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Correlação entre a potência máxima no teste de
Wingate e corrida de 50 metros com atletas velocistas

Correlación entre la potencia máxima en el test de Wingate y la carrera de 50 metros con atletas velocistas

 

*Graduado em Educação Física pelo Centro Universitário de Belo Horizonte

Especialista em Exercício Físico Aplicado a Reabilitação Cardíaca

e a Grupos Especiais pela Universidade Gama Filho

Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa.

**Graduado em Educação Física pelo Centro Universitário de Belo Horizonte

Pedro Natali Pinheiro Soares*

Diego Guimarães de Faria**

Gabriel Teodoro Marques dos Santos**

pedronatali@oi.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Um importante fator para avaliar a capacidade física do atleta é a Potência Anaeróbia. O Teste Anaeróbio de Wingate (TAW) é o padrão-ouro para a avaliação desta capacidade, mas muitas vezes a sua aplicação é complexa e cara. Este estudo tem como objetivo correlacionar a capacidade anaeróbia máxima em dois testes distintos, sendo um laboratorial e outro de campo. Foi realizado o Teste Anaeróbio de Wingate e o teste de velocidade de 50 metros. Para a análise estatística dos dados foi utilizado a correlação de Pearson. A amostra foi composta por 8 atletas velocistas, sendo que 2 atletas desistiram durante os testes. Quando correlacionamos o Pico de Potência e o Tempo para Atingir o Pico de Potência com a Velocidade Média das Corridas de 30 metros, 20 metros e dos 50 metros totais, não foi encontrada uma correlação significativa (r<0,50). Entretanto quando correlacionado o Tempo de Manutenção do Pico de Potência com a Velocidade Média das Corridas de 30 metros, 20 metros e 50 metros totais houve uma alta correlação (r>0,80). Conclui-se que para essa amostra o TAW não pode ser substituído pelo Teste de Velocidade de 50 metros quando as variáveis a serem mensuradas forem Pico de Potência e Tempo para Atingir o Pico de Potência, porém quando a variável mesurada for o Tempo da Manutenção do Pico de Potência o TAW pode ser substituído pelo Teste de Velocidade de 50 metros.

          Unitermos: Potência anaeróbia. Corrida de velocidade. Teste de Wingate.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Durante exercício de alta intensidade, a ressíntese muscular de ATP, deve ser realizada rapidamente para prevenir o cansaço e manter a contração muscular. Em muitas atividades do dia a dia, eventos esportivos ou atividades atléticas, a contração muscular intensa é necessária e muitas vezes ocorrem de forma completa antes de um aumento significante na respiração mitocôndrial. Para essas atividades, uma grande capacidade é ressintetizar ATP, apesar de um baixo consumo de oxigênio, é essencial para um desempenho ideal. Os pesquisadores tem tido dificuldades em medir a capacidade de ressíntese de ATP não mitocôndrial, ou seja, a capacidade anaeróbia. Entretanto, muitos métodos estão disponíveis para estimar esse componente da aptidão física (McARDLE et al. , 2001).

    Atividades que enfatizam a produção de força muscular máxima, como os eventos de velocidade, dependem mais intensamente do sistema ATP-CP para a produção de energia. Os esforços máximos com duração inferior a cerca de 6 segundos impõe as maiores demandas sobre a degradação e a ressíntese de ATP e Creatina Fosfato. As sessões de treinamento anaeróbio melhoram o desempenho anaeróbio, mas a melhora parece ser mais resultante dos ganhos de força do que da melhora do funcionamento dos sistemas energéticos anaeróbios (COSTILL e WILMORE, 2001).

    Vários testes são utilizados para mensurar a potência anaeróbia máxima. Em nosso estudo utilizaremos o Teste Anaeróbio de Wingate, por ter uma alta fidedignidade em mensurar a potência anaeróbia máxima e o Teste de Velocidade de 50 metros por ser um teste fidedigno para medir velocidade de deslocamento. O Teste de Wingate deve ser realizado em laboratório, tornando o seu custo elevado. No Teste Corrida de 50 metros o uso de fotocélulas torna os dados coletados mais fidedignos, entretanto aumenta o custo do teste.

