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A influência da manobra de Valsava durante exercícios 

contrarresistência sobre a hipotensão pós-exercício

La influencia de la maniobra de Valsava durante los ejercicios de contrarresistencia sobre la hipotensión post-ejercicio

 

*Graduado em Educação Física – UNIABEU

**Doutorando em Fisiologia do Exercício (UdeLAR - UY)

Mestre em Ciências da Motricidade Humana (UCB)

Professor Titular da UNIABEU

(Brasil)

Erlan Amorim Cunha de Sant’Anna *

prof.erlanamorim@yahoo.com.br

Rafael Teixeira Fraga*

rafinha_fraga2@hotmail.com

Paulo Gil Salles**

pgsalles@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A hipotensão pós-exercício pode ser entendida como uma forma estratégica de ação não farmacológica para que ocorra a redução da pressão arterial. As diferentes maneiras de prescrever um treino de exercício contrarresistência podem intervir nos achados sobre a redução da pressão arterial. Durante o treinamento de força, a utilização da respiração bloqueada, quando se prende o fluxo de ar com a glote fechada (Manobra de Valsalva) em uma das fases do exercício ou mesmo antes de executá-lo, ocasiona elevação substancial da pressão sanguínea pela resposta do sistema nervoso simpático, a fim de manter a perfusão adequada. O objetivo do presente estudo foi verificar a magnitude da hipotensão pós-exercício contrarresistência e analisar se a Manobra de Valsalva teve influência sobre a pressão arterial pós-exercício. A amostra foi constituída por 17 adultos do gênero masculino que praticam o treinamento contrarresistência há pelo menos 6 meses. A pressão arterial dos voluntários foi verificada em 4 momentos (pré-exercício, imediatamente após o treinamento, 15 minutos após o treinamento e 30 minutos após o treinamento) nos dois dias de teste. No primeiro dia, o voluntário executou o treinamento contrarresistência sem o uso da Manobra de Valsalva e no segundo dia, o mesmo treinamento foi executado com o uso da referida manobra. O teste T de Student foi utilizado para verificar se havia diferenças entre os resultados, com nível de significância de 95%. Houve redução nas pressões sistólica e diastólica no pós-exercício tanto com o uso, quanto sem o uso da Manobra de Valsalva, porém somente foi significativa a redução da pressão diastólica pós-exercício quando não foi utilizada a Manobra de Valsalva (p=0,02). Os resultados permitem concluir que, para a presente amostra, os exercícios contrarresistência produziram redução na pressão arterial pós-exercício e que a utilização da Manobra de Valsalva não foi determinante para que houvesse alteração na hipotensão pós-exercício.

          Unitermos: Hipotensão pós-exercício. Manobra de Valsalva. Treinamento contrarresistência.

 

Resumen

          La hipotensión post-ejercicio puede ser entendido como una estratégica no farmacológica de acción para producir la reducción de la presión arterial. Las diferentes formas de la prescripción de un ejercicio de entrenamiento de fuerza pueden intervenir en los resultados en la reducción de la presión arterial. Durante el entrenamiento de la fuerza, el uso de la obstrucción de la respiración, cuando mantiene el flujo de aire con la glotis cerrada (maniobra de Valsalva) en una fase de ejercicio, o antes de la ejecución, provoca la elevación sustancial de la respuesta de la presión arterial por la acción del sistema nervioso simpático con el fin de mantener una perfusión adecuada. El objetivo de este estudio fue determinar la magnitud de hipotensión post-ejercicio y analizar si la maniobra de Valsalva tenía influencia sobre la presión sanguínea después del ejercicio. La muestra consistió en 17 hombres adultos que practicaron ejercicios de fuerza en los últimos 6 meses. La presión arterial de los voluntarios fue tomada 4 veces (antes del ejercicio, inmediatamente después del entrenamiento, 15 minutos después del entrenamiento y 30 minutos después del entrenamiento) en los dos días de pruebas. En el primer día, los voluntarios realizaron el entrenamiento sin utilizar la maniobra de Valsalva y el segundo día se llevó a cabo el mismo entrenamiento con el uso de dicha maniobra. Lo Test de Student se utilizó para determinar si había diferencias entre los resultados, con un nivel de significación del 95%. Hubo una reducción en la presión sistólica y la presión arterial diastólica después de ejercicio tanto en el uso, como sin el uso de la maniobra de Valsalva, pero sólo fue significativa la reducción de la presión diastólica después del ejercicio cuando no se utilizó la maniobra de Valsalva (p = 0, 02). Los resultados indican que para esta muestra, los ejercicios de fuerza son capaces de producir una reducción en la presión sanguínea después del ejercicio y el uso de la maniobra de Valsalva no fue determinante para ningún cambio de hipotensión post-ejercicio.

