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A utilização do jogo no ensino esportivo no contexto escolar

La utilización del juego en la enseñanza deportiva en el contexto escolar

 

*Coordenador do Laboratório de Análises dos Cenários Esportivos na Mídia

Professor-Adjunto do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM

**Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria

***Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde pela UFSM

****Acadêmico do Curso de Educação Física. Licenciatura da UFSM

(Brasil)

Antonio Guilherme Schmitz Filho

schmitzg@gmail.com

Magne Odilene da Costa

maggne@ibest.com.br

Braulio da Silva Machado

brauliomachado_fut@hotmail.com

Cesar Vieira Marques Filho

cesarvmf@hotmail.com

Diozer Dalmolin da Silva

diozergauchoo@hotmail.com

Israel Lopes Beck

israel_beck@yahoo.com.br

Marcelo Freitas Prestes

marcelofprestes@hotmail.com

Uilian Antonio Santi Sagrilo

uilianss@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo apresenta um relato de experiência das atividades desenvolvidas pelo Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID), através do projeto intitulado “O Ensino dos Esportes na Escola: intervenções a partir dos cenários esportivos produzidos na mídia” no Instituto Estadual de educação Olavo Bilac da cidade de Santa Maria. É objetivo do trabalho, elencar alguns dos elementos característicos da natureza do jogo e seus desdobramentos circunstanciais, buscando estabelecer alguns atributos práticos a serem incorporados ao fazer profissional do educador físico, que sejam compatíveis com as expectativas e potencialidades de movimento das crianças, através de intervenções junto ao conteúdo esportivo apresentado midiaticamente.

          Unitermos: Jogo. Ensino. Esporte. Mídia. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID), oriundo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), tem o intuito de aproximar os cursos superiores de licenciatura (campo teórico) com a realidade escolar (campo prático), proporcionando aos acadêmicos da graduação, a oportunidade de compreender a natureza das diversas implicações docentes estabelecidas junto à comunidade escolar.

    O projeto intitulado “O Ensino dos Esportes na Escola: intervenções a partir dos cenários esportivos produzidos na mídia”, contemplado pelo PIBID e vinculado ao Laboratório de Análises dos Cenários Esportivos na Mídia (LACEM) do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sob a coordenação do Prof. Dr. Antonio Guilherme Schmitz Filho proporcionou ao Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac (IEEOB) a participação no programa.

    Neste sentido, os acadêmicos-monitores envolvidos no programa atuam na escola junto às turmas do 4º ano do ensino fundamental, considerando que a mesma possui um contingente de aproximadamente 2.200 alunos, da educação infantil ao ensino médio.

    Para tanto, o cronograma de atividades estabelecido junto ao projeto busca responder através das ações de ensino desenvolvidas, a uma demanda existente no ensino esportivo que tem relação direta com uma compreensão diferenciada para o jogo. O estímulo de comportamentos autônomos e uma formação que proporcione experiências de movimento diferenciadas às crianças neste caso poderão possibilitar a ampliação da cultura corporal dos mesmos através de atividades voltadas ao jogo.

    Como o interesse principal do projeto é promover intervenções que auxiliem no ensino esportivo a partir das atribuições estabelecidas para o jogo via plataforma televisiva, justifica-se o presente estudo, na medida em que determinadas concepções esportivas migram do sistema midiático para o universo escolar através dos próprios alunos, considerando a exposição dos mesmos frente aos diferentes programas e transmissões esportivas.

    Na escola a criança encontra espaço para vivenciar os primeiros contatos sociais e as primeiras chances de entender normas de convivência e respeito fora do ambiente familiar. A criança começa a estabelecer relação entre os seus limites e os limites dos outros tanto no convívio social quanto nas práticas corporais. Neste sentido, o estudo objetiva em seu aspecto geral elencar alguns dos elementos característicos da natureza do jogo e seus desdobramentos circunstanciais. Em decorrência, se busca no aspecto específico, estabelecer alguns atributos práticos a serem incorporados ao fazer profissional do educador físico que sejam compatíveis com as expectativas e potencialidades de movimento das crianças.

2.     Referencial teórico

    Parte-se neste momento do pressuposto que o jogo é um elemento cultural, independentemente do período histórico em questão ou da classe social de qualquer indivíduo, pois o mesmo é oriundo da natureza humana. Ao percebermos o jogo com esta característica, utilizar-se-á este como um dos indicativos básicos para a elaboração de conteúdos e consequentemente o desenvolvimento de uma concepção de aula.

