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Pista de cordas: uma proposta de 

intervenção de atividade física para adolescentes

Circuito de sogas: una propuesta de intervención de actividad física para adolescentes

Track hopes: a proposal for a physical activity intervention for adolescents

 

* Graduanda/o em Ciências da Atividade Física pela USP

** Professor Doutor pela Universidade de São Paulo

***Pós Graduado em Psicologia Política

com aplicação à Atividade Física pela USP

Mestrando em Participação Política pela USP

(Brasil)

Renata Ferreira*

renat.ferreira@usp.br

Simone Ferraz*

sciferraz@gmail.com

William Cloudes Galhardo*

galhardowilliam@gmail.com

Marco Antonio Bettine de Almeida**

marcobettine@gmial.com

Eduardo Mosna Xavier***

eduardo.xavier@usp.br

 

 

 

 

Resumo

          Programa de atividade física para adolescentes realizado através de dinâmicas e de exercícios específicos com cordas, com fulcro no desenvolvimento e aperfeiçoamento de habilidades motoras relacionadas ao equilíbrio e coordenação motora, bem como atividade aeróbicas. Como resultado, foi vislumbrada a possibilidade de desenvolvimento contínuo dessas atividades para adolescentes que vivem em ambientes de vulnerabilidade social, em virtude do custo benefício proporcionado no programa.

          Unitermos: Adolescentes. Cordas. Exercício. Atividade física.

 

Abstract

          Programme of physical activity for adolescents conducted through dynamic and specific exercises with ropes, with the fulcrum in the development and improvement of motor skills related to balance and coordination, as well as aerobic activity. As a result, we envisioned the possibility of continued development of these activities for teenagers who live in environments of social vulnerability, because of the cost benefits to the program.

          Keywords: Adolescents. Ropes. Exercise. Physical activity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Discussão sobre as atividades práticas

1.     Comando Craw, Passeio do Macaco e Técnicas de Transporte de feridos em matas

    Os adolescentes forma divididos em vários grupos, com 04 (quatro) integrantes cada um. As atividade foram realizadas me 02 espaços distintos, à saber: uma pista em quadrilátero de, aproximadamente, 200 (duzentos) metros (local para deslocamentos utilizando as técnicas de transporte de feridos em regiões de matas) e um local onde foi estendida um corda dinâmica, contemplando 06 (seis) metros de extensão e 1,5 (um e meio) metro de altura. Cerca de 40 (quarenta) adolescentes realizaram as atividades propostas

    A atividade de transporte de feridos me região de matas tem como intuito não apenas ensinar técnicas que permitiam o socorro de pessoas em ambientes inóspitos como, também, permitir a realização de exercícios de resistência muscular localizada (membros superiores e inferiores), bem como resistência aeróbica (deslocamento com o sobrepeso, proporcionada pelo companheiro de atividade). Forma ensinadas as seguintes técnicas:

Transporte individual pelas costas

Fonte: http://www.portalenf.net/guide_16_Transporte-de-acidentados.html

Transporte individual pelo ombro

Fonte: http://escotismoempalavras.blogspot.com.br/2011/02/45-tecnicas-de-socorro-transportando-um.html

Transporte com “cadeira de braço”

Fonte: http://escotismoempalavras.blogspot.com.br/2011/02/45-tecnicas-de-socorro-transportando-um.html

    Os adolescentes, além de realizarem os movimentos de alavanca para o aprendizado da técnica, também tinham que se deslocar, ao menos, um vez com o sobrepeso do companheiro na pista, invertendo as funções após realizar 01 (uma) volta.

    A atividade de comando crawl / passeio do macaco, consistia na aplicação da técnica de abordagem na corda (através do giro lateral pela alavanca com a perna base de apoio), de forma a utilizar o próprio sobrepeso para subir na corda, realizando posteriormente (de forma individualiza) as seguintes propostas de transposição:

Comando Crawl

Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22847

Passeio do Macaco

Fonte: http://www.operacional.pt/os-54-anos-da-escola-de-tropas-para-quedistas-etp/

    Durante a realização das atividades, foi observado que a maioria dos adolescentes possuía uma baixa resistência muscular localizada, sobretudo, nas situações de realizarem a alavanca para aplicar técnicas de transporte de veículos, bem como na abordagem da corda (que, além de coordenação motora, também exige certa RML de membros inferiores e superiores). O Passeio do Macaco (que exige certa RML simultaneamente em membros inferiores e superiores) também constatou na prática uma situação factual deveras observada nessa faixa etária: o predomínio de atividades físicas aeróbicas em relação às anaeróbicas na escolha das modalidades esportivas, lúdicas, recreativas e de atividades físicas

    O fato doravante citado foi reafirmado pelo desempenho dos adolescentes nas propostas de atividades aeróbicas (transporte de feridos), onde o desempenho e a motivação foram perceptivelmente maiores. As interações envolvendo o equilíbrio (comando crawl) também forma satisfatórias. Entretanto, o fato de realizar atividades fora do contexto da rotina desses adolescentes foi a situação fáctica mais clarificada ao ministrar as atividades. O simples fato de afastar o adolescente de seu cotidiano permitiu sensações de descoberta, de insegurança, de desafio e de superação – características que auxiliam, sobretudo, no amadurecimento psicológico e social para essa faixa etária.

