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Reflexões sobre a docência em enfermagem. As características
necessárias ao enfermeiro professor segundo a literatura

Reflexiones sobre la docencia en enfermería. Las características del enfermero profesor según la literatura

 

*Graduado em Enfermagem pela Universidade Estadual de Montes Claros, MG

Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior

**Graduada em Enfermagem pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas, MG

Especialista em Saúde da Família

(Brasil)

Antônio Lincoln de Freitas Rocha*

antonio.lincoln@hotmail.com

Marcela Guimarães Fonseca**

marcelafonseca1@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O enfermeiro comumente está envolvido em atividades relacionadas à docência, contudo nem sempre o seu currículo contempla uma formação específica para esse exercício, o que repercute, muitas vezes, na qualidade dessa atividade. Este estudo teve como objetivo evidenciar os aspectos tangentes ao ensino na enfermagem, delineando o contexto da docência e as competências dos professores do cuidado. Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura direcionada ao tema “docência na enfermagem”, na qual foram utilizados 8 artigos indexados na base de dados da Scielo, os quais abordavam o tema e atenderam ao objetivo do estudo. Resultados e discussão: O corpo docente dos cursos de Enfermagem é constituído por profissionais de enfermagem, levados, posteriormente à condição de docentes, quando enfrentam as situações e realidades pedagógicas sem que tenham tido, em sua grande maioria, oportunidades para a construção de competências voltadas para esse trabalho. O ato de ensinar não compreende apenas a transmissão das informações. O docente deve mediar o processo ensino-aprendizagem, fazendo com que os alunos ampliem suas possibilidades de articular com a realidade por meio de uma nova maneira de educar. Destaca-se, então, a formação pedagógica como ferramenta de superação do modelo ortodoxo de ensinar e a prática reflexiva, com vistas a uma atuação docente compatível com o contexto e a vivência dos estudantes. Considerações Finais: Acredita-se, como explicitado pelos diferentes estudos citados, na necessidade de formar professores reflexivos para a prática docente na enfermagem, para que eles sejam capazes de refletir sobre sua própria ação cotidiana como formadores, de comprometer-se com a pesquisa, com sua formação e com seu desenvolvimento profissional.

          Unitermos: Docência no Ensino Superior. Formação para docência. Enfermagem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O enfermeiro está continuamente inserido no processo de ensino, nos mais variados momentos, seja assistindo pacientes e promovendo educação para saúde; exercendo atividades administrativas junto à equipe de enfermagem e participando de programas de educação continuada ou atuando diretamente no ensino contribuindo para a formação de futuros profissionais (PETTENGILL et al., 1998). A docência na enfermagem exige atuação crítica e reflexiva frente à atividade acadêmica. Tal postura viabiliza a capacitação e também o desenvolvimento de recursos humanos nesse campo de atuação, o que na atuação direta dos futuros profissionais tanto no âmbito assistencial como no acadêmico.

    Assim, este estudo teve como objetivos evidenciar os aspectos tangentes ao ensino na enfermagem, apontando o contexto da docência e as competências dos professores do cuidado.

Metodologia

    Este estudo compreende uma revisão de literatura, aborda questões que tangem o processo da docência na enfermagem, sumarizando achados bibliográficos que apontam características necessárias aos professores e à transformação de suas condutas no binômio ensino-aprendizagem. O objetivo do estudo foi evidenciar os aspectos tangentes ao ensino na enfermagem, delineando o contexto da docência e as competências dos professores do cuidado. Foram incluídos estudos presentes na base indexada da Scielo que abordam o objetivo do estudo. Foram encontrados 63 artigos para as palavras-chave “docência na enfermagem”, “ensino de enfermagem” e “enfermagem”, dos quais apenas 8 foram selecionados por abordarem os aspectos pertinentes à qualificação do docente enfermeiro para a atuação profissional.

Resultados e discussão

O contexto da docência na enfermagem

    Poucas instituições de ensino superior no Brasil têm se preocupado em desenvolver pesquisas, produzir e socializar conhecimentos, definindo-se mais por um sistema formador de profissionais para o mercado de trabalho. A pesquisa figura na literatura internacional como uma prática essencial na formação e no desenvolvimento profissional do professor, assim como nas propostas de reestruturação curricular. A enfermagem está requerendo ajustes em seu projeto pedagógico e na prática docente, de modo a propiciar melhores condições de formação aos alunos e de inserção no mercado de trabalho a seus egressos, viabilizando um ensino de melhor qualidade. Essas são algumas características essenciais para atender às exigências contemporâneas do ensino de enfermagem e novas formas de prática docente que estimulem o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo (FARIA; CASAGRANDE, 2004).

