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Contribuição de um programa de exercícios físicos e das orientações de enfermagem em mulheres com hipertensão e obesidade

Contribución de un programa de ejercicios físicos y de las orientaciones de enfermería en mujeres con hipertensión y obesidad

Contribution of an exercise program and instructions of nursing in women with hypertension and obesity

 

Departamento de Educação Física

GEPES – Grupo de Extensão e Pesquisa em Exercício e Saúde

Criciúma, Santa Catarina

(Brasil)

Bruna Simplício Fernandes

Francieli Maragno

Bárbara Regina Alvarez

Josete Mazon

jmz@unesc.net

 

 

 

 

Resumo

          A hipertensão arterial sistêmica é uma doença presente na população adulta com prevalência no Brasil entre 22% e 44%. Objetivou-se verificar a contribuição de um programa de exercícios físicos e orientações de enfermagem sobre a pressão arterial em mulheres com hipertensão arterial sistêmica e obesidade. Pesquisa descritiva transversal com 14 mulheres, selecionadas intencionalmente em um programa de emagrecimento com caminhadas orientadas por 1 hora, 5 vezes na semana. A pressão arterial foi aferida 3 vezes na semana durante 6 meses. O efeito das orientações e do exercício físico na pressão arterial sistólica apresentou redução com significância de p=0,002. Os valores da pressão arterial sistólica pré-programa eram de 210mmHg e pós de 140mmHg. Concluímos que as mudanças na pressão arterial foram significativas devido a associação das intervenções, especialmente as orientações de enfermagem.

          Unitermos: Cuidados de enfermagem. Obesidade. Exercício.

 

Abstract

          Blood pressure is a highly infectious disease present in the adult population, whose prevalence in Brazil is between 22% and 44%. This study aimed to evaluate the effect of an exercise program and nursing instructions on blood pressure in women with blood pressure in obese. Transversal descriptive research with 14 women, selected intentionally in one program of weight loss program with walked guided by 1 hour, 5 times in the week. The blood pressure was surveyed 3 times in the week during 6 months. The effect of the nursing instructions and the physical exercise in the systolic blood pressure presented reduction with significance of p=0,002. We conclude that the changes in the blood pressure had been significant due to association of the interventions, the nursing instructions.

          Keywords: Nursing care. Obesity. Exercise.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica é uma doença que atinge aproximadamente 30 milhões de brasileiros e cerca de 50% destes não sabem que são hipertensos por serem muitas vezes assintomáticos, sendo considerado importante fator de risco para as doenças cardiovasculares ateroscleróticas (Santos et al, 2005).

    Um estudo realizado no município de São Paulo constatou que 53,1% de óbitos em mulheres entre 20 e 49 anos de idade estava associado a hipertensão. Assim, as prevalências da patologia na população quanto feminina tanto na masculina juntamente com a gravidade das conseqüências e o elevado custo para o sistema de saúde podem justificar a pesquisa em HAS e seus fatores de riscos (Hartmann et al, 2007)

    Obesidade é a forma mais comum de desnutrição celular que contribui para o aparecimento de diversas co-morbidades decorrentes do excesso de peso corporal, do comportamento alimentar e da resistência insulínica. A obesidade a médio e a longo prazo pode trazer conseqüências gravíssimas que podem levar o paciente à óbito (Repetto et al, 2003).

    A prática regular de exercícios físicos tem sido recomendada para a prevenção e reabilitação de doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas por diferentes associações no mundo. Estudos comprovam que esta prática apresenta benefícios na prevenção e tratamento da hipertensão arterial, resistência insulínica, diabetes, dislipidemias (alterações das lipoproteínas plasmáticas e dos triglicérides) e obesidade (Ciolac & Guimarães, 2004).

Metodologia

    A população deste estudo foi de 14 mulheres cadastradas numa faixa etária 30 a 69 anos, com sobrepeso ou obesidade participantes de um programa de emagrecimento da Universidade do Extremo Sul Catarinense denominado Emagreça Feliz organizado pelo Grupo de Extensão e Pesquisa em Exercício e Saúde – GEPES.

    Para a seleção da amostra foi realizada triagem durante dez dias por meio de aferição da pressão arterial de modo a identificar o número de mulheres que apresentassem níveis pressóricos igual ou superior a 140 mmHg para a pressão sistólica e 90 mmHg para a pressão diastólica. Após identificação, todas as mulheres classificadas como hipertensas foram convidadas para participar voluntariamente do estudo.

