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Manejo fisioterapêutico no pré e pós-operatório de
laparotomia para diagnóstico de câncer de ovário: estudo de caso

El manejo fisioterapéutico en el pre y postoperatorio de laparotomía para el diagnóstico de cáncer de ovario: estudio de caso

 

Bacharel em Fisioterapia pela Universidade

do Estado de Santa Catarina, UDESC. Florianópolis, SC

(Brasil)

Julia Macruz Garcia

juliamacruzgarcia@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O câncer de ovário é a neoplasia ginecológica mais letal e a sétima causa de óbito em mulheres. Os principais fatores de risco não modificáveis são a idade e a susceptibilidade genética5. A presença de casos na família o fator de risco isolado mais importante. De modo geral, o câncer de ovário acomete mulheres com mais de 50 anos de idade. Em casos de mutação genética, o diagnóstico costuma ocorrer em idades menos avançadas. Os fatores de prognóstico em geral refletem o estádio da doença, o tipo e grau histológico e a capacidade da paciente tolerar o tratamento para a doença.. Pacientes submetidas à excisão completa do tumor apresentam maior sobrevida em relação àquelas cuja massa tumoral foi retirada parcialmente. Em mulheres que já tiveram filhos preconiza-se a histerectomia total com anexectomia bilateral. A autora relata um caso de tumor ovariano em paciente jovem, abordado por laparotomia e que foi atendida pelo serviço de fisioterapia durante o pré e pós-operatório.

          Unitermos: Laparotomia. Câncer de ovário. Fisioterapia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O câncer de ovário é a neoplasia ginecológica mais letal e a sétima causa mais comum de óbito em mulheres. Menos da metade das mulheres (43%) sobrevivem por mais de cinco anos após o diagnóstico de câncer de ovário. Esses resultados desfavoráveis são, em boa medida, explicados pelo diagnóstico em geral tardio das neoplasias ovarianas: cerca de 70% dos casos são detectados quando estão nos estádios III e IV, para os quais a sobrevida média livre de doença não ultrapassa 18 meses1.

    Os principais fatores de risco não modificáveis para o câncer de ovário são a idade e a susceptibilidade genética5. Cerca de 10% dos casos de tumor ovariano apresentam componente genético ou familiar, sendo a presença de casos na família o fator de risco isolado mais importante. Também mulheres que carregam mutações deletérias nos genes relacionados ao câncer de ovário possuem aumento do risco de desenvolver essa doença11.

    De modo geral, o câncer de ovário acomete mulheres com mais de 50 anos de idade. Em casos de mutação genética dos genes BRCA1 e BRAC2, o diagnóstico costuma ocorrer em idades menos avançadas. O perfil epidemiológico típico para risco de câncer de ovário é o da mulher após a menopausa, nulípara, de nível socioeconômico mais elevado5,1.

    Os fatores de prognóstico, definidos pela correlação com a sobrevida, em geral refletem a extensão da doença (estádio), a biologia intrínseca do tumor (tipo e grau histológico) e a capacidade da paciente tolerar o tratamento para a doença (performance status). Assim como estes fatores pré-tratamento, outros que podem ter impacto na sobrevida incluem o tipo de tratamento recebido e o efeito da terapêutica sobre o tumor ou sobre a paciente8,11.

    Devido à posição anatômica do ovário, supunha-se que o aumento de seu volume não causaria sintomas em fases iniciais, ou seja, antes de ser muito grande ou que houvesse focos de disseminação. Entretanto, mais de 30 estudos demonstraram que mulheres com câncer de ovário, em qualquer estádio, apresentam sintomas até mesmo 36 meses antes do diagnóstico. Estes sintomas são geralmente subestimados pelas mulheres e por seus médicos, por serem inespecíficos e presentes em muitas outras condições benignas e freqüentes. Os sintomas mais citados são: distensão abdominal, mudanças em hábitos intestinais ou urinários, dor abdominal ou pélvica ou aumento da circunferência5.

    Pacientes submetidas à excisão completa do tumor apresentam maior sobrevida em relação àquelas cuja massa tumoral foi retirada parcialmente. A citorredução constitui um dos princípios do tratamento cirúrgico do câncer de ovário. A disseminação do câncer de ovário na superfície peritoneal não respeita os limites anatômicos dos órgãos e vísceras abdominais e pélvicas. Essa característica biológica implica a necessidade de se realizarem procedimentos cirúrgicos em alças intestinais, bexiga, reto e estruturas extrapélvicas, como baço, fígado e diafragma, para a obtenção de uma citorredução satisfatória6.