    A constituição de escolas de enfermagem se deu de acordo com interesses em capacitação de mão-de-obra para o âmbito hospitalar. Todavia, a saúde e a enfermagem, ao longo do tempo, sempre foram direcionadas para a consolidação do modelo médico-hospitalar de alta tecnologia e alto custo (MADEIRA; LIMA, 2007).

    A educação constitui uma das principais funções do enfermeiro em sua prática profissional, havendo necessidade de investir na formação do enfermeiro na área de ensino, com uma visão geral de educação, inclusive incentivando a continuidade dos estudos vinculada às transformações sócio-econômicas e culturais (KOBAYASHI; FRIAS; LEITE, 2001).

    Nesse sentido, novas demandas para o ensino e aprendizagem na área de enfermagem apontam para uma perspectiva interdisciplinar mediante parcerias com outras áreas de conhecimento, o que implica, necessariamente, o abandono, a saída de um sistema cartesiano de departamentalizar o conhecimento, revelando a possibilidade de desenvolvimento de uma nova prática educativa em enfermagem, assim como em outras esferas educacionais, mais comprometida com a sociedade (MADEIRA; LIMA, 2007). Da mesma forma, Rodrigues e Sobrinho (2008) afirmam que neste contexto, o processo de redirecionamento na formação dos profissionais de Enfermagem deve estar apontado para as transformações sociais. Isso implica que as propostas pedagógicas devem dialogar com estas transformações. É esperado que a formação esteja integrada à realidade vivida pelos alunos e seja capaz de incorporar os aspectos inerentes a sociedade globalizada do século XXI.

    O corpo docente dos cursos de Enfermagem é constituído por profissionais de enfermagem, levados, posteriormente à condição de docentes, quando enfrentam as situações e realidades pedagógicas sem que tenham tido, em sua grande maioria, oportunidades para a construção de competências voltadas para esse trabalho (PINHEL, 2007).

    Aspectos como a formação, performance e desenvolvimento profissional do professor vêm sendo estudados a partir do movimento de transformação do ensino superior no Brasil. No momento, espera-se do docente universitário que ele forme profissionais competentes e comprometidos socialmente, tendo a prática educativa pautada na função de desenvolvimento pessoal e social, com preocupações formativas, além de informativas. Por isso, é necessária a busca de uma prática docente que possibilite aos alunos um pensamento crítico, reflexivo e participativo (RODRIGUES; SOBRINHO, 2008).

    Assim, a formação do professor permite uma prática pedagógica atual, contextualizada, atenta para o contexto sócio-político-cultural com vistas às transformações da sociedade, indo ao encontro das Diretrizes Curriculares do curso de enfermagem, que procuram assegurar a flexibilidade, a diversidade e a qualidade do ensino oferecido ao acadêmico, estimulando a adoção de concepções que objetivem o desenvolvimento da prática investigativa nas diversas áreas de atuação (assistência, ensino, pesquisa e extensão), delineando a compreensão de que professor e aluno são sujeitos ativos do processo ensino-aprendizagem e, ao mesmo tempo, em conformidade com os preceitos do SUS que consideram a assistência do paciente como sujeito ativo na assistência do cuidar, respeitando a singularidade e individualidade de cada ser humano (MADEIRA; LIMA, 2007).

    Nesse sentido, observa-se que até recentemente exigia-se do candidato a professor universitário apenas o bacharelado e o exercício competente da profissão. A condição de profissional bem sucedido na profissão implicava na competência relativa ao ensino. Não era exigida a formação na área pedagógica (RODRIGUES; SOBRINHO, 2006). Contudo, um estudo realizado pelos mesmos autores em 2008 aponta que os enfermeiros que querem tornar-se professores ou já são professores precisam adquirir formação específica para a docência, fator importante e necessário para o desempenho dessa função. Os enfermeiros professores demonstram a sensibilidade de que o bacharelado os torna enfermeiros, e não professores, e que enveredar no campo da docência exige formação específica.

