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Análise da produção do conhecimento em
Educação Física na Educação Infantil no CONBRACE

Análisis de la producción de conocimiento en Educación Física en la Educación Inicial en CONBRACE

 

*Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia (UEFS). Membro do grupo

da Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer, LEPEL, UEFS

**Professora da rede estadual de ensino básico do estado da Bahia. Membro do grupo

da Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer, LEPEL, UEFS

(Brasil)

Michael Daian Pacheco Ramos*

michaeluefs@yahoo.com.br

Nathalya Ribeiro Santos**

nathy_uefs@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo caracteriza-se enquanto uma pesquisa epistemológica, tendo como o objeto de estudo delimitado, as publicações em anais, na área da educação infantil, do CONBRACE de 2007 e 2009. Objetivamos, fundamentalmente, com tal estudo, investigar as bases epistemológicas que sustentam as pesquisas em educação infantil e quais às abordagens metodológicas mais frequentes. Optamos pelo método dialético por entendermos que este é o que melhor dá conta de compreender e balizar nossa intervenção na realidade, e análise de conteúdo como recurso metodológico. Entre os resultados encontrados há uma predominância de pesquisas Fenomenológicas-HemHHHhhhheme Hermeneuticas, que defendem uma concepção de infância ligada ao cuidar e educar, entendendo como elemento característico da educação física a cultura de movimento. O resultado encontrado revela dessa forma, a necessidade de ampliação de pesquisas em Educação Física, a partir da referência do Materialismo-Histórico-Dialético, visando uma intervenção coletiva e comprometida com os interesses da classe trabalhadora.

          Unitermos: Método. Educação Infantil. Educação Física.

 

Abstract

          The present study is characterized as an epistemological research, having as their object of study defined, in proceedings publications in the field of early childhood education, the CONBRACE 2007 and 2009. We aimed, primarily, with this study, to investigate the epistemological foundations that support research in early childhood education, the most common methodological approaches. We opted for the dialectical method because we believe that this is what a better account of understanding and to delimit our intervention in reality, and as a methodological tool we used the content analysis. Among the results found a prevalence of phenomenological research-hermeneutics who advocate a conception of childhood linked to the care and nurturing, understanding that as the characteristic element of the culture of physical education movement. Thus revealing the need to extend research in physical education from the reference of the Historical and Dialectical Materialism, aiming at a collective and committed to the interests of the working class.

          Keywords: Method. Early Childhood Education. Physical Education.

 

          CONBRACE: Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. Este congresso acontece de 2 em 2 anos. Em 2007, o evento foi realizado em Recife, Pernambuco, e em 2009 em Salvador, Bahia e em 2010 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1 .     Introdução

    Quando se trata de Educação Física na Educação Infantil, são recentes as publicações que discutem ou trazem algo sistematizado a partir de um olhar mais crítico e transformador da realidade. Essa perspectiva concebe o aluno como sujeito no processo de mudança social. Partindo deste princípio é que pensamos no desenvolvimento deste trabalho, o qual oportunizará o delineamento de um caminho que nos possibilitará identificar em que base epistemológica vem se dando as pesquisas sobre Educação Física na Educação Infantil.

    Para fazermos essa análise, utilizamos da Pesquisa Epistemológica que se caracteriza enquanto um estudo crítico que investiga valores implícitos, cientificidade, construção do objeto, pressupostos ideológicos, abordagens metodológicas e as formas de interpretar a realidade nas diversas ciências. Este tipo de estudo nos permite averiguar ainda os tipos de pesquisas predominantes, sua qualidade e relevância e dos conteúdos abordados.

    De tal forma, escolhemos os trabalhos publicados nos anais do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE) por entendermos ser este um evento de suma importância dentro do cenário científico da Educação Física Brasileira. Trata-se de um evento realizado pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), uma entidade científica criada em 1978 que congrega pesquisadores ligados à área de Educação Física/Ciências do Esporte. Deste modo objetivamos, fundamentalmente, com tal estudo, investigar as bases epistemológicas que sustentam as pesquisas em educação física e educação infantil publicadas em 2007, 2009 e 2010 no referido evento científico.

