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Corpo saudável ou corpo estético? Discussões sobre as possíveis 

influências das mídias na ocorrência de distúrbios alimentares

¿Cuerpo saludable o cuerpo estético? Debates sobre las posibles influencias de 

los medios de comunicación en el surgimiento de trastornos de la alimentación

Healthy body or aesthetics body? Discussion on the possible influences of the medias in the events of food disorders

 

*Professor graduado pela Faculdade do Futuro

**Professora de Educação Física, graduada pela Faculdade do Futuro

***Coordenadora e professora do curso

de Educação Física da Faculdade do Futuro

(Brasil)

Prof.° João Antonio Pereira*

joao_efi@yahoo.com.br

Prof.ª Valquíria Moreira da Cruz**

val_mtm@hotmail.com

Prof.ª Ms. Scheila Espindola Antunes***

scheila_antunes@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O corpo humano, muitas vezes objeto de desejo, desde muito cedo na história da humanidade assumiu diferentes papéis e funções sociais, valorativas e educacionais. O corpo já foi e é estudado de maneiras diversas, complexas e até mesmo contraditórias. Já foi dissecado para que se pudesse compreender o que nele há e como funciona; já se analisou a mente para tentar-se compreender os mecanismos que comandam o corpo; já se discutiu o corpo como sede de signos sociais, etc. Hoje ele assume características ainda mais complexas, que por vezes o classificam como a “morada” da vontade e dos desejos do homem, por outras como o cárcere privado que aprisiona uma alma incompatível com o corpo que habita; e ainda como objeto de desejo relativo ao consumo. Atualmente existe um mercado disposto a oferecer possibilidades variadas à transformação do corpo “normal” em corpo “belo”, conforme os ditames da indústria da moda e das mídias. O desejo pela “aquisição” desse corpo “belo” faz com que cada vez mais pessoas busquem alternativas absurdas de transformação do corpo que acabam colocando a saúde em risco, desencadeando patologias como bulimia e anorexia, doenças já comuns em alguns grupos sociais tais como, mulheres, adolescentes de ambos os gêneros, modelos, etc. Envoltos por tais questões, e conscientes de que a educação física possui papel importante como mediação na formação de conceitos e opiniões de crianças e adolescentes na escola, fomos mobilizados a refletir sobre os diferentes papéis que as mídias atuais podem estar assumindo nesse processo de busca pelo corpo instituído, pela moda e pelas mídias, como sendo “belo” a qualquer custo. Acreditamos que tais reflexões poderão contribuir para que outros professores de educação física possam repensar suas práticas pedagógicas na escola para a discussão sobre corpo, saúde e beleza.

          Unitermos: Corpo. Saúde. Estética/Beleza. Distúrbios alimentares. Educação Física.

 

Abstract

          The human body, often the object of desire, from early in human history has taken different roles and social functions, educational and evaluative. The body has been and is studied in diverse, complex and even contradictory. It has been dissected for people to understand what it is and how it works and is already considered the mind to try to understand the mechanisms controlling the body, has already discussed the body as the seat of social signs, etc. Today he takes on even more complex features, which are sometimes classified as the "address" the will and desires of man, like other private prison that imprisons the soul incompatible with the body it inhabits, as well as objects of desire on consumption. Currently there is a market willing to offer varied possibilities for processing the body "normal" body "beautiful", according to the dictates of the fashion industry and the media. The desire for "acquisition" of that body "beautiful" makes more and more people seek alternatives absurd transformation of the body that end up putting their health at risk, causing diseases such as anorexia and bulimia, diseases that are common in some social groups such as women, teenagers of both sexes, models, etc. Surrounded by such issues, and aware that physical education plays an important role as a mediator in the formation of concepts and opinions of children and adolescents in school, we were mobilized to reflect the different roles that the media today can be assumed that the search process by body set up by the fashion and the media as being "beautiful" at any cost. We believe that these considerations may contribute to other physical education teachers to rethink their teaching practices in school for the discussion of body, health and beauty.

          Keywords: Body. Health. Aesthetics/Beauty. Eating disorders. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Nosso corpo é, antes de tudo, nosso primeiro e maior mistério. Para estarmos realmente presentes no mundo, é preciso reconhecer que somos um corpo em sua imensidão de complexos processos que nos fazem ricos em sua consciência e inconsciência desconcertantes e pragmáticas e em suas atitudes, que são sempre corporais (BARROS, 2005, p:551).