    Dessa forma, tendo como pano de fundo as novas conformações sócio-econômicas e culturais presentes na atualidade, os saberes docentes e as competências se articulam neste processo de desenvolvimento pessoal e profissional, sendo relevante que esses docentes apreendam o conceito de competências em sua maior amplitude, com vistas à melhoria da formação das gerações seguintes de profissionais (PINHEL; KURCGANT, 2007, p.712).

    A noção de competência é associada ao sucesso, à autoridade de um indivíduo sobre determinado assunto ou ainda ao seu status quo pessoal ou na sociedade onde está inserido. Inicialmente, subjacente ao processo cultural, econômico e principalmente político, e somente mais recentemente, explicitada e merecedora de estudos mais aprofundados, a noção de competência permeia o processo educacional como um todo e tem grande influência sobre o papel profissional docente. Por ser um conceito com múltiplos sentidos, tanto na esfera do trabalho quanto na da educação, competência tem vários significados, entre os quais a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, de fazer determinada tarefa ou possuir uma capacidade, habilidade ou aptidão, ou seja, de maneira geral, a noção de competência se apresenta sempre associada a ação. Neste sentido, o conceito da competência vem sendo enfaticamente empregado no intuito de associar o conhecimento teórico à prática, tendo como centro, o indivíduo capaz de tal realização (PINHEL; KURCGANT, 2007).

Competências do enfermeiro docente

    A proposta normativa para os critérios de iniciação acadêmica reside na valorização tanto de vínculos, de títulos e de produção científica e principalmente numa atitude de disponibilidade sensível e cognitiva para o ser docente enquanto profissional engajado à formação de recursos humanos e as atividades de extensão e de pesquisa A inserção do docente à dinâmica acadêmica pressupõe, também, investir na objetivação das questões inerentes à reelaboração dos códigos que vêm sustentando o ensinar a cuidar em Enfermagem, ampliando o repertório cognitivo , aprofundando a percepção de um real em movimento, verificando a aplicabilidade de projetos de ação sintonizados com o inédito. Pressupõe, ainda, inserir estratégias aptas a superar a transmissão de informações não atualizadas, inviáveis, investindo na elaboração de conceitos através de processos associativos e reflexivos (IDE, 1999).

    A formação do docente em enfermagem deve ser consolidada com base no domínio de conhecimentos científicos e na atuação investigativa no processo de ensinar e aprender, recriando situações de aprendizagem por investigação do conhecimento de forma coletiva com o propósito de valorizar a avaliação diagnóstica dentro do universo cognitivo e cultural dos acadêmicos como processos interativos. O ato de ensinar não compreende apenas a transmissão das informações. O docente deve mediar o processo ensino-aprendizagem, fazendo com que os alunos ampliem suas possibilidades de articular com a realidade por meio de uma nova maneira de educar. Destaca-se, então, a formação pedagógica como ferramenta de superação do modelo ortodoxo de ensinar (RODRIGUES; SOBRINHO, 2006).

    A prática reflexiva entre enfermeiros docentes, em conformidade com o que ocorre em outras áreas profissionais, também merece discussões e algumas pesquisas, principalmente pela constatação da necessidade de transformações filosóficas e pedagógicas que supram as necessidades da cultura no novo milênio, à semelhança do estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-Lei nº 9.394/96 (LDB), que, entre as finalidades principais da educação superior, destaca a necessidade de se estimular a formação de profissionais com espírito científico e pensamento reflexivo (FARIA; CASAGRANDE, 2004).

    Ao atuar e refletir, os indivíduos são capazes de perceber o condicionamento em que se encontram, sua percepção muda, embora isto não signifique, ainda, a mudança de estrutura. A mudança de percepção da realidade, que antes era vista pelos indivíduos como algo imutável, é vista a partir de então, como uma realidade histórico-cultural criada pelos homens e que pode ser transformada por eles (KOBAYASHI; FRIAS; LEITE, 2001).

    Para que o professor promova sua prática é preciso grande conhecimento técnico, reflexão constante e engajamento intelectual e afetivo. Ele deve buscar sempre a inovação, propondo novas formas de atuação que facilitem o aprendizado (PETTENGILL et al., 1998).

    O desenvolvimento de um ensino reflexivo requer que os enfermeiros professores tenham domínio de suas atividades. Para isso, é fundamental que tenham uma mentalidade aberta, tendo em vista que, no seu cotidiano, há problemas para serem intermediados por eles. Será necessário ter responsabilidade intelectual, pois esta assegura a integridade e o entusiasmo responsáveis pela capacidade de renovação. Portanto, é na prática reflexiva que o conhecimento se produz e este é o saber do docente constituído ao longo do processo histórico de organização e elaboração pela sociedade (RODRIGUES; SOBRINHO, 2006).