          Palabras clave: Hipotensión post-ejercicio. Maniobra de Valsalva. Entrenamiento de fuerza.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Sociedade Brasileira de Cardiologia sustenta que a hipertensão arterial pode ser entendida quando uma pessoa apresenta uma medida de pressão arterial igual ou superior a 140 x 90 mm Hg em indivíduos com idade superior a 18 anos, na qual é medida em um período de repouso de quinze minutos e ratificada em três vezes em sequências ou em frequentes idas ao consultório medico. A Pressão Arterial Sistólica é a pressão exercida pelo sangue no momento em que o coração ejeta o sangue durante a sístole ventricular e a Pressão Arterial Diastólica acontece no momento em que ha o relaxamento do ventrículo, onde ocorre a redução da pressão arterial (RUNGE, 2009).

    Hipertensão Arterial Sistêmica constitui, na atualidade, o primeiro elemento de risco que proporciona morbimortalidade por doenças cardiovasculares no mundo todo (BATTAGIN et al, 2010). Contudo, apesar da sua origem ainda não estar totalmente esclarecida, existem muitos fatores que proporcionam o aparecimento da hipertensão e é crescente o número de evidências multifatoriais. (RUNGE, 2009).

    A Hipertensão arterial sistêmica pode ocorrer por vários fatores, que segundo Whelton et al. (2002) podem ser de natureza genética, o sedentarismo, o sobrepeso, a ingestão excessiva de sódio e álcool e o perfil psicosocial.

    Uma sessão de exercícios promove uma série de respostas fisiológicas agudas, que quando somadas podem produzir respostas mais permanentes, ou seja, adaptações crônicas do organismo ao treinamento (POWERS e HOWLEY, 2009).

    Segundo Harmer (2006), dois dos principais fatores da atividade física que contribuem para a redução de problemas relacionados à hipertensão arterial são: 1) a redução da pressão em repouso, como resposta crônica ao exercício e 2) a redução imediata da PA após uma sessão de exercícios, conhecida como Hipotensão Pós-Exercício.

    Polito e Farinatti (2006) em estudo de revisão sobre as variáveis do exercício contrarresistência que podem contribuir para a hipotensão pós-exercício, concluíram que, por existir poucas referências sobre esse tema, não foi possível determinar exatamente qual o volume e qual a intensidade de treinamento seria capaz de proporcionar a hipotensão da pressão arterial pós-exercício. Apesar disso, os autores encontraram redução na pressão arterial monitorada dentro de um período de 60 minutos após o exercício contrarresistência. Não foi possível determinar a intensidade do treinamento capaz de proporcionar essa redução, entretanto quando se refere ao volume, os autores observaram que um número maior de séries de exercícios parece proporcionar maior resposta hipotensora no período pós-exercício.

    No que se refere a sua importância clínica, a hipotensão pós-exercício pode ser entendida como uma forma estratégica de ação não farmacológica, ou seja, sem o uso de medicamentos, para que ocorra a redução da pressão arterial (HALLIWIL, 2001).

    Foi observado que os resultados disponíveis do comportamento da pressão arterial após exercício contrarresistência são mínimos e, até certo ponto, conflitantes. Por exemplo, segundo Roltsch et al (2001), não foi identificada redução significativa da pressão arterial após a realização de uma sessão de exercícios de musculação por indivíduos normotensos em monitorização de 24 horas, independentemente da faixa etária do individuo, da intensidade do exercício e do estado de treinamento.

    Segundo Polito e Farinatti (2006), a maneira de prescrever um treino de exercício contrarresistência pode intervir nos achados sobre a redução da pressão arterial. Foi observada uma redução significativa apenas na pressão arterial diastólica após execução de uma sessão de exercícios em circuito. Por outro lado, estudos realizados por Polito e Farinatti (2003) e por Souto Maior et al (2007), identificaram reduções importantes, principalmente para a pressão arterial sistólica, após uma sessão de exercícios contrarresistência, independentemente da intensidade e do tipo treinamento executado, em forma de circuito ou na forma tradicional do treinamento.

