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A influência do Esporte-Performance para o
aumento do uso de drogas entre atletas profissionais

La influencia del Deporte-Rendimiento en el aumento del uso de drogas entre deportistas profesionales

 

Graduandos em Licenciatura Plena em Educação Física

pela Universidade do Estado do Pará (UEPA)

Acadêmicos do 8° Semestre de Educação Física

(Brasil)

Francisco Flávio Sales Galdino

Dayvid Wellington da Silva Coelho

Erica Silva Cassimiro

Carlos Alberto Silva Gomes

fsales18@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O crescente aumento no uso de drogas vem sendo uma questão a ser discutida, pois o uso de substâncias que aumentam o rendimento físico é quase tão antigo quanto o desenvolvimento esportivo. A profissionalização e a comercialização tomaram conta do mesmo, fazendo com que os atletas viessem a utilizar as drogas como meio para melhorar seu desempenho esportivo. Esse considerável aumento é abordado neste trabalho com o objetivo de refletir sobre a influência do esporte-performance nesse processo, além de existirem outros fatores como o avanço tecnológico na farmacologia, a sociedade, a influência do poder político-ideológico no esporte, entre outros. Para tanto, utilizamos as obras de autores como Tubino (2001), Rubio (2001), Waddington (2006), dentre outros que possuem significativa relevância sobre o tema. Ao final conclui-se que a competitividade, o individualismo, a busca da vitória, presentes no esporte-performance exercem grande influência no aumento do uso de drogas entre os atletas profissionais.

          Unitermos: Esporte-Performance. Drogas. Desempenho. Sociedade.

 

Abstract: 

          The increasing drug use has been a matter of debate, since the use of substances that enhance physical performance is almost as old as sports development. The professionalization and commercialization took hold of it, so that the athletes were to use drugs as a means to improve their sports performance. This considerable increase is discussed in this paper in order to reflect on the influence of sports-performance in this process, and there are other factors such as technological advances in pharmacology, society, the influence of political-ideological in sports, among others. We used the works of authors such as Tubino (2001), Rubio (2001), Waddington (2006), among others that have significant relevance on the subject. At the end we conclude that competitiveness, individualism, the pursuit of victory, present in sport-performance exert great influence on the increase of drug use among professional athletes

          Keywords: Sport. Performance. Drugs. Performance. Society.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O trabalho aqui apresentado parte de uma pesquisa bibliográfica de autores que tratam da influência do esporte-performance para o aumento do uso de drogas entre atletas profissionais, como Tubino (2001), Waddington (2006), Weineck (2005), Rubio (2001), etc.

    Para Weineck (2005) uso das drogas entre atletas se dá desde a antiguidade, fato comprovado por relatos históricos que apontam algumas civilizações que se utilizavam de produtos naturais para alcançar um melhor desempenho nas batalhas. Como exemplo os guerreiros escandinavos, que consumiam uma substância extraída do cogumelo para aumentar em até doze vezes sua força de luta.

    No contexto histórico, a partir da profissionalização esportiva e o aumento da competitividade, cresceu em grande número a exigência sobre os atletas, uma vez que estes passaram a exercer uma importante função social: a de representar sua nação através do bom desempenho. Atletas sob constante pressão psicológica que não dispunham de resistência física adequada, ou que mesmo dispondo sentiam necessidade de apresentar melhores resultados, encontraram nas drogas uma alternativa de aprimoramento.

    Diante da crescente utilização de drogas no meio esportivo, foi percebida a repercussão social causada pelo assunto, logo, serão abordados neste estudo aspectos direta ou indiretamente relacionados ao uso dessas substâncias entre atletas, sendo o esporte-performance um dos principais contribuintes nesse processo.

    Serão apontados fatores históricos, políticos e sociais que possivelmente tenham desencadeado no contínuo processo de elaboração e aprimoramento de substâncias ilícitas, visando a melhoria do desempenho físico em atletas profissionais.

Drogas no Esporte-Performance

    Segundo Tubino (2001) o aumento do uso de drogas entre os atletas profissionais é decorrente de vários fatores políticos, econômicos, e sociais. Dentre os fatores apresentados por Tubino (2001), destaca-se aqui a grande competitividade característica do esporte de rendimento. A cada competição novos recordes são quebrados, na natação, no atletismo, e esse fato faz com que esses atletas busquem cada vez mais a maximização do desempenho físico.

    Partindo do ponto de vista histórico-cultural, podemos destacar que desde a antiguidade o homem já utilizava substâncias com intuito de aumentar o desempenho físico. Segundo Weineck (2005), relatos de Filostrato e Galeno mostram que atletas desde a antiguidade utilizavam ervas, cogumelos, até mesmo testículos de animais, a fim de aumentar o desempenho nos jogos olímpicos. Ainda segundo Weineck (2005), os povos incas através da ingestão de coca, teriam conseguido percorrer em cinco dias uma distância de até 1750 km.

