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Características das exposições ao material biológico

durante as aulas de campo na graduação em enfermagem

Características de las exposiciones al material biológico durante las clases de campo en la graduación en enfermería

 

*Enfermeira da Prefeitura Municipal de Matupá, MT. Graduada

pela Universidade Federal do Mato Grosso, UFMT, Campus Sinop

**Enfermeira do Hospital Regional de Colíder, MT. Graduada em Enfermagem

pela Universidade Federal do Mato Grosso, UFMT, Campus Sinop

***Professora Auxiliar da Universidade Federal do Mato Grosso, Campus Sinop

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação

da Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT

****Enfermeira. Professora Auxiliar da Universidade Federal

do Mato Grosso, Campus Sinop. Mestranda em do Programa

de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Mato Grosso, UFMT

*****Enfermeiro. Professor Assistente da Universidade Federal do Mato Grosso, UFMT

Campus Sinop. Doutorando em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC

Patricia Silva De Medeiros*

Ana Paula Petri**

Suellen Rodrigues de Oliveira***

Luciene Mantovani Silva Andrade****

Gelson Aguiar da Silva*****

suellen_enf2004@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Os discentes dos cursos da área da saúde estão expostos a diversos riscos, em especial ao risco biológico e eventualmente sofrem exposição acidental a material biológico, mas a comunicação do acidente nem sempre é realizada. O objetivo desta pesquisa foi conhecer as características dos acadêmicos expostos ao material biológico durante o período de aulas práticas e no decorrer do curso de graduação em Enfermagem. Trata-se de um estudo retrospectivo, de abordagem quantitativo-descritiva, de natureza aplicada, os dados foram coletados através de um questionário aplicado a 128 graduandos em Enfermagem que cursavam do 5º ao 9º semestre respectivamente. No período estudado da amostra 7,9% dos entrevistados confirmaram ter sofrido exposição ao material biológico, onde 90,9% envolvidos com a exposição eram do sexo feminino, 54,4% cursavam o 5º semestre na eventual exposição, em 54,6% houve a presença de sangue e 81,8% comunicaram o responsável (professor) no pós-exposição. Os resultados permitem utilizar a pesquisa na recomendação de intervenções como a criação e implementação de um protocolo interno, que ampare os acadêmicos nas futuras exposições envolvendo material biológico, assim como um manual de condutas que evidencie medidas de prevenção de exposições e as condutas a serem adotadas junto ao responsável (professor-supervisor) na pós-exposição, possibilitando assim que sejam tomadas medidas corretas.

          Unitermos: Material biológico. Educação. Enfermagem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos serviços de saúde, múltiplos riscos são oferecidos aos profissionais da área da saúde, tais como os causados por agentes químicos, físicos, biológicos, psicossociais e ergonômicos(1), sendo que os principais riscos são os biológicos, geradores de insalubridade a esses trabalhadores de saúde(2).

    Na vivência profissional é possível observar que os alunos sofrem exposição acidental a material biológico, mas a comunicação do acidente nem sempre é realizada. Uma das maneiras mais importantes de se elaborar e implementar medidas de prevenção é através do registro dos acidentes ocorridos, para que se conheça a magnitude do problema e se estabeleça acompanhamento adequado(3).

    Os estudantes de enfermagem desenvolvem as suas habilidades necessárias para o cuidado lidando com objetos cortantes e perfurantes, bem como fluídos corporais, o que os expõem a riscos biológicos frequentemente(4). A falta de experiência ainda existente e a ansiedade contribuem muito para a ocorrência desses acidentes, uma vez que estão constantemente em situações de aprendizado, supervisão e avaliação o que favorece o aumento desses sentimentos, como maior ansiedade e estresse durante as práticas laborais.