    Para Huizinga (1999), o jogo é um evento mais antigo que a própria cultura, pois mesmo entendendo a cultura em suas definições menos rigorosas, ela pressupõe sempre adequações voltadas à evolução das sociedades humanas. No entanto, os animais não esperaram que os homens os apresentassem para a atividade lúdica, eles brincavam instintivamente e por necessidade de sobrevivência. Portanto, o jogo já existia na natureza mesmo antes dos homens tornarem-se civilizados.

    No sentido da organização cultural, Huizinga (1999) acredita que o jogo é uma ação ou atividade voluntária, realizada dentro de certos limites fixos de tempo e lugar. Estabelecer aspectos para o ensino do jogo implica em trocas estabelecidas entre uma geração e outra, o que Rodrigues (2003) destaca como atributo inerente ao jogo que oferta inúmeras possibilidades educacionais, além de contribuir para a adaptação ao grupo, no que diz respeito ao conviver em sociedade.

    Ao analisarmos o jogo com um importante elemento da aprendizagem, podemos atribuir a ele a condição de orientador de valores sociais, principalmente devido a algumas características agregadas a essa prática, tais como: Possibilitar interação entre os participantes; Englobar questões sobre competição e cooperação; Estimular às tomadas de decisões e solução prática de problemas; Promover a comunicação entre os envolvidos nas atividades e; Reforçar a importância sobre o cumprimento das regras estabelecidas (próprias ou existentes).

    No momento em que existe a oportunidade para o reconhecimento de regras e normas a partir das relações estabelecidas com as crianças e o jogo, torna-se ainda mais pertinente essa análise, já que as mesmas estão em processo contínuo de formação, de construção de sua personalidade e principalmente, de atribuição de sentidos e valores referentes à maneira com que a experiência está sendo possibilitada.

    Neste sentido, deve-se entender que a relação da criança com o jogo, ou com as brincadeiras, tem grande influência no início da sua socialização. Seria o que Sanmartín (2005) considera como valorativo, sujeito a avaliação, que varia de pessoa para pessoa. São valores adquiridos por meio dos processos de socialização e de transmissão entre os seres humanos e o ambiente. A Educação Física compartilha essa incumbência, e usa o jogo para inserir elementos que reforçam o desenvolvimento do caráter pessoal. Segundo Rodrigues (2003) o hábito, as atitudes e os vocabulários adquiridos no momento da prática de jogos são transferidos para outras atividades, estabelecendo referências para a vida dos mesmos.

    É importante ressaltar também que o projeto em questão tem suas bases teóricas vinculadas aos mesmos estudos1 que dão sustentação a todas as ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas pelo Laboratório de Análises dos Cenários Esportivos na Mídia do CEFD/UFSM, fundado em agosto de 2010 a partir da idealização de que a midiatização do jogo caracteriza importante elemento para o ensino esportivo, ideia presente na essência dos estudos mencionados.

3.     Metodologia

    O projeto obviamente intenciona proporcionar a participação de todos os envolvidos no processo pedagógico-educacional. Para tanto, são realizadas reuniões de estudos semanais, entre os acadêmicos-monitores e os professores-coordenadores, com o objetivo de promover relatos das atividades realizadas na escola, assim como, estudos complementares aos conteúdos propostos para o aprimoramento das possibilidades de ação.

    Os procedimentos metodológicos relacionados com o ensino e a compreensão de uma ideia de esporte ocorrem por intermédio da estimulação geral e de procedimentos gradativos de adaptação e aperfeiçoamento. Isso é possibilitado a partir das relações do jogo com o brincar, e da influência direta da maneira como o fenômeno esportivo é apresentado pela plataforma televisiva.

    A atenção está voltada para os jogos entre pequenos e grandes grupos, observando-se a complexidade e o aumento de informação em relação a gestos e comportamentos, direcionados à aprendizagem para a resolução de problemas (autoaprendizagem). A ênfase maior é dada aos gestos e comportamentos específicos que auxiliarão na construção de movimentações individuais e coletivas, bem como na possibilidade de estimulação para uma noção de jogo livre, ligada com a criatividade e com o raciocínio lógico para o mesmo.

4.     Resultados e discussões

    Nas atividades já propostas pelo PIBID no Instituto Olavo Bilac, pôde-se notar que os alunos já carregam consigo, concepções e ideias de jogo já impregnadas em seus comportamentos, que dizem respeito a características daquilo que é regularmente apresentado via sistema midiático. São exemplos, as questões de identificação dos responsáveis pelas vitórias e culpados pelas derrotas, críticas às regras do jogo, relações entre ataque e defesa, em que os alunos preferem funções ligadas a marcações de pontos ou gols em oposição a funções táticas de defesa ou que não estejam ligadas diretamente ao objetivo principal do jogo.