    Segundo Araújo (2001), foi observado redução da pressão arterial em pacientes hipertensos após a execução de exercícios aeróbicos. Souto Maior (2007), cita outros estudos onde a hipotensão pós-exercício também foi observada, quando exercícios aeróbicos e resistidos proporcionaram queda pressórica duradoura no momento de recuperação pós-exercício.

    Diversas pesquisas verificaram o efeito hipotensivo arterial pós-esforço (SOUTO MAIOR et al 2007 e MEDIANO et al, 2005), contudo, apresentaram maneiras distintas de prescrever o treinamento contrarresistência, tais como: a variabilidade da carga (POLITO e FARINATTI, 2003), da metodologia de treinamento (SIMÃO et al, 2005), e do número de séries do programa (MEDIANO et al 2005).

    A Manobra de Valsava, que recebe este nome por ter sido criada pelo Dr. António Maria Valsava (1666/1723), é a tentativa de forçar exalar o ar, forçando-o contra a boca e o nariz fechados. É usado de forma diagnostica, por cardiologistas, para avaliar a condição do coração e também para tratar e corrigir qualquer tipo de perturbação no ritmo cardíaco. Esse tipo de respiração é muito utilizado por mulheres durante a gravidez e na hora do parto natural (MEIRELLES, NEVES-PINTO e POTSCH, 2008).

    Essa manobra é usada em pacientes que tem suspeita de alguma anormalidade cardíaca e, por vezes, é feita em conjunto com um ecocardiograma. Isso tem base no fato de que quando um paciente exala o ar fortemente contra boca e nariz fechados, mudanças específicas ocorrem na pressão arterial e na taxa de retorno do sangue para o coração. É importante lembrar que a execução da Manobra de Valsava não pode ser executada por indivíduos que sofreram de ataque cardíaco recentemente ou que sofrem de doenças coronarianas graves, pois irá proporcionar um aumento do fluxo sangüíneo intravascular. A Manobra de Valsava oferece alguns riscos, por exemplo: sentir tonturas ou desmaios, deslocamento de coágulos sanguíneos, sangramento e ritmos anormais originários do ventrículo e também pode causar parada cardíaca, por isso se pede que o procedimento seja realizado em local que tenha equipamentos de emergência acessível (JANCIN, 2004).

    A respiração é um aspecto bastante importante no conjunto de técnicas de treinamento na musculação e seus objetivos são fornecer oxigênio ao sangue, que o transportará a todos os tecidos do organismo, e também a remoção do dióxido de carbono resultante do metabolismo celular. Ao se executar um exercício de força na musculação deve-se ter atenção à respiração para que a oxigenação dos tecidos seja boa e consequentemente o treino possa render mais. (POWERS e HOWLEY, 2000).

    Segundo (PINHEIRO et al, 2007) a respiração, durante exercícios contrarresistência, pode ou não ser feita de forma coordenada às fases do movimento.

    Os tipos mais comuns são:

  1. respiração livre: ocorre quando não existe uma preocupação em inspirar ou expirar em determinada fase do movimento. Acontece naturalmente durante as repetições do exercício;

  2. respiração ativa: quando se inspira na fase concêntrica do movimento e se expira na fase excêntrica;

  3. respiração passiva: quando se expira na fase concêntrica do movimento e se inspira na fase excêntrica;

  4. respiração apneica ou bloqueada: quando se prende a respiração em uma das fases do exercício ou mesmo antes de executá-lo. Na respiração bloqueada o ato de prender excessivamente o fluxo de ar com a glote fechada (Manobra de Valsalva) durante a execução de treinamento de força ocasiona elevação substancial da pressão sanguínea.

    Foi demonstrado através de pesquisas que a elevação da pressão arterial durante os exercícios é menor se a respiração ocorrer durante a ação muscular, ou seja, durante as duas fases do movimento (MEDIANO et al, 2005, POLITO e FARINATTI, 2006).

