenvolver também as demais habilidades da área”.

    Enfatizando, a professora Cíntia explanou:

    “O papel da educação física é importantíssimo nos anos iniciais, pois trabalha atividades que envolvem a atenção, concentração, agilidade e coordenação motora das crianças, e conseqüentemente auxilia no desenvolvimento integral deles”

    Apoiando este olhar trazido pelas colaboradoras, referente ao trabalho que a EF desempenha nos processos de aprendizagens das crianças, Betti e Zuliani (2002, p.76), explanam que:

    Na primeira fase do Ensino Fundamental (1º a 3º/4º anos), é preciso levar em conta que a atividade corporal é um elemento fundamental da vida infantil, e que uma adequada e diversificada estimulação psicomotora guarda estreitas relações com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança.

    Verificando a respeito da posição das docentes, perante a presença de um profissional especialista em EF nos anos iniciais do ensino fundamental, constatou-se a apreciação positiva por parte das quatro colaboradoras, expondo de forma generalizada nas respostas, que

    “É tudo de bom, pois as crianças teriam a orientação correta no seu aspecto motor

    fala da professora Cíntia. De modo a enfatizarem também, a pouca preparação pedagógica que elas tem referente a área da EF, como expressada na colocação da professora Ana,

    “A presença do professor de educação física é de suma importância, pois creio que em minhas aulas fiquem lacunas, pois não sou especializada para trabalhar nessa área”.

    Corroborando com as colocações das docentes, Silva (2010, p. 15) trás que:

    [...] pude perceber que muitas de minhas colegas não estavam ou não se sentiam preparadas para ministrar aulas de Educação Física, sem contar as que diziam não gostar de atuar nesta área, e concordavam que gostariam de uma proposta que envolvesse a participação ou a orientação dos professores especialistas.

    Ou seja, a presença do profissional especialista em EF nos anos iniciais do ensino fundamental, mostrou-se fortemente amparado pelas professoras unidocentes colaboradoras deste estudo, de forma a expressarem a ocorrência de inúmeros benefícios que os alunos desta fase inicial de ensino, terão com a orientação de um professor de EF.

Considerações finais

    Com o desenvolvimento deste estudo, conhecemos as posições evidenciadas do importante papel que as docentes de anos iniciais atribuem à EF no processo de desenvolvimento dos alunos. Mas também, emergiram contradições referentes aos planejamentos pedagógicos que alertaram para o fato de que, os horários fixados para realização das aulas de EF podem ou não estarem acompanhados de uma intencionalidade pedagógica em relação aos conteúdos. Pois o essencial é estabelecer como se utiliza o espaço do referente conhecimento, não bastando simplesmente afirmar que o mesmo está assegurado na grade de horários da turma.

    Mas compreende-se que, não basta somente a presença do professor de EF neste nível de ensino, para garantir que a mesma resolva seus entraves quanto sua participação efetiva no processo de ensino dos anos iniciais, pois segundo Negrine (2002, p.113) “existem professores (e não são poucos), cuja ação pedagógica se resume em reunir os alunos, dividi-los e permitir que joguem”, transformando deste modo, o período de aula em um simples espaço livre de descontração. Portanto, não se trata simplesmente de inserir o professor de EF nos anos iniciais, mas de realmente integrá-la a proposta pedagógica das escolas, para deste modo, a EF fazer parte do cotidiano da instituição, legitimada como os demais componentes curriculares pertinentes ao processo formativo dos educandos.

    É possível reconhecer, que o tema sobre infância nas graduações em EF, não apresenta o destaque necessário, deixando lacunas nos futuros professores, pois segundo Puiati (2009, p.02) “não há, ainda, uma Educação Física Infantil voltada para as especificidades da infância”, isolando muitas vezes a EF do processo educativo global destes alunos iniciantes do período estudantil.

