efdeportes.com

O perfil nutricional de atletas de taekwondo
com história de anemia e malária e atletas sadios

El perfil nutricional de los atletas de taekwondo con historia de anemia y malaria y los atletas sanos

 

*Doutorando em Biologia Experimental

Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Coordenador do Centro de Estudo de Esporte e Lazer (CEELA)

Integrante do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

**Doutorado em bioquímica. Orientador da pesquisa “Avaliação do desempenho físico
de atletas com historia de anemia e infecção por malária”

no programa de doutorado Biologia Experimental

Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Rondônia

Diretor da Fundação Oswaldo Cruz - unidade de Rondônia

***Graduada e Especialista em Nutrição

Integrante do Centro de Estudo de Esporte e Lazer/CEELA/UNIR

****Doutora em Sociologia e professora de Educação Física

Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Diretora do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia

Líder do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

Prof. Ms. Ramón Núñez Cárdenas*

Prof. Dr. Rodrigo Stabeli**

Profª. Kaymann Scheidd Skroch***

Profª. Drª. Ivete de Aquino Freire****

rnunezcardenas@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O Taekwondo de hoje se desenvolveu não somente como um dos métodos mais efetivos em defesa pessoal sem armas, mas numa arte, um esporte emocionante e um excelente exercício para manter-se em boas condições físicas. Tanto habilidades como controle são requeridas no taekwondo, quando se utilizam técnicas de ataque e defesa. Isso torna o taekwondo em um dos esportes mais competitivos emocionantes. Dos inúmeros fatores que influenciam a performance atlética, a alimentação desempenha um papel importante. Este papel é tanto maior quanto mais elevado for o nível competitivo. O presente estudo visa analisar, numa perspectiva comparativa, aspectos nutricionais de atletas de Taekwondo com história de anemia e infecção por malária e atletas sadios do Município de Porto Velho. Fizeram parte da pesquisa 22 atletas de Taekwondo referente ao sexo masculino. Um grupo de 10 atletas com história de anemia e infecção por malária e outro grupo de 12 atletas sadios. Ambos os grupos foram submetidos à Avaliação Nutricional, realizada através do registro alimentar de três dias. Estes registros foram preenchidos pelos próprios atletas, após prévia orientação. A análise quantitativa e qualitativa dos nutrientes foi realizada através do programa de nutrição “Ava Nutri 4.0”. Para a análise das variâncias das duas amostras utilizou-se o test-f e para as análises das médias de ambas as amostras foi utilizado o teste-t. Considerou-se o nível de significância de 5% (p<0,05). Também foi utilizada às medidas descritivas: media (X), SD, mediana, valores mínimos e máximos.

          Unitermos: Taekwondo. Anemia. Malária. Atletas sadios.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O Taekwondo é uma arte marcial de origem coreana, cultuado na civilização asiática por séculos. Com o tempo, foi-se transformando em um esporte moderno, numa forma ou método de bloquear golpes, chutes, bater sem armas.

    O Taekwondo de hoje se desenvolveu não somente como um dos métodos mais efetivos em defesa pessoal sem armas, mas numa arte, um esporte emocionante e um excelente exercício para manter-se em boas condições físicas. Tanto habilidades como controle são requeridas no taekwondo, quando se utilizam técnicas de ataque e defesa. Isso torna este esporte em um dos mais competitivos emocionantes.

    Um controle sobre os movimentos dos socos e chutes é extremamente importante para manter-se afastado do oponente a poucos centímetros de distância. A luta é disputada em uma área de 10m x 10 m e cada embate têm três rounds de dois minutos. No total, quatro árbitros comandam as disputas. A pontuação é obtida por meio dos golpes desferidos pelos atletas, que podem ser dados tanto com os pés quanto com as mãos. Porém, os chutes devem acertar qualquer parte do corpo do adversário acima da cintura, desde que coberto por protetores, e os socos somente no peito do oponente, e com os punhos cerrados.

    Para vencer um combate, o lutador deve conseguir um nocaute com contagem de dez segundos em virtude da queda de um dos concorrentes. Caso contrário, a decisão sai por pontos ou por desclassificação do adversário. Se houver um empate, ocorre um quarto round de dois minutos.

    Em todas as categorias, a disputa olímpica acontecerá em eliminatória simples, quem perde é eliminado. A repescagem ocorre apenas para decidir a medalha de bronze.

