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Vicente Matheus: presidência, gestão e
influência no Sporte Clube Corinthians Paulista

Vicente Matheus: presidencia, gestión e influencia en el Sporte Clube Corinthians Paulista

Vicente Matheus: presidency, management and influence in the Sporte Clube Corinthians Paulista

 

*Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Brasil

**Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, Brasil.

LUDENS – Pró-Reitoria de Pesquisa - USP

Pesquisas Interdisciplinares em Sociologia do Esporte

Felipe Procópio da Silva*

Marco Antonio Bettine de Almeida**

marcobettine@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Vicente Matheus foi um presidente importante para a história e evolução do Sport Club Corinthians Paulista. O presente estudo buscou, por meio de pesquisa bibliográfica e documental, entender a figura deste presidente, sua gestão e influência direta nos resultados obtidos e na história do clube, a partir de suas decisões administrativas e articulações políticas.

          Unitermos: Vicente Matheus. Corinthians. Presidência. Gestão.

 

Resumen

          Vicente Matheus fue un presidente importante en la historia y evolución del Sport Club Corinthians Paulista. El presente estudio busca, a través de la investigación bibliográfica y documental, entender la figura de este presidente, su administración y su influencia directa en los resultados y en la historia del club, de sus decisiones administrativas y las articulaciones políticas.

          Palabras clave: Vicente Matheus. Corinthians. Presidência. Gestión.

 

Abstract

          Vicente Matheus was an important president in the history and evolution of Sport Club Corinthians Paulista. The present study sought, through bibliographic and documentary research, understand the figure of this president, his management and direct influence on the results and in club history, from its administrative decisions and policies joints.

          Keywords: Vicente Matheus. Corinthians. Presidency. Management.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Este estudo buscou compreender a figura de Vicente Matheus, indivíduo de suma importância para o Sport Club Corinthians Paulista, que no período de 1955 à 1995, presidiu este clube por três passagens (1959 a 1961, 1972 a 1981 e 1987 a 1991)1. A justificativa para a escolha de tal tema é a de que este presidente influenciou o Sport Club Corinthians Paulista, tanto na tomada de decisões administrativas e políticas, quanto na escolha de profissionais que iriam atuar (jogadores) e trabalhar (comissão técnica). Além disso, sua influência direta nos resultados obtidos no campo mostra que o presidente do clube é um dirigente detentor de um poder incomparável no futebol. Este estudo buscou compreender a atuação e a influência deste presidente, a partir da teoria de Max Weber 2 de que o sujeito da ação social pode interferir na sua realidade, por meio de suas ações sociais.

    Este estudo tem uma abordagem qualitativa e descritiva. Ele foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica e documental que estudou os aspectos históricos e políticos do Brasil e do Sport Clube Corinthians Paulista, durante o período de 1955 a 1995.

1.     Vicente Matheus

    Vicente Matheus nasceu em 28 de maio de 1908, na pequena cidade de Toro na Espanha. Seu pai foi um artesão, antes de vir ao Brasil, fez uma passagem pela Argentina, onde não conseguiu fazer com que os seus negócios se desenvolvessem. Ao chegar à São Paulo, seu pai decidiu arrendar uma pedreira na zona leste da cidade, e obtendo sucesso, pôde trazer para o país sua esposa e seu filho Vicente, que na época tinha apenas seis anos de idade3.

    Em São Paulo, a família de Vicente Matheus cresce, e ele ganha dez irmãos. Com o objetivo de ajudar o seu pai, começa a trabalhar cedo. Com o trabalho prosperando, a família inicia a exploração de pedreiras em Ribeirão Pires e em Pilar (que posteriormente teve seu nome alterado para Mauá), local onde Vicente Matheus apaixonou-se pelo futebol. Vicente Matheus jogava de médio-volante no Pilar, e nessa época, ao assistir a um jogo do Corinthians de Neco, Grané e Tatu, ficou encantado, passando a tentar imitar os jogadores corintianos 3.

    Já com a maioridade, Vicente Matheus tomava conta dos negócios e da família. Os negócios prosperaram, aumentando assim a produtividade das pedreiras, o que possibilitou o nascimento da pavimentadora dos Matheus.