2.     Aspectos metodológicos

2.1.     Tipos de pesquisa

    Nosso estudo parte de uma pesquisa epistemológica, pois segundo Gamboa (2007), esta abordagem poderá esclarecer as relações entre técnicas, métodos, paradigmas científicos, pressupostos gnosiológicos e ontológicos, todos eles presentes, mais ou menos explícitos, em qualquer pesquisa científica.

    Um estudo epistemológico caracteriza-se enquanto um estudo crítico dos valores implícitos nas diversas ciências, questionando a sua cientificidade e a construção do objeto de estudo, pressupostos ideológicos, superficialidade teórica, além de investigar, criticamente, as abordagens metodológicas clássicas e modernas, em seus modos divergentes de interpretar a realidade. (VIEIRA, 2008).

2.2.     Método científico

    Nossa pesquisa constitui-se a partir da matriz do Materialismo Histórico e Dialético, pois, entendemos que essa é a abordagem que melhor nos auxilia na compreensão da realidade e que nos aponta para outro projeto de mundo e de homem, na busca pela superação das contradições “entranhadas” em nossa sociedade (VIEIRA, 2008).

2.3.     Fontes e instrumento de coleta de dados

    Nossas fontes se constituíram nos resumos dos trabalhos que constam nos anais do CONBRACE de 2007, 2009 e 2010. Optamos por dar esse recorte temporal devido à revista do CBCE, publicada em 2005, ter dedicado sua edição a temática “Infância e Educação Física”, com isso buscamos os trabalhos publicados por dentro dos congressos que vieram após o ano de publicação desta revista, com o intuito de mostrar para onde esses estudos veem apontando epistemologicamente.

2.4.     Métodos de análise

    Para analisarmos os dados obtidos no processo de coleta, lançamos mão como citado anteriormente da Análise de Conteúdo que se configura como uma técnica que nos ajudará na compreensão dos processos comunicativos, como também dos elementos contraditórios para a construção da crítica sobre os fenômenos. De acordo com Triviños (1987, p. 161) são três as etapas básicas no processo de uso da análise de conteúdo: a pré-análise, a descrição analítica e a interpretação inferencial.

    A pré-análise consistiu na organização do material de pesquisa que foi separado em dois grupos bibliográficos. 1. Bibliografia específica sobre: história da infância, educação infantil e Educação Física no Brasil. 2. Anais dos CONBRACEs que no período de 2007, 2009 e 2010 publicaram artigos acerca da problemática da Educação Física voltada Educação Infantil.

    A descrição analítica, a segunda fase do método de análise de conteúdo, começa já na pré-análise, mas nesse momento específico, o material é submetido a um estudo aprofundado tendo como parâmetro a questão norteadora e o referencial teórico-metodológico adotado. Nesta etapa, procedimentos como a categorização são instâncias básicas. Estabelecemos algumas categorias de análise em resposta à seguinte questão norteadora: Qual têm sido as bases epistemológicas das produções de educação física em educação infantil nos CONBRACE de 2007, 2009 e 2010?

    Neste sentido, optamos por três categorias: 1. Método: onde analisamos os procedimentos utilizados e a concepção de ciência encontrada nestas produções; 2.Concepção de Infância: aonde relacionamos a visão de infância ligada aos processos educativos concretizados ate hoje dentro da educação infantil; e, 3. Concepção de Educação Física: a qual foi analisada a partir da concepção de educação e mundo ali defendida. Tais categorias se embasam nos elementos da dialética entre eles, totalidade (todo-partes), abstrato-concreto, fenômeno-essência, análise-síntese. Sendo assim, é importante ressaltar que esses elementos assumem um papel central em nosso trabalho, na medida em que colaboram, diretamente, na análise e apreensão dos dados da realidade, na busca por um entendimento mais totalizante da ação humana em suas construções.

    Em função da delimitação da problemática, realizamos o levantamento e seleção de resumos dos textos que tratam a temática infância, para o processo de análise de conteúdo. Foram contabilizados 43 artigos distribuídos nos diferentes GTTs (Grupo de Trabalhos Temáticos) que compõem o Congresso.

    Tais trabalhos foram objeto de uma análise mais aprofundada que corresponde à terceira fase da análise de conteúdo. Essa fase, interpretação inferencial, tem como suporte o material de pesquisa já organizado e sustenta-se nos processos reflexivos e intuitivos do pesquisador que avança para o estabelecimento de relações entre a problemática pesquisada e a realidade educacional e social ampla. Em nosso estudo, a interpretação inferencial recaiu, sobre o campo epistemológico, a priori, onde se inserem os textos analisados explicitando a abordagem teórica dos autores e onde destacamos as concepções de infância e de educação física.