    Dos inúmeros fatores que influenciam a performance atlética, a alimentação desempenha um papel importante. Este papel é tanto maior quanto mais elevado for o nível competitivo.

    A atividade esportiva causa alterações no equilíbrio fisiológico dos indivíduos, havendo uma tentativa do organismo para regressar ao equilíbrio interno habitual mantendo a sua homeostase. Esse equilíbrio deve ser reposto o mais rapidamente possível, através de uma adequada recuperação, onde a alimentação tem um papel fundamental, na medida em que é conhecido que o regime alimentar correto, integrado no programa de treino dos atletas, tem influências significativas na maximização do seu desempenho esportivo (Brouns, 2001).

    Uma nutrição adequada reduz a fadiga, permitindo ao atleta treinar por períodos de tempo mais longos ou recuperar mais rapidamente entre sessões de treino. A nutrição pode ainda reduzir o risco de lesões ou aumentar a velocidade de recuperação de uma eventual lesão (Pancorvo, 2002).

    Assim, compreende-se a alimentação como uma variável influenciadora de todo o processo de treino esportivo devendo, por isso, ser alvo de atenção por parte dos treinadores e atletas.

    A alimentação esportiva deve assegurar um fornecimento das necessidades nutricionais, garantindo calorias suficientes para suprir os elevados gastos energéticos associados à prática esportiva diária (Peres, 2003).

    Nos últimos 20 anos, a investigação documentou claramente os efeitos benéficos da nutrição na performance esportiva. Não existe dúvida alguma de que aquilo que o atleta ingere pode influenciar na sua saúde, o seu peso e composição corporal, a disponibilidade de substratos durante o exercício, o tempo de recuperação após exercício, e por último, a prestação esportiva motora (Manore, 2000).

    Com o advento dos Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizados no Brasil, o governo do país no ano de 2010 estabeleceu políticas no âmbito do esporte tendo como desafio projetar a nação como potência esportiva mundial. O país deve conquistar este status nos próximos 08 anos. Tais políticas, em fase de organização, tiveram como ponto de partida a Conferência Nacional de Esportes e Lazer, que mobilizou todos os estados da federação e Distrito Federal (MINISTERIO DO ESPORTE, 2010).

    Entretanto, com ou sem incentivo dos governos federal, estaduais e locais, as práticas esportivas, tanto do ponto de vista amador como profissional em alguma medida, são verificadas em todo o Brasil. No município de Porto Velho este fenômeno não ocorre de modo diferente. Se por um lado trata-se de uma região cuja população apresenta motivação para a prática esportiva; por outro lado é também uma localidade do Brasil onde as condições de moradia de grande parte da população, são propícias para o elevado risco de doenças como a Malária, por exemplo. Porto Velho é considerado uma cidade endêmica, com potencial impacto para a saúde pública.

    A malária está presente em Rondônia desde o inicio de sua colonização, embora a referência mais antiga sobre a enfermidade em terras rondonienses, se remonta ao período em que os “bandeirantes”, negociantes e navegantes que traficavam por estas terras no século XVII e XVIII, já eram afetados pela enfermidade. O período compreendido entre 1850 e 1915 pode ser caracterizado como o primeiro ciclo da borracha na região. Os ataques maláricos eram freqüentes na população que trabalhava na coleta deste produto, conhecidos como seringueiros. Esta população, oriunda de estados da região nordeste do país, tinha a malaria como a principal causa da redução da capacidade produtiva do trabalhador (SEDAM/RO, 1999).

    A malária ou paludismo é uma doença infecciosa, aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles. As manifestações iniciais desta doença são febre, sensação de mal estar, dor de cabeça, dor muscular, cansaço e calafrios. No homem, os esporozoítos infectantes se direcionam até o fígado, dando início a um ciclo de aproximadamente, seis dias para Plasmodium falciparum, oito dias para a Plasmodium vivax e 12 a 15 dias para a Plasmodium. Malariae, reproduzindo-se assexuadamente até rebentarem as células deste local (no mosquito, a reprodução destes protozoários é sexuada). Após esses eventos, espalham-se pela corrente sanguínea e invadem hemácias, até essas terem o mesmo fim, causando anemia no indivíduo (Ministério da Saúde, 2007).