    Historicamente, o corpo apresentava funções diferenciadas das de hoje. Havia mais um olhar funcionalista do que ideológico, isto é, o corpo era visto como uma ferramenta que deveria ser utilizada e preparada para uma finalidade, quase sempre, para o trabalho. Atualmente, acompanhamos uma crescente preocupação da população em geral com questões que envolvem saúde e estética relativas ao corpo. Uma preocupação que vem acompanhada de uma forte e crescente valorização da forma corporal o que promove o aumento pela busca por corpos considerados belos, dentro dos padrões sociais que definem o que é ou não considerado belo em relação ao corpo.

    Outra questão muito comum em tempos atuais, em relação a esse assunto, é a forma como saúde e beleza são tratados como conceitos tão próximos que, por vezes, chegam até mesmo a serem compreendidos como sinônimos. O que sabemos não ser verdade. Saúde não é sinônimo de beleza assim como o inverso também não pode ser admitidos como verdadeiro. Um corpo adequadamente encaixado nos padrões de beleza atuais, na maioria das vezes, não se revela um corpo saudável. Situação muito comum para modelos fotográficas e/ou de passarelas.

    Na maioria das sociedades contemporâneas ocidentais, a forma física e a aparência que ela revela funcionam como marcas sociais importantes na classificação e hierarquização dos estilos de vida, bem como de ascensão social e afetiva (DAMICO & MAYER, 2006). Podemos perceber isso quando, por exemplo, entramos em uma academia. É notável a procura de muitas pessoas por um corpo que seja considerado belo, isso é, um corpo malhado e livre de gordurinhas indesejáveis, e ainda classificam um corpo bonito sendo alto, sarado, sem rugas, estrias ou celulites, totalmente estereotipado pela chamada indústria da beleza.

    Mas há aqueles que acreditam que um corpo saudável e bonito seja o resultado da junção de uma boa alimentação, atividade física e qualidade de vida, sendo que a imagem, a beleza, é algo subjetivo, aberta a interpretações. Para essas pessoas, a beleza seria o resultado do equilíbrio entre esses requisitos, juntamente com as atividades internas e externas, o que refletiria não só na sua imagem, mas na aceitação da própria pessoa pelo o seu corpo.

    Aos que não compartilham essas idéias e ainda buscam rápidos resultados, uma das formas mais usadas e buscada para tal satisfação, é através de cirurgias e remédios que aumentem o rendimento e eficácia em certos tratamentos, sendo que através de avanços tecnológicos e científicos, muitas vezes, esse se torna o caminho mais fácil. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o Brasil registrou 1.252 cirurgias estéticas por dia entre setembro de 2007 a agosto de 2008, sendo que ao todo foram 547 mil cirurgias deste tipo durante esse período

    Implantes, próteses, cirurgias, uso de substâncias que aumentem a massa muscular e diminuem o peso, são aliados à musculação para que se adquira um corpo mais forte e com músculos mais definidos. O uso dessas substâncias representa um risco para essas pessoas, sendo que aliado ao desejo de transformação do corpo, é o que vêm definindo as práticas corporais, com a possibilidade de se escolher um corpo.

    Falar de risco de alterações do corpo por meio de substâncias ou práticas especializadas é contar a história do corpo. É olhar para a história por meio dele e antes de tudo problematizar uma prática corporal, um fazer do corpo que envolve não só sentidos para quem consome as várias substâncias oferecidas para essas práticas. Nesse caso especificamente o corpo serve de suporte e de metáfora para o risco (GUZZO, 2005, p:141).

    E ainda segundo Guzzo (2005), os riscos oferecidos pelas tecnologias nos fazem pensar num corpo artificial, envolvidos numa construção cotidiana, mesclado na forma de imagens, produtos, propagandas, vinculados por diferentes meios e por diversas formas.

    Assim, podemos pensar que o corpo quando modificado, acaba somente transparecendo o que os outros esperam, numa forma de aceitação, podendo ser modificado a qualquer hora para atingir um objetivo social, como um palco para a existência daquela pessoa.