    Para a sistematização da análise dos textos usamos a referência adotada por GAMBOA (1998) que discute os dados a partir de uma análise paradigmática, onde foi realizada uma adaptação no instrumento de registro da análise para direcionar nossa discussão. Os 43 (quarenta e três) resumos foram, então, categorizados em distintos níveis que podem ser assim explicitados: 1 - Nível metodológico - inserção dos textos, por aproximação, nas abordagens Empírico-Analítica, Fenomenológico-Hermeneutica e Crítico-Dialética; 2 - Nível técnico- tipos de pesquisa, instrumentos de coleta de dados, procedimentos de análise de dados; e 3 - Nível epistemológico- evidenciamos, de forma mais explícita, as concepções de infância e de educação física.

3.     Primeiras aproximações com o objeto

3.1.     Infância e Educação Infantil

    Partindo de uma análise da história percebemos que a concepção de Educação Infantil passou por momentos marcantes, onde conseguimos identificar três percepções político-filosóficas distintas, sendo elas: a assistencialista, a compensatória e do cuidar e educar.

    Diversos foram os olhares sobre a infância brasileira no decorrer da história, estando estes diretamente ligados ao grupo hegemônico que impunha seus interesses e a classe social a qual essa criança pertencia, podendo assim ser trabalhadora, liberta, escrava, ou ser entregue a pessoas ou instituições que se responsabilizavam pela sua educação.

    No período de colonização, a criança era vista como papel em branco (COSTA, 2007). Do período colonial até a década de 1930 onde se manteve presente a concepção higienista, encontrávamos problemas que até hoje assolam a infância como as altas taxas de mortalidade e desnutrição. A visão assistencialista da educação para as crianças vem nesse período, sendo espaços vistos apenas como locais onde ficavam os filhos das mães trabalhadoras (OLIVEIRA, 2005).

    Já a partir da década de 1960 a educação infantil avança em relação à visão da escola como apenas um espaço de assistência, mesmo ainda guardando ranços desse período, é difundido a concepção da educação compensatória, pois se começa a intensificar nesse momento pós-revolução industrial a propagação dos ideais e valores capitalistas e com isso o surgimento dos “Jardins de Infância” direcionados aos filhos da classe burguesa que agora estava cada vez mais em ascensão. Esse arcabouço ideológico traz consigo um ideal de criança ingênua, concomitantemente, aparece as “Creches” para as crianças filhas da classe trabalhadora que eram entendidas como indivíduos carentes de condutas e valores sociais (COSTA, 2007).

    Com a redemocratização na década de 1980 muda-se legalmente a concepção de período infantil, mudança que teve influência direta das manifestações e das lutas dos movimentos sociais combatentes da desigualdade que atualmente ainda persiste na nossa sociedade. Foi garantido à criança, direitos outrora negados, sendo ela agora vista como sujeito. Esses ganhos apareceram no reconhecimento da educação como um direito da criança, onde a inserção da educação infantil na educação básica corroborou para que esse segmento educacional fosse reconhecido e garantido em lei como responsabilidade e dever do Estado. Essa criança passa a ser vista agora como sujeito, em vez de objeto a ser disputado por diferentes grupos sociais. Isto apontou novas possibilidades para a construção social da infância e do atendimento escolar (COSTA, 2007).

    Hoje tem se expandindo cada vez mais o reconhecimento da educação infantil como espaço do “Cuidar e do Educar”, onde, além do zelo e o carinho lhe é dado também o direito à educação, sendo entendido esse período como tempo de aprendizagem e formação humana.

3.2.     Educação Física na Educação Infantil

    Olhando para história podemos perceber que a Educação Física dentro da educação infantil, foi primeiramente utilizada como auxiliar no processo disciplinar e higienista da escola, além de reforçar o ensino de hábitos “saudáveis” que contribuíam para a construção de um homem forte.

    Logo em seguida vemos a Educação Física se justificando pelo viés da psicomotricidade o que já foi um avanço considerável, tendo em vista que a partir daí não caberia mais enxergar a criança somente como um ser biológico. No entanto, dentro desta perspectiva a Educação Física perde o sentido em si mesma e passa a servir de disciplina auxiliadora para os demais conteúdos oferecidos dentro da escola (OLIVEIRA, 2005).