2.     Atividades lúdicas com a corda

    A atividade física de salteio com corda proporciona um excepcional condicionamento físico aeróbio, além de apurar a coordenação motora de trabalho concomitante e intercalado entre membros superiores e inferiores. Além disso, demonstra ter uma efetividade plena no tocante à ludicidade proporcionada, gerando a criação e aplicação de diversas atividades recreativas com uma relação direta e/ou indireta ao próprio salteio.

    A atividade de salteio de corda alinha trabalho aeróbico e coordenação motora, habilidades necessárias ao desenvolvimento do adolescente

Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=5554

    As atividades de salteio com os adolescentes forma realizadas seguindo um cronograma específico, à saber:

  • Aquecimento: Corrida em volta de uma quadra de futebol de salão, com variações no ritmo, sentido e trabalho com membro inferior e superior, sendo que em determinado ponto da quadra o adolescente deveria passar pela corda em movimento, realizado o salto.

  • Salteios individuais com corda: Exercícios de coordenação e ritmização pulando a corda, com as seguintes orientações: salto apenas com o pé direito, apenas com o pé esquerdo, com os dois pés, alternando os pés direito e esquerdo, alternando a velocidade, deslocando para frente e deslocando para trás.

Exemplos de exercícios de salteios individuais

Fonte: http://www.maniademirela.blogspot.com/corda

Salteios coletivos: Em duplas e trios, realizava-se a abordagem na corda, realizando 03 (três), 05 (cinco), 07 (sete) e 10 (dez) saltos, com alternância de ritmo e variação do local de abordagem à corda.

Fonte: http://www.baitaprofissional.com.br/blog/?tag=brincar

Competição de salteio: todos os adolescentes participantes eram colocados à corda única para saltarem simultaneamente, sendo que, a cada erro individual, o componente era eliminada, restando, no final, o vencedor.

A competição permitiu uma atividade de longa duração e, também, uma descontração como medida de encerramento do programa.

Fonte: http://izabellaoc.blogspot.com.br/2009/10/homenagem-ao-dia-das-criancas.html

    As atividades propostas demonstram que uma boa parte dos adolescentes apresentava uma acelerada fadiga, em virtude de não estarem familiarizados com os movimentos e, principalmente, com as habilidades necessárias para realizarem o salteio, o que ocasionou um gasto energético superior em relação à qualquer praticante assíduo. Dessa forma, a necessidade de intervalos durante a execução da atividade foi constante, o que ocasionou diversas fragmentações na seqüência da execução, prejudicando o reforço da habilidade motora, imprescindível no processo de aprendizagem motora.

    Os adolescentes tiveram um alto teor competitivo na abordagem da atividade, transmitindo claramente o sentimento de comparação do rendimento em relação aos demais, inferiorizando aqueles que não conseguiam realizar as atividades. Apesar das orientações, o sentimento competitivo (auferido, apenas, na última atividade) teve que ser mantido na realização da aula em virtude da constante manutenção de estímulos para o desenvolvimento do objetivo pedagógico proposto. Entretanto, em situações de clara comparação com teor de menosprezo, os monitores mostravam atividade de maior complexidade e, de certo modo, inexeqüíveis por parte dos alunos, com fulcro em demonstrar que todos os presentes estavam num processo de aprendizagem. Essa estratégia pedagógica surtiu os efeitos desejados, aumentando os adolescentes concentrados na atividade e interessados em aprender novas habilidades.

3.     Avaliação da vulnerabilidade social

    Numa das atividades, foi aplicado uma parte do Questionário Integrado para mediar o Capital Social (QI-MCS), elaborado pelo Banco Mundial, para auferir 06 (seis) dimensões desse medida intangível1, à saber: grupos e redes, confiança e solidariedade, ação coletiva e cooperação, informação e comunicação, coesão e inclusão social, autoridade e ação política.

Questionário para medir o Capital Social

Dimensão: Sociabilidade / Conflito e violência – Avaliação das Respostas

    Nesse trabalho especifico, o grupo optou por analisar, apenas, a dimensão de solidariedade, mais diretamente nos subítens de confiança e de conflito e violência. Tais aspectos forma escolhidos em virtude do tipo de local no qual esses adolescentes estão inseridos, aliado a necessidade de socialização para o estabelecimento de relações sociais (importantes no contexto de formação social nessa faixa etária). As outras dimensões possuem a necessidade de um nível de socialização que inclui formação profissional, administração de renda, além de outras típicas da fase adulta, sem possibilidade de avaliação na situação fáctica apresentada.