    O corpo, portanto, transforma-se em um palco de imagens corporais construídas. E as descobertas que temos de nós mesmos vão se revelando a partir do instante em que nos reconhecemos como um ‘ser’ que reage às diversas inter-relações estabelecidas pelos mesmos corpos que tentam realizar a busca pela compreensão da existência de imagens – a busca por sua própria existência (BARROS, 2005, p: 553).

    E diante desse novo papel do corpo, a aceitação e em contraposição, a insatisfação, passou a levar muitas e diferentes pessoas a buscarem formas de modificá-lo, e assim, torná-lo mais atraente e vistoso perante a sociedade. E que pela incessante busca do corpo perfeito, muitos problemas podem surgir, como os distúrbios alimentares. Dentre eles podemos destacar a anorexia e a bulimia, que acabaram sendo pautas de programas e documentários. E por ser um tema tão em voga na mídia e com pesquisas relacionadas, nota-se a importância e necessidade de informar a população sobre o risco que correm quando não se pensa nas conseqüências desses atos.

    Nessa conscientização, entra o profissional de Educação Física, sendo uma disciplina que tem no corpo o principal objeto de estudo. Estuda-o em toda a sua amplitude, seja em seus movimentos e/ou representações, pode desenvolver um trabalho, diretamente, com pessoas que estão sendo formadas para assumirem papéis nessa sociedade, ou seja, os seus alunos. Como área de saúde, tem sido influenciada por um modelo cartesiano de ciência, que pensa o homem e suas ações numa forma reduzida do sujeito a objeto de estudo e pesquisa (FREITAS et. al., 2006, p:170), e assim dicotomiza a relação corpo e mente, supervalorizando a mensuração e comprovação de dados (KOYRÉ apud FREITAS et. al., 2006, p:170).

    Mas, quanto às práticas corporais que envolvem um corpo belo e saudável, é a preciso considerar os sujeitos sob um novo olhar, em um deslocamento do olhar para o “outro”, compreendendo assim a sua dinâmica de vida, e assim, atribuir significados às suas práticas corporais e para o modo de como lidam com as influências da mídia quando se busca um corpo que se enquadre nesse novo padrão. E para isso é preciso formar um pensamento crítico, questionador, para podermos perceber até quando tais práticas são válidas e não viram obsessões, que acabam nos levando a um culto ao corpo, gerando riscos consideráveis a vida, sem deixar de considerar que:

    A sociedade em que vivemos sustenta um bombardeio de informações vindas dos meios de comunicação, de modo a nos lembrar de uma necessidade contemporânea, a de cuidados com o corpo. Se os “cuidados” são bons ou prejudiciais, não vem ao caso. Pois o duplo, “autômato + eu”, acaba definindo o que são e o que não são os “cuidados” segundo práticas integradas em uma sociedade em que tudo é feito para ser visto, já que o corpóreo é de suma importância” (GHIRALDELLI JR., 2007, p:13).

    Sendo que nesse trabalho, onde a sociedade seria também discutida, as aulas de educação física podem oportunizá-los a discussão sobre práticas saudáveis e cuidados com o corpo, para que assim, formem um pensamento crítico e não sejam somente influenciados e levados por idéias e padrões que surgem constantemente.

    Sendo assim, o presente ensaio teórico visa demonstrar a importância de profissionais da área da saúde, em especial, aqueles atuantes na escola, terem consciência educacional para que em suas práticas pedagógicas difundam valores voltados para o desenvolvimento de hábitos saudáveis em relação ao corpo, valorizando o cuidado à vida. Por isso, buscou-se por meio deste ensaio refletir sobre como as pessoas vêem o próprio corpo e de como elas, buscam e fazem uso de práticas, das mais diversas, para modificar o corpo que possuem. Refletir e discutir também: práticas utilizadas para a modificação do corpo em decorrência de níveis variados de insatisfação corporal; os riscos assumidos e possíveis patologias desenvolvidas a partir de tais práticas; o papel educacional e social do professor de educação física em suas aulas na escola e, a necessidade de serem repensadas as práticas pedagógicas na escola em torno dessa temática: educação para a saúde do corpo e não para a ‘fabricação’ da beleza no corpo.

    Para compor as discussões e reflexões apresentadas neste ensaio teórico utilizamos como fontes de informação e conhecimento, revistas acadêmico-científicas, livros, sites e periódicos on line. Como tópicos de discussão deste ensaio: As Mídias e o desejo do Corpo “Sarado”, Distúrbios Alimentares e Psicológicos, seguidos das Considerações Finais.

