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Aspectos psicológicos da obesidade infantil

Aspectos psicológicos de la obesidad infantil

 

*Psicóloga, Mestre em Ciências da Saúde-Neurociências

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Membro da equipe de Neuropsicologia do Hospital São Lucas, PUCRS

**Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde- Neurociências

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Docente da disciplina de Fisioterapia Neurológica da Faculdade de Fisioterapia

da Universidade de Passo Fundo

Roberta de Figueiredo Gomes*

Renata Busin do Amaral**

robfg@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A obesidade infantil está aumentando rapidamente na população brasileira. Além de acarretar uma série de problemas físicos a curto e longo prazo, ainda traz complicações no âmbito psicológico, refletindo na esfera familiar e escolar. Dentre os transtornos mais estudados em crianças obesas, estão a ansiedade e a depressão. Prejuízos comportamentais e psíquicos são detectados na medida em que a criança sente-se diferente das demais. Neste contexto, o papel dos pais é fundamental para a detecção e para a procura do tratamento, pois quanto mais haver demora no tratamento, maiores danos a criança pode vir a ter quando na idade adulta. Este artigo descreve alguns fatores envolvidos na obesidade infantil, bem como os transtornos psicológicos que são alvos de estudos atuais.

          Unitermos: Obesidade infantil. Depressão. Ansiedade. Educação alimentar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos dias atuais, cada vez mais crianças sofrem de obesidade infantil. O problema tem se agravado na medida em que a mídia enfoca um modelo de peso ideal, deixando de lado o que muitas famílias vivenciam: a obesidade. A supervalorização de uma boa forma e a imagem corporal construída pela influência da nossa cultura ocidental, afetada pela mídia, não relaciona magreza ou gordura a aspectos ligados à saúde. O ideal apresentado é o corpo magro, facilitando assim, o aparecimento de incômodos com o excesso de peso, independente do grau de obesidade (VASQUES; MARTINS; AZEVEDO, 2004; ADES; KERBAUY, 2002).

    A obesidade infantil vem alcançando altos índices e sua ocorrência na população brasileira está adquirindo grande significância na área da saúde, devido ao impacto que causa na vida das crianças. Como conseqüência, problemas físicos, econômicos, sociais e psicológicos são comuns nesses pacientes. Esse excesso de gordura corporal possivelmente está relacionado a hábitos alimentares inadequados e a inatividade física (LUIZ et al., 2005; RINALDI et al., 2008).

    O aumento mundial da prevalência da obesidade parece ter uma relação íntima com as mudanças de estilo de vida, que incidem pela pré-disposição genética ou susceptibilidade para ser obeso. O sedentarismo, a quantidade e o alto grau calóricos dos alimentos ingeridos, os padrões alimentares e comportamentais são tidos como fatores de risco para indivíduos no desenvolvimento da obesidade (SILVA; BALABAN; MOTTA, 2005; MARQUES-LOPES et al., 2004; ADES; KERBAUY, 2002).

    Diversos estudos vêm demonstrando que crianças obesas possuem um risco considerável para o desenvolvimento de problemas psicológicos e de saúde, estando relacionada a muitas complicações, como também a uma maior taxa de mortalidade, sendo que quanto mais o indivíduo se manter obeso ou quanto mais cedo desenvolver a obesidade, maior é a chance de problemas ocorrerem, pois o excesso de peso está relacionado com relevantes alterações metabólicas, como hiperinsulinemia e resistência periférica à insulina, risco de adquirir problemas cardiovasculares, problemas ortopédicos e problemas psicossociais (CARPENTER; HASIN; ALLISON, 2000; SERDULA et al., 1993; ESCRIVÃO et al., 2000; RAMIN et al., 2003). Ainda, o índice de massa corporal (IMC) elevado na infância, aumenta o risco de manter-se a obesidade na idade adulta (SCHONFELD-WARDEN; WARDEN, 1997).

    Alguns transtornos psicológicos tais como depressão, ansiedade e dificuldade de ajustamento social podem ser observadas em indivíduos com obesidade, seja ela endógena ou exógena. Diversas vezes indivíduos obesos sofrem estigmatização social e discriminação, que prejudicam seu funcionamento físico e psíquico podendo impactar negativamente em sua qualidade de vida (LUIZ et al., 2005). Sendo assim, os aspectos emocionais e psicológicos podem ser apontados como causadores, conseqüências ou retroalimentadores da obesidade, simultaneamente a uma condição clínica e educacional alterada (VASQUES; MARTINS; AZEVEDO 2004; DOBROW; KAMENETZ; DEVLIN, 2002).