    Como o Teste de Corrida de 50 metros não mensura diretamente a potência máxima, queremos com este estudo verificar se existe uma alta correlação da potência máxima do Teste Anaeróbio de Wingate com o Teste de Corrida de 50 metros.

Objetivo

    O objetivo deste estudo é correlacionar a Potência Máxima no Teste Anaeróbio Wingate com a Corrida de 50 metros utilizando corredores velocistas.

Metodologia

    Antes do inicio da avaliação houve uma explanação para os atletas e para os técnicos sobre os testes a serem realizados e seus objetivos. A participação neste estudo foi voluntária. Os atletas assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ficou acertado que a identidade da amostra seria mantida em sigilo e que os atletas poderiam desistir do estudo a qualquer momento.

    A amostra foi composta por 8 atletas de atletismo da cidade de Belo Horizonte, Sendo todos velocistas, do sexo masculino. A idade média dos participantes foi de 19,8 anos (DP: 2,26), a massa corporal foi de 70 kg (DP: 6,34) e a estatura média foi de 177,9 cm (DP: 6,05). Dois atletas desistiram durante os testes.

    Os dados foram coletados no Laboratório de Fisiologia do Exercício do UNI-BH e na Pista de Atletismo da Academia de Policia Militar de Minas Gerais. À aplicação dos testes antecedeu um aquecimento padronizado e específico. Para a coleta dos dados foi usada uma bicicleta ergométrica padrão Monark com frenagem mecânica, uma balança com estadiometro da marca Welmy modelo R-110 com classe de exatidão III, um computador com o programa MCE versão 2.4, uma pista de atletismo oficial, de piso sintético, um sistema computadorizado de fotocélulas, composto por três conjuntos de barreiras fotoelétricas da marca EQ-34 Sunx conectado ao Software MultiSprint.

    Antes da realização dos testes os atletas responderam o questionário PAR-Q (ACSM, 2003) para determinar se todos os atletas da amostra estavam aptos a realizarem os testes propostos.

    O primeiro teste aplicado foi o TAW modificado para um tempo de 15 segundos. A razão da escolha do tempo de 15 segundos para o teste é justificada pelo fato de este tempo ser ideal para a obtenção dos parâmetros a serem analisados, mantendo a objetividade do teste e gerando mais conforto para os participantes.

    O segundo teste aplicado foi um teste de velocidade em linha reta na distância de 50 metros, subdivididos em 30 metros iniciais e 20 metros finais. Antes do inicio do teste o atleta executava exercícios preparatórios padronizados, que consistiam em um leve trote de 5 minutos e exercícios de alongamentos. Este teste permitiu o cálculo da velocidade média por meio do tempo de corrida nas distâncias de 30 metros iniciais, 20 metros finais e o tempo total dos 50 metros.

Metodologia do Teste Anaeróbio de Wingate de 15 segundos

    Após os exercícios de aquecimento, foi dada uma orientação para os atletas, que ao sinal do avaliador, eles deveriam pedalar o mais rápido possível, durante todo o tempo do teste, que se iniciava automaticamente com o movimento de rotação do pedal.

    Neste estudo a carga utilizada foi de 7,5% do peso corporal do atleta, sendo fixada no inicio do teste. Foram realizados alguns ajustes no cicloergômetro antes de cada teste, como:

  • Altura do selim;

  • Altura do guidom;

  • Uso de padaleiras.

Ilustração 1. Teste de Wingate

 

Ilustração 2. Representação gráfica do TAW de 15 segundos

Metodologia do teste de corrida de velocidade (50 metros)

    Para o teste de corrida de velocidade de 50 metros, foram utilizados 03 conjuntos de fotocélulas. O primeiro conjunto foi colocado junto à linha de largada e marcava o inicio do teste, o segundo conjunto de fotocélulas foi colocado nos 30 metros iniciais e o último conjunto no final dos 50 metros. Após o aquecimento, os atletas foram instruídos a correr o mais rápido possível os 50 metros do teste. O teste se iniciava assim que alguma parte do corpo do atleta interrompesse a barreira de luz do primeiro conjunto de fotocélulas, portanto, o atleta não precisava esperar o sinal do avaliador, que tinha a função de somente liberar a pista de teste.