As mídias e o desejo do corpo “sarado”

    As mídias tem se mostrado grandes aliadas na divulgação das muitas estratégias e métodos para que as pessoas possam buscar um corpo mais belo e esculpido, enquadrando-se nos requisitos apresentados pela indústria da moda. Dietas, ginásticas e produtos que auxiliem de um modo geral essa busca, passaram a fazer parte de diversos programas televisivos e ganham. Progressivamente, muitas publicações especializadas. Os vários meios de comunicação de massa, como jornais, programas televisivos, programas de rádios e até mesmo as mídias sociais como panfletos, flyers, malas diretas e outdoors, difundem diferentes informações diariamente com um poder de penetração, em maior ou menor grau, na vida das pessoas. Dentre os conteúdos divulgados há diferentes possibilidades do corpo ser inserido nas mensagens veiculadas. Seja como pano de fundo de um outdoor, seja como imagem central. Assim, a fixação de padrões corporais acaba se instaurando no cotidiano das pessoas sem ao menos que elas possam perceber. Assim, as mídias conseguem, por meio da fixação da imagem, determinar e propagar padrões e valores corporais que acabam sendo tomados, literalmente incorporados, como certos pela população. A mídia imprime padrões de corpos tidos como ideais a serem seguidos e ainda disponibiliza meios para alcançá-los (MOL e PIRES, 2007, p:32).

    Mas como numa relação com trocas de informações, ao mesmo tempo em que a mídia nos transmite a imagem desses corpos belos e saudáveis, também denuncia os fast food e o uso de produtos ilícitos na busca desses padrões corporais.

    Os meios de comunicação veiculam ou produzem notícias, representações e expectativas nos indivíduos com propagandas, informações e noticiário em que de um lado estimulam o uso de produtos dietéticos e práticas alimentares para emagrecimento e, de outro, instigam ao consumo de lanches tipo fast food (SERRA e SANTOS, 2003, p:55).

    Em busca desses padrões corporais, muitas pessoas fazem o uso de tais práticas não recomendáveis e ainda, criticadas por profissionais éticos e competentes, para alcançarem seus objetivos. Fazem o uso de drogas como esteróides anabolizantes, que podem gerar graves doenças, ou passam a seguir conselhos errôneos podendo gerar assim distúrbios como bulimia, anorexia e vigorexia e assim, colocam a própria vida em risco.

    Hoje um dos meios midiáticos em que muitas pessoas têm acesso, é a Internet. Todo dia, milhões de pessoas ficam conectados a esse meio onde a busca e troca de informações é constante. Podem-se encontrar inúmeros sites com dicas e truques para cuidar do corpo, e assim, obter um corpo bonito. Dicas de exercícios, dietas, e até mesmo remédios que ajudem a emagrecer são encontrados com facilidade.

    Hoje, moldar o corpo é uma atitude cada vez mais comum entre as pessoas, podendo aumentar ou diminuir partes do corpo através de diversos métodos como por exemplo: esteróides anabólicos (aumento da massa corporal), cirurgias plásticas (implantes, lipoaspiração, lipoescultura, etc.), tatuagens, piercings e cosmético ( FRANCO & NOVAES, 2005, 125).

    Existem também muitas publicações que tratam o tema CORPO em suas produções. Muitas trazem dicas de dietas, mas também ensinam a buscar essa beleza sem práticas exageradas e colocando em risco a própria vida, apenas com dicas de saúde, bem-estar e truques de maquiagem e moda para que a pessoa se sinta melhor perante os outros. Se sentir melhor perante os outros é muitas vezes o que fazem tantas pessoas buscarem esse corpo ideal, uma questão de aceitação.

    Em sites de relacionamento, também é fácil encontrar comunidades em que o corpo seja o centro das discussões. E são muitas as pessoas que se identificam com isso. Podemos destacar duas comunidades de um site de relacionamentos: uma intitulada Corpo Perfeito, que possui 27.090 membros e a outra Pão e Água, com 228 membros. As pessoas que participam da primeira comunidade discutem e trocadas idéias sobre como conseguir e manter um corpo perfeito, por meio de exercícios, alimentação, musculação, remédios, etc. Na segunda comunidade citada, os participantes (na maioria meninas) relatam loucuras que já fizeram para emagrecer. É comum dizerem que ficaram muitos dias em jejum, ingerindo detergentes e outros produtos para provocar o vômito, fazendo uso de medicamentos tarja preta de uso controlado sem o menor auxílio e acompanhamento médico. Há relatos de pessoas que ingerem remédios para dormir em altas doses para manter-se o maior tempo possível dormindo, assim não ingerem alimentos e conseguem reduzir o peso corporal.