    Em seus estudos abordaram a temática dos acidentes com material biológico entre estudantes de enfermagem e chegaram a conclusões semelhantes: acidentes desta natureza acometem alunos em campo de ensino, portanto, torna-se necessário investigação das diversas realidades, implementação de vigilância e medidas preventivas por parte de instituições de ensino e saúde, bem como a estruturação de um programa de educação em biossegurança, para que se estabeleça um ambiente de práticas seguras(5). Assim, o presente estudo se propõe a estimar um número de acadêmicos que sofreram exposição durante as aulas práticas e estágios na graduação, além de traçar as principais características oriundas a estes discentes expostos ao material biológico.

Procedimento metodológico

    A pesquisa é classificada como um estudo retrospectivo, de abordagem quantitativo-descritiva, de natureza aplicada consistindo em investigações de pesquisa empírica, cuja principal finalidade é o delineamento e análise das características de fatos ou fenômenos, ou ainda o isolamento de variáveis principais ou chave(6).

    Contudo, para que ocorresse o desenvolvimento deste estudo, o mesmo passou por apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Cuiabá e aprovação sob o registro nº 211 CEP/UNIC – protocolo nº 2010 – 211. Foram respeitados todos os aspectos éticos conforme Resolução 196/96 que afirma que é dever do pesquisador prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de auto-estima, de prestígio e/ou econômico-financeiro(7).

    No primeiro momento verificou-se uma população de 139 acadêmicos que estiveram em campo, desenvolvendo suas atividades nas aulas práticas, correspondendo respectivamente 5º, 6º, 7º, 8º e 9º semestres de enfermagem através de um questionário estruturado, com perguntas claras e objetivas. O intuito deste questionário nessa foi primordialmente o de identificação dos acidentes ocorridos durante as exposições desses acadêmicos, bem como identificar: sexo, semestre em curso, materiais envolvidos, comunicação ao responsável.

    O levantamento de dados foi realizado no primeiro trimestre de 2011, junto a 128 acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem pertencentes à Universidade Federal do Mato Grosso – Campus Sinop, que cursavam respectivamente 5º, 6º, 7º, 8º e 9º semestres, e que já vivenciaram a oportunidade de realizar aulas práticas e estágios, caracterizando assim a participação na primeira etapa. Após exclusão dos acadêmicos que não sofreram acidentes durante as aulas práticas e estágios, apenas 11 referiram ter sofrido exposição a tal evento.

    Inicialmente os dados levantados são referentes à quantidade de acadêmicos de Enfermagem que já vivenciaram as aulas práticas e estágios na graduação, e sofreram acidente com material biológico, evidenciando dessa forma, tratar-se de um estudo retrospectivo. A partir da formulação do instrumento de coleta, os dados foram agrupados segundo as variáveis: sexo, envolvimento em acidente, semestre em curso, materiais envolvidos, comunicação ao responsável no momento do acidente.

Resultados

    No primeiro trimestre de 2011 realizou-se o levantamento dos dados entre os acadêmicos do curso de graduação em Enfermagem. Participaram voluntariamente através de resposta livre a um questionário, os alunos matriculados devidamente nos seguintes períodos: 5º semestre contendo 18 alunos, 6º semestre contendo 41 alunos, 7º semestre contendo 27 alunos, 8º semestre contendo 20 alunos e 9º semestre contendo 33 alunos, totalizando dessa forma uma amostra de 139 participantes. Foram evidenciados através das respostas afirmativas 11 (7,9%) vítimas de acidentes com material biológico.

    Em estudos posteriores os valores inferiores a 12,4% encontrados entre alunos de enfermagem de uma universidade brasileira, com índice de 9,6% de acidentes envolvendo material biológico(8). Em outros estudos realizados em uma mesma instituição brasileira de ensino superior em enfermagem foram detectados índices de 2,7% de acidentes envolvendo material biológico(9).

    No cenário internacional, encontrou- se taxa de 7% de acidentes em estudo realizado com enfermeiras recém-formadas, em Virgínia, nos Estados Unidos da América(12), e de 6,6% entre estudantes de enfermagem italianos(10).

    Quanto ao gênero, foi evidenciado um total de 10 (90,90%) mulheres e 01 (9,10%) homem, envolvidos nos acidentes. A predominância do sexo feminino na enfermagem deve-se ao fato que desde os tempos mais primórdios, a profissão era exercida quase que exclusivamente por mulheres, devido também a algumas culturas onde cuidar dos doentes é considerado uma extensão das tarefas da mulher(11).

