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Influência do número de exercícios sobre as respostas

dos níveis séricos do lactato no treinamento concorrente

La influencia del número de ejercicios sobre las respuestas de los niveles séricos del lactato en el entrenamiento concurrente

 

*Universidade Vila Velha, UVV

(Brasil)

Kercia Neves Oliveira

Karla Vago

Maria de Lourdes Venturini

Miguel Ângelo Alves dos Santos*

miguel@uvv.br

 

 

 

 

Resumo

          O treino de força e aeróbio realizados numa mesma sessão de treino são denominados pela literatura atual como Treinamento Concorrente (TC). Alguns estudos sugerem que determinadas adaptações decorrentes do treino aeróbio são antagônicas ao treino de força. O objetivo deste trabalho foi verificar a influência da combinação de quatro exercícios para membros inferiores sobre as respostas dos níveis séricos de lactato sanguíneo no TC em praticantes de musculação. A amostra foi composta por 13 voluntários de ambos os sexos, praticantes de musculação com idades entre 18 e 32 anos. Para treino de força foram utilizados os exercícios: cadeira extensora, leg horizontal, máquina para agachamento e leg press 45°, realizados em 3 séries a 10RM. O exercício aeróbio foi realizado a 70% do consumo de oxigênio de reserva (VO2R). Foram realizados duas sessões experimentais: 1a) 10 RM; e 2a) aeróbio + 10 RM. Apos cada sessão experimental foi coletado 25 µl de lactato. Não houve diferença significativa na resposta do lactato sangüíneo entre as duas sessões experimentais. Diante disso, os resultados obtidos demonstraram que o número de exercícios para membros inferiores não influencia na resposta dos níveis séricos do lactato durante o TC.

          Unitermos: Treinamento de força. Lactato. Exercício aeróbio.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A elaboração de sistemas de treinamento que visam o desempenho ideal e contemplem a restrição de tempo em atividades físicas específicas tem exigido a adoção de estratégias que produzem dúvidas acerca de sua eficiência (GUEDES, 2004). O treinamento de força ou resistido e o exercício aeróbio, estão entre os mais solicitados dentro das academias justamente por atenderem em conjunto as necessidades e objetivos da sociedade atual. De fato, o treinamento de força resulta em adaptações neurais e ganho de massa corporal magra responsáveis pelo ganho de força, aumento da contratilidade, aumento da secção transversal das fibras musculares do tipo I, IIa e IIx, redução da densidade mitocondrial e da atividade das enzimas oxidativas; e os exercícios aeróbios, têm como principais adaptações a melhora do consumo de oxigênio, aumento da atividade das enzimas aeróbias, melhora da capacidade de difusão pulmonar, do débito cardíaco, dos estoques de glicogênio intramuscular e das densidades mitocondriais e dos capilares nos músculos (HAKKINEN et al, 2003; CHTARA et al, 2005).

    A combinação do treino de força e aeróbio numa mesma sessão de treino é denominada pela literatura atual como Treinamento Concorrente (TC). Alguns estudos sugerem que determinadas adaptações decorrentes do treino de aeróbio são antagônicas ao treino de força, a atividade realizada previamente provocaria a fadiga motivada por alterações no metabolismo energético e alterações nas concentrações hormonais (BELL et al, 1997; LEVERITT et al, 1999). Desta forma, o combinado de estímulos acarretaria no prejuízo das adaptações crônicas ao treinamento físico (LEVERITT et al, 1999; HICKSON, 1980).

    Apesar das evidências de que o TC poderia afetar as adaptações decorrentes do treinamento de força ou do aeróbio (LEVERITT et al, 1999; ABERNETHY, 1993), outros estudos não encontraram prejuízos ou benefícios do TC sobre a força e o aumento de massa corporal, diferente da potência que parece sofrer interferência negativa do treinamento de aeróbio (ABERTHY et al, 1993).

