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Situações causadoras de estresse em atletas de
voleibol: um estudo a partir dos Jogos do Interior de Minas

Situaciones que causan estrés en jugadores de voleibol: un estudio a partir de los Juegos del Interior de Minas

 

*Pós Graduação em Treinamento Esportivo e Educação Física Escolar

Funorte, Montes Claros, Minas Gerais

**Universidade Estadual de Montes Claros

UNIMONTES, Montes Claros, Minas Gerais

***Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal

****Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, Uberlândia, Minas Gerais

*****Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – PPGCS

Unimontes, Montes Claros, Minas Gerais

(Brasil)

Theago Delduque Maia*

Luiz Felipe Colares Silva*

Felipe José Aidar****

André Luiz Gomes Carneiro** ***

Wellington Danilo Soares* ** *** *****

wdansoa@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desse estudo foi identificar as principais situações causadoras de estresse em atletas de voleibol participantes da etapa microrregional dos Jogos do Interior de Minas Gerais (JIMI, 2010), vivenciadas durante a competição. Participaram do estudo 60 atletas da modalidade, sendo 36 rapazes do voleibol e 24 moças jogadoras de voleibol,tendo media de 18 á 30 anos. Para a definição de perfis, utilizou-se um procedimento básico para cada situação de estresse definida no formulário: somatória de respostas, percentuais de respostas e classificação de cada situação em função do percentual de respostas, o atleta deveria preencher a ficha de identificação e anotar (com um x) as cinco situações que entendesse serem as maiores causadoras de estresse em jogo. Os resultados mostraram que houve um número maior de atletas de voleibol masculinos em relação à mesma modalidade com atletas feminina. Quando comparada as respostas dos dois gêneros houve uma relação entre os resultados (coincidindo os seis primeiros itens), mesmo que não tenha sido na mesma ordem esses destacando os mesmos fatores que desencadeiam estresse durante as partidas, pois houve pouca variação nas respostas masculinas e femininas, facilitando a abordagem dos aspectos específicos que se tem relação como agentes estressores desses atletas. Com os dados apresentados fica claro que os jogos e competições são fontes inegáveis geradoras de estresse. Independentemente do nível do atleta, gênero ou competição em disputa o estresse acaba afetando o desempenho, podendo ser desencadeado por erro individual, coletivo ou uma situação de jogo.

          Unitermos: Estresse. Voleibol. Atletas.

 

Abstract

          In modalities such as volleyball, besides the actions of difficult execute, there are other kinds of factors that may interfere in their realizations, with a big complexity, being one of the factors that influence in the performance of the athletes. The purpose of this study is verify the main situations identified as causing stress in volleyball athletes participating in the micro regional step of the games in the Interior of Minas Gerais (JIMI, 2010) experienced during the competition. It also aims to compare males and females in relation to such situations. Study participants were 60 athletes from the volleyball JIMI (Games of the Interior of Minas Gerais), 36 boys and 24 girl's volleyball players. For the profiles definition, we used a basic procedure for each stress situation defined in the form: sum of responses, percentage of responses and ranking of each situation based on the percentage of responses, the athlete should fill out the identification and recording (with an X) the five situations that they understand to be the major causes of stress during the game. We can see that the numbers presented show that there was a greater number of male volleyball players in relation of the same modality with female athletes. When compared the responses of both to genders there was a correlation between the results (matching the first six items), even if it the same order these emphasizing the same factors that unleashed stress during the games because there was little variation in male female responses facilitating the approach of the specific aspects that have relation to stress agents of these athletes. With the presented data it is clear that the games and competitions are undeniable sources that cause stress. Regardless of the level of the athlete, gender or in dispute the stress affects the performance and can be unleash by individual error, collective or a game situation.

          Keywords: Stress. Volleyball. Athletes.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O estresse em partidas esportivas tem sido destacado como um dos fatores psicológicos dos mais importantes para determinar o desempenho esportivo, dos atletas ou equipes. Nesse sentido, os jogadores são muitas vezes expostos às mais variadas espécies de pressão em jogo, sendo forçados a enfrentar seus próprios limites de forma rígida e manter a qualidade e a continuidade de seu desempenho, encarando de frente os mais exaltados níveis de exigências físicas, técnicas, tácticas e psicológicas (NOCE, SAMULSKI, 2002).