    Na escola, as crianças obesas parecem ser menos aceitas do que as crianças com peso normal e são freqüentemente importunadas pelos colegas. Devido a isso, muitas crianças obesas sofrem e podem vir a não querer mais frequentar a escola, fazer determinados exercícios físicos, comprar roupas, se divertir, entre outros (DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2002).

    O objetivo deste artigo é descrever alguns fatores envolvidos na obesidade infantil, bem como os transtornos psicológicos que são alvos de estudos atuais.

Obesidade infantil e transtornos psicológicos

    A obesidade gera um grande sofrimento psicológico, tanto nos problemas relacionados ao preconceito social e à discriminação contra a obesidade, como das características do comportamento alimentar. O indivíduo obeso deprecia sua própria imagem física e é levado a uma preocupação opressiva com a obesidade, gerando insegurança devido à inabilidade de manter a perda de peso. A falta de confiança, sensação de isolamento que o indivíduo atribui ao fracasso familiar e dos amigos de entender o problema, assim como a humilhação, o preconceito e a discriminação são fatores que remetem uma enorme carga ao obeso (STUNKARD; WADDEN, 1992).

    A depressão é o transtorno psicológico mais freqüente entre a obesidade infantil. Observações clínicas estão recebendo suporte de estudos epidemiológicos e sugerem uma relação importante entre excesso de peso e sintomas psicológicos e psiquiátricos (LUIZ et al., 2005; CARPENTER; HASIN; ALLISON, 2000).

    Os quadros depressivos em crianças obesas aparecem em súbitas mudanças comportamentais que não se justificam com fatores estressantes do meio onde estão inseridas. Sintomas como sentimentos de tristeza, irritabilidade e agressividade devem ser observados (LUIZ et al., 2005). Adultos que convivem com a criança apresentam maior chance de detectá-los, pois sozinha a criança não relaciona o seu estado emocional com seu excesso de peso.

    Outro transtorno que está sendo muito estudado em crianças obesas é a ansiedade. Carvalho et. al. (2001) desenvolveram uma pesquisa com pré-adolescentes obesos (todos com percentil igual ou acima de 95) de ambos os sexos, com idades entre 9 e 13 anos. Os participantes foram selecionados através de um programa escolar de uma cidade do interior do estado de São Paulo. Nesse estudo, observou-se que os meninos apresentaram maiores indícios de problemas emocionais do que as meninas. Em relação à ansiedade, os participantes encontravam-se com níveis dentro do esperado para essa faixa etária, não havendo diferença entre os sexos, mas 3,8% apresentaram ansiedade acima da média, concluindo-se que não houve diferença significativa entre obesos e não obesos nos sintomas de ansiedade. Conforme o estudo apresentado parece não haver relação entre ansiedade e obesidade em crianças. Porém, é de extrema importância que os pais e o profissional fiquem atentos, pois quanto mais preconceito e estigmatização social a criança sofrer, mais chances ela terá de desenvolver ansiedade.

O papel dos pais

    Sabe-se hoje, que a obesidade tem participação na herança genética na incidência da obesidade pelo problema se apresentar em vários membros da família. Alguns estudos demonstram percentagens entre 50% e 80%. Estima-se que entre 40% e 70% da variação no fenótipo associado à obesidade tem um caráter hereditário (MARQUES-LOPES et al., 2004; DOBROW; KAMENETZ; DEVLIN, 2002).

    Os pais parecem considerar o excesso de peso da criança como um problema geralmente quando existe algum prejuízo, em especial na atividade física. Porém, a influência genética na obesidade pode se manifestar através de alterações no apetite ou no gasto energético (SIMÕES; MENESES, 2007; MARQUES-LOPES et al., 2004).