    Vicente Matheus continuou interessado pelo futebol, frequentando o Parque São Jorge nos finais de semana, na época em que o profissionalismo teve início no futebol. Em 1934 casou-se com Ruth, com quem teve duas filhas, seguindo sempre à frente dos negócios da família. No final da década de 1930, a pavimentadora ganhou uma concorrente na prefeitura para pavimentar a Rua São Jorge. Nesta época, Vicente Matheus apreciando o local e o bairro, decidiu mudar-se com a sua esposa e filhas para uma casa localizada em frente ao Parque São Jorge 3.

    Nos anos quarenta, Matheus entra para o grupo de dirigentes do Sport Club Corinthians Paulista tornando-se seu conselheiro, com a referência de ser um homem bem sucedido nos negócios. Vicente Matheus então começa a tomar posição política dentro do clube, apoiando Alfredo Ignácio Trindade para presidente. Posteriormente, Matheus se torna diretor de patrimônio e logo um dos diretores de futebol.

2.     Presidência

    Primeiramente, é necessário compreender alguns aspectos históricos e políticos do país, diretamente relacionados à presidência de Vicente Matheus.

    O Brasil vinha de uma mudança política, influenciada pela Segunda Guerra Mundial e, posteriormente pela Guerra Fria, que alterou a sua economia. Em um clima de incerteza, o Presidente Dutra investiu na realização da Copa do Mundo de 1950, sendo frustrado o sonho no famoso “Maracanasso”, com o Brasil saindo derrotado na final pelo Uruguai em pleno Maracanã lotado. Getúlio Vargas presidiu o Brasil e trouxe uma efervescência na política brasileira, com a criação da Eletrobrás e da Petrobrás. Em meio a essa turbulência, o Brasil foi para a Copa de 1954 4.

    Em 1956, o sucessor de Vargas, Juscelino Kubitscheck, tomou posse da presidência do país com o slogan “50 anos em 5”, reforçando o “nacional–desenvolvimentismo”, e construindo Brasília, a nova capital da República.

    O Corinthians tinha um time de base forte que ganhara alguns títulos importantes na década de 1950. O presidente anterior, Alfredo Ignácio Trindade trouxera mudanças positivas para o clube, tais como o parque aquático que existe até hoje. Todavia, Vicente Matheus, antes o diretor de futebol do clube, acabou unindo forças com Wadih Helu, com o propósito de destronar a presidência de Alfredo Ignácio Trindade 1.

    Matheus já havia perdido a eleição de 1957 na qual somente os conselheiros podiam votar. Algumas mudanças ocorreram, e os sócios foram autorizados a votar nos conselheiros quadrienais para eleger o novo presidente. Vicente Matheus, com a promessa de reformar o Parque São Jorge, construir um ginásio moderno de esportes, ampliar o conjunto de piscinas, fortalecer os esportes amadores e contratar grandes jogadores, conseguiu vencer a eleição, tornando-se assim o presidente do Sport Club Corinthians Paulista.

    Durante a sua primeira gestão (1959-1961), Vicente Matheus, na época com 51 anos de idade, regularizou as finanças do clube e trouxe para este toda a tecnologia que podia lhe proporcionar. Em uma entrevista, a fala de Vicente Matheus marcou uma de suas famosas “pérolas”: “O difícil não é fácil” ao falar da dificuldade de achar grandes jogadores para contratar 3.

    Vicente Matheus se distanciou dos negócios para se dedicar exclusivamente ao Corinthians, e passou a investir em Almir, atacante do Vasco da Gama. O Corinthians neste período tinha em caixa três milhões em dinheiro que seriam insuficientes para a compra de Almir, segundo a lenda Matheus tirou do seu próprio bolso seis milhões, junto com outros três integrantes do clube, podendo desta forma comprar o passe de Almir, fechando a maior contratação de um jogador de futebol no futebol brasileiro até aquele momento. Quando questionado se iria se arrepender do gesto, uma vez que o clube não teria como pagá-lo pelo empréstimo, disse: “Quem sai na chuva é para se queimar” 3.

    Vicente Matheus acabou perdendo as eleições para o seu vice Wadih Helu e não conseguiu se reeleger devido aos maus resultados do time e do insucesso do craque Almir. Wadih Helu foi um presidente que contribuiu muito para a melhora da infraestrutura do clube.