    A disseminação dessas informações principalmente para os jovem coloca a vida de muitos em risco, pois podem prejudicar sua saúde para a conquista desses corpos propagados pela mídia.

    Neste contexto, vemos a mídia como uma instância onde o poder se exercita. Ela educa, disciplina e regula os corpos como qualquer outra instância educativa. Atualmente, uma sofisticada "maquinaria pedagógica", incluindo aí revistas, jornais, programas de TV, filmes, músicas, esportes e publicidade, amplia e complexifica a educação dos corpos (NIEMEYER & KRUSER, 2008, p:12).

Distúrbios alimentares e psicológicos

    Os distúrbios alimentares são responsáveis pelos maiores índices de mortalidade entre todos os tipos de transtornos mentais, ocasionando a morte em mais de 10% dos pacientes (VILELA, 2009).

    A grande maioria - mais de 90% - daqueles que sofrem de transtornos alimentares são mulheres adolescentes e jovens. Uma das razões pelas quais mulheres dessa faixa etária são mais vulneráveis a esses transtornos é a tendência de fazerem regimes rigorosos para obterem a silhueta "ideal".

Anorexia

    Alves et. al. (2008) descreve a anorexia nervosa como uma condição psiquiátrica, cujos sintomas surgem mais freqüentemente na adolescência. Acrescenta ainda que características dessa patologia sejam a recusa de alimento, a preocupação exagerada com o peso corporal, distorção da própria imagem alem da negação da patologia.

    Relatos de Niemeyer e Kruser (2008) demonstram que a Anorexia Nervosa é um distúrbio alimentar gerado por uma preocupação excessiva no que se refere à forma física e ao peso corporal, o que acarreta nos adolescentes, principalmente do sexo feminino, a adoção de hábitos inadequados para a redução de peso corporal. Atos esses como jejum, dietas mirabolantes, excesso de atividade física e etc.

    A anorexia nervosa (AN) pode ser definida como um transtorno do comportamento alimentar onde encontramos restrições dietéticas auto-impostas e padrões extravagantes de alimentação, acompanhados de acentuada perda de peso. Essa perda ponderal, além de ser induzida, é também mantida pelo paciente em virtude de ele apresentar um temor intenso e injustificável de engorda e de se tornar obeso a qualquer momento (SILVA 2005, p. 55).

    Ainda Silva (2005) nos lembra da existência de dois tipos diferentes de anorexia, o primeiro a Anorexia Restritiva, que é caracterizada pela redução e/ou controle de peso apenas com restrições alimentares e exercícios físicos em excesso, e o segundo, a Anorexia Bulimica, quando após a ingestão de uma significativa quantidade de alimento, provoca-se vômitos ou utilizada-se de doses abusivas de laxantes, diuréticos e moderadores de apetite.

    A anorexia é classificada como um transtorno alimentar, e na grande maioria suas vítimas são mulheres jovens, com idade entre 15 a 20 anos, e que se apresentam excessivamente preocupadas com a aparência e mais sensíveis às influências dos padrões de beleza em vigor para firmar sua personalidade. A doença também ataca mulheres na faixa dos 30 e raramente as acima dos 40. Porém não quer dizer que a adolescente que adora estar na moda esteja sujeita a manifestar o problema, podendo ainda causar um desgaste emocional, debilitar os órgãos, provocar distúrbios associados à desnutrição, danos ao aparelho digestivo quando há vômitos constantes e arritmias cardíacas.

Bulimia

    Segundo Silva (2005), a bulimia nervosa, foi considerada durante muito tempo apenas como um sintoma e não como uma patologia, esse era descrito como o apetite exagerado de um indivíduo após uma ingestão de grandes quantidades de alimentos. Inicialmente a bulimia foi descrita como uma variação da anorexia nervosa, a denominação bulimia só passou a fazer parte da literatura médica em 1979, quando, Gerard Russel fez o uso da mesma para descrever um transtorno mental com mudanças do comportamento alimentar caracterizado pela perda do controle de ingestão de alimentos.

