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Um olhar para a abordagem dos desportos coletivos na escola

Una mirada para el abordaje de los deportes colectivos en la escuela

 

Professor de Educação Física

Licenciado no Curso de Professores do Ensino Básico – variante Educação Física

pela Escola Superior de Educação de Coimbra

Pedro João de Micaelo Borges

pedroborgesster@gmail.com

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo:

          Este artigo é uma reflexão sobre os aspetos a considerar na abordagem dos desportos coletivos na Escola. Valoriza-se a formação do pensamento tático dos alunos para que estejam habilitados a resolver de forma autónoma, criativa e culta, os problemas colocados pelo jogo.

          Unitermos: Pensamento tático. Aprendizagem implícita. Exercícios competitivos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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    Quando pensamos num desporto coletivo pensamos logo na palavra jogo. Só depois surgem-nos outras que são o raio X desse jogo, como: técnica, tática, físico e psicológico. Este “corpo”, que é o jogo, só existe se houver interligação entre estas “moléculas de palavras”. Quando se procura extrair uma destas para de forma isolada a desenvolver, ao voltarmos a enxertá-la no seu “corpo” verificamos que este não melhora o seu estado, mantendo-se sensivelmente no mesmo nível. Mas, se pelo contrário, pretendermos desenvolver o nosso “corpo” através de jogos menos e mais complexos sem no entanto lhe retirarmos qualquer “molécula”, assistimos a uma evolução no seu nível. Este Jogo (“Corpo”) é, portanto, uma unidade que progride no seu todo e não nas suas partes.

    Na Escola há a tendência para conjugar o trabalho das “partes” com o trabalho do “todo” na aprendizagem de um jogo coletivo. Esta situação é natural que aconteça, tendo em conta que na especificação do Programa de Educação Física (emanado pelo Ministério de Educação de Portugal) se prevê uma avaliação da parte técnica da modalidade em exercício-critério, diminuindo-se desta forma os elementos perturbadores da ação existentes em situação de jogo. No entanto, é o próprio Programa a deixar claro que o objetivo para a área dos desportos coletivos é que os alunos saibam responder às solicitações colocadas pelas situações de jogo. Somos também da opinião de que se um aluno consegue resolver os problemas colocados pelo jogo, irá também ser capaz de responder ao desafio mais simples de um exercício-critério “artificial”. A condição contrária já não é tão certa, uma vez que, na transição do exercício-critério para a situação de jogo o aluno vai-se confrontar com um maior número e diversificado de estímulos, para os quais não foi preparado para lidar de modo a poder dar respostas motoras adaptadas às solicitações postas pelo jogo. Assim, na aprendizagem de um jogo coletivo, a tendência devia ser, não a conjugação das “partes” com o “todo”, mas a inserção do trabalho das “partes” num “todo” facilitador e simplificado, ou então, de maior complexidade (dependendo do nível dos alunos e dos objetivos a alcançar). Esta forma de trabalhar permite o desenvolvimento das “partes” no seu contexto e, por conseguinte, uma maior capacidade de jogo dos alunos (capacidade complexa de utilizar numa relação recíproca as capacidades condicionais, coordenativas, psíquicas e táctico-técnicas - Konzag, 1985, citado por Faria e Tavares, 1996).

    Sendo o jogo uma “luta contra o acaso” (adaptado de Morin, 1991, citado por Faria e Tavares, 1996) demanda que os seus praticantes tenham um pensamento tático que lhes permita decidir com autonomia e criatividade as situações de jogo. Logo, formar o pensamento tático dos jogadores é uma tarefa essencial para que estes tomem decisões com qualidade (isto é, orientem-se para certos cenários e abandonem outros - Faria e Tavares, 1996), assumindo, assim, as funções cognitivas um papel importante ao nível da capacidade de jogo (Faria e Tavares, 1996). Através da organização progressiva de “exercícios competitivos” manipulados, que orientam a ação do jogador para determinados objetivos específicos, é possível formar o pensamento tático dos atletas e o modelo/ideia/filosofia de jogo do treinador. Esta aprendizagem é implícita, ou seja, o jogador descobre as estratégias/respostas que se ajustam às situações de jogo, por intermédio de uma informação reduzida dada acerca do “exercício competitivo” (transmitida, sempre que possível, sob a forma de imagens ou de analogias) e através da própria estrutura do exercício que faz emergir determinadas ações de jogo, não se lhe dando qualquer instrução explícita (clara) sobre o modo de solucionar a tarefa. Este tipo de aprendizagem favorece a autonomia e a criatividade, e melhora o desempenho do jogador, ao contrário da aprendizagem explícita. Contudo, o atleta sente dificuldades em explicar como resolve determinada situação de jogo. Isto pode ser um problema no meio escolar, uma vez que algumas escolas estabelecem na avaliação cognitiva dos alunos a realização de um teste escrito. Assim, sugere-se que o professor no final da lição, em conjunto com os seus alunos, tente verbalizar os conceitos táticos utilizados na aula e, com antecedência, entregue-lhes uma ficha informativa, com uma síntese da matéria, para estudarem para o teste escrito.

    São estas ideias interpretadas que, do meu ponto de vista, considero importantes para se fazer uma abordagem eficaz dos desportos coletivos na escola.

    Para terminar, referir que este artigo é como uma pintura naif que, por vezes, vemos quando passeamos junto à praia. Tal como um desses pintores, apenas pretendi partilhar convosco o meu modo de olhar os jogos coletivos, e já estando o sol a pôr-se no meu quadro, agradeço a vossa leitura!

Bibliografia

  • FARIA, Rui; TAVARES, Fernando (1996): O comportamento Estratégico. Acerca da Autonomia de Decisão nos Jogadores de Desportos Colectivos. In Estratégia e Táctica nos Jogos Desportivos Colectivos: 33-38. José Oliveira e Fernando Tavares Eds. FCDEF-UP.

  • FARROW, Damian (2008): Implicit Learning: an alternative approach to instruction. [On Line] http://www.ausport.gov.au/sportscoachmag/coaching_processes/implicit_learning_an_alternative_approach_to_instruction

  • Ministério da Educação (1991): Programa de Educação Física – 2º ciclo (Ensino Básico). Lisboa: DGEBS.

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