    Segundo a Organização Mundial de Saúde (2004), a anemia é definida como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais, seja qual for à causa dessa deficiência. As anemias podem ser causadas por deficiência de vários nutrientes como Ferro, Zinco, Vitamina B12 e proteínas. Porém, a anemia causada por deficiência de Ferro, denominada Anemia Ferropriva, é muito mais comum que as demais (estima-se que 90% das anemias sejam causadas por carência de Ferro). O Ferro é um nutriente essencial para a vida e atua principalmente na síntese (fabricação) das células vermelhas do sangue e no transporte do oxigênio para todas as células do corpo. O ferro pode ser fornecido ao organismo por alimentos de origem animal e vegetal.

    A deficiência de ferro tem sido apontada como causa mais comum da verdadeira anemia em atletas, ou seja, uma deficiência na quantidade total de hemácias ou de hemoglobina circulantes. Não se tem evidência da perda de quantidade significativa de ferro, seja através da urina, suor ou fezes, que possa resultar em anemia ferropriva (deficiência de ferro).

    Ora, se a literatura atual afirma que qualquer episódio de malária leva a algum grau de anemia, e por outro lado, a prática esportiva intensa contribui para a deficiência orgânica de ferro em atletas, significa dizer que os atletas com história pregressa de malária são duplamente vulneráveis a diminuição dos níveis de hemoglobina na circulação?

Metodologia

    O estudo ora apresentado é parte de um projeto mais amplo que pretende avaliar o desempenho físico de atletas com história de anemia e infecção por malária no Município de Porto Velho. Trata-se de uma pesquisa experimental que envolve uma equipe multidisciplinar composta por Médicos, Nutricionista e Profissionais de Educação Física.

    Neste subprojeto, intitulado “O perfil nutricional de atletas com história de anemia e infecção por malária e atletas sadios” realizou-se um estudo descritivo-comparativo. Fizeram parte da pesquisa 22 atletas de Taekwondo do Município de Porto Velho. Um grupo de 10 atletas com história de anemia e infecção por malária e outro grupo de 12 atletas sadios. Ambos os grupos foram submetidos à Avaliação nutricional.

Características da amostra

    Algumas das características apresentadas pelos atletas estudados (tabela 1 e 2).

Tabela 1. Característica da amostra do grupo de atletas

com histórico de anemia e malária de Taekwondo – masculino

Tabela 2. Característica da amostra do grupo de atletas

sem histórico de anemia e malária de Taekwondo – masculino

Materiais e métodos

a.     Avaliação nutricional

    A avaliação nutricional foi realizada através do registro alimentar de três dias consecutivos ou não, sendo um deles final de semana; e do questionário de freqüência alimentar para avaliar o perfil dietético dos atletas estudados. Esses são os métodos de avaliação dietéticos mais utilizados para calcular a ingestão energética, tanto quantitativa quanto qualitativa, de uma pessoa ou população. Estes registros foram preenchidos pelos próprios atletas, após prévia orientação. A análise quantitativa e qualitativa dos nutrientes foi realizada através do programa de nutrição “Ava Nutri 4.0”.

    Apesar de ser um método subjetivo e vulnerável a tendências psicológicas, o registro alimentar é amplamente utilizado. Para aplicação do método, o individuo deve anotar todos os alimentos ingeridos em um determinado tempo, com sua respectiva quantidade.

Análise estatística dos dados

    Para a análise das variâncias das duas amostras utilizou-se o teste-f e para as análises das médias de ambas as amostras foi utilizado o teste-t. Considerou-se o nível de significância de 5% (p<0,05). Também foram utilizadas às medidas descritivas: média (), SD, mediana, valores mínimos e máximos.

Resultados e discussão

    Os atletas participantes do estudo apresentaram os seguintes resultados nutricionais (tabela 3 e 4).

Tabela 3. Consumo de energia e de macronutrientes

dos atletas de Taekwondo com historia de anemia e malaria

 

Tabela 4. Consumo de energia e de macronutrientes dos atletas

de Taekwondo sem historia de anemia e malaria

 

Freqüência de Ingestão Nutricional dos atletas com história de anemia e malária

Figura 1. Representação gráfica da freqüência de refeições diárias dos atletas com história de anemia e malária

    Referente ao número de refeições diárias, podemos verificar a partir do gráfico (Figura 1) que a maior percentagem da amostra de atletas com história de anemia e malária, 60%, realizam 5 refeições diária, 20% da amostra realizam 6 refeições diária , sendo que 20% realizam 4 refeições diárias.

    Podemos então constatar que os atletas com história de anemia e malária do presente estudo realizam majoritariamente o número de refeições diárias, proposta por Horta (1996) para atletas.