    Segundo Vilela (2009) pessoas com bulimia nervosa ingerem grandes quantidades de alimentos e depois eliminam o excesso de calorias através de jejuns prolongados, vômitos auto-induzidos, laxantes, diuréticos ou na prática exagerada e obsessiva de exercícios físicos.

    Devido ao "comer compulsivo seguido de eliminação" em segredo, e ao fato de manterem seu peso normal ou com pouca variação deste, essas pessoas conseguem muitas vezes esconder seu problema das outras pessoas por anos.

    Assim como a anorexia, a bulimia caracteristicamente se inicia na adolescência. A doença ocorre mais freqüentemente em mulheres, mas também atinge os homens.

    Ainda a Vilela (2009) relata que pessoas que desenvolvem bulimia quase sempre consomem enormes quantidades de alimentos, geralmente sem valor nutritivo, para diminuir o estresse e aliviar a ansiedade. Entretanto, com a extravagância alimentar, surge a culpa e a depressão.

    Pessoas com profissões ou atividades que valorizam a magreza, como modelos, bailarinos e atletas, são mais suscetíveis ao problema.

    Relata ainda que os principais sintomas de uma pessoa que desenvolve a bulimia são caracterizados pela interrupção da menstruação, que quando ocorre por um longo período pode levar à infertilidade; um interesse exagerado por alimentos e desenvolvimento de estranhos rituais alimentares; o hábito de comer em segredo; uma obsessão por exercício físico, depressão, ingestão compulsiva e exagerada de alimentos; vômitos ou uso de drogas para indução de vômito; evacuação ou diurese; uma alimentação excessiva sem nítido ganho de peso.

Vigorexia

    Talvez o menos conhecido dos distúrbios seja a vigorexia. Ela se manifesta, com maior freqüência em homens, apesar do crescente número de mulheres com esse tipo de distúrbio. A vigorexia também é conhecida como Síndrome de Adônis ou over training. Acredita-se que um dos fatores pelo desconhecimento desse distúrbio é que ele ainda não é catalogado como doença.

    As principais características deste distúrbio são a vergonha do seu próprio corpo e a utilização de fórmulas "mágicas" para ficarem mais fortes (anabolizantes, esteróides, etc.). Estas pessoas são obcecadas com algumas partes dos seus corpos e passam imenso tempo à frente do espelho (MENDES, 2009, p: 25).

    Prado (s/d) relata que pessoas que desenvolvem o transtorno, mesmo fortes e musculosos se vêem magros, aumentam a carga de exercícios e algumas vezes passam a usar esteróides anabolizantes para aumentar a massa muscular. A vigorexia associa beleza com músculos definidos e é um transtorno vinculado a problemas de personalidade. Conseguir um corpo perfeito é prioridade para milhões de pessoas ao redor do mundo que querem ficar dentro dos padrões de beleza estabelecidos pelo cinema, moda, televisão, publicidade, amigos, etc., e transformam esse objetivo em escravidão. Segundo Mendes (2009), pessoas que sofrem deste problema possuem pensamentos de obsessão, e executam rituais repetitivos diante do espelho, onde a sua mente lhes proporcionem uma imagem distorcida da sua realidade.

    A Vigorexia, mais comum em homens, se caracteriza por uma preocupação excessiva em ficar forte a todo custo. Apesar dos portadores desses transtornos serem bastante musculosos, passam horas na academia malhando e ainda assim se consideram fracos, magros e até esqueléticos. Uma das observações psicológicas desses pacientes é que têm vergonha do próprio corpo, recorrendo assim aos exercícios excessivos e à fórmulas mágicas para acelerar o fortalecimento, como por exemplo os esteróides anabolizantes (BALLONE, 2004).

    Mendes (2009) ainda relata algumas conseqüências geradas pela vigorexia, como, a insônia, falta de apetite, problemas circulatórios, irritabilidade, redução dos níveis de testosterona, desinteresse sexual, fraqueza e cansaço constante, dificuldade de concentração, problemas de fígado, problemas nos ossos e nas articulações devido ao peso excessivo no treino.