    O esporte coletivo tem em sua definição uma relação entre atleta e o meio em que atua, assim também acontece no voleibol, pois é uma modalidade muito rica em situações desafiadoras e/ou ameaçadoras, já que os jogadores estão constantemente interagindo com o meio em que se localiza (local de jogo, equipamentos e materiais). E principalmente, com outros indivíduos, direta ou indiretamente relacionados ao processo competitivo (companheiros de equipe, adversários, técnicos, árbitros e demais envolvidos). Esse processo pode estar presente de forma isolada ou de forma combinada, sendo transmitidas por características como: nível de habilidade do atleta, grau de preparação, tempo de prática, experiências anteriores, idade e sexo (BRANDÃO, 2000).

    Em modalidades como o Voleibol, alem das ações de difíceis execuções, existem outros tipos de fatores que podem interferir em sua realização, tendo esta uma complexidade a mais, sendo mais um dos fatores que influenciam na performance dos atletas.

    Na modalidade voleibol, de acordo com Bojikian (1999), as constantes inovações em suas regras de jogo têm exigido do atleta uma maior precisão no desenvolvimento dos fundamentos e técnicas. Principalmente após da implantação do sistema de “tie break” pela FIVB (Federação Internacional de Voleibol) em que cada ação, desde o saque, passe, levantamento, ataque, bloqueio e defesa deve ser melhorado com a intenção de obter o ponto e tentar evitar para que o adversário o faça. Os erros passam a ser tratados de maneira tática, pois eles podem dar resultados finais em uma partida, desencadeando uma maior pressão sobre os atletas.

    Sendo assim, acredita-se que o estudo das situações de estresse possa acrescentar à literatura as variáveis que predispõem os atletas de voleibol e como eles vivenciam o estresse competitivo nessas situações. Isso facilita aos técnicos e dirigentes das equipes na escolha das técnicas mais eficientes de controle do estresse utilizadas pelas equipes para eliminar ou minimizar os efeitos das situações estressantes sobre seu rendimento esportivo.

    Dentro dessa perspectiva o objetivo do estudo foi verificar as principais situações identificadas como causadoras de estresse em atletas de voleibol participantes da etapa microrregional dos Jogos do Interior de Minas Gerais (JIMI, 2010), vivenciadas durante a competição. Como também comparar os gêneros masculinos e femininos com relação a tais situações.

Metodologia

    O estudo trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagens qualitativas e quantitativas, comparativas e de corte transversal (MARTINS; THEÓPHILO, 2007).

    A amostra foi constituída de 60 atletas, classificados para fase da etapa micro regionais A, na cidade de Montes claros, da modalidade voleibol do JIMI (Jogos do Interior de Minas), sendo 36 rapazes do voleibol e 24 moças jogadoras de voleibol, Todos esses atletas pertencentes a equipes participantes da edição 2010 JIMI com faixa etária entre 18 e 30 anos.

    Foram incluídas na pesquisa jogadores que praticam voleibol, estiveram presentes as fases do microrregional A, em Montes Claros e se dispuseram a responder o questionário.

    Não foram inclusos no trabalho jogadores que não respondiam os quesitos dos necessários ou não se dispuseram a responder as questões do estudo.

    Para obtenção dos dados foi utilizado um questionário abordando questões representando as cargas psíquicas em competições sobre as situações e condições que podem causar estresse denominado Formulário para Identificação de Situações de Stress em Jogo (FISS-J), desenvolvida por De Rose Junior, Deschamps e Korsakas (2001).

    Os dados foram coletas na fase em que as equipes jogaram na cidade de Montes Claros. Este procedimento foi adotado devido à colaboração de várias pessoas-chave envolvidas no campeonato denominado e à maior facilidade para coleta dos mesmos. O atleta deveria preencher a ficha de identificação e anotar (com um x) as cinco situações que entendesse serem as maiores causadoras de estresse em jogo, independentemente de seu nível de importância ou intensidade. Por se tratar de um formulário com respostas nominais sua análise foi essencialmente descritiva.

    Para a definição de perfis, utilizou-se um procedimento básico para cada situação de estresse definida no formulário: somatória de respostas, percentuais de respostas e classificação de cada situação em função do percentual de respostas, que, segundo Gil (1999), consiste em interrogação direta das pessoas cujo comportamento foi conhecer acerca do problema estudado e posterior analisado os dados coletados.

    Para analise dos dados foi utilizado o programa Excel XP versão 2003, para percentual das respostas.

    Foram seguidos os pré-requisitos éticos de pesquisa com, seres humanos exigidos pela lei 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CSN.