    Com a chegada de João Havelange à CBD, o futebol brasileiro começou a tomar ares de profissionalismo para a disputa da Copa de 1958, na qual o Brasil sagrou-se campeão.4

    Em 1962, o Brasil sagra-se novamente campeão do mundo de futebol, pontuando que logo após a sua vitória, ocorreu o golpe militar sustentado por AIs, retirando Jango da presidência da república.

    O futebol brasileiro em meio ao militarismo e à opressão obteve um revés na Copa de 1966. Para a afirmação do “milagre econômico” no governo Médici, o Brasil sagrou-se tri-campeão do mundo em 1970, e a CBD criou a Taça de Prata (antigo Brasileirão).

    Em 1971 Vicente Matheus apoiou Miguel Martinez para derrubar Waldih Helu, que acabou deixando a presidência do clube um ano depois. Desta maneira, Vicente Matheus pôde assumir a presidência do Corinthians novamente. Os jornais da época noticiaram:

    No dia 18 de Agosto de 1972, assume a Presidência do Corinthians Vicente Matheus, que fora um dos diretores de futebol na conquista do 4º centenário. E com ele nascia a esperança de ver o time campeão, o sonho da grande torcida corinthiana, que já aquela altura representava 31 por cento da população de São Paulo *.

    Após dez anos de domínio de Wadih Helu na presidência e dez anos de oposição, Matheus volta, assumindo o posto de Martinez, que o tinha indicado. Porém, não mostrou sucesso na administração do clube. Iniciou-se então a mais longa administração de Matheus na presidência, que teve a duração de nove anos, que amargariam um longo jejum de títulos.

    Nessa época um dos maiores ídolos do clube, Rivelino, jogava. Ele ganhou apenas um título e acabou saindo como o vilão do time devido à perda do titulo do Campeonato Paulista de 1974. Neste mesmo período, também era fundada a principal torcida organizada do clube, a Gaviões da Fiel.

    A decadência do “milagre econômico” também se refletiu no futebol com o fracasso do país nas duas próximas Copas, entrando em cena, em meio à turbulência da ditadura, o novo presidente Geisel. Respostas vindas da sociedade começaram a surgir com o movimento sindical, o movimento estudantil, a democracia corinthiana, e agregado a isso, o início da redemocratização do país no governo de Figueiredo.

    Em 1977, o Corinthians reformulado e com o retorno de Oswaldo Brandão, seu último técnico campeão em 1954, conquistou o título paulista após 23 anos sem nenhuma vitória, fato que entrou para a história do clube, sendo este um dos mais importantes títulos do Corinthians. O feito seria repetido em 1979 com a presença de Sócrates no elenco, uma contratação que foi muito comemorada pelo clube e pelo próprio presidente Vicente Matheus.

    Vicente Matheus foi o primeiro a ter a ideia de um estádio que fosse localizado em Itaquera, sendo a concessão do terreno noticiada:

    “Agora, o estádio”. Com essa frase, logo após a conquista do título tão esperado, o Presidente Vicente Matheus se lançava para a conquista de nova meta: a construção de um estádio que realmente pudesse comportar a massa corinthiana, sem depender mais do Pacaembu ou do Morumbi. O primeiro passo foi o terreno. Como o Corinthians perdeu parte do clube com a construção da marginal, Vicente Matheus foi pedir ao prefeito então Olavo Setubal, um terreno para a construção do estádio, junto ao Parque São Jorge. Mas o Prefeito ofereceu outro, junto à futura estação Itaquera do Metrô, um local que será urbanizado, com uma infra-estrutura privilegiada para servir ao estádio *.

    Porém este sonho não se tornou realidade. Nesse momento, nota-se a astúcia de Vicente Matheus ao articular os interesses do clube com os políticos, visto que a mesma matéria relata:

    ... o Presidente da República, general Ernesto Geisel, e seu sucessor, João Batista Figueiredo, participam da solenidade de entrega do terreno. Afora esta em desenvolvimento o projeto do arquiteto Icaro de Castro Mello, que, com seus sócios, Cláudio Ciancirullo e Eduardo de Castro Mello, vinham há mais de quatro anos fazendo estudos para um estádio com mais de 200 mil lugares (maior que o Maracanã) *.