    Em alguns casos, em que há indicação cirúrgica e não há evidencias claras de malignidade, a via considerada como preferencial é a laparoscópica. A anexectomia e exame anatomopatológico intra-operatório também são indicados. Apesar do aprimoramento dos métodos de diagnóstico pré-operatório e intra-operatório, continuam sendo relatados casos de massas anexiais abordadas por laparoscopia e que subseqüentemente se revelaram malignas8. Blanc et al.2, numa revisão de 60 casos de tumores border-line e 18 invasivos, relatam que os mesmos não foram diagnosticados e abordados adequadamente por cirurgiões através da laparoscopia. Por outro lado, não se tem relatos dos casos não diagnosticados e não tratados adequadamente através da laparotomia. Murta et al., em um estudo de 119 casos de câncer de ovário, afirmam que o melhor tratamento para as neoplasias de ovário é cirúrgico e através de incisão abdominal; sendo que em mulheres que já tiveram filhos preconiza-se a histerectomia total com anexectomia bilateral.

    As complicações pulmonares são freqüentes no pós-operatório de qualquer cirurgia, porém sua incidência é maior em cirurgias torácicas e abdominais. As cirurgias abdominais, realizadas por incisão acima da cicatriz umbilical, têm incidências de complicações pulmonares maiores do que as que envolvem incisão abaixo desta. As principais complicações pulmonares encontradas no pós-operatório são: atelectasia, infecção traqueobrônquica, pneumonia, insuficiência respiratória aguda, ventilação mecânica e/ou intubação orotraqueal prolongadas e broncoespasmo 13. A fisioterapia respiratória, através das técnicas de higiene brônquica e expansão pulmonar, pode ser utilizada para prevenir ou minimizar a evolução de tais complicações12.

Caso clínico

    S.S.S., 28 anos, primípara, primigesta, com queixa de dores em baixo ventre e cólicas há dois anos e massa pélvica de provável origem ovariana. A massa pélvica só foi descoberta após um emagrecimento rápido, quando foi possível visualizar o aumento do volume abdominal. Foi internada no dia 03/03/10 na Maternidade Carmela Dutra para realização de laparotomia para retirada de massa pélvica de provável origem ovariana. Durante a cirurgia, foram encontrados dois tumores de ovário e foi realizada a histerectomia com anexectomia bilateral.

    A paciente foi atendida pela fisioterapia três vezes durante o período de internação. Sendo uma vez no pré e duas no pós-operatório (no primeiro e quarto PO). O objetivo dos atendimentos foi prevenir complicações respiratórias e circulatórias e permitir um retorno o mais breve possível à função.

    No pré-operatório foram dadas orientações sobre trocas de decúbito, exercícios metabólicos e de expansão pulmonar e deambulação precoce. Esse contato ocorreu poucas horas antes de a paciente entrar para a cirurgia, que teve 8 horas de duração, e na qual foram encontrados dois tumores de ovário.

    No primeiro dia de pós-operatório a paciente apresentava-se estável, referindo dor abdominal, desconforto na coluna e fraqueza. Durante o atendimento foram realizados exercícios metabólicos, de expansão pulmonar, trocas de decúbito massoterapia em cervical, torácica e lombar e dadas orientações quanto à deambulação precoce.

    No quarto dia de pós-operatório, foi realizada deambulação com correção de postura antálgica, exercícios respiratórios em DD e na posição sentada. Paciente teve alta sem nenhuma complicação.

Resultados e discussão

    A paciente afirmou ter iniciado os exercícios metabólicos e respiratórios logo após a cirurgia e no primeiro dia de pós-operatório. Mostrou-se disposta a realizar os exercícios propostos e não teve dificuldade em fazê-los. Baracho, (2002) afirma que é altamente eficiente proporcionar pelo menos uma avaliação e tratamento preparatório antes da operação, pois nesse momento as pacientes, aprendem mais depressa e, posteriormente, lembram-se mais das orientações e praticam os exercícios com maior facilidade. De acordo com Leguisamo et al1, as complicações pulmonares pós-operatórias são uma fonte significativa de mortalidade e morbidade. E para reduzir essas taxas, é importante identificar os pacientes em risco de complicações pulmonares pós-operatórias, otimizando a terapêutica. Alguns fatores que predispõem às complicações respiratórias no pós-operatório podem ser minimizados por adequada avaliação e manejo pré-operatório, incluindo o uso de fisioterapia respiratória.