Apresentação e discussão dos resultados

    Nos questionários aplicados, cada atleta apontou as cinco situações que considerava como as maiores causadoras de estresse durante um jogo. A análise das respostas dos atletas pode ser enquadrada, basicamente, em três categorias: competência individual, competência coletiva e pessoas importantes.

    Quando o atleta se coloca a prova demonstrando ser mais, ou menos competente, sendo avaliado por outras pessoas e de si próprio, desencadeando uma maior pressão que é exercida sobre sua performance se denomina como competência individual (DE ROSE JÚNIOR, 2004).

    Quando se trata dos erros coletivos se da ênfase os conflitos com técnicos e companheiros de equipe, mais especificamente, as atitudes desses em relação aos demais atletas, a falta de companheirismo, o egoísmo, a competitividade (às vezes desleal) e a falta de interação no grupo todos se enquadram na coletividade da equipe (BRANDÃO, 2000).

    No contexto das pessoas importantes, fazem parte desta relação de jogo, os técnicos, adversários, companheiros de equipe e arbitragem (De ROSE JÚNIOR, DESCHAMPS e KORSAKAS, 1999).

Situações causadoras de estresse em atletas do gênero masculino

    Após analisadas as cinco principais situações que mais causam estresse nos atletas de varias equipes da modalidade voleibol no gênero masculino. Observamos que as três primeiras são (13,10% perder jogo praticamente ganho, 10,69% errar em momentos decisivos, 10,69% companheiro que não se esforça), seguidas das outras duas situações (10,34% arbitragem prejudicial e 8,28% companheiro egoísta), essas três situações diz respeito às categorias de competência individual e coletiva, enquanto que as outras duas situações se relacionam com a categoria de “pessoas importantes”.

    O que foi exposto acima mostra uma tendência, que em sua grande maioria os atletas masculinos apontam os erros individuais como maior fonte geradora de estresse.

    Os erros cometidos em certos momentos geram uma sobrecarga aos jogadores que podem levá-los a ter um fraco desempenho entre a equipe levando a erros coletivos.

    Os resultados evidenciam uma forte tendência a uma supervalorização do erro (competência pessoal e/ou coletiva), como fator gerador de estresse no jogo. É evidente que a competência, na maioria das vezes expressa através de situações de erro ocorridas e que podem trazer conseqüências muito ruins para o atleta e para a equipe, é o aspecto mais aparente do jogo.

    É através da demonstração que o atleta prova ser mais, ou menos competente, expondo-se a avaliações por parte de outras pessoas e, por que não dizer, de si próprio, aumentando a pressão que é exercida sobre seu desempenho (DE ROSE JUNIOR, 2004).

    É observável que os atletas do gênero masculino apontam os companheiros de equipe, a arbitragem, alem de seus próprios erros como as principais situações que os levam a desencadear as fontes estressoras durante os momentos de jogo.

    Os resultados confrontam com o estudo feito por Chagas em 1996. Seu trabalho aponta como agentes externos de estresse, os estressores de desempenho (fracasso em situações de performance), e os estressores sociais. Descreve os conflitos de relacionamento com técnicos ou membros da equipe, sendo esses os principais agentes estressores dos atletas.

Situações causadoras de estresse em atletas do gênero feminino

    As principais situações causadoras de estresse nas atletas de voleibol do gênero feminino são: perder jogo praticamente ganho (13,10%), arbitragem prejudicial (10,69%), companheiro que não se esforça (10,69%), seguidas de outras duas situações (10,34% errar em momentos decisivos e 8,28% repetir os mesmos erros).

    As atletas do gênero feminino destacam os erros individuais, companheiros de equipe e a arbitragem como as principais situações que os levam a desencadear as fontes geradoras de estresse durante os momentos de jogo.

    Uma pesquisa feita por De Rose Junior, Deschamps e Korsakas (2001) com atletas profissionais intitulada “Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento”, características similares a este trabalho foram agrupadas em fontes específicas de estresse (lesões, competência, conduta dos adversários, facilidade/dificuldade da partida, arbitragem, equipe, organização dos jogos), que, por sua vez, foram classificadas em fatores específicos de estresse (aspectos físicos, estados psicológicos, jogo, planejamento/organização), quando novamente agrupados em função da sua origem e/ou características, foram categorizados em fatores gerais de estresse (individuais e situacionais).