    Segundo Costa (2007), é na lógica da educação infantil como sendo o lugar de cuidar e educar e com base nas abordagens críticas, que a Educação Física vem tentando se legitimar enquanto componente curricular, possibilitando às crianças reflexões e vivências a cerca dos elementos da cultura corporal. A autora afirma que este debate sobre a Educação Física na educação de 0 (zero) a 6 (seis) anos, a partir dessa outra perspectiva, ganha maior intensidade com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996, e a legalização da Educação Infantil na Educação Básica, bem como a implantação da Educação Física como componente curricular obrigatório.

    Atualmente, além das questões legais, têm sido levantados questionamentos sobre a importância de fazermos um resgate do movimento e a interação que aí se promove para o desenvolvimento infantil e a formação humana, colocando-se como objetivo geral da Educação Física na educação da primeira infância a reflexão pedagógica sistematizada e deliberada dos conhecimentos da cultura corporal. (COSTA, 2007).

3.3.     Apresentação e discussão dos dados

    O caráter de provisoriedade do conhecimento não comporta a elaboração de conclusões definitivas acerca da produção teórica veiculada no CBCE sobre a educação infantil, porém, impõe àquele que realiza o trabalho investigativo, o delineamento de sínteses que venham a contribuir para reelaboração, no campo das ideias, dos dados da realidade. Desse modo, é possível alinhar alguns elementos que podem servir como balizadores da reflexão, discussão e intervenção da Educação Física no contexto da educação infantil. Para esta análise partimos das categorias: Método, Concepção de infância e Concepção de Educação Física tendo como pressupostos de interpretação os níveis construídos e definidos por GAMBOA (2007).

    Devido a poucas informações nos resumos em muitos momentos recorremos ao texto como um todo para assim melhor entendermos as categorias aqui analisadas. Os textos que foram caracterizados como pertencentes à abordagem Empírico-Analítica compreendem 10% dos trabalhos analisados. Esses textos apresentam traços comuns quanto às concepções e representações de educação da criança que aqui é vista como “o homem digno do amanha”, demonstrado de forma clara no trecho “[...] à educação das crianças, em idade escolar ou não, partem sempre do princípio de que a criança é um futuro adulto produtivo”. A infância aparece nestes trabalhos como a etapa na qual deve ocorrer o desenvolvimento das habilidades motoras e aprendizado das noções de higiene. Sendo considerado este período como um lugar de preparação do homem “moderno”, “saudável” e “forte”.

    Nesta perspectiva apresentada, a maior contribuição da EF para as crianças de 0 (zero) a 6 (seis) seria a disciplina, o respeito às regras, as condutas sociais e o reforço às noções de higiene como denota-se no texto que a seguir:“Tem como foco as temáticas saúde e higiene e busca compreender como a Educação Física ganhou forma e importância no âmbito da escola, sendo entendida como elemento fundamental na materialização de uma educação capaz de contemplar o corpo e o espírito, na direção de uma nação que se tornasse mais forte, saudável e civilizada, de acordo com um projeto de modernidade.” Outro momento em que o autor deixa claro esta perspectiva da educação física ainda voltada ao período Higienista é: “A pesquisa se constrói, também, a partir das temáticas saúde e higiene, por acreditarmos serem um dos os principais fins de uma educação biopsicossocial”

    Os textos categorizados dentro da abordagem Fenomenológico-Hermeneutica compreendem um total de 65% das pesquisas analisadas. Muitas já se auto-intitulam pesquisas que tomam tal abordagem como base epistemológica. “O texto tem como objetivo refletir o ensino da Educação física no Ensino Infantil, contribuindo para reflexão de práticas corporais nessa primeira fase da educação assumindo a fenomenologia como metodologia” afirma um dos autores.