    Este resultado vem confirmar o referido por Rodrigues dos Santos (2002) que diz que um maior número de refeições diárias permite fracionar o aporte de alimentos com elevado índice glicêmico durante o dia, evitando-se uma maior concentração de alimentos em poucas refeições e disponibilizando glicose de forma equilibrada para o exercício físico, para suporte do metabolismo dos órgãos glicodependentes: cérebro, sistema nervoso, rim, eritrócito.

Freqüência de ingestão nutricional dos atletas sem história de anemia e malaria

Figura 2. Representação gráfica da freqüência de refeições

diárias dos atletas sem história de anemia e malária

    No que concerne ao número de refeições diárias, podemos verificar a partir do gráfico (Figura 2) que a maior percentagem da amostra de atletas sem história de anemia e malária, 75%, realizam 5 refeições diária, e 25% da amostra realizam 6 refeições diária.

    Com este resultado os atletas sadios ao igual que os atletas com historia de anemia e malária, realizam majoritariamente o número de refeições diárias, proposta por Horta (1996) para esportistas. Favorecendo-se neste sentido fracionar o aporte de alimentos com elevado índice glicêmico durante o dia, evitando-se uma maior concentração de alimentos em poucas refeições e disponibilizando glicose de forma equilibrada para o exercício físico, para suporte do metabolismo dos órgãos glicodependentes: cérebro, sistema nervoso, rim, eritrócito (Santos 2002).

Tabela 5. Consumo energético dos atletas estudados

    Comparando o resultado dos atletas com história de anemia e malária (1742,2 kcal/dia, tabela 3) com o de outros estudos realizados em atletas verifica-se que o valor obtido neste grupo é inferior ao que indica a literatura. Ferreira (1994) recomenda para atletas uma ingestão calórica variando entre 3000 e 3500 kcal/dia; Horta (1996) sugere uma amplitude de 2700 a 3500 kcal/dia; e Veríssimo (1999) recomenda a ingestão calórica entre os 3000 a 4000 kcal/ dia.

    Seguindo o que afirmam Horta (1996) e Veríssimo (1999), o gasto energético dos atletas deverá ser calculado tendo em conta o seu peso, a altura, o gênero e a idade do desportista. Ambos os autores, seguem a fórmula de Harris e Benedict (x=66+[13,7 x peso (kg)] + [5 x altura (cm)] - [6,8 x idade (anos)]Assim sendo, de acordo com os mesmos autores, os atletas de taekwondo com história de anemia e malária correspondente a este estudo deverão ter uma ingestão calórica diária de 2691,2 Kcal (tabela 3).

    Apesar de não haver nenhuma referência que nos providencie informação acerca da ingestão calórica por dia e por quilograma de peso corporal, pode-se pensar que o valor médio da ingestão calórica dos atletas com história de anemia e malária (1742,2 kcal/dia tabela 5) demonstra tendencialmente, um déficit em termos de consumo energético.

    Segundo Damilanos (2006), constatou que menos que o 90% do recomendado de calorias, poderia influenciar e prejudicar o rendimento durante o treinamento desses indivíduos, causando fadiga em curto espaço de tempo e risco aumentado de lesão.

Tabela 6. Consumo de energia e de macronutrientes dos atletas de Taekwondo sem historia de anemia e malaria

    Seguindo a fórmula de Harris e Benedict (x=66+[13,7 x peso (kg)] + [5 x altura (cm)] - [6,8 x idade (anos)])  aplicada por Horta (1996) e Veríssimo (1999) para o cálculo do gasto energético, os atletas de Taekwondo sem história de anemia e malária correspondente a este estudo deverão ter uma ingestão calórica diária de 3209,167 kcal (tabela 4). Neste sentido, também se pode pensar que o valor médio da ingestão calórica dos atletas sem história de anemia e malária (1855 kcal/dia tabela 6) demonstra tendencialmente, um déficit em termos de consumo energético.

Correlação do consumo energético entre os atletas com história de anemia e malária e atletas sadios

    Após a apreciação do consumo energético de ambas as amostras, foram realizadas análises estatísticas para comparar o consumo energético entre ambos os grupos de atletas. Neste processo utilizou-se o teste-f para a análise das variâncias das duas amostras, e o teste-t para a análise das médias de ambas as amostras.

