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Determinação e caracterização de risco 

cardiovascular em trabalhadores de empresa privadas

Determinación y caracterización del riesgo cardiovascular en trabajadores de empresas privadas

 

*Graduado em Enfermagem

pelo Centro Universitário de Maringá (CESUMAR, PR)

**Mestre em Ciências Farmacêuticas

pela Universidade Estadual de Maringá (UEM, PR)

(Brasil)

José Ronaldo Alves dos Santos*

ronaracaju@yahoo.com.br

Edivan Rodrigo de Paula Ramos**

edivanramos@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          As doenças DCV representam a principal causa de óbitos em todo o mundo, além de sua elevada mortalidade, consomem uma considerável parcela dos recursos destinados à saúde. O objetivo deste estudo foi identificar os fatores de risco para aterosclerose em trabalhadores, visando determinar, por meio da ERF, o risco percentual de desenvolvimento de IAM em 10 anos. Foram avaliados, 268 funcionários. Verificou-se maior risco cardiovascular em indivíduos do gênero masculino (68,4%), risco percentual de 1 - 8%, aos indivíduos do gênero feminino que apresentaram risco inferior a 1% (68,0%). Os indivíduos com nível superior de escolaridade, solteiros, melhores remunerados, com maior número de filhos, moradia própria, IMC elevado, sem uso de medicação, que praticavam atividades físicas esporadicamente, consumiam bebidas alcoólicas e fumantes possuíam alto risco de IAM

          Unitermos: Framingham. Aterosclerose. Dislipidemias. Infarto agudo do miocárdio. Enfermagem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

1.1.     Descrição do problema de pesquisa

    As doenças cardiovasculares (DCV) representam a principal causa de óbitos em todo o mundo. Além de sua elevada mortalidade, as DCV também são responsáveis por um grande número de hospitalizações o que consome uma considerável parcela dos recursos destinados à saúde pública (AVEZUM; PIEGAS; PEREIRA, 2005; GODOY et al., 2007; LOPES et al., 2007). Dentre as principais DCV, a doença arterial coronariana (DAC) é considerada uma das mais graves, pois é responsável pela maioria dos casos de infarto agudo do miocárdio (IV DIRETRIZ BRASILEIRA SOBRE DISLIPIDEMIAS E PRENVEÇAO DE ATEROSCLEROSE, 2007).

    A DAC é resultado de um processo de oxidação de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) que induzem a migração de células inflamatórias como linfócitos, monócitos e segmentados para a parede dos vasos que apresentam a injuria, no caso do coração acomete os vasos coronários. Como conseqüência, há a formação de uma placa gordurosa ou placa de ateroma (ALBUQUERQUE et al., 2006). Embora a aterosclerose tenha origem multifatorial, o estilo de vida pró-aterogênico, fatores genéticos, gênero, faixa etária e o uso de medicamentos representam os principais fatores desencadeantes da doença. Muitos destes fatores podem ser correlacionados quantitativamente por meio da Escala de Framingham obtendo-se assim, o risco percentual de desenvolvimento de infarto agudo do miocárdio em dez anos (IV DIRETRIZ BRASILEIRA SOBRE DISLIPIDEMIAS E PRENVEÇAO DE ATEROSCLEROSE, 2007).

1.2.     Revisão bibliográfica

1.2.1.     Epidemiologia

    Atualmente, as DCV representam a principal causa de mortes em todo o mundo, mais de 17 milhões por ano, e estima-se que esse quadro permaneça até 2020 (AVEZUM; PIEGAS; PEREIRA, 2005; SILVA; SOUSA; SCHARGODSKY, 1998). No Brasil, um terço do total de mortes e 65% dos óbitos em pessoas com idade entre 30 e 69 anos são causados por DCV. Considerando apenas o Estado do Paraná, em 2006, 18,7 mil pessoas morreram em conseqüência de doenças do aparelho circulatório, totalizando 32,5% dos óbitos ocorridos no Estado (DATASUS, 2006;). De acordo com o Ministério da Saúde (2009), o número de mortes por infarto agudo do miocárdio (IAM) aumentou de 61.520, em 2002, para 72.174 em 2008.

    Além da elevada mortalidade, os gastos gerados pelas DCV representam outro problema que tem se tornado uma preocupação crescente em vários países. Em 2005 foram gastos, no mundo, R$ 1.323.775.008,28 referentes a 1.180.184 internações por DCV (LOPES et al., 2007). No Brasil, estima-se que os gastos com estas patologias correspondam a aproximadamente 1,74% do produto interno bruto do país (SILVA, 2008). Em 2007, os gastos totais com as internações hospitalares registradas pelo SUS-Paraná chegaram a aproximadamente 567 milhões de reais, em média R$ 764,63 por internação (DATASUS, 2007).

