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A fisioterapia na resolução de deformidades músculo-esqueléticas
de coxa em amputados desarticulados de joelho estudo de caso

 

*Fisioterapeuta, Professor do curso de Fisioterapia

**Fisioterapeuta graduada

Universidade de Passo Fundo

(Brasil)

Renata Busin do Amaral*

Carla Wouters Franco Rockenbach*

Luiz Otávio Rosa Gama*

Mariana Zancan**

Giórgia Delavald Moraes**

marianzancan@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi a utilização da fisioterapia na resolução de deformidades músculo-esqueléticas nas amputações. A amostra foi formada por 1 indivíduo amputado desarticulado de joelho direito. O paciente foi tratado por um período de trinta dias com sessões semanais, chegando a um total de 12 sessões de tratamento, sendo aplicadas no paciente as técnicas de Drenagem Linfática manual, eletroterapia fazendo uso de Ultra Som contínuo 0,8 W/ cm², por 10 minutos; Corrente Russa durante 30 minutos e exercícios ativos com resistência para flexores, extensores, adutores e abdutores de quadril com carga de 4 quilos, sendo 4 séries de 10 repetições com intervalos de 2 minutos entre cada série para cada grupo muscular. Na primeira e na última sessão foi realizada a avaliação da musculatura através do dinamômetro isocinético Biodex. Foram avaliados os músculos flexores, extensores, adutores e abdutores do quadril para verificar força e equilíbrio entre os músculos agonistas e antagonistas antes e após o tratamento. Foi realizado goniometria e perimetria, além de captura de imagens em diferentes perfis anatômicos na primeira e última sessão. No final das 12 sessões realizou-se estudo comparativo através dos dados coletados. Os resultados obtidos foram superiores em relação ao ganho de amplitude de movimento, força, potência muscular e posturas.

          Unitermos: Fisioterapia. Deformidades músculo-esqueléticas. Amputações.

 

Abstract

          The aim of the study was the use of physiotherapy in resolving musculoskeletal deformities in amputations. The sample was comprised of one amputee disjointed right knee. The patient was treated for a period of thirty days with weekly sessions, reaching a total of 12 treatment sessions, the patient being applied techniques of manual lymphatic drainage, electrotherapy making use of Ultrasonic Continuous 0.8 W / cm ² for 10 minutes; Russian current for 30 minutes and active exercises with resistance to flexors, extensors, hip adductors and abductors with a load of 4 pounds, 4 sets of 10 repetitions with 2 minutes intervals between each set for each muscle group. In the first and last session was held to review the muscles through the Biodex isokinetic dynamometer. We flexors, extensors, hip adductors and abductors force to check and balance between agonist and antagonist muscles before and after treatment. Goniometry and perimetry was performed in addition to capturing images at different anatomical profiles in the first and last session. At the end of the 12 sessions held through comparative study of data collected. The results were higher than the gain range of motion, strength, posture and muscle power.

          Keywords: Physiotherapy. Musculoskeletal deformities. Amputations.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A amputação significa a retirada, geralmente cirúrgica, total ou parcial de um membro, devendo ser considerada, portanto, o princípio de uma nova fase que, apesar do dano causado, possivelmente salva uma vida ou dá alívio a sofrimentos intoleráveis. (CARVALHO 2003)

    As deformidades e contraturas estão presentes em grande número de pacientes e muitas vezes acabam comprometendo a protetização e dificultando a reabilitação pós- protética. A manutenção da ADM das principais articulações, assim como a força muscular é importante para o sucesso da reabilitação. (CARVALHO 2003).

    Para Grillo e Simões (2003), os exercícios com pesos são considerados os mais completos entre todas as formas de treinamento físico, embora não sejam ideais para aumentar a resistência para esforços contínuos de baixa intensidade. Por outro lado, aumentam a capacidade de trabalho físico, estimulando a força e resistência muscular, a flexibilidade e a capacidade de aceleração. Além disso, melhoram a forma do corpo, evita, a incapacidade física e contribuem para evitar doenças crônicas.