    Leveritt et al (1999) e Abernethy (1993) verificaram que após o exercício agachamento houve influência negativa na produção de força em decorrência da combinação com cicloergômetro em intervalos de 5 minutos. O teste de força era realizado com três séries de repetições até a fadiga, com carga próxima de 80% de 1 RM. O número de repetições máximas apresentou diminuição significativa quando comparado ao grupo controle que realizou a sessão sem atividade aeróbia. Na condição controle o número de repetições por série foi 13,83 ± 5,71 e 8,83 ± 2,99; 11,17 ± 4,45 e na condição experimental foi 8,17 ± 3,6; 10,17 ± 5,04 e 8,83 ± 3,54. A conclusão foi de que a queda aguda na produção de força após o exercício aeróbio pode comprometer o desenvolvimento de força durante o TC.

    Por outro lado, Brunetti et al (2008) analisaram a influência da ordem da sessão de treinamento sobre a resposta aguda do lactato sanguíneo, freqüência cardíaca (FC) e do consumo de oxigênio (VO2) durante o TC. Os resultados obtidos nesta pesquisa demonstraram que a ordem da sessão no TC não influenciou significativamente nas respostas do lactato sanguíneo antes e depois do exercício de força (4 séries de 8 RM e 4 séries de 16 RM) e na resposta da FC e do VO2, antes e depois do exercício aeróbio a 60% e 80% da reserva do consumo de oxigênio (VO2R). Em outro estudo Saraiva e Fontinele (2009) observaram que o número de séries (3, 6, 9 e 12) no TC não influenciou significativamente nas respostas dos níveis séricos do lactato, após sessão realizada seguida do exercício aeróbio.

    A ausência da alteração significativa dos níveis séricos do lactato observada por Brunetti et al (2008) e Saraiva e Fontinele (2009) pode ter sido devido à utilização de apenas um exercício de força (leg press 45º) para coleta e análise dos dados. A utilização de mais exercícios para o mesmo grupamento muscular poderia ser um fator decisivo para acelerar a fadiga, e com isso, provocar níveis elevados do lactato sanguíneo durante o TC. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi verificar a influência da combinação de quatro exercícios para membros inferiores sobre as respostas dos níveis séricos de lactato no treinamento concorrente.

Metodologia

a.     Sujeitos de estudo e procedimentos éticos e legais

    O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, segundo regulamento 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde. Participaram da amostra 13 voluntários de ambos os sexos, com idade entre 18 e 32 anos. Todos afirmaram ser saudáveis e fisicamente ativos, realizando atividades de força há pelo menos 6 meses, familiarizados com os exercícios e equipamentos utilizados nesse estudo.

    Não foram incluídos aqueles que fizessem uso de medicamentos com influência sobre o comportamento das respostas funcionais e, também, indivíduos com doenças crônicas comprovadas ou com problemas osteomioarticulares, que pudessem comprometer a validade e realização dos testes propostos. Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi solicitado a todos que preenchessem um Questionário de História de Saúde e assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, contendo informações a respeito dos testes e procedimentos experimentais a serem realizados e dos riscos e benefícios existentes.

b.     Avaliação funcional

    Foi realizada uma avaliação inicial, na qual foram medidas, pressão arterial e freqüência cardíaca de repouso, assim como as medidas de estatura, massa corporal e dobras cutâneas. Para calcular a densidade corporal, foi utilizada a equação de Petroski e a de Siri para calcular o percentual de gordura (FERNANDES, 2003). Após a avaliação, os voluntários foram submetidos a um teste de ergoespirometria para identificação de dados metabólicos. Para tanto, foi utilizado o Protocolo “D” (NEGRÃO; BARRETO, 2006) em esteira ergométrica Super ATL (Inbrasport, Brasil). As variáveis cardiorrespiratórias VO2, produção de dióxido de carbono (VCO2) e ventilação pulmonar (VE) foram medidas usando um analisador de gases (Aerosport – VO2000, acoplado ao sistema computadorizado, Ergo PC Elite ® versão 2.0). Os dados foram coletados a cada ciclo respiratório e, depois, transformados para uma média de 10s. A FC foi monitorada por freqüencímetro (Polar – A1). Antes de cada teste, os sistemas de análise do O2 e CO2 foram calibrados usando o ar ambiente como referência. O consumo de oxigênio de pico (VO2pico) no teste foi considerado como o maior valor obtido no pico do exercício, quando o indivíduo entrava em exaustão, observada à média de 10s. Após a ergoespirometria, foi calculado o VO2R na intensidade de 70% e a velocidade correspondente a essa intensidade pelas equações metabólicas do ACSM (2007).