    A sua facilidade de articulação e o seu bom relacionamento com políticos também foram noticiados:

    Na gestão do Sr. Vicente Matheus estiveram visitando o clube os presidentes da República Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo, além de governadores e prefeitos como Paulo Egídio Martins, Paulo Salim Maluf, Reinaldo de Barros, Olavo Setúbal, Salim Curiati e Mário Covas. Nessa época, como resultado de muita luta, foi oferecida por 99 anos ao Corinthians uma área de 200 mil metros quadrados para a construção de um estádio para 200 mil espectadores*.

    Em 1981, Vicente Matheus colocou Waldemar Pires na presidência, pois não conseguiria se reeleger, tornando-se assim o seu vice e saindo após um ano. Waldemar colocou no cargo de diretor de futebol a figura de Adilson Monteiro, dirigente que se simpatizava com os jogadores e concordava com os ideais de Sócrates 5, dando início à Democracia Corinthiana, que trouxe consigo dois Campeonatos Paulistas e uma lição de cidadania.

    Nessa época, os clubes brasileiros começaram a vincular marcas em seus uniformes. Para a Copa de 1982, o Brasil tinha uma das mais belas seleções já vistas, porém caiu diante da Itália, adiando o sonho do tetra. Nas duas próximas Copas também não se sairia bem. O Brasil sagrar-se-ia tetra campeão da Copa do Mundo somente em 1994, com a genialidade de Romário.

    Em 1985, Roberto Pasqua torna-se o presidente do clube, e posteriormente, em 1987, Vicente Matheus assume novamente a sua presidência:

    Matheus esta de volta – foi uma vitória folgada, comemorada com muita festa pelos correligionários do novo presidente. Agora, Mateus quer realizar um velho sonho corintiano: construir um estádio para o Corinthians *.

    Carisma e muito trabalho, os segredos de Mateus *.

    E sob sua tutela, com Nelsinho Batista comandando o time, o Corinthians sagra-se campeão brasileiro pela primeira vez em 1990. Após dois mandatos, Matheus não poderia se reeleger novamente, então, nas eleições de 1991 coloca sua esposa, Marlene Matheus como presidente e sai como vice, com o propósito de continuar a liderar o clube. Em 1993 assume a presidência outra ilustre figura, Alberto Dualib.

    Politicamente, Tancredo seria eleito presidente, porém por questão de saúde passou o posto a Sarney. Em meio à inflação, Collor foi o primeiro presidente eleito pelo voto popular, mas logo foi deposto do cargo por suspeita de corrupção.

    Matheus faleceu em 7 de fevereiro de 1997 no Hospital do Coração 3.

    Observa-se que Vicente Matheus se enquadraria como o torcedor convicto que acompanha o seu time e a seleção brasileira em qualquer circunstância, mesmo alternando períodos de depressão e de euforia 6, sendo desta maneira o dirigente do clube, porém mais torcedor apaixonado do que propriamente dirigente, uma vez que era visto rotineiramente assistindo aos jogos ajoelhado na entrada dos vestiários. É possível observar que Vicente Matheus apresenta ações racionais com respeito a fins (onde o sujeito busca racionalmente atingir um objetivo previamente determinado), como a dominação do clube, e a obtenção de um papel de destaque no cenário paulista. Porém, ele também apresenta ações racionais com relação à emoção (onde a dimensão sentimental assume o papel primordial), quando detectamos as suas demonstrações de torcedor apaixonado.

3.     Gestão

    Como gestor, o presidente de um clube de futebol articula as tarefas majoritariamente, com atividades associadas à distribuição de recursos (orçamentos, instalações e pessoal) para diferentes modalidades e equipes, resolução de assuntos relacionados com o pessoal técnico (supervisão e avaliação de rendimento), gestão de conflitos e acompanhamento de questões da vida dos atletas 7. Vicente Matheus fez mais que do que isso, pois além de ser gestor, foi um apaixonado pelo clube. Não só geriu o clube, como investiu boa parte de sua vida dedicando-se a ele.