    Todos os dados coletados obedeceram ao mesmo período de coleta, ou seja, as variáveis sanguíneas foram coletadas no início da pesquisa e os valores de pressão arterial durante seis meses duas vezes na semana. Utilizamos para a coleta de dados a aferição de pressão arterial sistólica e diastólica utilizando aparelho de pressão com esfignomanômetro analógico Premium com número de verificação 1.870.459-1 (INMETRO) e estetoscópio Rappaport Premium.

    A PA foi aferida após dez minutos de descanso em posição sentada com as pernas descruzadas, a participante apoiou o membro superior esquerdo (de preferência) no nível do coração. Foi ajustado o manguito e em seguida palpado o pulso radial e inflado o manguito até que perca a sensibilidade do pulso radial; após, a parte diafragmática do estetoscópio foi colocada sobre a artéria braquial. A Pressão Arterial Sistólica – PAS (máxima) é identificada observando no manômetro o ponto correspondente ao primeiro batimento regular audível e a Pressão Arterial Diastólica – PAD (mínima) ao ponto correspondente ao último batimento regular audível. Os valores pressóricos se dão por mmHG – milímetro de mercúrio.

    Para análise dos dados foi utilizada estatística descritiva com média, desvio padrão e maiores e menores valores utilizando o programa Excel do Office 2007. Para a análise das médias entre os grupos pré e pós-teste, foi aplicado o teste t de Student para amostras independentes, com nível de significância p≤ ou = 0,05.

    No programa de emagrecimento havia 33 participantes diagnosticadas como hipertensas, estas foram convocadas para um encontro onde foi explicado o funcionamento da pesquisa. Depois de esclarecidas sobre a pesquisa, aceitaram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa respeitou os preceitos éticos recebendo aprovação no comitê de ética da Universidade do Extremo Sul Catarinense sob o protocolo número 134/2009.

Resultados e discussão

    Segue os resultados e a análise dos dados coletados no programa de emagrecimento. Os dados da amostra foram categorizados e podem ser vistos no quadro 1.

Quadro 1. Características da amostra

    Para classificação do IMC, os dados foram obtidos nas fichas de acompanhamento do profissional de Educação Física responsável pelo programa de emagrecimento, e a média obtida foi de 31,9 kg/m² classificado-as como obesas de grau I. No qual para ser classificado como obeso o indivíduo precisa de um IMC igual ou superior a 30kg/m² (OMS, 2006).

    Com relação ao conhecimento sobre a patologia 79% das mulheres entrevistadas relataram que tem informações sobre o assunto, mas observamos durante a entrevista que apesar do conhecimento elas não se preocupam com o tratamento. As participantes no qual responderam que desconheciam foram justamente as que não possuíam diagnóstico da patologia, portanto não sabiam em que consiste a HAS, conforme mostra a figura 1.

Figura 1. Conhecimento sobre a hipertensão arterial

    Devido à população pesquisada ser na grande parte hipertensas com diagnóstico, 71% das mulheres já utilizavam medicamentos anti-hipertensivos o que é um resultado muito satisfatório com relação aos cuidados com a saúde. Para os 29% que não possuíam prescrição para tratamento medicamentoso ou que negavam o tratamento (figura 2), foi esclarecido à importância do uso dos fármacos prescritos juntamente com as caminhadas orientadas e dieta adequada fornecida pelo programa de emagrecimento de modo que esta combinação pudesse refletir no estado de saúde das mesmas. Este grupo de 29% das mulheres após orientações da pesquisadora procuraram os serviços médicos para saber se havia a necessidade da prescrição do medicamento e as demais que antes não utilizavam passaram ao uso diário.

    É papel fundamental do enfermeiro o cuidado e a prescrição da assistência de enfermagem disposto no artigo 4º da lei 7.498/86, sendo que somente poderá ser exercido por indivíduos legalmente habilitados e inscritos no Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na área onde ocorre o exercício (COREN, 2009).

    Esta mudança de comportamento pode ser observada na figura 2.

Figura 2. Uso de tratamento medicamentoso

    Ficou evidente que após as orientações de enfermagem os valores mudaram atingindo 100%, no qual foi observado segundo relato das participantes, em razão da conscientização da importância do tratamento para o bem estar e saúde.