    A massoterapia promoveu alívio imediato do desconforto muscular sentido pela paciente após o prolongado tempo cirúrgico. Essa técnica atua reduzindo a dor, promovendo a melhora da circulação e oxigenação, e redução das tensões da musculatura4.

    Andrade e cols.3 classificam que pacientes submetidas à cirurgia de grande porte (como a laparotomia), encontram-se no grupo de médio risco para ocorrência de trombose venosa profunda (TVP) e tromboembolismo pulmonar. A redução do tempo de imobilidade desses pacientes, através de exercícios metabólicos e deambulação precoce, reduzem significativamente esse risco.

    A paciente não teve nenhuma complicação de origem respiratória ou pulmonar e teve alta no quarto dia de pós-operatório com independência funcional (era capaz de deambular, realizar atividades de auto-cuidados e outras atividades leves sozinha).

Conclusão

    A fisioterapia no manejo e pré e pós-operatório da paciente submetida à laparotomia por câncer de ovário mostrou-se efetivo, devolvendo rapidamente à paciente sua funcionalidade e prevenindo complicações. A disposição e o interesse na paciente tiveram suma importância para a obtenção de tais resultados.

    São necessários mais estudos acerca desse assunto para que se possam estabelecer condutas e a eficácia das mesmas.

Referências bibliográficas

  1. LEGUISAMO, Camila Pereira; KALIL, Renato A.K. and FURLANI, Ana Paula. A efetividade de uma proposta fisioterapêutica pré-operatória para cirurgia de revascularização do miocárdio. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2005, vol.20, n.2, pp. 134-141

  2. CANI, Michel Md et al. Laparoscopic Diagnosis of Adnexal Cystic Masses: A 12-Year Experience With Long-Term Follow-Up. Obstetrics & Gynecology, 1994, v. 83, n. 5, p.707-712.

  3. ANDRADE, Mauro Figueredo Carvalho de et al. (Org.). Padronização da profilaxia de ocorrência de trombose venosa profunda aguda e de tromboembolismo pulmonar em pacientes adultos internados para tratamento cirúrgico ou clínico no Hospital Sirio Libanes. Disponível em: http://www.hospitalsiriolibanes.org.br/medicos_profissionais_saude/diretrizes_assistenciais/pdf/tromboembolismo_pulmonar.pdf. Acesso em: 05 out. 2004.

  4. PEDROSA, M.F.; PIMENTA, C.A. de M.; CRUZ, D.A.L.M. Efeitos dos programas educativos no controle da dor pós-operatória. Rev.Cienc Cuid Saude 2007 Jan/Mar; vol 6 n.1, p 21-32.

  5. DERCHAIN SFM, DUARTE-FRANCO E, SARIAN LO. Panorama atual e perspectivas em relação ao diagnóstico precoce do câncer de ovário. Rev Bras Ginecol Obstet. 2009; vol 31, n.4, p159-63.

  6. SILVA-FILHO, Agnaldo Lopes da et. al. Cirurgia não Ginecológica em Pacientes com Câncer de Ovário, Rev.Bras.Ginec.Obst. 2004, vol. 26, n. 5. P 411-416.

  7. VISCOMI, Francesco. O tumor de ovário pode ser abordado por videolaparoscopia? Rev Ass Med Brasil 2001; vol. 47, n.4, p 269-95.

  8. REIS, Francisco José Candido dos. Rastreamento e diagnóstico das neoplasias de ovário – papel dos marcadores tumorais. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; vol. 27, n.4, p 222-227.

  9. REIS, Rosilene Jara e cols. Videolaparoscopia para o Tratamento de Câncer de Ovário de Baixo Potencial de Malignidade: Quando Indicar? Relato de Caso e Revisão da Literatura. Rev bras videocir. 2004, vol 2, n. 2, p 79-82.

  10. BARACHO E, editor. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.241-50.

  11. LUIZ, Bianca Mello et al. Estudo Epidemiológico de Pacientes com Tumor de Ovário no Município de Jundiaí no Período de Junho de 2001 a Junho de 2006. Revista Brasileira de Cancerologia 2009; vol. 55, n. 3, p 247-253.

  12. SAAD, I. A., ZAMBON, B. L. Variáveis clínicas de risco pré-operatório. Rev Ass Med Brasil 2001; vol.47, n. 2, p 117-124.

  13. FILARDO, F.A., FARESIN, S. M., FERNANDES, A.L.G. Validade de um índice prognóstico para ocorrência de complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgia abdominal alta. Rev Assoc Med Bras 2002; vol. 48, n.3, p 209-216.

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