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Avaliação da prática pedagógica dos
egressos em Educação Física da ESEFFEGO, UEG

Evaluación de la práctica pedagógica de los egresados en Educación Física de la ESEFFEGO, UEG

 

*Mestre em Educação pela Universidade Federal de Goiás, UFG

Professor da Faculdade de Educação Física, UFG

**Graduada em Educação Física pela Eseffego, UEG

Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Extensa Forma

***Especialista em Educação Física Escolar

pela Universidade Estadual de Goiás, ESEFFEGO, UEG

Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Extensa Forma

(Brasil)

Sérgio de Almeida Moura*

sergio.efisica@gmail.com

Eliza Mohn Nogueira de Araujo**

izamohn@hotmail.com

Fernanda Cury Botezelli**

fernandabotezelli@hotmail.com

Jaqueline dos Santos Arraes**

jaqueline.arraes@hotmail.com

Jorge Luiz Rodrigues Mota Junyor***

jorge.junyor@gmail.com

Kesia Antônio de Oliveira***

kesia-oliv@hotmail.com

Larissa Martins Costa***

larissamartinscosta@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo buscar compreender aspectos da prática pedagógica dos professores de educação física, formados pela Eseffego/UEG-Goiânia, no período de 2002/2 a 2006/2, que tem relações diretas e indiretas com o processo formativo do licenciado. Propôs-se identificar a prática a partir das respostas encaminhadas eletronicamente a um questionário que indagou os sujeitos sobre sua chegada na universidade, seu processo formativo nas dimensões das experiências de sala de aula, do envolvimento com a pesquisa e produção do conhecimento, experiências e vivências externas ao currículo da instituição. Sustentado numa perspectiva dialética para o reconhecimento da realidade para além das respostas, buscou-se caracterizar as contradições presentes no discurso do relato da prática profissional e da experiência formativa da graduação.

          Unitermos: Avaliação. Egresso. Formação. Prática pedagógica.

 

          Projeto de pesquisa desenvolvido nos anos de 2009 e 2010.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Pensar os processos educativos nos quais estão envolvidos os professores de educação física, seja nos espaços escolares, seja nos espaços não-escolares (academias, clubes, centros de saúde, etc.), requer a compreensão de que inúmeros aspectos objetivos e subjetivos estão em questão no desenvolvimento do currículo. Pensamos a formação deste professor e novamente não é possível nas avançar nas idealizações sem que façamos ponderações, análises e de algum modo, retornemos ao mesmo ponto de partida: o currículo de formação.

    Nesta pesquisa, ao objetivar compreender como se constitui a prática pedagógica dos egressos em educação física da Eseffego, tomamos como ponto de partida as discussões já acumuladas por alguns autores como: FREITAS, (1995); ARROYO, (1999); PARO, (1999); CHAVES, (2003); CAPARROZ e BRACHT, (2007); entre outros em que a organização do trabalho pedagógico, a formação para a cidadania, os aspectos da crise do sistema capitalista e as novas configurações e exigências para o trabalhador, bem como, as necessidades de reconhecimento da autonomia e da autoria como elementos imprescindíveis para uma prática pedagógica interventiva, todas essas discussões ricas sobre o espectro da aceitação de que o elemento que unifica o entendimento sobre o que faz o professor de educação física na escola ou na academia ou no clube ou na instituição de saúde, é que seja qual for o campo de trabalho, o egresso está exercendo sua função de ser professor, portanto, estará exercendo uma prática pedagógica.

    A pesquisa em questão que tem como objetivo identificar a prática pedagógica dos egressos da ESEFFEGO/UEG formados a partir de 2002/2 e confrontá-la com algumas das práticas curriculares que os formaram. Busca-se ainda sistematizar o perfil da prática pedagógica desses egressos, e confrontar sua atuação profissional com aspectos da proposta do currículo de sua formação. Entendida assim a busca pela compreensão dos processos sócio-laborais dos egressos em Educação Física pode trazer significativas contribuições aos processos formativos da graduação, bem como, sinalizar aspectos ou questões a serem refletidas e tratadas no ambiente da formação continuada em serviço, seja nos cursos de pós-graduação lato sensu, seja nas experiências paralelas aos cursos de graduação (congressos, seminários, entre outros).