    O tratamento da pressão arterial do grupo pesquisado em geral consiste na utilização de diuréticos, hipotensor arterial e/ ou vasodilatador coronariano, algumas participantes fazem o uso combinado entre diurético e hipotensor arterial e/ou vasodilatador coronariano. Além desses medicamentos anti-hipertensivos, foi citado o uso de outros medicamentos para determinadas patologias associadas.

    No quadro 2 podemos observar a variedade de princípios ativos utilizados pelo grupo.

Quadro 2. Caracterização dos princípios ativos

    O uso destes medicamentos que são prescritos pelo médico, muitas vezes não é utilizado corretamente pelos pacientes hipertensos, os quais utilizam quando os sintomas da hipertensão promovem desconforto físico. Assim é de suma importância o acompanhamento da equipe de enfermagem continuamente à estes pacientes para orientações e controle da pressão arterial. Uma vez que o hipertenso deve ser aconselhado e motivado a se adaptar ao tratamento farmacológico e não farmacológico, realizando acompanhamento de suas co-morbidades sempre junto à equipe de saúde (Mantovani et al, 2008).

    Com relação à alimentação, após intervenção da nutricionista do programa, todas as participantes relataram dieta hipossódica, uso de frutas e verduras e ingesta hídrica adequada, aproximadamente 2000 mL diário. Indivíduos que ingerem no mínino dois litros de água por dia independente de suco ou outros tipos de líquidos, obterá um funcionamento adequado de todo o organismo (Ministério da Saúde, 2006). O uso insuficiente de frutas, verduras e hortaliças podem aumentar o risco de desenvolvimento de doenças crônicas como as cardiovasculares e algumas formas de câncer (Jaime et al, 2007).

    As participantes diabéticas referiram dieta especial para manutenção da saúde. Esse resultado provavelmente foi devido às orientações nutricionais oferecidas no programa de emagrecimento, orientações médicas recebidas quando iniciaram tratamento para HAS e também as orientações passadas pela pesquisadora durante a coleta de dados.

    Na entrevista quando questionadas sobre a percepção física e psicológica antes de ingressar no programa de emagrecimento e atualmente, relataram que antes sentiam muitas dores articulares, cansaço físico e auto-estima diminuída. Após iniciar os exercícios físicos com caminhadas orientadas, orientações de enfermagem e avaliação nutricional relataram maior condicionamento físico, melhora da auto-estima seguida de um círculo de amizades aumentado, o que pode influenciar na continuidade das participantes no programa de emagrecimento. Para maior compreensão segue algumas falas das participantes da pesquisa:

[...] agora estou bem, bem mesmo... sempre disposta. (Participante F)

[...] o programa me tirou do poço, agora estou muito melhor que antes. (Participante C)

[...] melhorei muito das dores e também do mau humor; agora tenho várias amigas. (Participante N)

[...] me sinto bem melhor, mais ativa e disposta, sem dores. (Participante H)

[...] com as caminhadas consegui diminuir a dose do remédio da pressão, estou mais disposta com muitas amigas. (Participante I)

    Estudos indicam que estes benefícios promovem qualidade de vida, relacionamento interpessoal e autonomia (Oliveira & Ciampone, 2006).

    Em uma população como a do estudo, a hipertensão juntamente com a obesidade podem aumentar as chances de o indivíduo desenvolver hipercolesterolemia, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e algumas formas de câncer conhecidos como co-morbidades associadas aos riscos cardiovasculares (Giganti et al, 2007; Terres et al, 2006).

    Com relação aos fatores de riscos, pode-se observar que as participantes possuem mais riscos familiares quando comparado aos fatores de riscos pessoais, exceto na obesidade. Relacionado aos fatores de riscos pessoais, foram orientadas quanto suas complicações e formas de tratamento a fim de atenuar complicações futuramente.

Quadro 3. Fatores de risco pessoais e familiares

    Aproximadamente 32% da população brasileira apresenta sobrepeso, sendo que o sexo feminino se destacou. A obesidade foi encontrada em 8% da população brasileira. Para o diabetes mellitus, a prevalência ajustada por idade (30-69 anos) foi de 7,6%, com variação de 5 a 10% de acordo com a capital brasileira avaliada (IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias, 2007).

