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Educação Física Escolar: olhares sobre a disciplina

La Educación Física Escolar: miradas sobre la disciplina

 

Licenciado em Educação Física pela Escola de Educação Física e Desportos

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEFD-UFRJ)

Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGE-UFRJ)

Gustavo da Motta Silva

gustavomotta1990@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Com a redemocratização do país e a entrada de novos referenciais no âmbito da Educação Física, buscou-se uma reflexão sobre a prática através de novas formas de se pensar essa disciplina. A presente reflexão abarcará duas formas de se pensar a Educação Física na escola, uma atrelada à questão da atividade física e promoção da saúde e a outra relacionada à cultura corporal. Considerando que estas duas formas de pensar estão imbricadas, compreende-se que a Educação Física é uma disciplina permeada por vários ambientes e diversas abordagens.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Atividade física. Cultura Corporal.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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“Cada ambiente é um estímulo para a inteligência”

Rubem Alves, 2002

Considerações iniciais

    Desde a década de 1980, com a redemocratização do país e a entrada de novos referenciais no âmbito da Educação Física, buscou-se uma reflexão sobre a prática através de novas formas de se pensar essa disciplina. Sendo assim, para Lüdorf (2004): “A Educação Física é uma área privilegiada, pois possui interfaces com as Ciências Naturais e as da Saúde, assim como com as Ciências Humanas e Sociais”.

    Deste modo, a presente reflexão abarcará duas formas de se pensar a Educação Física na escola, uma atrelada à questão da atividade física e promoção da saúde e a outra relacionada à cultura corporal. É pertinente destacar que apesar de serem apresentadas separadamente, não significa que estas duas formas de se pensar a Educação Física não estejam imbricadas.

Discussão

    Sobre a questão da Educação Física relacionada à Saúde e promoção da mesma, é possível observar uma série discursos atrelados à prática regular de exercícios físicos e à prevenção de doenças (OLIVEIRA, 2010). Por isso, é mister analisar como esses discursos poderiam se apresentar na escola.

    Esta visão do exercício físico como algo benéfico à saúde tem respaldo através de uma corrente de pensamento intitulada por Aptidão Física Relacionada à Saúde (AFRS), onde os adeptos desta corrente acreditam que para os alunos possuírem uma autonomia para a prática de atividade física, os mesmos devem ter vivenciado isso nas aulas de Educação Física escolar (FARINATTI, 2006).

    Para Guedes (1999), um propagador da AFRS no Brasil, o aumento das estatísticas relacionadas a doenças crônico degenerativas e a pouca adesão das pessoas à atividade física estão diretamente relacionadas a uma mudança na orientação das aulas de Educação Física escolar para um foco na saúde. Sendo assim, percebe-se que para o autor, a ênfase das aulas de Educação Física escolar deveria estar relacionada a concepções atreladas à saúde.

    Entretanto, uma crítica feita a esses autores, é que os ideais propagados pela AFRS podem levar a culpabilização das pessoas por não apresentarem um estilo de vida saudável (FARINATTI, 2006). É nesta discussão, que Courtine (1995) ao analisar as práticas e representações do corpo na sociedade, destaca que cada indivíduo passa a ser o gestor de seu próprio corpo.

    Com relação à promoção da saúde, Guedes (1999) comenta que a sociedade, de uma forma geral, não possui um estilo de vida saudável e ativo e deste modo, aponta que este aspecto está relacionado a uma “deficiência educacional” e que a mudança de foco da Educação Física escolar voltada para a área da saúde (mudança essa já comentada anteriormente) demonstra-se urgente.

    Todavia, outras críticas feitas a estas concepções são que as mesmas seriam de cunho “biologicista” sem considerar o contexto social dos indivíduos e apresentando uma visão utilitarista do exercício e da aptidão física para a promoção de saúde das pessoas, além de restringir o papel da escola a transmitir os conteúdos da área biológica (FARINATTI, 2006).

    Nesta mesma discussão, Oliveira (2009) comenta que mesmo que pareça que algumas populações não estejam engajadas em uma prática sistemática de exercícios físicos do modo como os especialistas orientam, há investigações que apresentam um aumento da adesão das pessoas à prática de atividades físicas e, além disso, o autor também ressalta que embora a literatura biomédica apresente a ideia de que o sedentarismo poderia propiciar a ocorrência de uma série de doenças, esta relação parece não estar bem estabelecida ainda.

    Com relação à outra forma de se pensar a Educação Física, Darido (2004) aponta que a Educação Física na escola é compreendida como uma área que trata da cultura corporal tendo como finalidade introduzir e integrar alunos à sociedade.

    Sendo assim, Daolio (2007) ressalta que pensar o corpo como puramente biológico pode ser um erro, uma vez que o corpo é fruto da interação natureza/cultura e atuar sobre o mesmo é atuar na sociedade em que ele está inserido.

    Nesta mesma discussão, Mauss (2003) aponta que as técnicas corporais seriam como o homem “utilizaria” o seu corpo e variando de sociedade para sociedade. Deste modo, compreende-se que toda e qualquer forma de se expressar e movimentar está imbricada com o contexto social. Complementando o que foi apresentado, para Darido (2004) a importância da Educação Física escolar seria proporcionar nas aulas, uma aprendizagem das atividades corporais relacionadas à cultura.

Conclusão

    Portanto, através desta reflexão procurou-se analisar duas formas de se pensar a Educação Física Escolar, levando em consideração que as mesmas podem estar relacionadas, pois, retomando a epígrafe deste trabalho, a Educação Física é uma disciplina que se adequa a vários ambientes e diversas abordagens e não necessariamente perde sua legitimidade, uma vez que cada experiência representa um estímulo para inteligência.

Referências

  • ALVES, Rubem. Por uma educação romântica. Campinas, SP: Papirus, 2002.

  • COURTINE, Jean-Jacques. Os Stakhanovistas do narcisismo: body building e puritanismo ostentatório na cultura americana do corpo. In: SANT’ANNA, D.B. (org.) Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995.

  • DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. 12. ed. Campinas: Papirus, 2007.

  • DARIDO, Suraya Cristina, A educação física escolar e o processo de formação dos praticantes de atividade física. Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.18, n.1, p.61-80, 2004.

  • FARINATTI, Paulo Tarso. Saúde, promoção da saúde e Educação Física: conceito, princípios e aplicações. Rio de Janeiro: Ed UERJ, 2006.

  • GUEDES, Dartagnan Pinto. Educação Física para a saúde mediante programas de Educação Física escolar. Motriz, Rio Claro, v.5, n.1, p.10-14, 1999.

  • LÜDORF, Sílvia Maria Agatti. Metodologia da pesquisa: do projeto à monografia. Rio de Janeiro: Shape, 2004.

  • MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

  • OLIVEIRA, Alexandre Palma de et al. Culto ao corpo e exposição de produtos na mídia especializada em estética e saúde. Movimento, Porto Alegre, v. 16, n. 01, p. 31-51, 2010.

  • OLIVEIRA, Alexandre Palma de. Exercício físico e saúde; Sedentarismo e Doenças: Epidemia, causalidade e moralidade. Motriz, Rio Claro, v.15 n.1 p.185-191, 2009.

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