1.2.2.     Metabolismo de lipoproteínas e dislipidemias

    De todas as DCV a aterosclerose é uma das mais preocupantes, pois esta diretamente envolvida no desenvolvimento da doença arterial coronariana (DAC) e IAM, as quais demonstram elevadas taxas de mortalidade. O processo de aterogênese é desencadeado por alterações no metabolismo de lipoproteínas plasmáticas. Estas moléculas são micelas formadas pela mistura de apoproteínas, porção protéica, e diferentes lipídios (IV DIRETRIZ BRASILEIRA SOBRE DISLIPIDEMIAS E PRENVEÇÃO DE ATEROSCLEROSE, 2007). As diversas lipoproteínas são distinguidas pelo tipo de apoproteína constituinte, tipo e densidade de lipídios transportados, densidade e local de síntese. Com base nestes critérios, as lipoproteínas são classificadas em: quilomícrons (QM), lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), lipoproteína de densidade intermediária (IDL), lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e lipoproteínas de alta densidade (HDL) (FORTI; DIAMENT, 2006). Um outro tipo de lipoproteína é a lip(a) cuja estrutura é semelhante ao LDL. Contudo, a lip (a) parece não estar envolvida no transporte de lipídios pelo plasma, embora seja considerada um fator independente para risco de aterosclerose já que esta partícula inibe a ação da plasmina e consequentemente a dissolução do coágulo (LIMA et al., 2006).

1.2.3.     Aterosclerose e Escala de Framingham

    As alterações no perfil lipídico representam um dos principais fatores desencadeantes da aterosclerose. Esta doença é caracterizada por uma inflamação crônica no endotélio devido ao acúmulo de lipídeos, macrófagos derivados de monócitos, linfócitos T e constituintes celulares normais da parede da artéria (ARAÚJO et al., 2005). Este processo inflamatório culmina com a formação da placa de ateroma (ALBUQUERQUE et al., 2006).

    Os diferentes fatores de risco para aterosclerose podem ser correlacionados e mensurados por meio de uma escala conhecida como Escore de Riscos de Framingham (ERF). Esta escala atribui pontuações positivas e negativas para fatores de risco como faixa etária, gênero, tabagismo, etilismo, níveis séricos de CT e colesterol-HDL, valores de pressão arterial e presença de hipertensão arterial tratada e não tratada. Após realizar o somatório dos pontos, a ERF correlaciona a pontuação final com o risco percentual de desenvolvimento de IAM em dez anos. De acordo com este risco, os pacientes podem ser classificados em três categorias: baixo risco (quando os valores são inferiores a 10%), risco intermediário (quando os valores estão entre 10 e 20%) e risco elevado (quando os valores estão acima de 20%) (IV DIRETRIZ BRASILEIRA SOBRE DISLIPIDEMIAS E PREVENÇÃO DA ATEROSCLEROSE, 2007).

1.2.4.     Enfermagem na promoção a saúde

    A enfermagem é uma das profissões da área da saúde cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano, individualmente, na família ou na comunidade, desenvolvendo atividades de promoção, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação da saúde (ROCHA, 2000).

    No que se refere ao âmbito de trabalho, a Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho (ANENT) (2009) enfatiza que cabe ao enfermeiro do trabalho estudar as condições de segurança e periculosidade da empresa, efetuando observações nos locais de trabalho e discutindo-as em equipe, para identificar as necessidades no campo de segurança, higiene e melhoria do trabalho, estimulando a aquisição de hábitos sadios, para prevenir doenças profissionais e melhorar as condições de saúde do trabalhador.

1.3.     Objetivo da pesquisa

    O objetivo da pesquisa foi identificar e caracterizar os fatores de risco para aterosclerose em trabalhadores de empresas privadas visando determinar, por meio da ERF, o risco percentual de desenvolvimento de IAM em 10 anos.

2.     Método

2.1.     Participantes

    Participaram deste trabalho 268 funcionários de empresas localizadas em um município da região noroeste do Paraná. O tamanho da amostra foi determinado por conveniência e a participação dos funcionários se deu por adesão voluntária.

2.2.     Local

    A coleta de sangue venoso, o preenchimento das fichas para identificação das variáveis sócio-demográficas, patológicas e relacionadas ao estilo de vida e a aferição da pressão arterial dos trabalhadores foram realizadas em empresas localizadas na cidade de Maringá-Paraná.

3.     Análise dos dados

    Os dados foram descritos de forma quantitativa como freqüência absoluta e percentual. A verificação de diferenças significativas da freqüência de distribuição das variáveis sócio-demográficas, patológicas, terapêuticas e relacionadas ao estilo de vida nas diferentes faixas de risco de desenvolvimento de IAM foi determinada pelo teste do qui-quadrado adotando-se como nível de significância, valores de p<0,05. As análises estatísticas foram feitas com auxílio de programa estatístico GraphPad Prisma 3.0.