    Os achados médios para exames bioquímicos apresentaram estado de alerta, ou seja, os resultados estão no limítrofe do recomendado em literaturas com no Adult Panel III of the National Cholesterol Education Program fica recomendado para indivíduos maiores de 20 anos de idade os seguintes valores de referência para perfil lipídico expressos em mg/dL: colesterol total <200, HDL – colesterol >60, LDL – colesterol <100, triglicerídeos <150 (Alves & Lima, 2008).

    Quanto ao HDL – colesterol o recomendado é >60 mg/dL, porém na pesquisa a média ficou 46,3 mg/dL, isso não quer dizer que as participantes estão abaixo do recomendo pois esse tipo de colesterol quanto maior seu nível plasmático maior proteção cardiovascular o indivíduo terá, ou seja, o ideal é conseguir manter o nível do HDL – colesterol acima de 60 mg/dL e o LDL – colesterol abaixo de 100 mg/dL.

Quadro 4. Achados bioquímicos do grupo de estudo no início da pesquisa

    A atividade física regular constitui medida auxiliar para o controle das dislipidemias e tratamento da doença arterial coronária. A prática de exercícios físicos aeróbios promove redução dos níveis plasmáticos de triglicerídeos, aumento dos níveis de HDL- Colesterol, porém sem alterações significativas sobre as concentrações de LDL- Colesterol (IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias, 2007).

    Os valores da pressão arterial obtida durante o estudo são apresentados em quadro (quadro 5) para permitir melhor observação dos resultados.

    As participantes que obtiveram ótimos resultados onde p<0,05, realizaram as caminhadas orientadas três vezes por semana ou mais, seguiram as orientações de enfermagem, nutricional e uso correto do tratamento medicamentoso. Os exercícios físicos para favorecerem mudanças em níveis pressóricos devem ser realizados de três a seis vezes por semana, em sessões de duração de 30 a 60 minutos com orientações de profissional (Terres et al, 2006). O exercício físico adotado ao longo do curso da vida contribui para a prevenção e para a reversão de limitações funcionais. Isso é particularmente importante ao considerar-se o aumento da expectativa de vida e, conseqüentemente, o crescimento da população idosa no Brasil (Ministério da Saúde, 2006).

    As participantes que não obtiveram resultado significativo nos níveis pressóricos foram as mulheres que fazem uso de levotiroxina, ou seja, hormônio tiroidiano no qual uma de suas reações adversas é o aumento da pressão arterial (Dicionário de Administração de Medicamentos na Enfermagem, 2006), e também foram resistentes quanto as orientações de enfermagem e ao uso do medicamento diariamente, realizaram o uso correto no início da pesquisa mas abandonaram o hábito mais tarde e só aceitaram acompanhar a dieta oferecida pelo profissional nutricionista após compreenderem a importância da alimentação saudável para manutenção do peso e níveis pressóricos, assim, a coleta de dados não apresentou significância.

    Conforme proposto no objetivo específico, foi aplicado para as participantes uma palestra educativa onde a pesquisadora abordou a diferença entre pressão arterial e hipertensão arterial, causas e sintomas da patologia, cuidados especiais para aferição da pressão arterial, formas de tratamento e complicações da patologia. A exposição teve duração de aproximadamente 60 minutos e durante houve esclarecimento de dúvidas das participantes. Conforme relato das participantes, a palestra foi produtiva, pois ficaram mais esclarecidas quanto ao assunto podendo assim transmitir essas informações a seus amigos e familiares.

    O estudo não conseguiu avaliar o efeito do exercício físico sobre a pressão arterial destas mulheres, e ressaltamos que estas já faziam parte do programa de emagrecimento há pelo menos três meses e só foi assim observado melhora significativa nos níveis pressóricos após a intervenção de enfermagem.

Considerações finais

    O exercício físico trouxe ótimos resultados onde seu benefício apresentou diminuição de dores articulares, melhora da auto-estima e aumento do círculo de amizades e juntamente com orientações de enfermagem houve melhora nos níveis pressóricos. Embora não tenha sido observado efeito direto na PAD, salientamos que na PAS houve um efeito significativo, devido à assistência de enfermagem para as participantes já diagnosticadas que não realizavam o tratamento medicamentoso corretamente e àquelas que não sabiam que eram portadoras da patologia buscaram auxílio médico para iniciar tratamento medicamentoso diariamente para manutenção dos níveis pressóricos.

Referências bibliográficas

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