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Fatores de risco para doenças cardiovasculares
em crianças de 6 a 12 anos

Factores de riesgo para las enfermedades cardiovasculares en niños de 6 a 12 años

 

*Graduada em Educação Física, especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo

Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Uberaba, Minas Gerais

**Graduado em Educação Física, especialista em Fisiologia do Exercício Avançada

Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Uberaba, Minas Gerais

***Graduado em Educação Física, doutorando em Ciências da Saúde, UNB

Universidade Presidente Antônio Carlos, Araguari-MG

Faculdade Atenas, Paracatu-Minas Gerais

Márcia Helena Resende*

Roberto Furlanetto Júnior**

Alexandre Gonçalves***

profalexandre09@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Devido às mudanças nos padrões de vida atuais, as doenças cardiovasculares estão se tornando cada vez mais freqüentes tanto em adultos quanto em jovens. Assim, vários estudos têm se direcionado para detecção da prevalência de fatores de risco nas diferentes populações, especialmente em crianças. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi traçar o perfil cardiovascular de crianças de 6 a 12 anos de uma escola pública municipal de Araxá, identificando os principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares nesta população. Os voluntários foram submetidos a uma avaliação física com coleta de dados relacionados a sua composição corporal (peso, altura, índice de massa corporal), circunferência abdominal e pressão arterial. Também foi aplicado um questionário para detectar o nível de atividade física orientada praticada pelos participantes da pesquisa. Os resultados do presente estudo demonstraram que a pressão arterial e a circunferência abdominal dos voluntários encontram-se dentro dos padrões de normalidade (97,80% e 98,30% respectivamente); o índice de massa corporal, em sua maioria, também se encontra dentro dos padrões de normalidade, porém com uma significativa porcentagem de desnutridos. Entretanto, observou-se que a maioria dos voluntários não praticava atividade física orientada. Assim, conclui-se que dentre os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares pesquisado, a inatividade física foi o de maior prevalência (58,42%).

          Unitermos: Criança. Fatores de risco. Doença cardiovascular.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução. Justificativa

    As doenças cardiovasculares são responsáveis por 18 milhões de morte por ano no mundo, sendo as doenças coronarianas e as doenças cerebrovasculares responsáveis por dois terços desses óbitos (SILVA, BALABAN e MOTTA, 2005). Apesar dos progressos nas intervenções terapêuticas e de uma melhor compreensão dos fatores de risco associados à doença cardiovascular, ela ainda representa o maior risco de mortalidade na América Latina (SILVA, BALABAN e MOTTA, 2005).

    As estatísticas de mortalidade apontam que, a cada ano, as doenças cardiovasculares são responsáveis por 45% das mortes na Argentina, 35% no Brasil, 29% no Chile e 20% no México, além de outros países da América Latina e Central. No Brasil, entre pessoas com mais de 45 anos esse número sobe para 40%, sendo que em 90% dos casos, a dislipidemia é um dos fatores de risco (STAMLER, 1993).

    Devido às mudanças nos padrões de vida atuais, as doenças cardiovasculares estão ficando cada vez mais comuns em pessoas mais jovens e a presença de fatores de risco para o desenvolvimento destas doenças está cada vez mais freqüentes em crianças e adolescentes (ROLLAND-CACHERA; BELLISLE, 1986).

    Os estudos epidemiológicos têm demonstrado que dentre os principais fatores de risco estão o fumo, a concentração de colesterol, a hipertensão, o diabetes, a obesidade e o sedentarismo e que tais fatores são altamente significativos para o desenvolvimento da doença cardiovascular (OLIVEIRA, 2005; SALGADO, 2003).

    Atualmente, as crianças e adolescentes encontram dificuldades de manterem um estilo de vida compatível com as suas necessidades e fatores de risco como: colesterol elevado, tabagismo, sedentarismo, diabetes mellitus, obesidade, estresse, alcoolismo e histórico familiar, tornam-se indicadores freqüentes nessa faixa etária. Dentre os fatores de risco supracitados um deles torna-se muito preocupante, visto que 60% das crianças apresentam excesso de peso e a obesidade infantil vem crescendo de forma rápida nos últimos anos (BURKE, 1999).