4.     Resultados e discussão

    Durante muito tempo, acreditou-se que as DCV eram geradas exclusivamente por fatores genéticos. Contudo, com os avanços científicos e tecnológicos verificou-se que as DCV estão mais ligadas a fatores de risco que a própria genética. Com o estudo realizado na cidade de Framinghan, nos Estados Unidos, foram identificados como os principais fatores de risco para doenças coronarianas a hipertensão arterial, o colesterol elevado e o tabagismo. Estes fatores, associados ao gênero e a faixa etária, foram correlacionados e, a partir desta correlação, foi possível estimar a probabilidade de desenvolvimento de IAM em um inter­valo de tempo definido (LOTUFO, 2008). O risco percentual de desenvolvimento de IAM foi determinado nos sujeitos deste trabalho e a freqüência de distribuição dos trabalhadores nas diferentes faixas de risco percentual para desenvolvimento de IAM mostrou que a maioria dos funcionários estava na faixa entre 10 e 20% (156 ou 58,2%) seguida da faixa com valores inferiores a 10% com 82 (30,6%) participantes. A faixa maior que 20%, com 12 participantes, apresentou (11,2%), respectivamente. (Tabelas 1, 2 e 3).

Tabela 1: Distribuição absoluta e percentual das variáveis sócio-demográficas em função da porcentagem de risco segundo Framingham

    Em relação ao grau de escolaridade, tem sido demonstrado que indivíduos com nível superior são mais acometidos por DCV. Desta forma, pode-se verificar que o nível de escolaridade torna-se um decisivo fator de risco para a saúde cardiovascular o que requer cuidados governamentais para a adequação das políticas de saúde e educação da população brasileira (PERREIRA et al., 2009)

    Em relação ao estado civil, os resultados demonstraram que os indivíduos solteiros possuíam maior risco para desenvolvimento de DCV. Porém, SILVA (1998), ao estudar 591 indivíduos de 20 centros médicos distribuídos no Brasil, identificou uma prevalência maior (77,52%) de risco em indivíduos casados.

    No que se refere às características patológicas e terapêuticas, observou-se que o IMC e o histórico familiar de DCV corresponderam a variáveis que influenciaram significativamente a frequência de distribuição dos participantes nas diferentes faixas de risco (TABELA 2).

Tabela 2: Distribuição absoluta e percentual das variáveis patológicas e terapêuticas em função da porcentagem de risco segundo Framingham

    No que se refere ao IMC, tem sido demonstrado que indivíduos com IMC acima do normal são mais acometidos por DCV. No entanto, o estudo de LOTTENBERG (2009) elenca que a quantidade e o tipo de gordura alimentar exercem influência direta sobre fatores de risco cardiovascular, tais como a concentração de lipídeos e de lipoproteínas plasmáticas, como também aterogenicidade das partículas de LDL, e o elevado IMC.

    HUBERT et al (1983) mostraram, através do estudo de Framingham, que a IMC acima do normal é um fator de risco independente dos demais para a ocorrência de doença isquêmica coronariana, para IAM e morte súbita, especialmente em homens abaixo de 50 anos.

    No que se refere às características das variáveis relacionadas ao estilo de vida, observou-se que a atividade física, o uso de álcool e os hábitos tabagistas corresponderam a variáveis que influenciaram significativamente a freqüência de distribuição dos participantes nas diferentes faixas de risco (TABELA 3).

Tabela 03: Distribuição absoluta e percentual das variáveis relacionadas 

ao estilo de vida em função da porcentagem de risco segundo Framingham

    Os resultados demonstraram que 146 (60,3%) indivíduos entrevistados não possuíam hábitos de fumar e somente 10 (38,5%) indivíduos referiam fumar diariamente. No que se refere a risco absoluto para desenvolvimento de DCV, PEIXOTO et al., (2005) demonstrou que a prevalência de tabagismo entre gênero masculino é cerca de três vezes maior que no gênero feminino e que é bem estabelecida à associação entre hábito de fumar e o aumento do risco cardiovascular.

    O tabagismo é considerado um dos fatores de riscos mais prejudiciais à saúde de um individuo e um importante predispositor a ocorrência de DCV. Representa um dos maiores desafios da saúde pública, não apenas por tratar-se de um potente fator de risco cardiovascular, mas também pela constatação de que a maioria dos fumantes adquire esse hábito na pré-adolescência ou adolescência e mantém por toda a sua existência (MONENGO, 2006).

5.     Conclusão

    Neste estudo foram avaliados trabalhadores da rede privada, constatou-se que os indivíduos do gênero masculinos, possuíam maior risco de infarto ou morte por doença coronariana no período de 10 anos, que os indivíduos do gênero feminino.

    Contudo destacam os indivíduos com nível superior de escolaridade, solteiros, com melhores níveis salariais, que possuem maiores números de filhos, com moradia própria, IMC elevado, ou que praticam atividades físicas esporadicamente, e que consumiam álcool e possuíam hábitos tabagistas como potencialmente vulneráveis ao IAM.

    As predominâncias de fatores de riscos modificáveis sugerem que mudanças do estilo de vida podem reduzir o risco cardiovascular. Dessa forma, é extremamente importante a elaboração de políticas públicas de promoção da saúde com caráter preventivo, visando atenuar a morbidade e mortalidade, programas de promoção da saúde, podem ser úteis no combate aos fatores de risco modificáveis.

Referências bibliográficas

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