    Quando se utiliza da Manobra de Valsalva durante o exercício contrarresistência, o resultado é a diminuição do fluxo sanguíneo venoso para o coração e imediatamente os barorreceptores localizados no arco aórtico identificam a diminuição no rendimento cardíaco e enviam informação, pela medula em direção ao cérebro, inibindo a atividade parassimpática e promovendo a ação do sistema nervoso simpático. Como um mecanismo de sobrevivência, o cérebro exige um aumento do batimento cardíaco e da pressão sanguínea para manter adequada a perfusão (POWERS e HOWLEY, 2000)

    Já em pleno treino de musculação, a pressão arterial sobe para valores bastante elevados, porém, se apresentam em patamares inferiores se a Manobra de Valsalva não for praticada. Os valores mais altos de pressão arterial verificam-se durante as últimas repetições da série, já num contexto de fadiga máxima voluntária. Os atletas menos experientes apresentam valores para pressão arterial mais elevados, enquanto os atletas mais experientes apresentam uma adaptação favorável, o que lhes permite levantar cargas absolutas maiores com pressão arterial relativamente menor. Esta sobrecarga de pressão poderá ser prejudicial nos indivíduos com problemas cardiovasculares. Este tipo de exercícios, com bloqueio respiratório, deverá ser evitado por eles, especialmente com cargas superiores a 70% de uma repetição máxima (MONTEIRO e SOBRAL FILHO, 2004).

    Dessa forma, o objetivo do presente estudo é, além de verificar a magnitude da hipotensão pós-exercício provocado por exercícios contrarresistência, analisar se a Manobra de Valsalva, executada durante exercícios contrarresistência, tem influência sobre a pressão arterial pós-exercício.

Metodologia

Amostra

    A amostra dessa pesquisa foi representada por 17 voluntários adultos, do gênero masculino, com idade 26 ± 10 anos (média ± desvio padrão), porém 3 voluntários foram excluídos por apresentarem pressão arterial em repouso igual ou superior a 140 x 90 mm Hg, que equivale ao valor mínimo para ser considerado como hipertenso pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.

    Todos os voluntários praticavam treinamento contrarresistência há pelo menos 6 meses e foram informados dos procedimentos metodológicos da pesquisa, para posteriormente serem solicitados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    Os critérios de exclusão foram determinados como: 1) Apresentar em repouso pressão arterial igual ou superior a 140 x 90 mm Hg; 2) não treinar contrarresistência há pelo menos 6 meses; 3) apresentar, no momento do teste, algum problema de saúde que pudessem comprometer os resultados; 4) não dispor de meia hora para permanecer em repouso após o treinamento, quando seria verificada a pressão arterial pós-esforço; 5) não assinar o termo de consentimento.

Procedimentos para aferição da pressão arterial

    A pressão arterial foi verificada por um pesquisador treinado para este fim, utilizando-se do aparelho digital de pressão de pulso digital NS, modelo 3001, fabricado pela Bioland Technology Ltd.

    Para avaliar o efeito da Manobra de Valsalva sobre a hipotensão pós-exercício, a pressão arterial dos voluntários foi verificada em 4 momentos distintos, em cada um dos dois dias de sessões de exercício:

  1. Primeira verificação – antes do treinamento o voluntário era colocado sentado, em ambiente tranquilo, e após 10 minutos nessas condições, era verificada a sua pressão arterial (PA1).

  2. Segunda verificação – imediatamente após o treinamento contrarresistência o voluntário era conduzido ao mesmo local da primeira verificação e sua pressão arterial era verificada pela 2ª vez nesse mesmo dia (PA2).

  3. Terceira verificação – 15 minutos após a segunda verificação, com o voluntário ainda no mesmo ambiente e sentado, em repouso, a pressão arterial era verificada pela 3ª vez (PA3).

  4. Quarta verificação – 30 minutos após a 2ª verificação, com o voluntário ainda no mesmo ambiente e sentado, em repouso, a pressão arterial era verificada pela 4ª vez (PA4).

Procedimentos do treinamento contrarresistência

    Os voluntários foram instruídos a executar sua série habitual de exercícios nos dois dias de pesquisa. No primeiro dia o voluntário executava a série com respiração livre (sem Manobra de Valsalva – SMV) e no segundo dia ele executava a mesma série utilizando a Manobra de Valsalva (CMV) em todos os exercícios.

Análise dos resultados

    Com o objetivo de verificar se a Manobra de Valsalva interfere na hipotensão pós-exercício, os resultados foram avaliados através da comparação dos valores médios apresentados no pós-teste (PA2, PA3 e PA4) nos dois dias de testes (SMV e CMV).