    Sendo assim, a presente pesquisa tem como objetivo traçar o perfil cardiovascular das crianças de 6 a 12 anos de idade de uma escola da rede municipal de ensino de Araxá, identificando a existência ou não de fatores de risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

    Portanto, espera-se que tal estudo venha contribuir no sentido de maiores informações sobre a prevalência de fatores de risco cardiovasculares em crianças e levantar maiores subsídios para instalação, caso necessário, de programas de prevenção precoce.

Material e método

    A população envolvida neste estudo foi composta pelos alunos de uma escola da rede pública municipal de ensino de Araxá. Desta população foi retirada uma amostra aleatória de 20% de voluntários de cada sala de aula, totalizando 101 crianças, sendo estes participantes tanto do gênero masculino como do gênero feminino, cuja faixa etária se encontrava entre 6 e 12 anos.

    Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário do Planalto de Araxá/CEP-UNIARAXA, foi realizada uma etapa de esclarecimento para a direção da escola e os professores sobre os procedimentos que seriam realizados e os objetivos do estudo.

    Os pais e/ou responsáveis dos voluntários selecionados foram informados sobre a pesquisa através de um termo de consentimento livre esclarecido e autorizaram a participação dos filhos através da assinatura do mesmo. Feito isto, os voluntários foram encaminhados ao Laboratório de Fisiologia do Exercício do UNIARAXA onde foram esclarecidos sobre a pesquisa e em seguida submetidos a uma avaliação física na qual foram avaliadas as seguintes variáveis: índice de massa corporal (IMC), percentual de gordura (%G), circunferência abdominal (CA), pressão arterial (PA), hábitos de atividade física.

Resultados

    Das 101 crianças que participaram do estudo, 56 (55,4%) eram do gênero feminino e 45 (44,6%) eram do gênero masculino.

    Através da análise dos dados, verificou-se que a maior parte das crianças que participaram da pesquisa não pratica atividade física orientada (59 crianças) e este valor corresponde a 58,42% do total enquanto que os praticantes de atividade física orientada eram de 42 crianças, o que corresponde a 41,58%.

    De acordo com os dados coletados verificou-se que do total de crianças participantes, 99 crianças apresentavam pressão arterial normal, correspondendo a 98,02% do total geral e 2 crianças com pressão arterial limítrofe, correspondendo a 1,98% deste total.

    A análise dos dados relacionados à circunferência abdominal determinou que do total de 101 crianças participantes, um total de 100 (99,01%) apresentavam circunferência abdominal normal, enquanto apenas uma (0,99%) apresentava circunferência abdominal acima do normal.

    A análise dos valores do IMC mostrou que 10,80% das crianças eram desnutridas, 77,40% peso adequado, 4,90% eram limítrofes e 6,90% apresentavam sobrepeso.

Discussão

    Em relação aos fatores de risco analisados neste estudo, constatou-se uma baixa prevalência de sobrepeso e gordura visceral detectada através da circunferência abdominal. Este fato se mostra relevante uma vez que estudos realizados por Balaban e Silva (2001) em algumas cidades brasileiras mostraram que o sobrepeso e obesidade já atingem mais de 20% das crianças e adolescentes.

    Já Silva, Balaban e Motta (2005) demonstraram que a prevalência da obesidade foi maior entre escolares de boas condições socioeconômicas. Tal fato respalda os achados de nosso estudo uma vez que os escolares analisados pertencem à classe com condições socioeconômicas mais baixas.