    A estimulação elétrica neuromuscular é uma técnica de fortalecimento baseada na estimulação de nervos intramusculares dos motoneurônios, que induz a contração muscular, utilizada na reabilitação para o tratamento de hipotrofia, elasticidade, contraturas e fortalecimento, além de programas de treinamento em atletas, gerando um ganho de torque isométrico. (PICHON ET AL, 1995)

    A massagem é útil em qualquer situação onde se deseja alívio da dor, redução do edema ou mobilização de tecidos contraturados. Provavelmente sua maior indicação é vencer o edema e a rigidez, que frequentemente acompanham os traumas. (FLEKNAPP, 1994)

    O ultra-som terapêutico é um recurso amplamente utilizado na prática clínica da fisioterapia. Resultados de uma pesquisa realizada em 1995, na Inglaterra, demonstraram que 20% de todos os tratamentos fisioterapêuticos em instituições do Serviço Nacional de Saúde e 54% de todos os tratamentos particulares envolvem o uso dessa modalidade. (BALDAN ET AL, 2004)

    Diante disso, o seguinte trabalho se propôs a verificar a eficácia da Fisioterapia na resolução de deformidades músculo-esqueléticas de um paciente amputado, desarticulado de joelho.

Materiais e métodos

    A pesquisa aprovada com registro no CEP 219/ 2006 da Universidade de Passo Fundo caracteriza-se por ser um estudo de caso, com um indivíduo amputado desarticulado de joelho direito, atendido no serviço ambulatorial da Clínica de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo.

    Primeiramente foi realizada a escolha de um indivíduo amputado desarticulado de joelho que apresentava hipotonia muscular, trofismo muscular e rolo adutor no coto direito. Após a assinatura do termo de concordância pelo paciente, foi realizada uma avaliação, onde foram registrados os dados de identificação ( nome, idade, sexo, endereço, profissão, peso, altura, data da amputação), causa da amputação, patologias associadas, nível da amputação, forma do membro residual, condição do paciente, cicatrização, sensibilidade, edema, dor, força muscular, amplitude de movimento, tipo de contratura, grau de comprometimento, perimetria, atividades funcionais, marcha. Além disso, foi realizada avaliação postural por meio do posturógrafo, e avaliação isocinética no dinamômetro isocinético marca Biodex Norm® no laboratório de Isocinética da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo.

    Os atendimentos foram realizados por um período de 30 dias com sessões semanais chegando a um total de 12 sessões.

    Foram utilizadas manobras de Drenagem Linfática, proposta por Vodder, que são classificadas em quatro tipos de movimentos: círculos fixos, movimentos de bombeamento, movimento do doador, movimento giratório ou de rotação. Os movimentos foram realizados de 5 a 7 vezes no mesmo lugar, conforme descrito por Guirro e Guirro (2004)

    Foi aplicado do Ultra- Som terapêutico com tipo de onda contínua, frequência de 1 MHz e intensidade de 0,8 w/ m², 10 minutos na região do rolo adutor. Segundo Guirro e Guirro (2004), a elevação da temperatura tecidual pelo ultra- som ocasionará um incremento do fluxo sanguíneo local, amplificando a permeabilidade da membrana e a distensão das fibras colágenas, conduzindo a um aumento da capacidade de regeneração de tecidos lesados e da sua elasticidade.

    Para a aplicação de Corrente Russa foi utilizada uma frequência de 2500 Hz, com tempo de aplicação de 30 minutos, de acordo com indicações feitas por Pires e Grosso (2002), com TON- TOFF de 5 segundos conforme citado em estudo realizado por Guirro e Guirro (2004). Os eletrodos, com tamanho compatível ao músculo a ser estimulado conforme Prentice (2004), e Robinson (2001), foram fixados na musculatura anterior da coxa direita com carbogel como meio de condução.