    Os elementos mais significativos no campo da formação inicial, refere-se às possibilidades do currículo interferir nas concepções de mundo, homem e educação, buscando ampliar o olhar dos acadêmicos e futuros professores, para uma perspectiva de homem omnilateral.

    A omnilateralidade é, pois, o chegar histórico do homem a uma totalidade de capacidades e, ao mesmo tempo, a uma totalidade de capacidade de consumo e gozo, em que se deve considerar, sobretudo, o usufruir dos bens espirituais, além dos materiais de que o trabalhador tem estado excluído em conseqüência da divisão do trabalho (MANACORDA apud GADOTTI, 1995, p.58).

    Segundo Martí (apud MÉSZÁROS 2007, p.213), “Educar es depositar en cada hombre toda la obra humana que le ha antecedido; es hacer a cada hombre resumen del mundo viviente hasta el día en que vive...”. Nesse sentido, entendemos que é preciso olhar para os processos formativos tanto da educação básica quanto da educação superior como lugares em que se tem a oportunidade de interferir na formação de homens e mulheres. Isso significa em outras palavras, que o espaço institucionalizado da educação escolar necessita de uma constante revista acerca das práticas e suas inter-relações com os objetivos tanto do projeto pedagógico, quanto dos objetivos de se construir um modelo societário alternativo a este vigente.

    Para Tardif (2007) e Borges (2004), é categórica a afirmação de que a prática dos professores é composta de um conjunto de tipos de saberes, que para ele são chamados de saberes docentes. Nesse sentido, pensa-se que o campo da prática pedagógica à qual é investigada nessa pesquisa necessita ser confrontada com os saberes que fazem parte da formação do professor. São eles: Conhecimento da Matéria Ensinada; Conhecimento das Ciências Humanas e Sociais; Saber Ensinar; Saberes das Finalidades Educativas; Conhecimentos Gerais e de Outros Campos Científicos; As posturas, o saber ser, saber fazer, o saber agir, os valores.

    Para isso, compreendemos que os professores carregam ora mais, ora menos as dimensões dos saberes citados acima. Compreendemos que tais saberes podem e devem ser refletidos no espaço da formação inicial (aqui considerada a graduação), bem como, da formação continuada.

Metodologia

    Sobre as questões especificamente dos instrumentos e procedimentos metodológicos da pesquisa, a identificação dos sujeitos e o levantamento do quantitativo, bem como, dos questionários a serem enviados, tivemos como ponto de partida o número dos egressos formados a partir do prazo de conclusão do curso (4 anos) subseqüente ao ano de implantação da matriz curricular em 1999. Nesse sentido, a primeira turma a se formar no prazo foi no segundo semestre de 2002. Com esse critério, projetamos a definição de um conjunto de egressos que se formariam nos anos/semestres 2002/2, 2003/2, 2004/2, 2005/2 tanto no turno matutino, quanto no turno vespertino, cujo quantitativo aproximado seria de 200 egressos. Desse total, definimos uma mostra de 40%, onde trabalharíamos com um recorte de 80 sujeitos.

    Ao realizarmos o levantamento das informações cadastrais dos egressos definidos nos critérios acima, iniciou-se alguns contratempos para que os contatos fossem iniciados. Apesar de termos cumprido, o levantamento das informações dos egressos no tempo determinado pelo cronograma inicial, obtivemos algumas dificuldades na ação de realizar os contatos com os egressos. Entre eles:

    Passada essa fase, adotamos o procedimento de envio dos questionários através do correio eletrônico, fato que, apesar da Universidade exigir uma lista orçamentária de recursos materiais e não materiais que o projeto exigiria para sua execução, os recursos aprovados no projeto nunca foram disponibilizados, e assim, não foi possível enviar os questionários pelos correios para que fossem retornados também via postal, bem como, não foi possível que nossos acadêmicos se deslocassem através de transporte coletivo na cidade de Goiânia e na Grande Goiânia para levar os questionários em mãos, fazendo assim com que os instrumentos pudessem ser coletados com segurança e a quantidade esperada.