    Além disso, para verificar a magnitude da hipotensão pós-exercício em cada voluntário os resultados foram avaliados através da comparação dos valores individuais do pré-teste (PA1) em relação aos valores mínimos individuais apresentados no pós-testes (PA2, PA3 e PA4).

    Para fazer essas comparações foi utilizado o programa Excell 2007, onde os pontos de interesse foram as pressões arteriais médias nos vários momentos avaliados (PA1, PA2, PA3 e PA4), além do teste T de Student para verificar se havia diferença significativa entre os resultados dessas avaliações.

Resultados

    A pressão arterial sistólica média dos voluntários avaliados em repouso, no primeiro dia do teste, antes do treinamento contrarresistência sem o uso da Manobra de Valsalva (PA1 – SMV) foi de 122,4 mm Hg. A hipotensão sistólica pós-exercício de cada voluntário (representada pela diferença entre PA1 e o menor valor entre PA2, PA3 e PA4) sem uso da manobra está demonstrada no Gráfico 1, onde é possível verificar que dentre os 14 avaliados, 10 obtiveram redução na pressão arterial sistólica nos primeiros 30 minutos após ao exercício.

Gráfico 1. Comparação entre a pressão sistólica pré-exercício e a menor pressão sistólica verificada no pós-exercício, sem o uso da Manobra de Valsalva

    A pressão arterial sistólica média dos voluntários avaliados em repouso, no segundo dia do teste, antes do treinamento contrarresistência com o uso da Manobra de Valsalva (PA1 – CMV) foi também de 122,4 mm Hg. A hipotensão sistólica pós-exercício de cada voluntário (representada pela diferença entre PA1 e o menor valor entre PA2, PA3 e PA4) com uso da manobra está demonstrada no Gráfico 2, onde é possível verificar que, da mesma forma como aconteceu no Gráfico 1, dentre os 14 avaliados, 10 obtiveram redução na pressão arterial sistólica nos primeiros 30 minutos após ao exercício.

Gráfico 2. Comparação entre a pressão sistólica pré-exercício e a menor pressão sistólica verificada no pós-exercício, com o uso da Manobra de Valsalva

    A pressão arterial diastólica média dos voluntários avaliados em repouso, no primeiro dia do teste, antes do treinamento contrarresistência sem o uso da Manobra de Valsalva (PA1 – SMV) foi de 75,4 mm Hg. A hipotensão diastólica pós-exercício de cada voluntário (representada pela diferença entre PA1 e o menor valor entre PA2, PA3 e PA4) sem uso da manobra está demonstrada no Gráfico 3, onde é possível verificar que dentre os 14 avaliados, 11 obtiveram redução na pressão arterial diastólica nos primeiros 30 minutos após ao exercício.

Gráfico 3. Comparação entre a pressão diastólica pré-exercício e a menor pressão diastólica verificada no pós-exercício, sem o uso da Manobra de Valsalva

    A pressão arterial diastólica média dos voluntários avaliados em repouso, no segundo dia do teste, antes do treinamento contrarresistência com o uso da Manobra de Valsalva (PA1 – CMV) foi de 74,4 mm Hg. A hipotensão diastólica pós-exercício de cada voluntário (representada pela diferença entre PA1 e o menor valor entre PA2, PA3 e PA4) com uso da manobra está demonstrada no Gráfico 4, onde é possível verificar que dentre os 14 avaliados, 9 obtiveram redução na pressão arterial diastólica nos primeiros 30 minutos após ao exercício.

Gráfico 4. Comparação entre a pressão diastólica pré-exercício e a menor pressão diastólica verificada no pós-exercício, com o uso da Manobra de Valsalva

    As médias da pressão sistólica e diastólica em cada avaliação estão descritas na Tabela 1, e é possível verificar que quando não se utiliza a Manobra de Valsalva (SMV), existe uma tendência para estabilização das pressões sistólica e diastólica entre PA3 e PA4. Por outro lado, quando a Manobra de Valsalva é utilizada (CMV), a tendência é que as pressões sistólicas e diastólicas continuem decrescendo desde PA2 até PA4.