    Contudo, a predominância do sexo feminino identificada nas ocorrências, relacionando-as ao grande número de trabalhadores do sexo feminino atuantes nos serviços de saúde, principalmente na equipe de Enfermagem, que é a mais numerosa nesses serviços(12,13).

Gráfico 1. Distribuição quanto ao gênero dos acadêmicos vítimas

de acidente com material biológico no curso de graduação em Enfermagem

    A minoria dos acadêmicos, 1 vítima (9.3%) cursava o 4º semestre, correspondendo ao 2 ano da graduação. A maioria dos acadêmicos, abrangendo 6 vítimas (54,40%) relatou exposição ao material biológico quando estava cursando o 5º semestre; 2 vítimas (18,10%) cursava o 6º semestre; juntos correspondem ao terceiro ano da graduação, seguido de 2 vítimas (18,10 %) cursando o 7º semestre, correspondendo ao quarto ano da graduação, momento estes em que a carga horária de atividades práticas de ensino-aprendizagem na graduação em enfermagem é maior e as atividades mais complexas, o que pode ter contribuído para a maior ocorrência de exposição acidental(14).

Gráfico 2. Distribuição dos semestres em curso dos acadêmicos vítimas

de acidente com material biológico no curso de graduação em Enfermagem

    Verifica-se que em 6 acidentes (54,60%) houve a presença de sangue, em 5 acidentes (45,40%), outros tipos de secreção, incluindo, por exemplo, a urina. Dentre os vários fluídos orgânicos envolvidos na contaminação acidental dos trabalhadores de saúde, como a secreção vaginal, urina ou esperma, o sangue é o veículo mais comum na transmissão de vários patógenos no ambiente de trabalho. O risco de contaminação através de agulha com sangue contaminado é de um em três para a hepatite B, um em trinta para hepatite C e um em trezentos para o HIV(15).

Gráfico 3. Distribuição dos materiais envolvidos com os acadêmicos vítimas

de acidente com material biológico no curso de graduação em Enfermagem

    Sobre as condutas realizadas após a exposição envolvendo material biológico, entre os 11 acidentes informados através das respostas positivas dos acadêmicos, 09 (81,80%) foram comunicados ao responsável (professor), e em 02 (18,2%) não comunicaram o professor, evidenciando a ausência de conduta em relação as exposições.

    Os alunos de enfermagem turcos notificaram o acidente aos supervisores em 43,9% dos casos, mas muitos não procuraram qualquer tipo de assistência(16). As justificativas dos sujeitos de sua pesquisa para nenhuma conduta foram: não considerar necessário, pois a pele estava íntegra; ficar com medo de ser punido, criticado e prejudicado na nota. Entre as principais razões da falta de notificação do acidente encontradas em outros estudos estão: medo de o professor reduzir a nota e de ser discriminado como desatento(17).

    A opção de omitir a ocorrência de uma exposição acidental não pode ser julgada correta, pois as iniciativas tomadas, sem orientação específica e segura, podem redundar em prejuízos irremediáveis à saúde.

Gráfico 4. Distribuição das informações fornecidas aos responsáveis pelos acadêmicos

vítimas de acidente com material biológico no curso de graduação em Enfermagem

Considerações finais

    Por estarem inseridos nas atividades de sua futura categoria profissional, e desempenharem suas atividades de ensino os acadêmicos também se expõem aos riscos biológicos.

    Acredita-se que seja imprescindível a implantação de programas sistematizados para se discutir sobre biossegurança em todos os setores de atuação dos acadêmicos da área de saúde, os quais deverão incluir estratégias efetivas de prevenção de acidentes, buscando minimizar a exposição aos riscos ocupacionais, principalmente no caso de exposições a material biológico, além de estabelecer vigilância periódica e incentivar notificação das ocorrências, pois estes mecanismos também são importantes ferramentas para direcionar e elaboração de medidas preventivas e consequentemente diminuírem os riscos de acidentes.