    Essa situação levou-nos a buscar uma forma mais moderna, contextual e tecnologicamente possível, porém, por conta das divergências nos dados coletados sobre os egressos (como endereços eletrônicos errados, extintos, etc.), dos 136 questionários enviados por e-mail, 45 foram devolvidos por problemas nos servidores, caixa postal com capacidade superior, endereços que constavam como inexistentes (apesar de terem sido confirmados pelos egressos). Foram enviados no total 165 emails.

    O presente estudo conta com um número de 17 questionários dos quais, decidimos a partir da referência epistêmica do trabalho, imprimir um olhar qualitativo e identificar aspectos que compõem a realidade da prática pedagógica dos egressos em Educação Física da Eseffego/UEG. Os questionários foram agrupados por uma ordem numérica de 01 a 17 para anonimizar os sujeitos da pesquisa.

    Feito esse encaminhamento, passamos a tabular os dados e agrupá-los por categorias cujo sentido para o trabalho, busca desvelar e revelar a realidade sobre o objetivo anunciado.

Resultados e discussão

    A partir do trabalho realizado na tabulação e sistematização dos dados, foi necessário caracterizar os dados e categorizá-los. Por esse entendimento, apontamos as seguintes categorias para acolher os dados e desmitificá-los: Dimensões da Pesquisa na Formação Inicial e Continuada; Estágio e Formação Inicial; Perfil do Egresso e do Ingresso; Relação Teoria-Prática; Continuidades e Descontinuidades.

1.     Dimensões da pesquisa na formação inicial e continuada

    Partiremos da idéia que trata da relevância da pesquisa na formação inicial e continuada. Diante dos resultados obtidos nos questionários aplicados aos sujeitos, sete deles não tiveram nenhuma relação com a pesquisa, na formação inicial, já os outros dez sujeitos, de alguma maneira estiveram envolvidos com a pesquisa em sua formação, sejam elas em grupos de estudos, monitorias ou extensão.

    Diante dos sujeitos analisados todos aqueles que responderam sim à participação em grupos de estudos, pesquisas, monitorias ou extensão, totalizando em aproximadamente 58,82%, conseguiram cada um com sua singularidade construir um desenvolvimento na prática de atuação menos problematizado, ou seja, diante as várias dificuldades que encontraram, como no desenvolvimento da metodologia e estruturação de conteúdos, as questões burocráticas encontradas na escola e também uma melhor abrangência sobre alguns assuntos, estes comparados com àqueles que responderam não à mesma pergunta, mas que atuam na área escolar, totalizados 29,41%, teve menor dificuldade ao se tratar da realidade em que estavam envolvidos no seu campo de trabalho.

    Outra resposta que podemos destacar é a do sujeito 10 que trata como uma de suas potencialidades “o conhecimento da realidade escolar de um modo geral”. É possível entender, diante desta resposta, que o sujeito 10 pode ter adquirido esta experiência através das propostas em que estava envolvido no decorrer de sua formação acadêmica, como por exemplo, a participação em uma monitoria e em um grupo de estudo.

    Analisando outros sujeitos que fazem parte do grupo de egressos que não se envolveram com pesquisa, monitoria ou grupos de estudos, podemos destacar a resposta do sujeito 17, em que descreve as dificuldades que encontrou no ambiente de trabalho. Uma delas foi “colocar em prática as teorias críticas da educação física no dia-a-dia do trabalho pedagógico”. Outro sujeito que podemos destacar é o sujeito 04 que descreve que a maior dificuldade encontrada no campo de trabalho “é a falta de conhecimentos práticos sobre o assunto”.

    Assim, podemos compreender que muito do que se entende por potencialidades ou dificuldades na chegada ao campo de trabalho, podem ter relações com as experiências desenvolvidas ainda na graduação. Disso, podemos afirmar que há uma relação objetiva, ainda que recortada por determinantes, entre a pesquisa na formação inicial e continuada, e o exercício da prática pedagógica nos espaços escolares e não escolares.