    Apresentam uma nítida influência da teoria crítico-emancipatória na pesquisa, trazendo a todo o momento uma defesa de que a educação física trata da cultura do movimento sendo ali o espaço de “se movimentar” como podemos observar no seguinte trecho: “Este estudo apresenta uma perspectiva teórica para a Educação Física no Ensino Infantil, a partir do entendimento do Brincar e Se - Movimentar da criança como forma mais natural de diálogo com o mundo, por meio da qual ela vive a liberdade e a espontaneidade naturais do seu ser e existir”. Também declarado quando em outro texto o autor diz: “A expressão brincar e se - movimentar usada por Kunz (2007) e tema desta pesquisa, refere-se às atividades com as quais a criança realmente está envolvida nos primeiros anos de vida.”

    Em outras pesquisas a escolha pela crítico-emancipatória já se faz de forma direta “A base de nossas convicções é a abordagem Crítico-Emancipatória, na qual o esporte de alto-rendimento é criticado por não atender as demandas dos sujeitos, mas os colocam a serviço do esporte, do Recorde, ainda que para tais tenham que sacrificar seus corpos”,sendo também destacado tais afirmações no trecho de outra pesquisa quando o mesmo afirma:“Em nossa proposta, a Educação Física é entendida como uma área do conhecimento cujo objeto de estudo é constituído pelo sentido/significado do movimento que se expressa pela cultura corporal de movimento”.

    A definição de infância apresentada nos textos referentes à abordagem fenomenológica-hermeneutica é tomada como um ser social-cultural, aliadas a visão do “ser criança” referenciada na fala de um autor que afirma que “[...] o olhar sobre a infância passa pelo prisma das múltiplas dimensões humanas aliada às características e necessidades singulares do “ser criança”. Esse conceito é reforçado já por outro autor quando cita “[...] tomamos a infância como categoria social que integra as múltiplas dimensões humanas aliadas às características do “ser criança”. [...] “As crianças de zero a seis anos apresentam-se como sujeitos que possuem características e necessidades que são singulares quando comparadas com outras categorias etárias”. Entendemos que o “ ser criança” em quase todos os trabalhos se relaciona a um ser inocente e puro, porém, imperfeito que deve ser educado.

    Já os textos enquadrados na abordagem crítico-dialético respondem a 25% dos trabalhos analisados. Tendo em comum a perspectiva histórica adotando como ponto de partida e a concepção da infância como período em que as crianças são reconhecidas como indivíduos que precisam da ajuda e interação com outros seres humanos para concretizar o seu potencial de desenvolvimento, exemplificado quando um autor diz: “Isto porque se concebem as crianças como sujeitos constituídos sócio-historicamente”. A partir dessa afirmação temos um novo paradigma educacional onde a criança é percebida como indivíduo inserido em um determinado contexto sócio-histórico-cultural. Nesse sentido, há um esforço por parte dos autores de contextualizar a construção histórica da infância e da relação da Educação Física com a Educação Infantil. “No entanto, lembro que, mesmo na educação da primeira infância, a Educação Física, historicamente, foi posta com a função de disciplinamento e opressão”, afirma.

    A educação infantil nessa perspectiva é defendida como o espaço do cuidar e educar sendo observada de forma explicita essa tese em diversos textos como na citação seguinte: “A organização da educação infantil inclui em seu currículo tarefas de cuidado, como merenda e higiene, no entanto a sua proposta pedagógica deve ser elaborada tendo como foco central no trabalho com as crianças, com a ludicidade, e o prazer de conhecer e aprender”.

    A Educação Física dentro dos textos que tomaram como base a concepção crítico- dialética aparece como um componente curricular. “Assim, entendo que a escola, e a Educação Física enquanto componente curricular [...]”. Tal citação sinaliza a ampliação do papel da EF no contexto escolar que passa a ser entendida como componente curricular tendo os elementos da cultura corporal como conhecimento a ser desenvolvido na formação educacional. Partindo desse ponto de acordo com os autores, “A Educação Física no interior da escola se configura como um componente curricular que trata pedagogicamente a cultura corporal. Estes saberes devem permitir o desenvolvimento da criança numa concepção ampliada, para que a criança tenha a possibilidade da descoberta, do conhecimento, da vivência, da expressão e da linguagem”

    Em 20% do material analisado as concepções e representações de infância, concepção de Educação Física e o Método de pesquisa não aparecem de forma explícita, mostram assim a ausência de elementos que deveriam já ser garantidos desde o resumo dos artigos.

    No que diz respeito ao tipo de pesquisas encontradas se dividiam em sua maioria entre Pesquisas Etnográficas, Pesquisa Participante, aparecendo com menor intensidade a Pesquisa-Ação e a Pesquisa de Campo.