Tabela 1. Valores médios da pressão arterial sistólica e diastólica sem (SMV) e com (CMV) o uso da Manobra de Valsalva

    Para verificar se a pressão arterial pré-exercício (PA1), utilizando e não utilizando a Manobra de Valsalva (CMV e SMV), eram significativamente diferentes daquelas pressões mínimas apresentadas no pós-exercício (PA2, PA3 e PA4), sem e com a utilização da referida manobra, foi utilizado o teste T e seu resultado (p valor) está apresentado na Tabela 2.

Tabela 2. Resultados do teste T (p valor) dos valores da pressão arterial sem e com o uso da Manobra de Valsalva (SMV e CMV)

Discussão

    As pressões arteriais médias pré-exercício (PA1) sem o uso e com o uso da Manobra de Valsalva foram respectivamente de 122,4 x 75,4 mm Hg e 122,4 x 74,4 mm Hg, o que demonstra que, na média, os voluntários começaram a sessão de exercícios contrarresistência sem diferença significativa entre as pressões arteriais nos dois dias dos testes.

    Aparentemente, a pressão sistólica e a pressão diastólica dos voluntários logo após a sessão de exercícios contrarresistência foram maiores quando o voluntário fez uso da Manobra de Valsava (PA2-CMV), quando comparada com a pressão arterial sem uso da Manobra de Valsalva (PA2-SMV). Foram notadas pressões sistólicas médias SMV de 127,8 mm Hg e CMV de 131,8 mm Hg, e pressões diastólicas médias SMV de 74,4 mm Hg e CMV de 78,7 mm Hg. Esse fato pode ser explicado pela própria característica da Manobra de Valsalva que é um fator que causa aumento na pressão arterial durante o exercício, como já comentado e relatado por Mediano et al (2005), por Polito e Farinatti (2006) e por Powers e Howley (2000) e pelo fato de PA2 ter sido verificada logo após o último exercício da série. Provavelmente, os voluntários ainda estavam sob o efeito hipertensor da Manobra de Valsalva.

    No caso dos exercícios sem o uso da manobra de Valsalva (SMV), a hipotensão sistólica pós-exercício que aconteceu em 10 dos 14 voluntários e a hipotensão diastólica pós-exercício foi percebida em 11 dos 14 voluntários. Por outro lado, quando foi utilizada a Manobra de Valsalva (CMV), a hipotensão sistólica pós-exercício aconteceu em 10 dos 14 voluntários e a hipotensão diastólica pós-exercício foi percebida em 9 dos 14 voluntários. Embora a diferença entre o número de ocorrências de hipotensão pós-exercício sem o uso e com o uso da Manobra de Valsalva não tenha sido significativa, o número menor de eventos de hipotensão diastólica pós-exercício ocorridas com o uso da referida manobra (CMV), pode ter acontecido em decorrência da metodologia da pesquisa, que somente verificava a pressão dos voluntários nos 30 minutos seguintes à sessão de exercícios, momento em que a pressão diastólica ainda não havia atingido um patamar de estabilidade, como acontecia com a pressão diastólica sem o uso da Manobra de Valsalva (SMV).

    O presente estudo comprova a ocorrência de hipotensão pós-exercício contrarresistência independente do uso da Manobra de Valsalva, da mesma forma que, dentre outros, o estudo de Polito e Farinatti (2006) mostrou ocorrência de hipotensão pós-exercício em períodos de até 60 minutos após o exercício contrarresistência e o de Wallace et al (1999), encontrou redução na pressão sistólica e diastólica por um período de tempo bastante significativo após o exercício e também redução na pressão arterial em períodos do dia em que tipicamente a pressão seria mais elevada.

    Apesar de só haver sido encontrada diferença significativa na pressão arterial diastólica dos voluntários do momento pré-exercício (PA1) para o pós-exercício (PA2, PA3 e PA4) quando não foi utilizada manobra de Valsalva (p=0,02), é importante ressaltar que mesmo não sendo estatisticamente significativa, a redução na pressão arterial induzida pelo exercício é clinicamente importante, pois uma pequena redução na pressão arterial de uma pessoa hipertensa pode contribuir para a redução do uso de medicamentos.

Conclusão e recomendações

    Os resultados da pesquisa permitem concluir que, para a presente amostra, os exercícios contrarresistência produziram redução na pressão arterial pós-exercício e que a utilização da Manobra de Valsalva não foi determinante para que houvesse alteração na hipotensão pós-exercício.

    Recomenda-se repetir a pesquisa com uma amostra maior e com o tempo de avaliação da pressão pós-exercício mais longo.

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