2.     Estágio e formação inicial

    Pensar a função do estágio na formação inicial seria um primeiro passo para a prática reflexiva que o professor precisa desenvolver em sua prática. Borges (2004) afirma que para um bom desenvolvimento da prática no trabalho docente é preciso que os professores reconheçam o papel fundamental que a formação inicial exercer sobre sua formação. Apenas entender não é necessário. O fundamental é compreender e valorizar a prática do estágio como um momento não só de prática, mas também de reflexão sobre a realidade em que estes futuros professores estão inseridos.

    Analisando algumas falas podemos destacar: “Estágios realmente supervisionados, onde ocorra uma constante troca e reflexão da prática na escola e os professores estejam dispostos a instigar os alunos” (Sujeito 16), “Os estágios precisam de projetos mais comprometidos” (Sujeito 12), “ uma maior aproximação dos estágios com a realidade escolar” (Sujeito 09), “Os professores de estágio supervisionado deveriam ter conhecimento das teorias, das discussões e refletir de forma mais crítica sobre as aulas, ao invés de dar um simples visto no plano de aula e sumir” (Sujeito 06).

    Assim, entendemos o estágio supervisionado como um momento privilegiado num curso de formação de professores, pois aproxima o acadêmico da realidade do campo profissional, mas também da vida real das pessoas, das comunidades e dos contextos sociais.

    Já o sujeito 04 acredita que “no currículo da ESEFFEGO falta um entendimento maior do que é crítica, que não é só pensar, é fazer também, [...] mas se ele estiver alinhado com a prática ele te possibilita inúmeras construções e reconstruções a partir daquele conhecimento primário”.

    Entendemos que muitas das críticas apontadas nessa categoria, poderão ser acolhidas a partir do novo currículo (2007), na medida em que este sinaliza para a constituição de um projeto de estágio, articulado com matriz pedagógica do curso.

3.     Perfil do egresso e do ingresso

    Traçar o perfil dos professores formados na ESEFFEGO/UEG, nos leva em conta ter claro os seus objetivos e as propostas do projeto pedagógico da unidade, a fim de criarmos uma ponte de análise entre o que essa instituição tem como ideal de profissional e o perfil dos profissionais que ela efetivamente forma.

    Tomaremos como ponto de partida o perfil do egresso do ano de 1999, por ter ficado em vigência até o final de 2006, quando em 2007 foi reformulado, reelaborado, e pelo fato do recorte para este estudo, os professores de Educação Física terem sido formados entre 2002/2 a 2006/2.

    Neste projeto curricular, trata-se de uma visão da formação acadêmica tão ampliada que se mostra frágil e superficial. Neste sentido, a graduação parece servir para um encontro do indivíduo com ele mesmo, com a descoberta de si mesmo, suas potencialidades.

    Santos (1998) faz uma reflexão pertinente a nossa análise ao dizer que apesar, de o trabalho intelectual ter tomado grandes proporções a partir do fim do século XX, as possibilidades de ser intelectual se estreitam. O autor esclarece que as faculdades e casas de ensino abrigam cada vez mais pessoas letradas e cada vez menos intelectuais, visto que para o autor, ser professor não é necessariamente ser intelectual.

    Ao analisarmos o questionário dos egressos, percebemos a fragilidade da instrumentalização desses professores. A grande maioria dos professores dá indicativos de que os conhecimentos, aos quais tiveram acesso, são restritos e nem sempre adequados a realidade profissional, a realidade da escola. O sujeito 15, ao ser questionado quanto às dificuldades encontradas na chegada ao campo de trabalho escolhido, afirma que sua maior dificuldade foi “Organizar um trabalho pedagógico frente à realidade precarizada da estrutura escolar. Mesmo procurando meios e saídas para não prejudicar minha prática diante a realidade encontrada, acabei encontrando dificuldades de operacionalizações.”

    São inúmeras as dificuldades relatadas pelos egressos, entre elas a adaptação a equipe de trabalho, falta de conhecimento prático sobre a área de atuação, estruturação dos conteúdos a serem trabalhados, o planejamento e outros.

    Ao analisar a proposta pedagógica e colocá-la em confronto com a realidade profissional dos professores da pesquisa, percebe-se que os egressos identificam a necessidade de uma mudança frente ao que é oferecido na graduação e a relação que fazem com a sua prática pedagógica, a grande maioria dos pesquisados não a vê muito distante de sua realidade profissional, mas buscam uma maior aproximação, maior relação com seu campo de atuação.