    Portanto, percebemos que os instrumentos metodológicos utilizados pelos artigos analisados, têm por base uma matriz fenomenológica, segundo a classificação de GAMBOA (1998). Nesse sentido, há uma carência de estudos que se apropriam de instrumentos que dêem conta de analisar a realidade a partir de uma abordagem crítico-dialético.

4.     Considerações provisórias

    Tivemos como objetivo analisar em que base epistemológica vem se dando às pesquisas sobre Educação Física na Educação Infantil, compreendendo as limitações conclusivas de nosso trabalho, consideramos que de modo geral, no que tange ao método encontramos pesquisas nos três níveis de classificações levantados por GAMBOA (2007), sendo o Empírico-Analítico com o menor percentual, aproximadamente (10%), em seguida as pesquisas de cunho Crítico-Dialético (25%) e a Fenomenologia-Hermeneutica com uma maior incidência em níveis percentuais de trabalhos (65%).

    Já no que se refere às concepções de infância é possível perceber trabalhos que ainda se prendem a uma visão de lugar do “vir –a- ser”, onde a educação nesse seguimento entra com o papel compensatório e garantidor especificamente de hábitos como higiene, disciplina e ensinamentos sobre a qualidade de vida e saúde física. Outros trabalhos também apontam para a concepção de infância como um momento singular, tendo na escola de educação infantil espaço de cuidar e educar, onde para além do cuidado e do afeto, busca-se não perder de vista a educação como instrumento importante no processo formativo desse ser humano construtor e transformador sócio-histórico-cultural.

    No âmbito da concepção de Educação Física percebemos mesmo que em baixos níveis percentuais a Educação Física defendida ainda nos moldes do período Higienista, período este que há muitos anos já foi superado. Ainda no que se refere à concepção de Educação de Física, a maioria dos trabalhos encontra-se embasado por abordagens críticas da área. Nesse sentido, dentre as concepções críticas, a tendência crítico-emancipatória aparece com predominância entre os artigos analisados.

    Dessa forma, percebemos avanço no que diz respeito à concepção de educação e educação física, pois a maioria dos trabalhos apresenta uma preocupação em pensar a Educação Física de forma crítica, superando a hegemonia e o paradigma da aptidão física. Porém, entendemos que a concepção crítico-emancipatória ainda apresenta limitações no que se refere a uma proposta de metodologia direcionada para a escola, pois a mesma ainda não se configura como teoria sistematizada e materializada de forma a atender a organização do trabalho pedagógico da escola e a construção de um projeto histórico capaz de transformar a realidade. O que vemos nos livros, são propostas didáticas com alguns conteúdos da Educação Física, portanto não temos uma proposta que articule a organização dos conteúdos por série, uma proposta de avaliação clara e coerente. Contudo, sabemos que esta abordagem tem percorrido o caminho para uma abordagem propositiva sistematizada.

    Outro ponto de limitação na abordagem crítico-emancipatória refere-se à organização e seleção dos conteúdos de ensino, pois existe uma predominância pelo conteúdo esporte, podendo reforçar a tão criticada esportivização da educação física. Por fim, esta tendência encontra-se limitada pela sua compreensão da realidade, visto que tem por base a Fenomenologia.

    Considerando que a concepção de infância e de educação física tem sido diretamente influenciada pelo modo de produção econômica que rege nossa sociedade, advogamos aqui a ideia de que o modo atual em que vivemos a saber o Capitalismo, onde a criança é concebida como um consumidor em potencial imergida em um contexto de contradições e desigualdades, miséria e pobreza, condicionamento e exploração, deva ser superado. Deste modo, faz-se necessário a incidência de mais trabalhos científicos que tragam à tona à infância como período construído a partir de contextos sócio-histórico, compreendendo a criança como um ser produtor e transformador de cultura acumulada historicamente. Nesse sentido, apontamos a necessidade de avançarmos em estudos sob a perspectiva da cultura corporal, com base filosófica no materialismo-histórico-dialético, respaldado dentro da área da educação física através da abordagem crítico-superadora. Esta proposta tem como pressuposto superar a lógica do capital e o modo de produção vigente, compreendendo a educação como um dos meios de transformação dessa realidade.

Referências

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