    A insatisfação com o excesso de peso da criança é que mobiliza os pais na busca de tratamento. Essa insatisfação está aliada com a saúde física e com as preocupações com o emocional da criança (BOA-SORTE et al., 2007; CARDOSO; CARVALHO, 2007). Sendo assim, o reconhecimento dos problemas na infância pelos pais ou responsáveis é de fundamental importância, pois o tratamento da obesidade infantil é, muitas vezes, negligenciado pela família (SIMÕES; MENESES, 2007). Em primeira instância, os programas de intervenção precoce na obesidade infantil só funcionam com a participação ativa dos pais, pois estes devem ter capacidade de reconhecerem adequadamente a situação nutricional dos filhos (BOA-SORTE et al., 2007).

A importância da educação alimentar

    O comportamento alimentar é influenciado por diversos fatores, entre eles fatores externos (características familiares, comportamentos de pais e amigos, valores culturais e sociais, mídia, manias alimentares, alimentos rápidos e conhecimentos de nutrição) e fatores internos (características psicológicas, imagem corporal, experiências pessoais, auto-estima, valores, saúde, preferências alimentares e desenvolvimento psicológico) (MELLO; LUFT; MEYER, 2004).

    Os pais exercem uma influência direta na ingestão de alimentos pelas crianças, pois quanto mais os pais insistem no consumo de certos alimentos, menor a probabilidade de que elas os consumam. A dificuldade de as crianças ingerirem esses tipos de alimentos está no próprio contexto negativo que os pais ou responsáveis criam (RAMOS; STEIN, 2000; MELLO; LUFT; MEYER, 2004). A escola também é um importante aliado às comidas rápidas atuais. Lanches, biscoitos, balas, chicletes e salgados são servidos dentro do ambiente escolar. Medidas de prevenção em casa e na escola poderiam auxiliar na redução da prevalência de obesidade infantil.

    Alguns autores consideram importante o consumo de frutas e hortaliças para a prevenção da obesidade e suas comorbidades. Porém, estes alimentos estão sendo ingeridos em poucas quantidades, muito abaixo do esperado (TRICHES; GIUGLIANI, 2005; MONDINI et al., 2007). Assim, torna-se fundamental um programa de reeducação alimentar, começando pela investigação do que é consumido pelos pais para depois reeducar a criança.

    A diminuição do consumo de alimentos e preparações hipercalóricas já é suficiente para a redução do peso na criança, sendo essencial avaliar a disponibilidade dos alimentos, preferências e recusas, as preparações e os alimentos que são habitualmente consumidos, o local onde são realizadas as refeições, quem prepara e administra as atividades habituais, ingestão de líquidos durante as refeições e intervalos, os tabus e crenças alimentares (MELLO; LUFT; MEYER, 2004).

Considerações finais

    Os dados da literatura têm muito a acrescentar sobre a obesidade infantil e os problemas que acarretam a curto e em longo prazo. Apesar de haver muitas discussões em relação aos transtornos psicológicos e sua relação com a obesidade, devem-se maior atenção aos sintomas apresentados pela criança, tanto em casa como na escola. Afastamento, choros, frequente tristeza e irritabilidade sugerem um quadro depressivo e ansioso, pois os dois estão intimamente ligados. Justifica-se, assim, no contexto de atenção multiprofissional, avaliar crianças quanto ao aspecto psicológico.

    Pais obesos devem observar com maiores cuidados o desenvolvimento dos seus filhos e a sua alimentação. A reeducação alimentar deve começar desde cedo, sendo papel fundamental dos pais e responsáveis atribuir uma dieta saudável aos seus filhos, rica em frutas e hortaliças. Quanto mais cedo a criança provar os alimentos e aprender a comê-los rotineiramente, menores chances de seus filhos desenvolverem obesidade.

    Quando detectada, a obesidade deve ser tratada por uma equipe multiprofissional, pois além dos problemas físicos, os psicológicos devem receber atenção especial. Além da autoestima comprometida, essas crianças podem tender a reforçar uma série de crenças que elas desenvolvem perante a sociedade, através de suas vivências. Os pais têm papel importante na recuperação dos danos sofridos em uma idade precoce, pois a valorização da criança, a motivação para o tratamento e a força para lutar contra o excesso de peso está espelhada neles.

    Sendo assim, considera-se de extrema importância a realização de estudos para elucidar aspectos relativos ao funcionamento psicológico de crianças obesas.

Referências

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