    Na análise das variâncias de ambas as amostras, pode-se apreciar que a variância do grupo de atletas sem história de anemia e malária não é diferente ao grupo de atletas com história de anemia e malária. Isto por que: como P(F<=f) > 0,05, se aceita a hipóteses nula; ou seja, as variâncias de ambas as amostras não são diferentes (tabela 7).

Tabela 7. Teste-F: para análise de variâncias das duas amostras

    Após a análise das variâncias de ambas as amostras, foram utilizadas o teste-t presumindo variâncias equivalentes para a análise das médias de ambas as amostras. O resultado aponta que o consumo energético de ambas as amostras não é significativamente diferente (P(T<=t)>(0,05); isto é, os atletas sem história de anemia e malária possuem um consumo energético superior, mais não de maneira significativa em relação aos atletas com historia de anemia e malária (Tabela 8 e Figura 3). Neste sentido poderíamos dizer que, pelo fato de ambas as amostras apresentarem déficit no consumo energético, os atletas com história de anemia e malária apresentam, segundo o preconiza a American Dietetic Association, Dietitians of Canada and the American College of Sports Medicine (2001) um maior risco de perda de massa muscular, redução no aumento da densidade óssea, risco crescente de fadiga, lesões e doenças.

Tabela 8. Teste-t: duas amostras presumindo variâncias equivalentes

 

Figura 3. Representação gráfica da correlação do consumo energético entre os atletas com história de anemia e malária e atletas sadios

Carboidratos

    Os carboidratos são os mais importantes substratos energéticos para os músculos em exercício, fundamentalmente porque são os únicos que podem ser metabolizados de forma anaeróbia (não necessitam de O2 para a sua metabolização), permitindo o fornecimento a exercícios de grande intensidade (Rodrigues, 1995), tanto em esportes de velocidade e força, como para as atividades de longa duração (Gianpietro, 2000).

    De acordo com Costil (1991) e Veríssimo (1999) os carboidratos são o combustível preferido para a atividade física, visto que, o glicogênio e a glicose são os combustíveis que permitem mais rendimento à célula muscular (Veríssimo, 1999).

    Williams (2004) refere que quanto maior for a intensidade do exercício maior será a importância dos Carboidratos em detrimento das gorduras. No entanto, o glicogênio também contribui significativamente para a produção de energia durante um exercício de intensidade moderada. Isto porque este pode ser degradado rapidamente para produzir ATP tanto na atividade aeróbia quanto anaeróbia.

    Como não foi localizada literatura que apresenta recomendação específica de Valor Energético Total/VET; para atletas de Taekwondo, foi realizada a comparação dos resultados com as recomendações para atletas de diferentes autores. Desta forma Rodrigues (1995) e Soidán (2005), fazem uma recomendação de 55 a 60% VET; Veríssimo (1999) recomenda entre 60 a 65 % VET; Applegatem (1991) e Manore (2000) referem 60-70% VET; American College of Sports Medicine, American Dietetic Association and Dietitians of Canada (2001) aconselham um atleta a ingerir 60% do VET sobre a forma de CHO.

    No presente estudo encontrou-se uma percentagem média do VET de 52,632 % para os atletas com história de anemia e malária (Tabela 3 e Figura 4); e 53,2375% para os atletas sem história de anemia e malária (Tabela 4 e Figura 5), referente à ingestão de CHO. Consideram-se estes resultados excessivamente baixos uma vez que ficam distante dos valores recomendados para atletas, conforme a literatura consultada.

    Em consonância com os resultados atingidos em relação ao consumo de carboidrato, Coyle (1991) diz que durante um exercício desenvolvido a intensidades entre os 60–80% do VO2 Max., a fadiga está perfeitamente relacionada com a depleção das reservas deste nutriente. Como tal é recomendável a ingestão de CHO dado que atrasa o aparecimento da fadiga em 20 a 30 minutos.

Lipídios

    Os lipídios são moléculas formadas basicamente pelos elementos estruturais carbonos (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), diferindo dos carboidratos não só pela ligação peculiar entre os átomos, como também pela maior proporção de moléculas de hidrogênio em relação ás de oxigênio da sua estrutura molecular ) (Leser,2005).

    Segundo várias recomendações, uma dieta saudável não deve ter mais de 30% do aporte calórico total proveniente das gorduras. Manore (2000) sugere uma ingestão de 15-25% VET; Soidán (2005) aconselha valores entre os 20-25% do VET. Horta (1996) refere que os valores devem rondar, sem ultrapassar os 30% VET. Ohana cita que os atletas não devem ingerir menos que 15%, recomendando uma percentagem de ingestão diária de 25–30% VET.