    Para musculatura flexora de quadril: paciente em decúbito dorsal realizou 5 séries de 10 repetições cada com carga de 4 quilos conforme citado por Fleck e Kraemer (1999), e com intervalo de 2 minutos entre cada série segundo indicações de Bompa (2002). Seguiu-se o mesmo protocolo, porém para musculatura extensora de quadril, paciente foi posicionado em decúbito ventral, para musculatura abdutora, posicionou-se o paciente em decúbito lateral esquerdo, e para musculatura adutora do quadril, posicionou-se o paciente em decúbito lateral direito.

Resultados e discussões

    Os resultados da avaliação goniométrica e perimétrica do quadril estão expressos nas tabelas 01 e 02 conforme segue abaixo.

Tabela 01. Avaliação Perimétrica

    A avaliação perimétrica mostra uma diminuição de 1,5 cm ou 3,2% no diâmetro muscular a 15 cm da espinha ilíaca ântero superior (EIAS), da mesma forma que houve uma diminuição de 2 cm ou 4,6% a 17 cm da EIAS. Essa diferença ocorreu na área equivalente ao rolo adutor na musculatura adutora do coto. Segundo Perez (2003), a drenagem linfática aplicada regularmente pode ser efetiva na redução do edema e volume do membro, assim como melhora tônus muscular quando associada ao enfaixamento compressivo e exercícios isométricos. A 19 cm da EIAS houve um aumento de 1 cm ou 2,5% no diâmetro muscular, a 21 cm de EIAS houve um aumento de 0,5 cm ou 1,3%, a 23 cm de EIAS houve um aumento de 1,5 ou 4,4% da mesma forma que a 25 cm em relação à EIAS houve um aumento no diâmetro muscular de 2 cm ou 6,2%. A 27 cm de EIAS houve um aumento de 1 cm ou 3,2%, assim como a 29 cm de EIAS houve um aumento no diâmetro muscular de 2 cm ou 6,8% como a 31 cm da EIAS houve um aumento de 1,5 cm ou 4,8% da mesma forma que a 33 cm da espinha ilíaca ântero superior ocorreu um aumento de 1,5 cm ou 5,5% no diâmetro muscular. Segundo Guirro e Guirro (2004), a estimulação elétrica neuromuscular, se aplicada com intensidade adequada, contribui no processo de hipertrofia e ganho de potência de um músculo debilitado. Ocorre um aumento do retorno venosos e linfático, ao provocar sucessivas contrações e relaxamentos musculares e favorece o retorno venoso linfático.

Tabela 02. Avaliação goniométrica

    A avaliação goniométrica mostra uma redução da semiflexão de 8º para 0º de amplitude de movimento (ADM), representando um ganho de 100% na correção desta deformidade. Na flexão pode-se observar um ganho de 8º ou 5% da ADM, assim como na extensão obteve-se um ganho de 2º ou 6,6% de ADM.

    No estudo de Brito ET AL (2005), onde o paciente foi submetidos a uma intervenção fisioterapêutica com duração de 6 meses, com sessões 3 vezes por semana, houve um significativo aumento tanto na amplitude de movimento em flexão quanto em extensão. Tal aumento foi maior do que o observado em nosso estudo, muito provavelmente porque o tempo de intervenção foi maior.

    Na semi- abdução observou-se uma diminuição de 4º para 2º de ADM, representando um ganho de 50% na correção desta deformidade. A abdução teve um ganho de 4º ou 3,6% de ADM, já a adução teve um ganho de ADM de 5º ou 18,5%, indo ao encontro dos objetivos propostos em um programa de reabilitação pré- protetização, conforme Carvalho (2003), que preconiza o ganho de ADM para musculatura adutora do quadril com a intenção de uma melhor estabilização da prótese.

    Os resultados obtidos durante a avaliação isocinética estão expressos nas tabelas nº 03, 04, 05 e 06.

Tabela 03. Flexão

    De acordo com a análise isocinética, o paciente teve um aumento do pico de torque para o movimento de flexão a 60 DEG/SEC (velocidade mínima), de 1,9 N/M ou 7,3%. Ao mesmo movimento com a mesma velocidade o ganho de trabalho foi de 9,9J ou 8,6%.