    A partir do relato apresentado por Weineck (2005), fica evidente que a busca de substâncias para aumentar o desempenho físico não é um fato da sociedade atual, mas de tempos atrás. Porem, segundo Rubio (2001) por o esporte, e a sociedade em geral ser caracterizada pelo individualismo, pela competitividade, pela busca exarcebada da vitória, o mesmo tem exercido papel fundamental no aumento do uso de drogas entre os atletas profissionais.

    Segundo Tubino (2001) o uso de drogas no esporte é um problema sério que abrange várias questões éticas, pois esse ato considerado um problema moral, fere as normas de conduta ditadas pela sociedade. Tubino (2001) afirma ainda que os atletas que praticam métodos desonestos, utilizando-se de substâncias ilícitas para vencer determinada competição, são caracterizados pelo comportamento injusto para com os outros atletas, o que acaba muitas vezes denegrindo sua imagem diante da sociedade, bem como da instituição a qual representa.

    A sociedade tem o esporte como símbolo social, onde a mesma acredita que no esporte-performance o importante é “competir”, isso é ressaltado pela mídia, visto que esta serve como formadora de opiniões que influenciam diretamente na carreira do atleta profissional. No entanto, para Rubio (2001) essa tese não é muito válida, uma vez que o sistema capitalista não proporcionar tal afirmação. Portanto, os valores que são ditados na mesma, competitividade, seletividade, lucro, posicionam-se em contraposição a essa questão, visto que a sociedade só privilegia o vencedor, fazendo com que os profissionais do esporte busquem a vitória e o sucesso através de meios ilícitos. Para Rubio (2001):

    A forma como a sociedade tem se organizado tende a valorizar o vencedor, impondo um padrão comportamento que privilegia o mais forte, o mais habilidoso. Aqueles que alcançam o primeiro lugar ou a vitória são enaltecidos, utilizados como exemplo para os perdedores (termo que, aliás, é utilizado entre os mais competitivos como um adjetivo dos mais desmoralizantes) e contribuem para a perpetuação de um tipo de conduta. Se para a sociedade como um todo esse imaginário heróico tem servido como parâmetro para justificar atitudes competitivas, no esporte essa referência ganha força redobrada pela relação direta competição-vitória. (p. 663).

A contribuição da farmacologia

    O avanço tecnológico na farmacologia, também é um ponto que merece destaque neste problema, pois proporcionou o aumento na produção de substâncias ilícitas, facilitando o acesso por parte dos atletas que querem a qualquer custo melhorar seu desempenho. De Rose; Nóbrega (Apud SOUZA, 2008) consideram que entre os grupos mais utilizados estão os estimulantes, agentes anabólicos, diuréticos, hormônios peptídicas.

    De acordo Waddington (2006), como consequência desse desenvolvimento tecnológico houve um aumento gradativo da produção dessas substâncias, que chegam ao comércio de forma abundante, determinando fácil acessibilidade ao público interessado e consequentemente contribuindo no aumento do número de “adeptos”. Esse aumento de procura é crescente devido à disponibilidade das substâncias em farmácias, consultórios médicos, clubes esportivos, casas veterinárias, etc. Defende-se, portanto, a contribuição da farmacologia nesse processo, mas não sendo ela a única responsável. Sobre essa diferença, encontramos apoio em Waddington (2006) que afirma essa participação,

    [...] entretanto, aqueles que se seduzem com a simplicidade do que é em efeito uma forma do determinismo tecnológico que é uma visão de que processo sociais (nesse caso, o uso de drogas) podem ser explicados simplesmente por referenciar-se aos avanços tecnológicos (nesse caso, o desenvolvimento da farmacologia) - pagam alto em termos de entendimento das complexidades da realidade social, tanto na área do esporte e uso de drogas como em qualquer área da vida social.[...] (p.18-19).

    Dentre os problemas acarretados pelo uso de drogas não existem somente os de aspecto moral, destacam-se ainda as patologias ocasionadas pelo uso excessivo de substâncias farmacológicas empregadas para a melhoria do rendimento físico. Segundo Guimarães Neto (2003), podem-se destacar entre os efeitos colaterais a calvície, a hipertrofia prostática e a formação de acne, ambas causadas pela Dihidrotestosterona (DHT).

    Guimarães Neto (2003) cita ainda outros efeitos relativos ao uso de drogas que não advém necessariamente do DHT, como insônia, dores de cabeça, agressividade, limitação do crescimento, virilização em mulheres (crescimento de pelos na face, engrossamento da voz, hipertrofia do clitóris, etc.), aumento do colesterol, hipertensão, impotência e esterilidade, problemas de tendões e ligamentos, hepatotoxidade (lesões no fígado), câncer, etc.

    Para Waddington (2006), os próprios médicos que deveriam alertar os atletas sobre os efeitos colaterais causados por essas drogas, são os que incentivam sua utilização para que estes possam atingir seus objetivos. Dessa forma, a maioria dos atletas se submete ao uso de drogas pelo fato destas serem a maneira mais fácil de chegar ao melhor desempenho, desconhecendo ou ignorando seus efeitos colaterais. Segundo Waddington (2006) em muitos casos médicos e farmacêuticos facilitam essa distribuição no mundo dos esportes, e alguns ensinam o atleta a usar o medicamento antes de determinadas competições para que não sejam flagrados no exame antidoping.