Considerações finais

    Com o presente estudo foi possível compreendermos um pouco mais sobre algumas das patologias desenvolvidas nas pessoas atualmente por conta de uma busca incessante por formas corporais admitidas como belas. O desenvolvimento de algumas patologias é decorrente da inquieta busca por um corpo “perfeito” encabeçada pela insatisfação corporal que se instaura nas pessoas a partir do momento em que os meios de comunicação de massa divulgam, diariamente, em todas as suas redes de comunicação, imagens de corpos esbeltos, magros, esguios e mensagens que atribuem a beleza como condição primordial para a saúde corporal.

    Esse movimento, de (de)formação de conceitos sobre saúde e estética em torno do corpo incentiva as pessoas a buscarem, cada vez mais, alternativas que possam lhes oferecer condições de moldar seus corpos ao padrão de beleza corporal instituído socialmente. Como vivemos num mundo que possui um aceleramento da vida cotidiana, provocado pela inserção massiva de telefones celulares, internet e demais tecnologias comunicacionais, as pessoas buscam resultados que sejam igualmente rápidos. Isso promove nelas um estado de desespero que as permite cometer verdadeiras atrocidades com seus corpos, tudo em busca de uma transformação rápida de seus corpos aos moldes da sociedade da beleza e do consumo.

    Como professores de educação física, mesmo inseridos no cotidiano escolar com propósitos mais voltados à formação de sujeitos cidadãos capazes de exercer tal cidadania, temos também um alto comprometimento com a formação de conceitos e opiniões de nossos alunos em relação à temática explorada por este ensaio. É preciso que nos dediquemos a repensar nossas práticas pedagógicas no sentido de discutirmos como estamos, efetivamente, contribuindo para a formação crítica de nossos alunos e alunos. Como estamos contribuídos para que esses sujeitos se tornem ao menos pouco influenciáveis pelos discursos e narrativas da ditadura do corpo perfeito que tem se propagado impunemente pelas redes sociais atuais.

    É papel da escola, dos professores e da educação física, dentro e fora da escola, cuidar do corpo, não apenas do aparelho corporal que cada ser humano possui, mas da representação social e humana que esse corpo possui e tudo aquilo que ele representa para o sujeito homem que o habita. Rever conceitos e definições do que é corpo; corpo espaço de morada do homem, espaço de representação social, corpo que vive, sente e manifesta a presença do ser humano no mundo. O corpo que temos é o corpo que somos, será preciso muda-lo? Porque? Por quem? Para quem?

Referências bibliográficas

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  • DAMICO, J. G. S. & MEYER, D. E. O corpo como marcador sócia: saúde, beleza e valoração de cuidados corporais de jovens mulheres. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. v 27, n.3. Campinas/SP: CBCE, Maio, 2006 (p.103-118)

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  • GHIRALDELLI JR., P. O corpo: filosofia e educação. São Paulo: Ática, 2007.

  • GUZZO, M. Riscos da beleza e desejos de um corpo arquitetado. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. v.27, n.1. Campinas/SP: CBCE, setembro, 2005 (p.139 – 152).

  • MENDES, S. Vigorexia, Anorexia e Bulimia: três problemas do século XXI. http://www.desportosdeginasio.com/areas/artigo.asp?area=6&IDconteudo=148&IDsubarea=24 Último acesso em 11/02/2010.

  • NIEMEYER, F.; KRUSE, M. H. L. Constituindo sujeitos anoréxicos: discursos da Revista Capricho. Revista Textos e Contextos. Vol. 17 n.03. Florianópolis: julho/setembro, 2008 (p:102-110).

  • PIRES, G. D. L.; MÓL, M. da C. SAÚDE E ESTÉTICA NA MÍDIA IMPRESSA BRASILEIRA: um estudo sobre o tema nas revistas VEJA, ÉPOCA e ISTO É. www.nepef.ufsc.br/labomidia/arquivos/producao/2006/melcadernolce.pdf. Último acesso em 24/03/2009.

  • SERRA, G. M.A. Saúde e nutrição na adolescência: o discurso sobre dietas na Revista Capricho. [Dissertação de Mestrado]. Fundação Oswaldo Cruz: Escola Nacional de Saúde Pública, 2001

  • SILVA, A. B. B. Mentes insaciáveis. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

  • VILELA, A. L. M. Distúrbios Alimentares. www.afh.bio.br/digest/digest5.asp Último acesso em 15 /05/ 2009.

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