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Análise da autonomia funcional de idosos participantes do PET 

Saúde na Unidade Básica de Saúde Vila Zuleima, Criciúma, SC

Análisis de la autonomía funcional de las personas mayores que participan
del PET Salud en la Unidad Básica de Salud de Vila Zuleima, Criciuma, SC

 

*Licenciada em Educação Física e acadêmica do curso de Educação Física

Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)

**Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)

***Professor Ms. do Curso de Educação Física

da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)

Caroline Possoli Pereira*

Nayanni Machado**

Victor Julierme Santos da Conceição***

carol_possoli@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como intuito descrever a autonomia funcional de idosos participantes de um programa de práticas corporais em uma Unidade Básica de Saúde, na cidade de Criciúma - SC. Amostra foi composta por 23 idosos de ambos os sexos, sendo utilizado o protocolo de teste do Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para Maturidade (GDLAM), que se caracteriza por avaliar qualidades físicas relacionadas à autonomia funcional. Os resultados mostraram que o índice GDLAM (IG) para esse grupo foi 28,37 ± 7,96, classificando-se como fraco, havendo piora na classificação individual dos idosos em relação a maior idade. Os idosos do sexo masculino apresentaram melhor índice, classificados como muito bom, o índice das mulheres classificou-se como fraco. Conclui-se que mesmo a procura por atividades físicas sendo feita em maior número por mulheres, estas se encontram em menor autonomia funcional do que os homens. É de fundamental importância avaliar a autonomia funcional nos idosos, um controle que auxilia na execução do exercício físico, que é um importante aliado na prevenção da incapacidade funcional.

          Unitermos: Autonomia funcional. Idoso. Exercício físico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil tem como princípios a universalidade, a integralidade e a equidade (Lei 8080/90). Para garantir que isso possa acontecer, é necessário que haja profissionais preparados, especializados e atualizados em suas áreas de atuação. A equipe multidisciplinar é uma maneira de garantir esse direito e de realizar os atendimentos, tendo em vista que com auxílio de vários profissionais o serviço pode ser realizado de forma mais ampla, utilizando pontos de vista diferentes sobre o mesmo caso.

    De acordo com Peduzzi (2001), o trabalho em equipe consiste de uma característica coletiva, que representa uma relação de reciprocidade entre intervenções técnicas e interação dos agentes. São profissionais com especializações diferentes que trabalham em conjunto a fim de chegar a um objetivo em comum.

    O Pet Saúde (Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde) é regulamentado pela Portaria Interministerial nº 421, de 03 de março de 2010. O mesmo busca multidisciplinaridade, de forma que auxilie a comunidade gratuitamente.

    Este programa é uma parceria dos ministérios da Saúde e da Educação, que tem como foco principal a atenção primária à saúde, atuando com equipes multidisciplinares em um processo de ensino aprendizagem com base no diagnóstico comunitário (BARZAGHI e FRANZINI, 2010).

    No Brasil, a população idosa é composta por indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, representando hoje o segmento populacional que mais cresce em termos proporcionais. Segundo a Organização Mundial da Saúde até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, tornado esta a maior parte da população do país.

    Embora o envelhecimento não signifique obrigatoriamente adoecer ou estar dependente, é nessa fase que o indivíduo se torna mais frágil e vulnerável. Um fator relevante para que esse processo de envelhecimento aconteça da melhor maneira possível é com o acompanhamento ou manutenção da saúde e também da qualidade de vida.

    É obrigação do Poder Público assegurar ao idoso, a efetivação do direito à vida, saúde, esporte e lazer, entre outros fatores, permitir um envelhecimento saudável e com dignidade (BRASIL, 2003).

    Nessa faixa etária a manutenção da autonomia funcional está diretamente associada à qualidade de vida. Segundo Dantas e Vale (2004), autonomia funcional está vinculada com o declínio da habilidade de realizar as atividades de vida diária (AVD) e a redução das forças musculares.

    A capacidade de caminhar também possui forte relação com o nível de dependência funcional das pessoas idosas, de acordo com a necessidade pode ocorrer aumento do tempo necessário para se percorrer uma determinada distância, ou até a necessidade de se utilizar apoio para o deslocamento. (HAUSDORFF et al, 2001; SHKURATOVA et al, 2004 apud FARINATTI e LOPES, 2004)

    Conforme Conceição (2010, p. 84) “autonomia é a capacidade de tomar decisão e sua execução, enquanto independência relaciona-se com conformação física, mental e social para realizar as atividades diárias”, de acordo com o autor são conceitos interdependentes, que se refere à maneira como a pessoa guia a sua vida.

    Para que os idosos consigam realizar suas atividades diárias, sem precisar que alguém o faça, deve-se preservar o máximo possível à autonomia e independência funcional dos mesmos. Com o passar do tempo é natural haver mudanças, dentre elas, a dificuldade de realizar atividades simples que antes fazia parte da rotina.