    Em relação à pressão arterial as crianças de nosso estudo apresentaram-se, aparentemente, protegidas quanto à possibilidade de risco já que a maioria apresentou-se com níveis de pressão arterial dentro de valores ótimos. Tal análise se respalda nos estudos longitudinais de Burke et al. (1987) e Lauer et al. (1989) demonstraram que a criança com níveis de pressão arterial mais elevado, mesmo que dentro de limites considerados normais, tende a evoluir ao longo da vida, mantendo uma pressão arterial mais elevada que as demais e apresentando maior probabilidade de se tornar um adulto hipertenso. Outro fato importante destes estudos é a identificação de correlação forte entre hipertensão arterial e sobrepeso e obesidade.

    Uma limitação de nosso trabalho foi a impossibilidade de analisarmos os níveis séricos de colesterol, triglicérides e glicemia devido a resistência imposta pelos pais das crianças à coleta de sangue necessária para tal análise.

    Contudo, podemos inferir mesmo de maneira um pouco cautelosa, que tais variáveis se apresentam dentro dos padrões de normalidade nas crianças de nosso estudo, já que a maioria não apresentou quadro de sobrepeso e/ou obesidade, os quais elevam de maneira considerável os risco de dislipidemias e diabetes mellitus tipo 2 de acordo com estudos de Forti et al. (1996), Freedman et al. (1999), Sinha et al. (2002).

    Entretanto tal inferência deve ser feita de maneira cautelosa, conforme ressaltado anteriormente, uma vez que a observação do histórico familiar e perfil alimentar para doenças cardiovasculares é importante para a análise de risco de crianças desenvolverem estas doenças no futuro. Justificando tal preocupação encontramos o estudo de Romaldini et al., (2004) no qual de um total de 109 crianças e adolescentes com histórico familiar de DAC, 27,5% apresentaram valores de colesterol total (CT) e LDL-cérico (LDL-C) acima da normalidade e em relação às triglicérides 13% dos casos apresentaram valores acima dos desejáveis para a idade. Já de acordo Zimmet (1992) e Rosenbloom (1999) o antecedente familiar tem papel fundamental na ocorrência do diabetes mellitus tipo 2 em adolescentes. Os indivíduos afetados têm, pelo menos, um dos parentes de primeiro grau ou segundo grau afetados e 65% apresentavam, ao menos, um familiar de primeiro grau com diabetes mellitus tipo 2.

    A falta de atividade física orientada foi o fator de risco de maior prevalência entre as crianças que participaram da presente pesquisa.

    Peña e Bacallao (2000) salientam que a redução na prática da atividade física é decorrente da falta de oportunidade de praticá-las de modo regular e da ausência de informações no tocante aos benefícios que o exercício traz à saúde. Entretanto, para as crianças analisadas em nosso estudo a falta de oportunidade não justifica o alto índice de inatividade física apresentada, uma vez que estas crianças têm a possibilidade de freqüentar escolinhas esportivas oferecidas pelo Centro Universitário ao qual a escola pertence enquanto escola de aplicação.

    Outro fator que nos chamou bastante atenção foi a alta quantidade de crianças de baixo peso (10,80%) em comparação a outros estudos. Vieira et al. (2002) encontrou 8,5% de baixo peso em crianças da Universidade Federal de São Paulo e da Pesquisa de Saúde e Nutrição do Rio de Janeiro, onde 7,3% dos escolares apresentavam baixo peso.

    Tal fato pode estar relacionado, provavelmente, a dificuldade das crianças de nosso estudo em realizar uma alimentação condizente com sua faixa de desenvolvimento, devido as suas baixas condições socioeconômicas.

    Assim, a partir dos dados levantados neste estudo, acreditamos ser de suma importância a elaboração de estratégias de intervenção que levem a conscientização e aumento da aderência das crianças a programas de atividades físicas orientadas, pois, assim serão beneficiadas com um importante fator de proteção contra desenvolvimento de doenças cardiovasculares futuras.

    Por outro lado, acreditamos ser de suma importância e até mais imediato, intervenções no sentido de amenizar os índices de desnutrição destas crianças.

Conclusão

Referências

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