    Apesar do avanço no âmbito farmacológico ter grande influência no aumento do uso de drogas entre os atletas, destacamos a grande competitividade presente no esporte-performance como principal agente, principalmente por ele apresentar características da que sofre influência de acontecimentos oriundos da Revolução Industrial, e do capitalismo, fazendo dele um objeto mercadológico. Segundo Rubio (2001) a crescente comercialização do esporte contribuiu para o aumento de uso de drogas a partir do momento em que o não só o esporte-performance, mas atleta se tornou objeto de mercadoria. Outro ponto importante segundo Rubio (2001), são as grandes recompensas dadas aos atletas profissionais que fazem com que os mesmos utilizem dessas substâncias com objetivo de melhorar o desempenho atlético para se manter no topo da carreira.

    Segundo Tubino (2001) a partir dessa mercadorização percebe-se a utilização político-ideológica do esporte. Desde a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais o poder público teve grande influência nesse processo, um bom exemplo disso é política nazista que usava as competições esportivas internacionais como forma de mostrar sua supremacia sobre outras nações. Esse feito é apresentado por Tubino (2001) no seguinte trecho:

    Os ensinamentos de Hitler foram aproveitados pelos lados capitalista e socialista durante a chamada guerra fria, instalada logo após a II Guerra Mundial. Se, por um lado, surgiram a vitória a qualquer preço, o profissionalismo disfarçado, a exacerbação dos resultados, a maior interferência dos governos (Estados) no esporte e, conseqüentemente na sociedade, casos cada vez mais constantes de doping e suborno, o esvaziamento do fair play, por outro lado não é possível negar que o movimento esportivo mundial cresceu muito,[...] (p.11)

    Os atletas a partir desse momento utilizavam os mais variados métodos para alcançar a vitória, que geralmente estavam ligadas a recompensas financeiras, sucesso e reconhecimento mundial. Desse modo, esses atletas viam nas drogas uma maneira de aumentar a capacidade física, almejando alcançar o ápice e assim ganhar todas as regalias geralmente dadas aos campeões.

Considerações finais

    A sociedade idealiza um melhor desempenho do atleta, expectativa essa relacionada à vitória e recordes conquistados no esporte-performance. Assim, devido a esse desejo de realizar-se através de seus ídolos, logo, é natural que os atletas procurem sempre se superar, para manter-se em projeção no meio esportivo e social.

    O esporte-performance conseqüentemente possui em seu bojo valores advindos da sociedade, logo, seu papel é fundamental no processo do crescente uso de drogas por parte dos atletas, uma vez que torna-se visível nessa prática duas classes: vencedores e perdedores. Os atletas sendo os principais protagonistas desse meio, estão expostos a qualquer “desvio de conduta” junto ao esporte e à sociedade, pois influenciada pela mídia, esta mostra-se formadora de juízo crítico, passando a julgá-los através de seus atos, tanto nos aspectos positivos quanto negativos.

    A super valorização de bons resultados esportivos incita os atletas a superarem seus próprios limites, o que para as pessoas é considerado algo positivo, pois ao obter sempre os melhores resultados possíveis, tornam-se “heróis” da sociedade. Isso leva os atletas a pagar qualquer preço para alcançar o desempenho exigido, mesmo que precisem recorrer a substâncias ilícitas, fazendo com que os valores éticos do esporte sejam desprezados. Muitas vezes o atleta opta pelo uso de substâncias ilícitas por se sentir inseguro, acreditando não ser capaz de corresponder às expectativas da sociedade, ele não busca somente a vitória, mas também o prestígio social e a alta retribuição financeira.

    A pressão imposta e pela sociedade faz com quer os atletas acabem assumindo um comportamento de superioridade competitiva. Assim, para prevenir o uso de drogas dentro do esporte não cabe somente aos atletas, mas todas as pessoas que os rodeiam, como treinadores médicos, patrocinadores, família, etc. É necessário conhecimento e maior divulgação das consequências do uso dessas substâncias ilícitas, enfatizando os problemas profissionais e patológicos adjuntos ao uso das mesmas pelos atletas.

    Percebe-se ainda que não há uma fiscalização rígida aos profissionais do âmbito esportivo referente ao incentivo quanto ao uso, já que as mesmas são facilmente adquiridas, causando um aumento abusivo do consumo por parte de atletas profissionais. Devido a fatores como esse, acredita-se na relevância de campanhas educativas através dos meios de comunicação, alertando para os diversos efeitos relacionados ao uso, pois a intervenção educacional é um instrumento fundamental ao combate do uso dessas substâncias entre os atletas.

    Ao final do estudo percebe-se que o objetivo principal foi alcançado, uma vez que tornou-se possível apresentar a relação direta ou indireta do esporte-performance com o aumento do uso de drogas no meio esportivo. Dessa forma então, espera-se que este venha a colaborar para que a sociedade tenha uma visão mais clara acerca do assunto, possibilitando a conscientização e reflexão sobre as implicações que norteiam a temática.

Referências bibliográficas

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