    Segundo ainda o sujeito 15,

    Considerando a minha graduação, penso ter faltado aproximações mais intensas com o campo escolar, na perspectiva de buscar relações mais profícuas com os desafios que essa prática docente acarreta. Nesse sentido penso haver necessidade latente de um trabalho mais qualificado e aprofundado nas disciplinas vinculadas a prática pedagógica como os estágios, no intuito de aproximar o graduando de sua futura prática profissional, lhe possibilitando uma visão mais complexa do funcionamento de uma instituição escolar, e os diversos elementos pedagógicos que influenciam na organização do trabalho pedagógico.

    Em uma ponte com a motivação dos professores ao curso de Educação física, o gosto pelo campo em que esta atuando e qual o campo em que esta atuando, nota-se que a grande maioria dos professores ingressou no curso por possuírem relações com o esporte, apenas um relatou ter ingressado pelo gosto pela docência e um afirmou ter “caído de pára-quedas” no curso. Apesar de 76% dos egressos terem seu interesse pelo curso despertado por possuírem relações com o esporte de rendimento, a grande maioria 59% atua no campo escolar e esta satisfeita com seu campo de atuação.

    Tratar da relação que a ESEFFEGO/UEG faz entre seu projeto pedagógico e o que ela disponibiliza para instrumentalizar a atuação desses sujeitos como professores e mais como professores intelectuais, como efetivos agentes na produção de conhecimento é, minimamente, indispensável para que a partir do entendimento de que essa relação deve ser clara, processual e efetiva. E nos faz lembrar uma constante ameaça de uma dissociação entre a função de ensinar e o papel do intelectual.

4.     Relação teoria-prática na formação da ESEFFEGO

    Ao discutir a relação teoria e prática deparamo-nos com um assunto complexo que se manifesta e se desdobra de forma contraditória e polêmica na Educação Física. Neste sentido, Fensterseifer & González (2007, p. 28) expõem que um dos desafios da Educação Física

    Trata-se da difícil e incontornável problemática da relação teoria-prática, a qual tende a aparecer de forma dicotômica (como paralelas que não se encontram em lugar nenhum do espaço) ou revezando-se em hierarquias ao gosto de modismos próprios ao campo educacional (hora toda a verdade está na prática, hora a prática é uma extensão da teoria). Raramente são tratadas na complexidade que é constitutiva das produções humanas, entre elas, as relações teórico-metodológicas, ou didático-pedagógicas.

    A dicotomia que permeia tal relação é bastante visível ao se analisar o conteúdo das respostas que os egressos da ESEFFEGO/UEG apresentam ao serem questionados sobre seu processo de formação, sendo que de forma direta ou indireta cria-se uma tensão entre as mesmas (teoria e prática), principalmente diante de falhas que são apontadas ao processo de formação. Neste caso, 14 dos 17 questionários analisados, ou seja, 82,35% demonstram um distanciamento entre teoria e prática, uns dão um maior valor ao conhecimento teórico e outros ao prático, outros ainda apontam claramente a existência de limitações da própria instituição em conseguir diminuir ou indicar possibilidades de superação entre as duas dimensões (teoria e prática). Além disso, os conteúdos dos outros 03 questionários restantes não trazem informações precisas que permitam analisarmos a perspectiva da relação teoria e prática.

    Dos dados, os quais deixam transparecer uma sobreposição da prática à teoria, podemos citar como exemplo o posicionamento do sujeito 03 ao informar que para ele: “(...) a prática é essencial, antes não acha isso, pensava que a teoria me ajudaria nos meus momentos de conflito, mas estava enganada”.

    Para Adorno apud Loureiro (2007, p. 527)

    A aversão à teoria, característica de nossa época, seu atrofiamento de modo nenhum casual, sua proscrição pela impaciência que pretende transformar o mundo sem interpretá-lo, enquanto, em seu devido contexto, afirmava-se que os filósofos até então tinham apenas interpretado – tal aversão à teoria constitui a fragilidade da práxis.