    Erros sucessivos, falhas na arbitragem, provocações dos adversários, condicionamento físico inadequado, problemas de relacionamento com companheiros de equipes e/ou comissão técnica, dentre outras, são situações que podem levar um jogador ao estresse, e conseqüente queda do desempenho. Samulski (2002) cita os diversos autores: Nitsch (1976), McGrath (1981), Samulski (1995), Selye (1981), que destacam que a concepção de estresse apresenta uma concordância unânime no que se refere à associação do estresse com um estado de desestabilização psicofísica ou a perturbação do equilíbrio entre a pessoa e o meio ambiente.

Comparação entre gêneros

    Em ambos os gêneros os atletas indicaram a situação perder jogo praticamente ganho como sendo a principal fonte geradora de estresse.

    Errar em momentos decisivos foi o segundo item em que os atletas masculinos mais evidenciaram. Já para as atletas femininas a arbitragem prejudicial teve o segundo maior número de respostas.

    Em terceiro os atletas masculinos frisaram os companheiros que não se esforçam, entre as mulheres este item também se enquadrou como o terceiro item que mais gera estresse.

    Em estudo feito por Gouvêa (2004), sobre “carga psíquica em situação de competição” não foram encontradas diferenças significativas entre as situações apontadas entre os gêneros.

    Podemos perceber que os números mostram que houve um número maior de atletas de voleibol masculinos em relação à mesma modalidade com atletas feminina. Quando comparada as respostas dos dois gêneros houve uma relação entre os resultados (coincidindo os seis primeiros itens), mesmo que não tenha sido na mesma ordem esses destacando os mesmos fatores que desencadeiam estresse durante as partidas, pois houve pouca variação nas respostas masculinas e femininas, facilitando a abordagem dos aspectos específicos que se tem relação como agentes estressores desses atletas.

    Gouvêa em estudo realizado em 2007 confirma que as situações de jogo incluídas no instrumento de pesquisa geram cargas psíquicas percebidas de maneira muito semelhante pelos atletas, independentemente do gênero.

Conclusão

    Os resultados encontrados nos permitem concluir que os jogos e competições são fortes fontes geradoras de estresse. Independentemente do nível do atleta, gênero ou competição em disputa o estresse acaba afetando o desempenho, podendo ser desencadeado por erro individual, coletivo ou uma situação de jogo.

    Neste estudo os atletas apontaram como agentes de estresse que possam se desenvolver em certas circunstâncias da partida os erros individuais, arbitragem e os companheiros, sendo pouco lembrados os desentendimentos e debates com técnicos e demais membros da equipe, mais especificamente, as cobranças injustas cometidas pelos técnicos, as abordagens desses em relação aos jogadores, a falta de harmonia entre o grupo.

    Tratando-se especificamente dos Jogos do Interior de Minas (JIMI), estes podem ter em suas características de disputa agentes estressores. Principalmente em cidades cujo investimento de órgãos públicos e privados na formação e manutenção de equipes faz com que sejam esperados resultados satisfatórios por parte desses investidores.

    Outro fator potencialmente gerador de estresse é a necessidade de vencer cada etapa do evento, uma vez que apenas o primeiro colocado se classifica para a fase seguinte.

    Entre os fatores geradores de estresse houve uma pequena variação entre a modalidade feminina e masculina, onde os mais citados são principalmente os erros de caráter individual e coletivo. Esses resultados mostram que os atletas demonstram certo medo de errar em momentos decisivos da partida, pois esses erros geram uma carga de cobranças sobre esse atleta levando, ao medo de cometer novos erros, alem de sua exposição diante do grupo ou público existente, podendo este sofrer fortes críticas durante ou pós-jogo.

    Portanto, entendemos que, tanto para adultos experientes quanto para jovens que estão iniciando na competição, atitudes que sejam coerentes e cobranças que saibam ser feitas em momentos adequados pelos seus técnicos têm uma importância fundamental para o desenvolvimento e desempenho dos atletas. Podendo dizer o mesmo dos companheiros que compõem suas respectivas equipes, uma vez que esses possuem objetivos comuns. Já os erros de arbitragem devem ser minimizados, visto que essa situação é unânime entre os atletas como fonte de estresse.

    Mesmo outros aspectos menos citados, como organização, treinamento, estado psicológico e aspectos físicos, também devem ser levados em consideração, pois a eliminação de tais fatores pode contribuir para um melhor desempenho individual e coletivo.

Referências

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