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Comprometimento da deambulação comunitária
e quedas após Acidente Vascular Encefálico (AVE)

El deterioro de la deambulación comunitaria y las caídas luego de Accidente Cerebrovascular (ACV)

 

Fisioterapeuta Mestranda do Programa de Mestrado em Fisioterapia

da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC/CEFID

(Brasil)

Julia Macruz Garcia

juliamacruz@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O acidente vascular encefálico é responsável por um grande número de incapacidades, gerando importantes limitações funcionais aos indivíduos acometidos. A limitação da locomoção comunitária e o alto índice de quedas são grandes desafios da reabilitação atualmente.

          Unitermos: Acidente vascular encefálico. Déficits motores. Deambulação

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O acidente vascular encefálico (AVE) pode ser definido como uma síndrome de desenvolvimento rápido, com sinais clínicos de distúrbios da função cerebral, com sintomas que persistem por 24 horas ou mais, e nenhuma causa aparente senão de origem vascular (OMS, 2003). A lesão tem instalação aguda, duração variável e pode levar à morte. O risco de AVE começa a se elevar por volta dos 60 anos e dobra a cada década, sendo a hipertensão arterial o principal fator de risco, acarretando aumento superior a três vezes na incidência de AVE (CASTRO et al., 2009).

    Trata-se de um problema de saúde global sério e incapacitante, sendo considerado uma das principais causas de morbidade, e com elevado índice de sobrevivência (TEIXEIRA-SALMELA et al., 2005). A gravidade do quadro varia desde a hemiplegia ou tetraplegia maciça com alteração de consciência até quadros leves e transitórios que sequer chamam a atenção do paciente ou do médico (ANDRADE et al., 2009).

    Considerando o grande número de sobreviventes e o amplo campo da reabilitação junto aos indivíduos com hemiparesia após-AVE, este estudo de revisão bibliográfica tem o objetivo de relatar os principais déficits motores e as consequentes limitações funcionais, além dos problemas de mobilidade encontrados nesta população. Os estudos selecionados para esta revisão foram obtidos nas bases Scielo, Pedro e Pubmed.

Comprometimento funcional

    A incidência do AVE é alta, e o grande número de sobreviventes passam a apresentar um significativo grau de incapacidade residual particularmente nas esferas motora e sensitiva (GRESHAM, 1986). O comprometimento mais comum em decorrência do AVE é o déficit motor, que pode estar ou não acompanhado de perda ou limitação da função de controle muscular ou dos movimentos ou limitação da mobilidade, afetando o controle dos movimentos de face, membro superior e inferior de um hemicorpo e afeta cerca de 80% dos pacientes (LANGHORNE et al., 2009). A presença de déficit do controle motor caracteriza-se por fraqueza, alteração do tônus, movimentos estereotipados e sinergismo anormal (TEIXEIRA-SALMELA, 2005; DOBKIN, 2004).

    A recuperação funcional após o AVE é um dos maiores desafios da reabilitação atualmente. Estudos buscam mensurar as perdas motoras e funcionais decorrentes da lesão encefálica (TYSON et al., 2008; CAREY, et al., 2008). Gargano e Reeves (2007) ressaltam as atividades da vida diária como um componente importante da funcionalidade. A ênfase nas atividades de vida diária e sua relevância têm aumentado ao longo do tempo e isso se atribui, em parte, ao reconhecimento de que o desempenho de atividades cotidianas é também importante para a saúde e qualidade de vida.

Mobilidade e locomoção

    Uma das mais importantes atividades cotidianas é a locomoção, sendo esta diretamente afetada pela hemiparesia, que reduz a habilidade de o indivíduo caminhar, e consequentemente a independência para deslocar-se em casa e na comunidade pode ser seriamente comprometida, estando presente em 93% dos pacientes após a alta hospitalar (PERRY, 1995; DICKENSTEIN et al., 2004; CHAN et al., 2006). Muito do ímpeto da reabilitação após AVE reside no desejo de retomar a marcha normal, meta esta ainda identificada meses após a lesão (LORD; ROCHESTER, 2005).

    Lord et al. (2004) sugere que mesmo em pacientes com boa mobilidade, quase um terço dos indivíduos ainda são incapazes de andar sem supervisão em suas comunidades. Dos que alcançam a deambulação comunitária independente, a maioria é relutante ou incapaz de utilizar transporte publico e, portanto, depende de cuidadores para sair de casa.

    Indivíduos com hemiparesia apresentam déficits na descarga de peso no membro inferior afetado e no controle de impulso ao nível pelve particularmente no lado não afetado. Eles também apresentam um aumento na descarga de peso no membro inferior não afetado, que chega a sustentar 70% do peso corporal (BUJANDA, 2003)

    Em questionamento a 130 indivíduos após AVE, Lord et al (2004) definiram deambulação comunitária como mobilidade independente fora de casa, que inclui habilidade de negociar com confiança com terreno irregular e espaços privados, em shoppings e outras áreas públicas. Para isso, são necessárias modificações no padrão de marcha para adequação das características ambientais, como irregularidades no terreno, degraus e obstáculos (JAFFE, 2004; SAID, 2008). Além disso, Lord et al. (2005), relata que os fatores preditores para deambulação comunitária incluem: velocidade de marcha, transições posturais, dupla/múltipla tarefa, custo da atenção, fadiga, motivação, e endurance. A presença de desempenho físico prejudicado associado com possíveis alterações de fatores cognitivos e comportamentais interagem com a performance de marcha e a resultante é uma deambulação comunitária deficiente.

    Um dos sinais de uma deambulação comunitária prejudicada são as quedas. Hyndman et al. (2002) encontrou que os episódios de queda são comuns nesta população e que indivíduos com hemiparesia continuam a sofrer quedas por períodos que vão além de 6-12 meses após o AVE. Segundo Foster e Young (1995) e Hyndman et al. (2002), os indivíduos quedantes apresentam maior oscilação em pé, impulsividade, e tempo de resposta retardado, além de uma maior oscilação postural e menor geração de força ao levantar e sentar.

    Melhoras na auto-eficácia de quedas, inicialmente comprometida após o AVE, tem sido observadas durante a reabilitação e está associada com a melhora do equilíbrio, função motora e capacidade de caminhar. Resultados de estudos experimentais sugerem que o treino de marcha melhora a auto-eficácia de marcha e quedas (SALBACH et al., 2006).

Conclusão

    O hemiparesia após AVE tem um impacto direto na capacidade funcional dos indivíduos, e em grande número dos casos afeta a deambulação comunitária dos mesmos. As consequências vão desde o alto índice de quedas, insegurança ao sair de casa e aumento da dependência em relação ao cuidador. O conhecimento destas implicações funcionais do AVE torna-se de grande importância para o delineamento de estratégias terapêuticas adequadas.

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