    Por isso torna-se muito importante, estarmos sempre atentos aos cuidados com a saúde e com hábitos diários, mais especificamente, com o que diz respeito á prevenção, visando sempre identificar os fatores que podem interferir na qualidade de vida dos idosos.

    Desta forma o presente estudo teve como objetivo descrever a autonomia funcional de idosos participantes de um programa de práticas corporais em uma Unidade Básica de Saúde, na cidade de Criciúma - SC.

Metodologia

    A amostra foi composta por 23 idosos, voluntários de ambos os sexos, participantes do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (Pet Saúde), selecionados de forma aleatória, através de convites realizados a comunidade. Foi utilizado como critério de inclusão: ter idade igual ou superior a 60 anos, possuírem condições de realizar todas as atividades propostas no teste e participarem do Pet Saúde regularmente.

    O público que participou da pesquisa participa do programa pelo segundo ano consecutivo, as atividades são realizadas no ginásio da comunidade, assim como os testes e os estagiários recebem total apoio dos funcionários do posto de saúde do bairro.

    Com o intuito de avaliar a autonomia funcional, foi utilizado o protocolo GDLAM, construído pelo Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (DANTAS e VALE, 2004). Este protocolo é constituído pelos testes de caminhar 10m (C10m), levantar-se da posição sentada (LPS), levantar-se da posição decúbito ventral (LPDV) e levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa (LCLC), com resultados obtidos, verifica-se a dependência ou independência dos idosos nas AVDs.

    A autonomia funcional é classificada pelo Índice GDLAM de Autonomia (IG), calculado pelo quatro testes, estimando um valor através da fórmula: IG= [(C10M+LPS+LPDV)x2]+LCLC/3)]. Após o cálculo do IG, pode-se classificá-lo em fraco (+27,42); regular (27,42-24,98); bom (24,97-22,66) e muito bom (-22,66). Para realização desses testes foram utilizados como instrumentos de avaliação: uma trena, um cronômetro (KADIO-1062), um colchonete e uma cadeira (40 cm).

    Os dados foram tabulados em planilha do Software Excel for Windows 2010. No mesmo programa foram levantadas médias e desvio padrão, procurando classificar o IG a partir da tabela proposta por Dantas e Vale (2004).

Análise e discussão dos dados

    Neste momento procuramos trazer os resultados encontrados no Protocolo GDLAM, construindo análises quanto à classificação da autonomia funcional.

Tabela 01. Dados descritivos dos testes de autonomia funcional, separados por sexo

    Analisando os dados em relação ao teste de caminhar 10 metros (C10m), a média do tempo de execução foi de 6,15± 2,00, tendo como tempo mínimo 3,56 e o máximo 11,03 segundos. No teste de levantar da posição sentada (LPS), o tempo médio de realização foi 11,54±3,29. O tempo maior para a execução foi 19,9 segundos, enquanto o mais rápido levou 7,16 segundos.

    Analisando os resultados do teste de levantar da posição decúbito ventral (LPDV), o tempo médio de realização foi 4,40±2,58. Tendo destaque para o tempo mínimo de 1,77 segundos, que apresentou diferença significativa em relação ao maior tempo, de 11,5 segundos. Outro teste que mostrou diferença significativa em relação ao tempo de execução foi o teste de levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa (LCLC), com média de tempo 40,94±11,19, teve como tempo máximo 67,65 segundos e o mínimo 26,75 segundos.

    Com os dados dos testes pode-se realizar a classificação da autonomia funcional dos participantes do programa. O índice GDLAM (IG) para esse grupo de 23 idosos foi 28,37±7,96, classificando-se como fraco. Para Ramos (2003 apud GUIMARÃES et al, 2008) a autonomia funcional dos idosos e a sua prevenção, está relacionada com o padrão de atividade física que os mesmos exercem ao longo da vida.

    Em pesquisas semelhantes, os avaliados apresentaram autonomia funcional fraca no início da pesquisa, e após as intervenções foi verificado melhora parcial em alguns testes realizados (GUIMARÃES et al, 2008; MIRANDA et al, 2009). Mostrando que a dependência é um fator que pode ser modificado e que a intervenção é fundamental para essa melhora.

    A procura por atividades que auxiliem na melhora da qualidade de vida é mais executada por mulheres, dos 23 idosos participantes do Pet, 16 eram do sexo feminino e somente 7 homens.

    Outra pesquisa confirma o fato de a procura ser maior pelo público feminino, se tratando se estudos relacionados a atividades físicas. (GUIMARÃES et al, 2008).

    A diferença de gênero na percepção de saúde é um determinante na procura por atendimento a saúde e também por atividades que auxiliem positivamente na mesma. (PARAHYBA, 2006).

    Os testes foram realizados assim que o Programa iniciou suas atividades, desta maneira os resultados não sofreram alterações devido às atividades proporcionadas aos idosos no decorrer do mesmo.