    A gestão desta célebre figura foi definida da seguinte forma pela imprensa: “Vicente Matheus: com ele, o saneamento das finanças e uma nova era de prosperidade” *.

    Segundo Borragine et al.8, o gestor desportivo deve possuir algumas competências:

  1. Conhecimento esportivo: Ou seja, entender o esporte e a modalidade em questão. Não podemos afirmar que Matheus era um exímio conhecedor do futebol se tratando de técnica e tática, mas sim um assíduo telespectador;

  2. A arte de negociar: Nisto Matheus era excelente, apesar de que em alguns momentos, ele usou dinheiro do próprio bolso para fazer algo ou comprar alguma coisa para o clube. Ele mostrava astúcia nas negociações, como por exemplo, quando trouxe o craque Sócrates, indo pessoalmente ao Botafogo de Ribeirão Preto conversar com os dirigentes e com o jogador com o objetivo de contratá-lo;

  3. Planejamento estratégico, identificar oportunidades futuras e possíveis ameaças: Este quesito Matheus herdou de sua atividade profissional, ao ter que planejar e negociar principalmente com a prefeitura na época de sua pavimentadora;

  4. Tomada de decisão: Fazer a escolha correta no momento certo também foi um quesito trazido de sua atividade profissional. Matheus tinha que atuar no momento certo e da forma correta ao tratar de negócios com seus clientes e funcionários;

  5. Aprender a conviver com reclamações e críticas: Isto Matheus teve que aprender na prática em sua primeira gestão diante das dificuldades vivenciadas, compostas por um número considerável de críticas e endagamentos, principalmente oriundos da mídia;

  6. Conhecimentos legais e jurídicos básicos: Aqui Matheus deixava a desejar por não ter completado seus estudos;

  7. Captação de recursos: Neste quesito Matheus mostrava sucesso, principalmente ao negociar com políticos. Um exemplo disso foi a cessão que tratava do terreno de Itaquera, da qual participou;

  8. Atenção em motivar seus subordinados e funcionários: Não podemos afirmar que Matheus motivava seus funcionários, mas há um consenso de que ele foi um homem muito centralizador e que gostava do poder;

  9. Supervisão de recursos humanos: Quanto a guiar e orientar os seus subordinados, Matheus apresentava excelentes atitudes, que fazem parte da herança de sua posição nos negócios da família.

    Segundo Pimenta9, existem três perfis de gestores esportivos: (a) o perfil profissional genérico (mundial), que engloba as competências no marketing e vendas, planejamento estratégico, programação de eventos, comunicação, conhecimento legal e fiscal e gestão de pessoas; (b) o perfil do profissional em atividade (Brasil), que engloba as competências no conhecimento de esportes, habilidade de negociações, processo decisório, lidar com reclamações, conhecimento legal e supervisão de recursos humanos; e (c) o perfil do profissional esperado, que engloba as competências no conhecimento dos esportes, planejamento estratégico, processo decisório, lidar com reclamações, captação de recursos e motivação dos funcionários.

    Vicente Matheus aproxima-se mais do perfil esperado, o que mostra como ele conseguiu se manter no cargo por um longo tempo, apesar dele também se apresentar muito próximo dos dois outros perfis de profissionais de gestão esportiva.

    No mesmo estudo o autor conclui que para a maioria, as competências requeridas pelo gestor esportivo que foram identificadas, derivam-se de duas grandes disciplinas, sendo elas a administração e a comunicação9. Vicente Matheus aprendeu a administrar cuidando de seus negócios, e a comunicação era algo natural em sua personalidade, muito explicita em seus negócios e em suas exibições na imprensa.

Considerações finais

    Vicente Matheus foi uma figura emblemática e autoritária que contribuiu muito para o Sport Club Corinthians Paulista, sendo exaltado por uns e execrado por outros, um homem apaixonado pelo clube que foi importante na história deste.

    Dedicou sua vida ao trabalho árduo, porém gratificante. Juntamente com o seu interesse pelo futebol, veio a paixão pelo Corinthians, que fez com que ele se tornasse o seu sócio, diretor esportivo e presidente, ao mesmo tempo em que se tornava um milionário e bem sucedido empresário.