    De outro lado, quanto à supervalorização ou maior juízo de valor com relação à teoria o sujeito 15, a exemplo, acredita que sua maior aproximação ao conhecimento mais reflexivo possibilitou-lhe “(...) um outro olhar, um olhar mais denso e crítico, diante as diversas situações profissionais, pessoais e cotidianas”.

    Os exemplos dados deixam transparecer certa idéia de auto-suficiência, gerando a impressão de que é possível renegar uma em nome da outra, tomando-as de forma que, tanto a teoria quanto a prática, se justificam por si só.

    O número de posicionamentos divergentes quanto à concepção teoria-prática somados aos poucos posicionamentos que, pelo próprio teor, revelam uma clareza quanto à existência de uma fragilidade no trato da relação entre as duas (teoria e prática) deixam transparecer o quanto o currículo ou a forma como ele vem sendo trabalhado não foi capaz de fazer com que fosse superada ou amenizada a dicotomia que afeta consideravelmente a vida profissional dos sujeitos.

    Como forma de ilustrar essa idéia o sujeito 02 nos diz que:

    (...) na graduação houve várias disciplinas que contextualizaram bem a realidade vivida, estas disciplinas eram sempre aquelas ditas “teóricas”. (...) para tratar daquelas disciplinas tidas como “práticas”, mais especificamente as esportivas, essas a meu ver, não conseguiram avançar pedagogicamente, permanecendo as velhas práticas de ensino do esporte.

    Claramente observa-se no relato, da existência de falhas quando o assunto diz respeito a estabelecer possibilidades acadêmicas de trabalhar na perspectiva da práxis pedagógica.

5.     Continuidades e descontinuidades

    Construir compreensões sobre os processos que formam os professores, exige dos pesquisadores envolvidos, um exercício como condição sine qua non à capacidade de atribuir sentidos e significados para os relatos coletados na pesquisa.

    Dessa forma, falar de continuidade é falar dos aspectos que mantém as condições não adequadas à formação critica de professores. É citar as contradições presentes entre o que propõe o projeto pedagógico do curso (1999-2006) e o que fazem docentes e discentes em nome de uma formação pedagógica. Quando alguns egressos sugerem que as experiências de orientação de estágio supervisionado, passem efetivamente por um processo de orientação, indicação de leituras, sugestão de reflexão sobre as teorias pedagógicas, percebemos que os limites institucionais que a UEG impõe sobre as unidades universitárias são perniciosos aos projetos pedagógicos.

    Referimo-nos à dificuldade de ter professores em situação de efetividade, de permanência dado à inoperância estatal na realização do concurso público. Agora, há também atribuição de responsabilidades ao projeto curricular na permanência de docentes que insistem em fazer de conta que orientam os acadêmicos/estagiários. Em conversas informais há alguns anos, acadêmicos queixam-se da forma como ocorrem as orientações nos estágios por parte de alguns docentes. É preciso, registrar que a grande rotatividade de professores nas cadeiras de estágio, se encarregou de produziu outro tipo de descontinuidade, ou seja, uma descontinuidade de um projeto, de uma forma, de uma direção no trato à unidade teoria-prática, tão imprescindível para a experiência do estágio supervisionado.

    Ao contrário, quando falamos de descontinuidades, queremos ressaltar os aspectos que estão presentes na história do currículo da Eseffego e que, com um olhar histórico-crítico, podem ser percebidos no processo de formação dos professores de Educação Física na Eseffego, dimensões que nos fazem acreditar que as transformações levam tempo, mas acontecem.

    Destacamos por exemplo a capacidade de questionamento e de indicação de sugestões para a melhoria do projeto curricular que alguns egressos demonstraram. Essa capacidade crítica tem também elementos matriciais na própria experiência da formação inicial.

    A profissionalização do professor mostra sua fragilidade quando o egresso confronta-se com a realidade do mercado de trabalho diante da impossibilidade de interagir com o mesmo. Acredita-se que esse confronto seria minimizado com experiências de trabalho durante a graduação, como aluno-estagiário ou bolsista em programas de iniciação científica, ou ainda, algum outro tipo de experiência que ponha o aluno em contato com a realidade da profissão docente. (MOURA, 2001, p.117)

    Mesmo acreditando que o trabalho em formação seja importante para garantir a experiência e o contato com a realidade social, cultural e econômica do trabalho na função docente, não se pode perder de vista a crítica à exploração do trabalho e mão de obra do acadêmico em estágios, tornando-o muitas vezes, subempregado sem direitos trabalhistas ou garantias.