    Dos 05 questionários aplicados, alguns dados obtidos forma relevantes para a avaliação desses adolescentes, com interferência direta no contexto de práticas de atividade física. A Questão 06, que faz menção à encontros com outras pessoas para praticar atividade física, foi obtido e média ponderada de resposta de 08 (oito) vezes ao mês. Dessa forma, a necessidade do adolescente se encontrar com outras pessoas para prática recreação, esportes, atividades lúdicas ou, até mesmo, de movimentos com vista à aquisição de saúde ou de qualidade de vida, é fundamental. O incentivo do eixo pais / amigo / escola pode ser significativo para que esse público saia da situação de sedentarismo, provocada pela ociosidade física da maior parte das suas atividades da vida diária (assistir televisão, utilizar computador, entre outras).

    No tocante à violência, todas as questões demonstraram o aumento da violência no local de habitação desses adolescentes, o que ocasionou uma sensação de medo, potencializando ainda mais a vulnerabilidade social desses indivíduos. Além disso, restringe a possibilidade de aumentar os já escasso aparelhos de atividade física, bem como de profissionais habilitados para tal mister, sobretudo da iniciativa privada, em virtude do próprio círculo pernicioso, gerando uma insegurança coletiva e, conseqüentemente, um afastamento das possibilidade de políticas de inserção social e de melhoria na qualidade de vida desses locais.

Considerações finais

    Os adolescentes demonstraram certo interesse na realização das atividades propostas na pista de cordas. O fator “novidade” motivou os adolescentes que participaram ativamente das 02 (duas) sessões executadas. Entretanto, as particularidades típicas dessa faixa etária estiveram presentes em todas as atividades propostas: espírito competitivo, vaidade, insegurança, ansiedade, entre outras subjetividades naturais da adolescência sempre vieram à tona em situações onde os adolescentes eram conduzidos á uma ação diferente ou à um ambiente desafiador (altura).

    Nas duas atividades propostas, ficou claro que a maioria dos adolescentes encontra-se numa situação de inatividade física (menos de 60 minutos de atividade física por semana). Apesar da regular capacidade aeróbica mostrada, principalmente, na atividade de salteio de corda, ficou claro que a resistência cardiorrespiratória e, sobretudo, a resistência muscular localizada, estão sendo comprometidas em virtude das atividades da vida diária desses adolescentes estarem vinculadas com pouco movimento corporal como, por exemplo, assistirem televisão ou usarem a internet

    Apesar da vulnerabilidade social existente com o público específico, existe um alto grau de socialização entre os adolescentes na região onde eles moram, ilustrando que o eixo composto por pais, amigos e escola é fundamental para a prática de atividades físicas. O conhecimento desses atores sociais sobre o benefício e a facilidade em se utilizar as cordas para praticar atividade física pode ser uma estratégia interessante para fomentar o movimento com foco na saúde e na qualidade de vida dessas pessoas. O meio violento em que esses adolescentes estão inseridos pode ser um percalço para a execução de políticas de intervenção, sobretudo, quando vinculados a iniciativa privada. Nesse contexto, o papel do Estado (través, por exemplo, da atuação do Núcleo de Saúde da Família – NASF) constitui a mais importante medida de intervenção existente no presente momento para que esses adolescentes possam se tornar adultos mais saudáveis e com maior qualidade de vida.

Nota

  1. Segundo Grootaert et al (2003, p. 6) o conceito de capital social “refere-se aos recursos – como, por exemplo, informações, idéias, apoios – que os indivíduos são capazes de procurar em virtude de suas relações com outras pessoas. Esses recursos (‘capital’) são ‘sociais’ na medida em que são acessíveis somente dentro e por meio dessas relações, contrariamente ao capital físico (ferramentas, tecnologia) e humano (educação, habilidades), por exemplo, que são, essencialmente, propriedades dos indivíduos”

Referências bibliográficas

  • ARROYO, Miguel G. “Prefácio”. In: DAYRELL, Juarez (org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1996.

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  • BROHM, J.M. Sociologia política del deporte. Cidade do México. Fundo CE Cultura Econômica, 1982

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  • GROOTAERT, Christiaan, et al . Questionário Integrado para medir Capital Social Banco Mundial, 2003.

  • LUCENA. Ricardo de Figueiredo. O Esporte na Cidade. Campinas. Editora Autores Associados, 2001.

  • MARCELLINO, Nelson. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas. Editora Autores Associados, 1998.

  • PRONI, Marcelo & LUCCENA, Ricardo. Esporte: História e Sociedade. Campinas. Editora Autores Associados, 2006.

  • SOUZA, E. S. & ALTMANN H. “Meninos e meninas: Expectativas corporais e implicações na educação física escolar”. Cadernos Cedes, ano XIX, nº 48, Agosto, 1999

  • UVINHA, Ricardo Ricci. Juventude, Lazer e Esportes Radicais. Barueri/SP, Editora Manole, 1ª Edição, 2001.

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