    Analisando os dados da tabela 1, pode-se verificar que a média de idade de ambos os sexos se assemelha, no entanto a autonomia funcional dos homens está melhor que a das mulheres, classificando-se como muito bom, tendo o melhor resultado de tempo em todos os testes. Enquanto as mulheres apresentaram a classificação do IG como fraco.

    Dados que vão ao encontro do trabalho de Guedes (2007), em que os indivíduos do sexo feminino apresentaram maior comprometimento da capacidade funcional. No seu estudo a média de idade das mulheres são dois anos a mais que os homens.

    Segundo Parahyba (2006) as taxas de prevalência de incapacidade funcional em 1998 era 18,9%, para os homens idosos, e de 24,9%, para as mulheres, já em 2003, de 17,6% e 26,6%, respectivamente. E continua afirmando que estudos demonstram que as mulheres mesmo possuindo menor autonomia funcional, sobrevivem mais tempo do que os homens com as suas limitações.

    Camargos (2005) analisando a capacidade funcional dos idosos, também observou que em todas as idades analisadas os homens apresentaram uma maior proporção de anos livres de incapacidade funcional quando comparados às mulheres. Segundo o autor as mulheres possuem vantagens em quantidade aos anos a serem vividos, no entanto a qualidade de vida fica comprometida pela maior dificuldade de desempenhar as atividades de vida diária.

    A desvantagem feminina pode ser justificada pela diferença de oportunidade que os homens e as mulheres tiveram no decorrer da vida, nas condições econômicas, sociais e culturais. (GOLDANI, 1999; BARRETO et al, 2002 apud CAMARGO, 2005).

    Já para Perls et al (2002 apud CAMARGO 2005), pode ser justificado pelo elevado índice de mortalidade do homens em idade mais jovens, resultando na velhice um número maior de idosas.

Tabela 02. Dados descritivos dos testes de autonomia funcional, separados por idade

    Verificando a tabela 2, quando separados por faixa etária, nota-se que todos os dados do sexo masculino, em relação à autonomia funcional tiveram piora com o decorrer dos anos. Demonstrando que quanto maior a faixa etária, menor foi o desempenho.

    Com relação à classificação do IG dos homens, houve diferença entre as faixas etárias, os idosos de 60 -70 anos foram considerados com o IG muito bom, já os que apresentavam idade entre 71-92 anos foram considerados com IG bom.

    Em relação às mulheres, no LPDV (levantar-se da posição decúbito ventral) houve melhor desempenho com o passar dos anos, apresentando menor tempo de execução nas idosas dos 71 a 92 anos. Os demais testes ocorreram semelhantes aos homens, aumentando o tempo de execução dos testes no decorrer da idade.

    Nota-se que no teste de LPS a força é concentrada somente nos membros inferiores, enquanto no LPDV utiliza-se força do corpo inteiro. Compreende-se por meio dos resultados que os idosos possuem dificuldade de utilizar força concentrada em uma única região do corpo, nesse caso nos membros inferiores. O teste de LPDV se tornou mais fácil por utilizar força geral.

    Rosa (2003) em seu estudo mostrou fatores que podem influenciar a dependência funcional dos idosos. Os idosos com baixo nível de escolarização apresentam cerca de cinco vezes mais chance de ter dependência moderada/grave. Se tratando do gênero, as mulheres possuem duas vezes mais chances do que os homens e em relação a faixa etária o estudo apresentou que entre 65 e 69 anos a chance é de 1,9, já em idosos acima de 80 anos a chance é cerca de 36 vezes maior. Dado esse que vai ao encontro do presente estudo, quando maior a idade menor a autonomia funcional.

Conclusão

    Sendo a autonomia funcional fundamental para a qualidade de vida dos idosos, buscamos com este estudo descrever a autonomia funcional de idosos participantes de um programa de práticas corporais em uma Unidade Básica de Saúde, na cidade de Criciúma – SC.

    A análise dos resultados encontrados, para a autonomia funcional, permite concluir que os idosos com idades mais avançadas encontram-se com classificação do IG inferior, dando a entender que com o passar do tempo à autonomia funcional dos idosos tende a piorar, fazendo com que os mesmos se tornem dependentes de ajuda para a realização de atividades de vida diária.

    Se tratando do gênero, os dados comprovam que os homens encontram-se com o IG superior aos das mulheres, independente da idade. Nos leva questionar o motivo pelo qual as mulheres procuram espaços de atividade física em maior número do que os homens, talvez pela maior necessidade funcional.

    Seja qual o real motivo que faz os idosos buscarem grupos de atividades físicas, o importante é que os profissionais façam o melhor que puderem, possibilitando um envelhecimento saudável a todos os participantes. Acompanhar a evolução de cada idoso é importante para o trabalho que está sendo feito. Esses dados foram realizados no início do ano letivo de atividade, sendo fundamental para a comparação futura com dados após um determinado período da mesma, sendo o exercício físico um importante aliado na prevenção da incapacidade funcional.

Referências

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