    Rodrigues e Sobrinho (2008) propõem a formação continuada numa perspectiva da ação-reflexão-ação, a qual considera o docente, suas práticas e suas necessidades, pautadas na ação-reflexão-ação construída em um ambiente coletivo e que vá além de reciclar/treinar/adestrar/capacitar. Para isso é necessário conhecer os obstáculos que os enfermeiros professores enfrentam para, em seguida, traçar uma proposta de superação com base nos obstáculos vivenciados e não em realidades diferentes das vividas pelos sujeitos. Nesse sentido, a prática pedagógica do enfermeiro professor deve passar por um processo contínuo de reflexão e (re)facção já que essa postura promove uma prática capaz de modificar o contexto educacional do ensino de Enfermagem, ainda marcado pela transmissão do conteúdo, fragmentação do ensino e dicotomia teoria-prática. Para isso, identificar e superar os obstáculos presentes na ação docente do enfermeiro professor é condição essencial para que possamos avançar em busca dessa transformação do ensino de Enfermagem.

    A essência da enfermagem é complexa, mas a natureza do professor de enfermagem o é ainda mais, já que um grupo social (acadêmicos de enfermagem) será formado pelo docente. Comportamentos e hábitos serão mudados no decorrer desta aprendizagem, havendo uma interação entre o aluno e o professor, cujo objetivo é formar pessoas para desenvolver uma atividade específica na sociedade (PETTENGILL et al., 1998).

Considerações finais

    Acredita-se, como explicitado pelos diferentes estudos citados, na necessidade de formar professores reflexivos para a prática docente na enfermagem, para que eles sejam capazes de refletir sobre sua própria ação cotidiana como formadores, de comprometer-se com a pesquisa, com sua formação e com seu desenvolvimento profissional. Essa transformação de conduta certamente refletirá na formação dos profissionais, de forma que estes sejam mais críticos e sensíveis quanto ao seu papel de cuidadores no espaço de trabalho em saúde.

Referências

  • FARIA, Josimerci Ittavo Lamana; CASAGRANDE, Lisete Diniz Ribas. A educação para o século XXI e a formação do professor reflexivo na enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem, v. 12, n. 5, p. 821-827, setembro-outubro, 2004.

  • IDE, Cilene Aparecida Costardi. Requisitos para a docência em escolas de enfermagem: perspectivas para a questão. Rev.Esc. Enf. USP, v.33, n. 2, p. 186-191, jun. 1999.

  • KOBAYASHI, Rika M.; FRIAS, Marcos Antonio da E.; LEITE, Maria Madalena Januário. Caracterização das publicações sobre a educação profissional de enfermagem no Brasil. Ver Esc. Enf. USP, v. 35, n. 1, p. 72-9, mar 2001.

  • MADEIRA, Maria Zélia de Araújo; LIMA, Maria da Glória Soares Barbosa. A prática pedagógica das professoras de enfermagem e os saberes. Rev Bras Enferm, v. 60, n. 4, p. 400-404, Brasília 2007.

  • PETTENGILL, Myriam A. Mandetta; SILVA, Lúcia Marta G. da;BASSO, Mariusa; SAVONITTI, Beatriz H.R.A.;SOARES, Isabel Cristina Vilela. O professor de enfermagem frente às tendências pedagógicas uma breve reflexão. Rev. Esc. Enf. USP, v. 32, n. 1, p.16-26, abr. 1998.

  • PINHEL, Inahiá; KURCGANT, Paulina. Reflexões sobre competência docente no ensino de enfermagem. Rev Esc Enferm USP, v. 41, n. 4, p. 711-716, 2007.

  • RODRIGUES, Malvina Thaís Pacheco; SOBRINHO, José Augusto de Carvalho Mendes. Enfermeiro professor: um diálogo com a formação pedagógica. Rev Bras Enferm, v. 59, n. 3, p. 456-459, maio-jun 2006.

  • RODRIGUES, Malvina Thaís Pacheco; SOBRINHO, José Augusto de Carvalho Mendes. Obstáculos didáticos no cotidiano da prática pedagógica do enfermeiro professor. Rev Bras Enferm, v. 61, n. 4, p. 435-440, Brasília 2008.

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