    A avaliação inicial e a ergoespirometria foram realizadas em laboratório climatizado, com temperatura em torno de 22° e umidade relativa do ar entre 60% e 70%. Os voluntários foram orientados a comparecer às sessões experimentais descansados, alimentados e hidratados. Nos intervalos entre as sessões de testes não foi permitida a realização de exercícios para membros inferiores, a fim de evitar qualquer interferência nos resultados obtidos.

c.     Teste de repetições máximas

    Após a conclusão da ergoespirometria, os indivíduos descansaram por 10 minutos e executaram o teste de 10 repetições máximas (10 RM) nos aparelhos, cadeira extensora, leg horizontal, agachamento e leg-press 45º (Sickert - Brasil). Cada voluntário tinha direito a três tentativas por aparelho com intervalos de 2 min entre as séries, a partir de cada tentativa a carga foi acrescentada ou diminuída de acordo com a proximidade em 10RM. Caso não fosse alcançado o número de repetições máximas foi dado um intervalo mínimo de 48 horas para que um novo teste fosse realizado.

d.     Procedimentos experimentais

    Após os testes de ergoespirometria e 10 RM os voluntários realizaram duas sessões experimentais. O primeiro dia era composto de exercício aeróbio (EA) na esteira ergométrica com velocidade a 70% do VO2R seguido dos exercícios a 10RM enquanto que o segundo dia apenas o 10RM fazia parte do treinamento.

    Para iniciar o exercício com EA foi realizado aquecimento de 5 minutos na esteira ergométrica com velocidades entre 4 a 5 km/h. A parte principal do treino em EA tinha duração de 30 min e velocidade a 70% VO2R. Ao término da parte principal os voluntários permaneciam em caminhada por 5 min no ergômetro a uma velocidade de 5 km/h. Os exercícios a 10RM em sessão concomitante eram iniciados imediatamente após o EA, e quando apenas o 10RM era executado o treino era iniciado após aquecimento de 10 minutos na esteira ergométrica em caminhada com velocidades entre 4 a 5 Km/h, o intervalo entre as séries foi de 2 minutos assim como entre os aparelhos. Entre as sessões experimentais foi dado um período mínimo de 48h de recuperação. Durante as duas sessões experimentais os voluntários foram orientados a comparecer descansados, alimentados e hidratados. Além de não realizarem nenhum exercício vigoroso para os membros inferiores nas últimas 24h.

    Para observar a fadiga instalada durante cada sessão de treinamento foi realizada a coleta de lactato de todos os participantes a partir de um lancetador com lancetas descartáveis (Accu-Check). As concentrações de lactato foram obtidas através do lactímetro (Accutrend® Plus - Roche, Alemanha). Todas as aferições foram realizadas após a última série do ultimo exercício da seqüência de 10RM em todas as sessões de treino.

e.     Análise dos dados

    Para observar diferença significativa na resposta do lactato sanguíneo, durante as sessões de exercício, para cada combinação de trabalho (sessões de treinamentos), em cada grupo, foi utilizado o teste t de Student para amostras independentes. Todas as hipóteses estatísticas foram testadas com alfa = 5%. Os dados foram apresentados como média ± desvio-padrão (DP). A análise dos dados foi realizada no pacote estatístico GB-STAT v 6.5 for Windows.

Resultados

    Na tabela 1 encontram-se as características físicas dos voluntários. Os voluntários apresentavam uma média de idade de 24,5 ± 4,4 anos, massa corporal 75,2 ± 8,6Kg percentual de gordura de 14,0 ± 4,6%.

Tabela 1. Características físicas dos voluntários

    Na tabela 2 encontram-se os valores médios da resposta metabólica do teste ergoespirométrico realizado pelos voluntários.

