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A incidência de reações transfusionais imediatas em
pacientes receptores em um hospital universitário

La incidencia de reacciones transfusionales inmediatas en los pacientes beneficiarios en un hospital universitario

 

*Enfermeira graduada no curso de Graduação de Enfermagem

da Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES

**Docentes do Departamento de Enfermagem

da Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES

***Graduando no curso de farmácia na faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) 12/2012

(Brasil)

Aline Tolentino Gandra Durães*

Luciana Barbosa Pereira**

Mayalle Mayanne Ponciano***

Clara de Cássia Versiani**

alinetgandra@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A terapia transfusional é uma das mais importantes intervenções da medicina. Contudo, mesmo diante dos avanços, a transfusão de hemocomponentes pode representar um risco imediato ou tardio, nesse sentido o estudo objetivou conhecer a incidência de reações transfusionais imediatas em pacientes receptores do Hospital Universitário clemente de Faria, identificando as mais prevalentes. Para tanto, analisou-se 17 fichas de notificações de incidentes transfusionais e os respectivos prontuários dos pacientes receptores, no período de agosto de 2006 a agosto 2010. Nesse período foram transfundidos um total de 9.858 bolsas. Os resultados mostraram que o hemocomponente mais transfundido foi o concentrado de hemácia (CH) com 64,70%. Em função disso, foi também o hemocomponente que apresentou maior envolvimento nas reações transfusionais imediatas. Do total dos casos que foram notificados como incidente, a reação hemolítica aguda (RHA) e a reação febril não hemolítica (RFNH) foram as mais comuns com incidência de 35,29% com dados equivalentes. A maioria das reações foram classificadas de acordo com o grau de gravidade em (grau I) leve com 58,82% caracterizado pela ausência de risco de morte imediato ou em longo prazo. Tendo em vista os resultados obtidos, acredita-se que é necessário promover programas de capacitação sobre medicina transfusional aos profissionais de saúde para minimizar os danos causados aos pacientes.

          Unitermos: Hemotransfusão. Reações transfusionais imediatas. Pacientes/Receptores. Enfermagem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera as transfusões sanguíneas como um dos dez principais problemas enfrentados na área da saúde, o que constitui uma constante preocupação entre profissionais, especialistas e autoridades desse campo (OKNAIAN et al, 2003 apud LOPES, 2005). Segundo (Lopes et al, 2005) 80% da população global, que vive em países subdesenvolvidos, está sujeita à má qualidade nas hemotransfusões, decorrente, em grande parte, das políticas públicas inadequadas, bem como programas ineficientes implantados na área de saúde.

    A utilização de sangue na prática transfusional envolve riscos relativos ao fato de ser um produto biológico de origem humana. Contudo, é também imprescindível e ainda insubstituível no tratamento de muitas doenças como afirmam Zago, Passeto e Pasquine (2004).

    As reações transfusionais podem ser representadas por qualquer sinal ou sintoma causado pelo procedimento hemoterápico, tais como: a elevação da temperatura (T) basal em valores iguais ou superiores a 1ºC, após iniciada a transfusão; calafrios, com ou sem febre; dor no peito, no abdômen ou na região lombar; alterações de pressão arterial (PA); desconforto respiratório; náusea, com ou sem vômitos; urticárias, outras alergias cutâneas; anafilaxia. Sejam eles ocorridos no início, durante ou após o recebimento do sangue.

    Em relação ao tempo de ocorrência as reações transfusionais podem ser denominadas agudas ou imediatas quando ocorrem durante ou até 24 horas após transfusão recebida, e tardias ou mediatas quando surgem depois desse período (ZAGO et al, 2004).

    Sabendo-se que um mesmo sintoma está relacionado a muitos tipos de reações é importante que o profissional de saúde identifique qual tipo de reação transfusional apresenta o paciente, para que tome os procedimentos adequados em cada caso.

    Como responsável pela Hemovigilância no Brasil, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece recomendações criteriosas para assegurar a qualidade de todas as transfusões de sangue.

    Segundo Brasil (2007), os incidentes transfusionais imediatos são classificados em:

    Ao passo que, os eventos transfusionais tardios, segundo Brasil (2007) são classificados em: Hemolítica Tardia; HBV/ Hepatite B; HCV/ Hepatite C; HIV/AIDS; Doença de Chagas; Sífilis; Malária; HTLV I / II; Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro / GVHD; Aparecimento de Anticorpos e irregulares/isoimunização.

    O controle e efetividade da cadeia transfusional é propósito das ações de hemovigilância. A rastreabilidade garantida e o registro documental são pilares deste processo, os quais devem ser contemplados em um sistema de qualidade total.

Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa descritiva e quantitativa de caráter casuístico. Os dados foram coletados de fontes secundárias, no Serviço de Hemoterapia e na Subdivisão de Arquivo Médico e Estatística (SAME) do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), localizado em Montes Claros, região norte de Minas Gerais, Brasil. A coleta de dados foi realizada entre os meses de agosto de 2006 a agosto de 2010. Como fontes de coleta de dados nesse período, utilizaram-se 17 fichas de notificação arquivadas no setor de hemoterapia classificados com um ou mais tipos de incidentes transfusionais imediatos e as informações contidas nos respectivos prontuários dos pacientes/receptores, estes serviram como base para a pesquisa.

    Nessa perspectiva, foi considerada a taxa ou coeficiente de incidência de reações transfusionais imediatas por 1.000 Hemocomponentes Transfundidos. Os dados coletados foram submetidos à análise de freqüência simples, utilizando-se para processamento o uso de tabelas.

    Quanto à gravidade das reações transfusionais, este estudo se orientou de acordo com a agência nacional de vigilância sanitária (ANVISA), que estabelece os seguintes graus.

Resultados e discussão

    No Brasil, toda coleta de sangue é feita e processada em sistema fechado, garantindo maior segurança transfusional. Em todo o sangue doado ou doação de aférese, podem ser obtidos: hemocomponentes ( hemácias, plaquetas e plasma) e hemoderivados (soluções de albumina, imunoglobulinas e concentrados de fatores de coagulação). Os hemocomponentes são separados por centrifugação diferencial e congelamento. De acordo com Langhi Júnior (2006), estes representam o mesmo risco de transmissão de doenças que existia no sangue total de origem.

    Do total de 9.858 bolsas de hemocomponentes transfundidos no Hospital Universitário Clemente de Faria o hemocomponente mais transfundido foi o concentrado de hemácias com 64,70% do total de bolsas, seguido de plasma e plaquetas que representaram 17.65% cada. Em função disso, houve maior incidência de reações transfusionais imediatas nas transfusões após a administração do concentrado de hemáceas.

    Como é relatado nas publicações recentes, o concentrado de hemácias aparece como o hemocomponente mais notificado em reações transfusionais em números absolutos (LINDOMAR, Rômulo et al 2011) seguido das plaquetas e plasma fresco congelado.

    Na tabela abaixo podemos verificar a incidência das reações transfusionais imediatas notificadas no período de 2006 a 2010.

Tabela 1. Distribuição dos ITI* ocorridos no HUCF, nos períodos agosto 2006 a agosto 2010, em números 

absolutos e percentuais, e taxa de incidência de ITI a cada 1.000 transfusões sanguíneas realizadas no período total (%)

    Reação Hemolítica Aguda é Caracterizada pela incompatibilidade (ABO). É a reação mais grave, podendo levar o paciente ao óbito, devido à hemólise intravascular. Geralmente, isto ocorre devido a erro de identificação, seja ela na amostra de sangue para a classificação sanguínea, na rotulação da bolsa ou na identificação do receptor a ser transfundido. Se mais do que 200ml de sangue incompatível for transfundido, eleva-se o risco de uma reação grave. Contudo, doses menores de 10-15ml de eritrócitos (ABO) incompatíveis podem produzir sinais e sintomas consideráveis (ZAGO, 2004).

    Nas reações transfusionais avaliadas, a Reação Febril Não Hemolítica (RFNH) juntamente com Reação Alérgica (RA) obtiveram o mesmo índice (35,29%), representando os incidentes mais notificados, com 70,58% do total de notificações. Nas publicações sobre processo transfusional, descrevem que a (RFNH) é o incidente mais notificado, seguido da (RA) (CALLERA, 2004; SIEGENTHALER et al, 2005). Estas duas, foram comumente observadas após transfusões do Concentrado de Hemácias (CH). Sob esta perspectiva, confirma-se, portanto, a presença de tais incidentes na pesquisa, já que (CH) fora o hemocomponente mais utilizado nas transfusões do Hospital Universitário.

    Apesar de a literatura compreender que a contaminação bacteriana é o caso mais reincidente entre os transfundidos, observou-se que nas hemotransfusões ministradas no Hospital Universitário, o incidente ocorrido pela contaminação bacteriana teve um percentual baixo 5,88% em relação à reação febril não hemolítica e reação alérgica.

    A assepsia adequada em local de punção venosa do doador de sangue, o armazenamento adequado dos hemocomponentes, além de limpeza e conservação de equipamentos, a observação rigorosa das normas técnicas referentes à infusão de hemocomponentes. São medidas preciosas para se evitar a contaminação bacteriana.