    Durante o movimento de flexão a 300 DEG/SEC ( velocidade máxima), o aumento do pico de torque foi de 2,8 N/M ou 26,6%. Ao mesmo movimento e na mesma velocidade o trabalho total teve um aumento de 16,7 J ou 38,6%.

Tabela 04. Extensão

    A análise isocinética do movimento de extensão a 60 DEG/SEC mostrou um aumento de pico de torque do paciente de 3.1 N/M ou 12,3%. Durante o mesmo movimento e com a mesma velocidade houve aumento total de 27.5 J ou 25,4 %.

    Durante o movimento de extensão com 300 DEG/SEC houve aumento do pico de torque de 2.6 N/M ou 25,5%. O ganho de trabalho total para o mesmo movimento com a mesma velocidade foi 1.2 J ou 2,7%.

Tabela nº 05. Abdução

    A análise isocinética demonstrou no movimento de adução a 60 DEG/SEC um ganho de pico de torque de 11 N/M ou 125%. Para o mesmo movimento e na mesma velocidade houve um ganho no trabalho total de 47.9 J ou 347,1%

    Para o movimento de adução a 300 DEG/SEC o ganho de pico de torque foi 1.6 N/M ou 16,3%. Para o mesmo movimento e com a mesma velocidade o ganho de trabalho total foi 0.8 J ou 5,7%.

    Há uma escassez de trabalhos na literatura que investiguem o torque dos músculos do quadril em amputados desarticulados de joelho. Um melhor conhecimento das alterações biomecânicas em amputados poderia fornecer parâmetros mais adequados para a reabilitação, o que contribuiria, sem dúvida, uma melhora ainda maior dos movimentos dos pacientes protetizados.

    Levando- se em consideração os objetivos deste estudo, pode-se dizer que os resultados correlacionaram-se com a literatura uma vez que a prioridade foi o ganho de força muscular, restabelecimento de tônus e restauração da amplitude de movimento.

Conclusão

    Através dos resultados encontrados neste trabalho, conclui-se que a Fisioterapia demonstrou ser eficaz no tratamento de deformidades músculo- esqueléticas de coxa em joelho desarticulado de joelho.

    A comparação isocinética do pré e pós tratamento, demonstrou ganho satisfatório no pico de torque (N/M) e no trabalho total (J), em todos os movimentos.

    A amplitude de movimento apresentou melhora eficaz demonstrada pela goniometria, onde o paciente saiu de uma semiflexão do coto direito após o tratamento retornando ao posicionamento fisiológico. Apresentaram ganhos satisfatórios também os movimentos de flexão, extensão, semiabdução, abdução e adução.

    A perimetria permitiu observar um incremento satisfatório na relação muscular pré e pós tratamento no que diz respeito ao trofismo. Da mesma forma foi constatada uma diminuição do rolo adutor no coto de amputação.

Referências bibliográficas

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  • FLECK E KRAEMER. Fundamentos do treinamento de força muscular. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.

  • FLEKNAPP, Miland. Massagem. In: KOTTKER & LEHMANN. Tratado de medicina física e reabilitação de Krusen. Vol. 1 e 2. 4 ed. Manole, 1994

  • GRILLO, Denise E.; SIMÕES, Antônio C.. Atividade física convencional (musculação) e aparelho eletroestimulador:um estudo da contração muscular.Estimulação elétrica: mito ou verdade? Ver Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2003.

  • GUIRRO, Elaine Caldeira de Oliveira; GUIRRO, Rinaldo Roberto de J.. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, recursos, patologias. 3ª ed. Barueri: Manole, 2004.

  • PICHON, F.; CHATARD, J.C.; MARTIN, A.; COMETTI, G. Eletrical stimulation and swimming performance. Medical Science Sports and Exercise, 27 (12), 1995.

  • PRENTICE, William E. Técnicas de reabilitação em Medicina Esportiva. 3. Ed. São Paulo: Manole, 2002.

  • ROBINSO, A.J. Fisiologia do músculo e do membro. In: ROBINSO, A.J.; SNYDER-MACKEL, L. Eletrofisiologia clínica: Eletroterapia e teste eletrofisiológico. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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