    Através de atividades em que estejam presentes as características visadas pelo professor para uma qualificação do processo de ensino, é possível proporcionar ao aluno uma compreensão de jogo diferente daquilo que normalmente é apresentado pela mídia. Logicamente trata-se de um processo que deve ocorrer gradativamente, e em espaço de tempo razoável, considerando a constância da exposição dos conteúdos esportivos aos quais as crianças têm acesso e são submetidas diariamente pelas plataformas midiáticas.

    Cabe ressaltar que não é objetivo deste projeto do PBID, impor aos alunos um determinado padrão ou modelo de comportamento em relação ao jogo. Ao contrário disso, busca-se despertar um senso crítico sobre a realidade dos fatos que o cercam neste contexto, além de questionar a fidedignidade destes antes de aceitá-los e/ou reproduzi-los sem um entendimento prévio.

5.     Conclusões

    Conclui-se entre outras coisas, que a utilização dos jogos e brincadeiras pode possibilitar o trabalho direto de questões relacionadas com a atribuição de princípios e valores comportamentais na escola. Na mediação das atividades devem ser estimuladas reflexões sobre suas atitudes e as consequências das mesmas, tornando assim o jogo algo natural, que não lhe gere estranheza, possibilitando a participação descontraída em algo que possa ser atrelado à diversão e à aprendizagem.

    O fato das oportunidades de movimento para as crianças com o passar dos anos virem diminuindo consideravelmente, devido ao acelerado crescimento das zonas urbanas e a consequente redução dos espaços livres para as práticas corporais torna a escola ainda mais responsável pelo conteúdo esportivo que oferece aos seus alunos através da Educação Física.

    A aula de Educação Física deve ser tratada por parte do educador com um zelo ainda maior do que em outrora. Portanto, o enriquecimento do conteúdo apresentado aos alunos deve ser preocupação constante da escola, e neste sentido os pressupostos do projeto “O Ensino dos Esportes na Escola: intervenções a partir dos cenários esportivos produzidos na mídia” do PIBID contribuem para uma qualificação dos conteúdos referentes ao jogo nesta realidade.

Nota

  1. SCHMITZ FILHO, Antonio Guilherme. A CPI do futebol: agendamento e processualidades. São Leopoldo, RS: UNISINOS/CCC, 2005. Tese de Doutorado; SCHMITZ FILHO, Antonio Guilherme. Jornalismo esportivo na Copa de 1998: Uma tentativa de análise crítica das críticas. Rio de Janeiro, RJ: UFRJ/COPPEAD, 1999. Dissertação de Mestrado.

Referencias bibliográficas

  • HUIZINGA, Johan. Homo ludens. 4ª edição. São Paulo, SP: Editora Perspectiva, 1999.

  • MACHADO, Braulio da Silva. Jornalismo esportivo na copa do mundo de futsal FIFA 2008: Proposições didáticas para o ensino do futebol. Santa Maria, RS: UFSM/CEFD 2012. Monografia de Especialização.

  • MURCIA, Juan Antonio Moreno (Org.). Aprendizagem através dos jogos. Trab. Valério Campos. - Porto Alegre, RS: Artmed, 2005.

  • RODRIGUES, Maria. Manual teórico-prático de Educação Física. Infantil. 8ª. Ed. rev., atual. e ampl. São Paulo, SP: Ícone, 2003.

  • SANMARTÍN, Melchor Gutiérrez. Aprendizagem de valores sociais através do jogo. In: MURCIA, Juan Antonio Moreno (Org.). Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre, RS: Artmed, 2005. Pág. 45 – 58.

  • SCHMITZ FILHO, Antonio Guilherme. A CPI do futebol: agendamento e processualidades. São Leopoldo, RS: UNISINOS/CCC, 2005. Tese de Doutorado.

  • SCHMITZ FILHO, Antonio Guilherme. Jornalismo esportivo na Copa de 1998: Uma tentativa de análise crítica das críticas. Rio de Janeiro, RJ: UFRJ/COPPEAD, 1999. Dissertação de Mestrado.

  • SCHMITZ FILHO, Antonio Guilherme. “O ensino dos esportes na escola: intervenções a partir dos cenários esportivos produzidos na mídia.” Subprojeto PIBID/UFSM, 2011.

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