    Essa constatação, associadas a outros resultados da pesquisa, permite recomendar propostas de intervenções como a criação e implementação de um protocolo interno, que ampare os acadêmicos desta universidade aqui citada nas futuras exposições envolvendo material biológico, assim como um manual de condutas que evidencie medidas de prevenção de exposições e as condutas a serem adotadas junto a responsável (professor-supervisor) na pós-exposição, possibilitando assim que sejam tomadas medidas corretas entre o paciente-fonte e a vítima que lhe assegure informações corretas.

    Contudo não é simplesmente uma proposta teórica, mas o ensejo da necessidade de fazer cumprir a legislação vigente refletida em transformação na prática, incluindo reestruturação organizacional, que requer mudanças radicais no preparo dos responsáveis (professor-supervisor) envolvidos na dinâmica dessas atividades.

Referências

  1. MARZIALE, M.H.P. Condições ergonômicas da situação de trabalho, do pessoal de enfermagem em uma unidade de internação hospitalar. Ribeirão Preto, 1995. 163p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

  2. SUAZO, S.V.V. Contribuição ao estudo sobre acidentes de trabalho que acometem as trabalhadoras de enfermagem em hospitais chilenos. Ribeirão Preto, 1999. 200p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

  3. NAPOLEÃO A.A.; ROBAZZI M.L.C.C. Acidentes de trabalho e subnotificação entre trabalhadores de enfermagem. Rev enferm UERJ. 2003; 11:59-63.

  4. REIS R.K.; GIR E.; CANINI S.R.M.S. Accidents with biological material among undergraduate nursing students in a public Brazilian university. Braz Journ Infec Dis. 2004; 8:18-24.

  5. CICOLINI, G.; DI LABIO, L.; LANCIA, L. Prevalence of biological exposure among nursing students: an observational study. Prof Inferm. 2008; 61:217-22.

  6. MARCONI, M.A, LAKATOS, E.M. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2006.

  7. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DA SAÚDE. Resolução 196/96 de 10 de outubro de 1996. Aprovação das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Brasília: Ministério da Saúde, 1996.

  8. REIS R.K.; GIR E.; CANINI S.R.M.S. Accidents with biological material among undergraduate nursing students in a public Brazilian university. Braz Journ Infec Dis. 2004; 8:18-24.

  9. KITAYAMA, C.V.; MARÍNGOLO, E.F. Acidentes com material potencialmente infectado: a percepção de vulnerabilidade do aluno de enfermagem [trabalho de conclusão de curso]. Ribeirão Preto (SP): Centro Universitário Barão de Mauá; 2000.

  10. SCHAFFER S. Preventing nursing exposure incidents: the role of personal protective equipment and safety engineered devices. Journ Nurs Educ. 1997; 36:416-20.

  11. CICOLINI, G.; DI LABIO, L.; LANCIA, L. Prevalence of biological exposure among nursing students: an observational study. Prof Inferm. 2008; 61:217-22.

  12. CARVALHO, D.R.; KALINKE, L.P. Perfil do Enfermeiro quanto a Motivação Profissional e suas Necessidades de Desenvolvimento. Boletim de Enfermagem, Curitiba, v. 1, 2008.

  13. SARQUIS, L.M.M. Acidentes de trabalho com instrumento pérfuro-cortantes: ocorrências entre os trabalhadores de enfermagem. [dissertação de mestrado]. São Paulo (SP) Universidade De São Paulo; 1999.

  14. RIBEIRO, E.J.G.; SHIMIZU, H.E. Acidentes de Trabalho com Trabalhadores de Enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, volume 60, n° 5, 2007

  15. GODFRE K. Sharp practice. Nursing Times. 2001 ; 97 (2) 22-4.

  16. TALAS, M.S. Occupational exposure to blood and body fluids among Turkish nursing students during clinical practice training: frequency of needlestick/sharp injuries and hepatitis B immunization. J Clin Nurs. 2009; 18:1394-403.

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