    Enquanto gestor dedicou grande parte de seu tempo ao clube, abdicando dos negócios da família, pois por vezes tirou dinheiro de seus investimentos para aplicar no clube, mesmo sabendo que estas quantias jamais retornariam às suas mãos. Atuou politicamente no clube até o final de sua vida, e em determinados momentos nos quais não podia ter o poder, indicava alguém e permanecia liderando, se não como a principal figura da gestão, como forte influente e com participação ativa, assim como quando colocou Marlene Matheus, sua esposa, na presidência.

    Teve grande relevância no fortalecimento do clube, suas gestões junto com as de Alfredo Ignácio Trindade e Wadih Helu colaboraram para a profissionalização, massificação e para uma transição baseada nos fatos que estavam ocorrendo no futebol e no cenário político e econômico do Brasil na época.

    Vicente Matheus apresentou uma influência direta nos resultados do clube. É certo que não acertou todas as vezes, como no caso de Almir, quando tirou o dinheiro do caixa do Corinthians, além de desembolsar uma grande quantia de seu próprio bolso para investir em um jogador que não deu certo. Suas ações refletiram diretamente nos resultados, e quando estes não eram satisfatórios, a busca por mudanças era confiada geralmente aos técnicos e aos craques do time, como aconteceu com Rivelino, que saiu do Corinthians sendo considerado o vilão do jejum de títulos.

    Matheus obteve resultados importantes e trouxe grandes títulos em sua gestão ao clube, como o Campeonato Paulista de 1977 conquistado após um longo jejum de 23 anos sem ganhar nenhum título, num momento em que seus principais rivais já tinham ganhado títulos de expressão.

    Foi um gestor competente e apesar de não ter formação acadêmica na área, tinha uma grande bagagem e experiência profissional por ter atuado na prática como gestor nos negócios familiares desde muito novo, e por ter transformado uma pequena pedreira em um império dos Matheus. Sendo assim, ele uniu sua experiência profissional e empreendedora à sua paixão para se dedicar ao clube, e apesar de não ser um profundo conhecedor do jogo de futebol em si, tinha um perfil ideal de gestor esportivo, comprovado por sua facilidade e competência nas articulações e negociações com políticos, outros presidentes de clubes e empresários para benefício do Corinthians.

Notas

* Extraído do acervo do Memorial do Corinthians. Responsável: David José Costa.

Referências bibliográficas

  1. DUARTE, O.; TURETA, J. B. Corinthians – O time da fiel. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

  2. WEBER, M. Economia e Sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. Tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. 3ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994.

  3. RAMOS, L. Vicente Matheus: quem sai na chuva é para se queimar. São Paulo: Editora do Brasil, 2001.

  4. GUTERMAN, M. O futebol explica o Brasil – Uma história da maior expressão popular do país. São Paulo: Editora Contexto, 2009.

  5. SILVA, F. P. et al. Influência do movimento democrático no Corinthians e os reflexos no futebol e no momento político do Brasil. Lecturas Educación Física y Desportes (Buenos Aires) v.16, n° 158, p. 1-12, Julio, 2011. http://www.efdeportes.com/efd158/influencia-do-movimento-democratico-no-corinthians.htm

  6. FAUSTO, B. De Alma lavada e coração pulsante. Revista de Historia da USP. São Paulo. Dossiê História e Futebol, n.163, P. 139 – 148, Dezembro, 2010.

  7. MAÇÃS, V. M. O. O director desportivo nas organizações do futebol em Portugal – caracterização da atividade dos gestores de desporto nos clubes de futebol profissional e não profissional. 2006. 46 – 47. Tese (Doutorado em Educação Física e Desporto) – Escola de Ciências da vida e do Ambiente (ECVA), Universidade Tràs-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 2006.

  8. FERRAZ, T. M. et al. Gestão esportiva: Competências e qualificações do profissional de educação física. Lecturas Educación Física y Desportes (Buenos Aires), v. 15, n° 147, p. 1-7, Agosto, 2010. http://www.efdeportes.com/efd147/gestao-esportiva-competencias-e-qualificacoes.htm

  9. PIMENTA, R. C. O perfil profissional do gestor de organizações esportivas brasileiras. 2001. 88 – 93. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) – Escola Brasileira de Administração Pública, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, SP, 2001.

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