    No presente estudo pode verificar-se que a média (31,08 %, Tabela3 Figura4) correspondente aos atletas com história de anemia e malária; e a média (32,23667%, Tabela 4 Figura 5) dos atletas sem história de anemia e malária é superior a qualquer dos valores máximos recomendados na literatura consultada. De acordo com Teixeira (2008), a gordura corporal adicional pode servir como proteção desejável em situações de defesa; entretanto, é uma desvantagem em atividades de sprints (velocidade) como Chutes no taekwondo.

Proteínas

    Na prática esportiva apresenta-se como substâncias de vital importância na construção e reparação celular (Rodrigues, 1995).

    Em programas de treino esgotantes deve-se aumentar o consumo de proteínas, até um máximo de 2,0 g/kg de peso corporal (Heyward, 1991). A razão deste aumento deve-se à maior utilização de aminoácidos na produção de energia oxidativa durante a atividade física (Brouns, 1995).

    Em termos percentuais, a literatura sobre o tema recomenda de 10–15% do VET (Horta, 1996), de 12-14% do VET (Manore, 2000), 12%-15% do VET (Applegatem, 1991 ; American Dietetic Association, Dietitions of Canada, American College of Sports Medicine, 2001) e de 15% do VET (Soidán, 2005).

    No presente estudo verificou-se uma percentagem de ingestão protéica de 16,276 % (Tabela 3 e Figura 4) nos atletas com história de anemia e malária; e 14,46 % (Tabela 4 e Figura 5) dos atletas sem história de anemia e malária. Em relação aos atletas sem historia de anemia e malária seus resultados correspondem positivamente ao que recomenda a literatura; já os resultados dos atletas com historia de anemia e malaria é superior ao recomendado pela literatura.

    A ingestão excessiva de proteínas pode constituir-se como um fator de risco, no sentido de desenvolver certos tipos de cardiopatias. Além disso, pode afetar o rendimento dos atletas, já que a ingestão excessiva destes macronutrientes provoca acidose metabólica e conseqüentemente insuficiente recuperação (Bruns, 1999; Ketterly, 2006). A exagerada ingestão de proteínas tem diversas conseqüências entre as quais se destacam as seguintes: digestões difíceis e prolongadas, e sobrecarga hepática (Horta, 2000); desidratação, devido à perda de água associada à excreção de azoto (Santos 1995); e aumento do peso corporal, normalmente por transformação em gordura.

Figura 4. Representação gráfica da Percentagem dos macronutrientes em relação ao valor 

energético total das dietas dos atletas de Taekwondo com história de anemia e malária

 

Figura 5. Representação gráfica da percentagem dos macronutrientes em relação ao valor 

energético total das dietas dos atletas de taekwondo sem história de anemia e malária

Conclusões

    Tendo em consideração os resultados obtidos na pesquisa, são expostas as seguintes conclusões:

    De modo geral, os dados levantados parecem evidenciar uma inadequada ingestão alimentar dos atletas estudados. Em termos quantitativos, a ingestão calórica diária das duas amostras foi insuficiente para suportar as exigências energéticas do taekwondo.

    Em termos qualitativos, preocupa o excesso no consumo de gorduras por parte dos atletas estudados. Isto implicará uma maior dificuldade para suportar os esforços submáximos com esforços mais moderados, de elevada intensidade característicos do taekwondo, uma vez que os hidratos de carbono são o único macronutriente que pode ser metabolizado anaerobicamente. Do mesmo modo, também é motivo de inquietação o déficit encontrado no consumo energético de ambos os grupos de atletas; com maior destaque para os esportistas com história de anemia e malária. Ainda que o gasto calórico de um atleta dependa da programação do treinamento e das competições, a deficiência identificada no consumo pode além de diminuir o desempenho na prática do esporte, também afetar negativamente a saúde do mesmo.

    Dos resultados obtidos deduz-se a necessidade de investimentos em Políticas Públicas voltadas ao esporte, com enfoque na saúde dos atletas. Os déficits nutricionais identificados apontam que é imperativo maior controle nutricional dos atletas, principalmente antes, e após os treinamentos. A alimentação adequada é fator fundamental quando se pensa em êxito esportivo de alto rendimento; e o cuidado com a saúde dos praticantes é essencial nesse processo.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 175 | Buenos Aires, Diciembre de 2012
© 1997-2012 Derechos reservados