    Devemos ter o cuidado de não culpabilizar as unidocentes pelas formas que a EF se apresenta, mas sim problematizar o significado da mesma nos anos iniciais, dirigindo os olhares, para além das iniciativas individuais de cada professor, não ficando mais a cargo do mesmo decidir o modo ou ate mesmo se deve trabalhar os conteúdos da EF nas suas turmas.

    Quando o trabalho pedagógico referente à EF, fica a mercê das iniciativas individuais para que ocorra, pode muitas vezes sofrer influencias das bagagens que cada uma traz de sua vida escolar referente à disciplina. Desse modo, se as experiências forem positivas, os trabalhos de EF serão desenvolvidos com empenho, objetivando ofertar aos seus alunos, que participem e compreendam a importância que a mesma representa no processo educativo. No entanto, se lembranças remetem a experiências negativas, conseqüentemente a aplicação das aulas de EF por estas docentes, irá percorrer trajetos ligados ao que a mesma vivenciou. Corroborando com essa idéia, Ayoub (2005), explana no seu estudo, a decorrente ligação entre as memórias sobre a EF escolar das docentes em seus períodos de alunado, com os diferentes papéis que a mesma tem assumido no ambiente escolar.

    Diante desse quadro, salienta-se a importância de ampliar e aprofundar os horizontes do debate em torno do papel da EF nos anos iniciais, para além da questão da habilitação profissional, mas sim, pautado pela importância de sua presença pedagógica no espaço educacional e integrando-se aos demais componentes curriculares, alavancando os processos de aprendizagens dos alunos, independendo deste modo, da habilitação do mediador que desenvolve os trabalhos ligados à EF.

Notas

  1. Nesse estudo tratarei da Rede Estadual de ensino do Rio Grande do sul, a qual não prevê a contratação de professores de EF para os anos iniciais. Em situações que aulas de EF são conduzidas por professores especializados, parte de arranjos internos da própria escola.

  2. Nome fictício da Escola onde realizei meus trabalhos de estágio, e onde também foi desenvolvida a pesquisa com as professoras dos anos iniciais, referente ao tema do presente artigo.

  3. A identificação das quatro professoras colaboradoras deste trabalho, deu-se através dos nomes: Ana, Bruna, Cíntia e Débora, de modo a preservar o sigilo das fontes.

Referências bibliográficas

  • AYOUB, E. ‘Memórias da Educação Física Escolar’. In: Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, 14., Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 1., 04-09 Set. 2005, UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil.

  • BETTI, M. & ZULIANI, L. R. Educação física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, Ano I, n. I, p. 73-81, 2002.

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  • DEBORTOLI, J. & LINHALES, M. & VAGO, T. ‘Infância e conhecimento escolar: princípios para a construção de uma Educação Física “para” e “com” as crianças’. In: Pensar a prática. Universidade Federal de Goiás, p.92-105, jul.jun. 2001-2002.

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  • LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

  • MINAYO, M.C. de S. (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade.23ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

  • NEGRINE, A. O corpo na educação infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2002.

  • PICCOLO, V. L. N. Educação Física Escolar: ser... ou não ter? 3. Ed. Campinas, SP: Unicamp, 1995.

  • PUIATI, L. L.; FILHO, M. F. S. A compreensão de professores atuantes nos anos iniciais do ensino fundamental sobre a educação física escolar. 17 f. Monografia (Especialização em Educação Física Escolar)- Curso de Educação Física, Centro de Educação Física e Desportos, UFSM, Santa Maria 2009.

  • ROCHA, E.A.C. A pesquisa em educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma pedagogia da educação infantil. Florianópolis: CED/NUP/UFSC,1999, 290 p.

  • SILVA, L. R. C. Educação Física nas séries iniciais: possibilidades e implicações no processo ensino aprendizagem. 22 f. Monografia (Especialização em Educação Física Escolar)- Curso de Educação Física, Centro de Educação Física e Desportos, UFSM, Santa Maria, 2010.

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