Análise estatística dos dados

    Para a análise estatística dos dados foi utilizado o programa SPSS versão 12.0. Como forma de avaliar a correlação entre duas variáveis de grandezas diferentes, utilizamos a análise de correlação de Pearson (r), que é uma medida que expressa a relação entre duas variáveis.

  • r > 0: indica relação direta.

  • r < 0: indica relação indireta.

    Quando r = -1 a correlação é perfeita negativa e quando r = 1 a correlação é perfeita positiva, ou seja, quanto mais próximo de 1 ou -1 mais alta é a correlação (OLIVEIRA, 1999).

    Todos os resultados foram considerados significativos a um nível de significância de 5% (p < 0,05), tendo, portanto, 95% de confiança de que os resultados estejam corretos.

Resultados

    As tabelas 2 e 3 apresentam os resultados individuais dos atletas no teste de Corrida de 50 metros, sendo que a tabela 2 mostra o tempo (s) nas corridas e a tabela 3 mostra a velocidade média (m/s) nas corridas.

Tabela 1. Tempo gasto pelos atletas nas corridas de 30m Iniciais, 20m Finais e 50m Totais

Tabela 2. Velocidade Média na Corrida de 30m Iniciais, 20m Finais e 50m Totais

    A Tabela 4 apresenta as médias de tempo (s) e velocidade (m/s) dos atletas no teste de corrida de 50 metros.

Tabela 3. Média da Velocidade e do Tempo nas Corridas de 30m Iniciais, 20m Finais e 50m Totais

    A Tabela 5 apresenta os resultados individuais dos atletas no TAW, para as variáveis, Pico de Potência (W), Potência Máxima Relativa (W/Kg), Tempo para atingir o Pico de Potência (s) e Manutenção do Pico de Potência (s).

Tabela 4. Pico de Potência, Potência Máxima Relativa, Tempo para atingir o Pico de Potência e Manutenção do Pico de Potência

    A Tabela 6 apresenta a média dos resultados dos atletas no TAW, para as variáveis, Pico de Potência (W), Potência Máxima Relativa (W/Kg), Tempo para atingir o Pico de Potência (s) e Manutenção do Pico de Potência (s).

Tabela 5. Média do Pico de Potência, da Potência Máxima Relativa, do Tempo para atingir o Pico de Potência e da Manutenção do Pico de Potência

    A Tabela 7 apresenta a Correlação de Pearson (r) entre as velocidades médias (m/s) nos 30 metros iniciais, 20 metros finais e 50 metros totais e Pico de Potência (W), Potência Máxima Relativa (W/Kg), Tempo para atingir o Pico de Potência (s) e Manutenção do Pico de Potência (s). Somente as correlações entre a Manutenção do Pico de Potência (s) e as velocidades médias (m/s) nos 30 metros iniciais, 20 metros finais e 50 metros totais foram significantes (r=-0,814, r=-0,897, r=-0,835 respectivamente).

Tabela 6. Coeficiente de correlação (r) entre as variáveis

Discussão

    Em nosso estudos não encontramos um correlação significante entre as Velocidades Médias (m/s) nos 30 metros iniciais, 20 metros finais e 50 metros totais e o Pico de Potência no TAW, contrariando as pesquisas realizadas por Denadai et al. (1997) e Adams (1994), onde encontraram uma correlação significante (r= -0,83 e r= -0,91 respectivamente).

    Neste estudo utilizamos meios de coletas computadorizados, aumentando com isso a precisão dos nossos resultados, já Denadai et al. (1997), utilizaram sistemas manuais para a coleta dos dados, podendo com isso influenciar nos resultados. Bar-Or (1987) avaliou vários estudos correlacionando testes anaeróbios, e encontrou entre o TAW e os Testes de Corrida de 40 e 50 metros uma alta correlação (0,84 e 0,91 respectivamente) quando realizado com crianças de 10 a 15 anos de idade. Macêdo (1999) em um estudo realizado com atletas juvenis brasileiros de várias modalidades e sexo encontrou uma correlação baixa ou no máximo moderada entre o TAW e o Teste de Corrida de 40 metros (r < -0,70), quando correlacionou a Potência Máxima Relativa com os primeiros 10 metros, os 30 metros subseqüentes e os 40 metros do teste. Neste estudo encontramos uma correlação baixa entre a Velocidade Média nas corridas de 30 metros iniciais, 20 metros finais e 50 metros totais com a Potência Máxima Relativa (r= -0,036, r= -0,209e r= -0,026 respectivamente).