Tabela 2. Resposta do teste ergoespirométrico

    Não houve diferença significativa na resposta do lactato sangüíneo (p < 0,05) entre as duas sessões experimentais: 10RM e aeróbio + 10RM (tabela 3).

Tabela 3. Resposta do lactato após a última série dos exercícios de força realizados com e sem exercício aeróbio a 70% do VO2R

    O VO2 obtido no PCR foi significativamente maior (p < 0,05) do que o VO2 utilizado a 70% do VO2R durante o exercício aeróbio (tabela 4).

Tabela 4. Comparação entre o VO2 no PCR e a 70% do VO2R

Discussão

    O objetivo do presente estudo foi analisar influência do número de exercícios sobre as respostas dos níveis séricos de lactato sanguíneo no treinamento concorrente. Os resultados obtidos demonstraram que não houve diferença significativa nos níveis séricos de lactato sanguíneo quando as sessões eram realizadas com ou sem EA. Resultados similares foram encontrados por Brunetti et al (2008) e Saraiva e Fontinele (2009). Eles observaram que a ordem da sessão do TC, e o número de séries não influenciaram na resposta aguda do lactato durante o TC, respectivamente.

    No entanto em estudo realizado por Craig et al (1991), em que foi avaliado o comprometimento de força durante uma sessão de corrida, foi demonstrado que houve redução no desempenho de força de membros inferiores, porém o mesmo não foi observado na atividade de membros superiores. Isto foi atribuído à fadiga instalada após a sessão de exercício aeróbio. Provavelmente o declínio apresentado no desempenho da força, imputado à falta de tempo para recuperação, a diminuição da ativação dos componentes musculares, o protocolo utilizado, intensidade, volume, entre outros; seja a explicação mais coerente para responder às adaptações antagônicas (CRAIG et al, 1991; PAULO et al, 2005).

    Neste trabalho, a prescrição incidindo sobre 4 exercícios de força com e sem exercício aeróbio não obteve resultados significantes nos níveis séricos de lactato talvez motivados pela ordem de execução dos exercícios de força, pelo ergômetro utilizado, o método de treinamento, o tempo de recuperação, o número de séries, os estoques de glicogênio muscular ou a combinação desses fatores (CRAIG et al, 1991; SPORER, WENGER, 2003). O lactato pode ser considerado como produto final da glicólise anaeróbica que ocorre em tecidos com pouca concentração de oxigênio, entretanto mesmo nessas condições tecidos bem oxigenados também podem gerar em determinadas condições o lactato através da glicólise anaeróbia (FLECK S.J., KRAEMER W.J, 1999). O fator preponderante para a produção aumentada de lactato é a hipoxia muscular que pode ser explicada pelo excesso de demandas energéticas que ultrapassam o suprimento de oxigênio e o seu ritmo de utilização (McARDLE et al, 2011). Segundo Denadai (2000) as diferenças individuais na capacidade de produção e remoção de lactato, estoques de glicogênio muscular, tipo de exercício, entre outros, podem influenciar na resposta do lactato sanguíneo durante o exercício.

    Em algumas das sessões experimentais foi observado que o exercício de força realizado com exercício aeróbio quando comparado ao exercício de força isolado apresentou valores menores nos níveis séricos de lactato. Isto pode estar relacionado com a capacidade de reaproveitamento do lactato sanguíneo como substrato energético no organismo (FLECK S.J., KRAEMER W.J, 1999). Isso pode ser devido ao consumo de oxigênio durante o exercício aeróbio (70% do VO2R) ter sido significativamente menor do que o VO2 no ponto de compensação respiratória. Segundo Rondon et al (1998) ocorre uma acidose metabólica descompensada quando se realiza um exercício aeróbio numa intensidade acima do ponto de compensação respiratória e a taxa de produção de lactato sanguíneo se torna maior do que sua remoção.

Conclusão

    Os resultados obtidos demonstraram que o número de exercícios para membros inferiores não influencia na resposta dos níveis séricos do lactato durante o TC. Novas pesquisas precisam ser realizadas tendo como foco a intensidade do exercício aeróbio realizado acima ou abaixo do ponto de compensação respiratória.

Referências

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