    Pensar na formação profissional do professor é compreender o confronto no jogo dialético entre o interesse social, o poder político e econômico de um lado e o conhecimento e a prática educacional, de outro. A valorização da profissão docente não pode perder de vista esta dimensão, que não é ilusória, como os neoliberais afirmam. (MOURA, 2001)

    Os egressos da ESEFFEGO/UEG levam consigo elementos críticos que o diferenciam no campo de trabalho. Mas, para que isso se torne marcante, o curso poderia: investir em maior participação dos alunos em projetos de iniciação científica, extensão, monitorias, grupos sistematizados de estudos tendo como promotora, a própria faculdade em parceria com outras unidades da universidade ou segmentos sociais, para que no ingresso ao mundo do trabalho possa permanecer e desenvolver a capacidade crítica de ver o mundo e os fatos com o olhar do professor intelectual transformador/orgânico conforme os escritos de Giroux e Gramsci. (apud MOURA, 2001)

Considerações provisórias

    Se no projeto dissemos que havia a ausência do feedback da realidade dos egressos, agora temos elementos iniciais e importantes para começar a compreender o papel do currículo na formação do professor de Educação Física na Eseffego e sobretudo, como as práticas pedagógicas poderão ser melhor tratadas ainda durante o processo formativo da graduação.

    Foi dado inicio de um movimento de mapeamento dos egressos cuja continuidade é transferida à coordenação de curso e secretaria acadêmica da UnU Goiânia Eseffego, para que instrumentos de atualização de informações possam ser implementados e aperfeiçoados.

    Foi igualmente dado início a um processo de identificação do perfil da prática pedagógica dos egressos. Esse movimento deve ser aprofundado, mas esperam-se condições concretas, materiais e objetivas para que os procedimentos de aplicação dos instrumentos sejam mais eficazes, haja vista, as dificuldades desta pesquisa pela ausência dos recursos orçamentários presentes no projeto inicial e não liberados.

    No quadro desenhado pelos egressos que estão sendo considerados interlocutores da construção do saber sistematizado nesse trabalho, é possível inferir que mais da metade dos pesquisados apontaram durante sua trajetória no currículo de formação, a vinculação necessária para o exercício da docência, para as experiências vividas nas disciplinas de fundamentação pedagógica, seguidas das disciplinas de fundamentação filosófica e técnica. Daí, podemos acreditar que o currículo 1999-2006, já dava sinais de fortalecimento das visões críticas para a formação do professor, conforme Borges (2004), Bracht e Caparroz (2007) e Moura (2001).

    Não ignoramos que os contextos dos cursos de licenciatura em Educação Física no país, passam desde o final do século passado por confrontos com a legislação, especificamente, das Diretrizes Curriculares para Formação de Professores de Educação Física (Resolução 07/2004 [CES/CNE]; Parecer 58/2004 [CNE]). Sobretudo, porque tais documentos trouxeram visões para o ambiente das IES, configuradas por visões do Conselho Profissional que confundiram o cenário, com o retorno da discussão entre licenciatura, bacharelado e a inserção do termo graduado, como uma maneira de diferenciar o professor formado em cursos de bacharelado, dos licenciados. Uma das principais consequências das orientações das atuais diretrizes curriculares especula-se na direção de uma fragmentação ainda maior dos currículos formadores, na medida em que se exige um aumento significativo de experiências pragmáticas para além das disciplinas de natureza prática ou esportivas já existentes. Diante desse quadro, entendemos que a ESEFFEGO consegue, ainda no currículo anterior à revisão de 2007, imprimir na formação dos egressos, a compreensão de que o currículo não é um instrumento estático, pois as respostas dos questionários nos mostram um currículo que já não é o mesmo de décadas anteriores, mas que por estar em movimento, necessita mudanças, aperfeiçoamentos, avanços.

Referências bibliográficas

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