    Uma baixa correlação foi encontrada entre a Velocidade Média nas corridas de 30 metros iniciais, 20 metros finais e 50 metros totais com o Tempo para atingir o Pico de Potência (r= 0,421, r= 0,240, r= 0,383 respectivamente).

    O principio da especificidade implica que o treinamento deve ser planejado para treinar a musculatura e os sistemas específicos do corpo de maneira semelhante ao envolvimento dos mesmos durante a competição (ROBERGS e ROBERTS, 2002).

    Segundo Robergs e Roberts (2002), o treinamento da musculatura e dos sistemas energéticos devem ser específicos e semelhantes aos movimentos utilizados na competição. A especificidade do movimento pode ser um fator determinante para explicar a diferença entre os resultados obtidos neste estudo e os resultados encontrados na literatura, pois no presente estudo a amostra foi composta somente por atletas velocistas, treinada especificamente para o gesto técnico da corrida de velocidade. Foi encontrada uma alta correlação quando comparamos a Velocidade Média nas corridas de 30 metros iniciais, 20 metros finais e 50 metros totais com o Tempo de Manutenção na Potência Máxima (r= -0,814, r= -0,897 e r= -0,835 respectivamente).

    Durante a revisão de literatura não encontramos nenhum estudo que correlacionasse a Corrida de Velocidade com o Tempo de Manutenção na Potência Máxima do TAW, e acreditamos que essa alta correlação existente, retrate de fato os momentos em que os atletas apresentam maior eficiência mecânica em ambos os testes. Devendo ser levada em consideração em novos estudos.

Conclusão

    Concluiu-se que para atletas velocistas de atletismo o TAW não pode ser substituído pelo Teste de Corrida de Velocidade de 50 metros quando as variáveis a serem mensuradas forem Pico de Potência, Tempo para atingir a Potência Máxima e Potência Máxima Relativa. Porém, quando a variável mensurada for o tempo de manutenção na Potência Máxima o Teste de Velocidade de 50 metros subdivididos em 30 metros iniciais e 20 metros finais pode ser adequado, pois apresentou uma alta correlação.

Referências

  • ADAMS, G. M. Exercise Physiology: laboratory manual. 2. ed. Dubuque: C. Brown Communications, 1994. 292p.

  • AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Manual de pesquisa das diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • BAR-OR, O. The Wingate Anaerobic Test: an update on metodology, reliability and validity. Sports Medicine, V.4, p. 381 – 394, 1987.

  • COSTILL, D. L., WILMORE, J. H. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2 ed. São Paulo: Manole Ltda, 2001.

  • DENADAI, B. S., GUGLIEMO, L. G. A. e DENADAI, M. L. D. R. Validade do Teste de Wingate para a Avaliação da Performance em Corridas de 50 a 200 metros. V. 3, Nº 2, p. 89 – 94, 1997.

  • MACÊDO, J. O. R. Correlação entre os resultados de teste de potência anaeróbia em cicloergômetro e a velocidade na corrida de 40 metros. 1999. 85 p.(Mestrado, Treinamento Esportivo) – Escola de Educação Física, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

  • McARDLE, W. D., KATCH, F. I, e KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2001.

  • OLIVEIRA, F. E. M. Estatística e Probabilidade: Exercícios Resolvidos e Propostos. 2 ed. São Paulo: Atlas S.A, 1999.

  • ROBERTS, S. O., ROBERGS, R. A. Princípios fundamentais de fisiologia do exercício para aptidão, desempenho e saúde. 1ª ed. São Paulo: Phorte Editora, 2002.

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