    Na presente pesquisa, não se apresentou nenhuma notificação de incidentes relacionados à hipervolemia (Sobrecarga Circulatória), à TRALI (injúria pulmonar relacionada à transfusão), hemólise não imune por dano físico ou químico das hemácias e a depleção de plaquetas e fatores de coagulação e os distúrbios de metabolismo. É possível que haja subnotificação destes casos e erroneidade na classificação, porque em grande parte, a TRALI nem sempre é bem diferenciada de sobrecarga volêmica ou de falência cardíaca congestiva. Talvez, às falhas de observância no processo de hemoterapia e destas não serem rigorosamente notificadas contribuam para determinar uma incidência da mesma muito baixa nos estudos. (SCHNEIDER, 2005; DEIBER, 1999)

    Para se ter uma noção sobre o assunto, estudos realizados em 90 casos de TRALI ocorridos em 81 pacientes, onde todos se apresentaram com hipoxemia severa, a grande maioria apresentou cianose visível com início aproximadamente, 30 minutos após a transfusão. Também se observou estado febril, às vezes acompanhada de tremores, e a ocorrência de hipotensão foi rara. Devido à similitude do quadro sintomático com outras reações adversas, muitas vezes a TRALI pode ter sido notificada erradamente em alguns casos como sobrecarga de volume ou como contaminação bacteriana, pois esta última apresenta um mesmo sintoma, calafrios (ZAGO, 2004).

    Neste estudo, no período de agosto de 2006 a agosto de 2009 a taxa de incidência transfusional foi de 1,7 por 1.000 Hemocomponentes Transfundidos, sendo relativamente inferior comparando a um estudo realizado no Hospital Universitário Estadual de Londrina, Paraná, durante um período de 36 meses, em que se observou uma taxa de incidência de 3,9 por 1.000 Hemocomponentes Transfundidos (SAITO, MARIZA 2010)

    O registro das ações de enfermagem datado e assinado deve constar no prontuário do paciente. Dos 17 prontuários que foram investigados no Hospital Universitário Clemente Faria (HUCF), 3 (três) tiveram subnotificação dos registros dos profissionais envolvidos no processo transfusional. Nesses casos, é necessária uma investigação precisa com anotações minuciosas, já que os sinais e sintomas também podem estar ligados ao quadro clínico do paciente, e estes sendo classificados erroneamente como incidentes transfusionais.

    No Brasil, o processo rigoroso de qualidade se intensifica, pois há uma prevalência de incidentes transfusionais imediatos (ITIs). Para a literatura médica, a prevenção de novos casos depende de estudos sistêmicos sobre as notificações já existentes. (BRASIL, 2007a; BRASIL, 2004d). Isso torna a pesquisa sobre o assunto ainda mais complexa, pois se sabe que os registros durante e pós transfusionais não são confiáveis, devido às falhas de observância no processo de hemoterapia e destas não serem rigorosamente notificadas.

    Os números percentuais no que se refere à gravidade do evento adverso foram dispostos na tabela 2.

Tabela 2. Distribuição dos ITI*s quanto ao código da gravidade do evento adverso associado ao uso de sangue a cada 1.000 

transfusões sanguíneas realizadas no período de agosto de 2006 a agosto 2010 no HUCF, em números absolutos e percentuais

    Conforme os dados dispostos na tabela 2, percebeu-se uma predominância das reações imediatas de gravidade de grau I (leve). È necessário através dos dados monitorar e avaliar o impacto clínico de acordo com a gravidade do evento adverso, para implementar medidas de intervenção.

Conclusão

    O dado relativo aos incidentes transfusionais imediatos do Hospital Universitário Clemente Faria (HUCF) apresentado neste estudo, teve uma taxa de incidência transfusional de 1,7 por 1.000 Hemocomponentes Transfundidos. A análise dos dados apresentou uma equivalência no índice de ocorrência dos incidentes transfusionais imediatos em que a Reação Alérgica 35,29% e a Reação Febril Não Hemolítica 35,29%, estas foram significativamente mais comuns após a transfusão de concentrado de hemácia em comparação com as plaquetas e o plasma.

    As reações adversas imediatas ocorridas no Hospital universitário foram classificadas de acordo com o grau de gravidade do estado clínico do paciente considerado como leve, sem risco imediato ou de longo prazo de mortalidade.

    A presença do segundo maior percentual 17,66% desta pesquisa impossibilitou o cálculo preciso da incidência de reações transfusionais imediatas. Estes referidos como sinais e sintomas não classificados decorrentes da subnotificação dos profissionais envolvidos no processo de hemoterapia.

    Através da análise crítica dos dados coletados no sistema hemoterápico do HUCF, espera-se que este estudo possibilite visualizar o panorama dos incidentes transfusionais e, com isso, seja possível aprimorar o serviço hemoterápico com planos de ações corretivas, visando à segurança transfusional na referida instituição de saúde.

    Por fim, vale ressaltar que a análise do estudo aqui apresentados objetivou revelar tendências sobre os incidentes transfusionais imediatos e fornecer um melhor entendimento e aperfeiçoamento, e com isso minimizar os riscos decorrentes da hemoterapia no HUCF.

Referências

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