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Evidências da efetividade da promoção 

da atividade física no contexto familiar

Evidencia de la efectividad de la promoción de actividad física en el contexto familiar

Evidence of the effectiveness of promoting physical activity in the family context

 

*Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade

Federal de Santa Catarina e professor da ESEF- Universidade de Pernambuco

**Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Física

da Universidade Federal de Santa Catarina

***Professora de educação básica da Rede Estadual de Pernambuco

Pós-graduanda (especialização) da Escola Superior de Educação Física da UPE

****Professor Titular do Departamento de Educação Física

da Universidade Federal de Santa Catarina

Jorge Bezerra*

Yara Lucy Fidelix**

Etiene de Andrade Bezerra***

Adair da Silva Lopes****

jorgebezerra01@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A família desempenha papel determinante na educação formal e informal dos seus membros. Os valores éticos e humanitários são absorvidos na construção de valores culturais e indicadores entre as gerações. Evidências têm mostrado que a adoção de um estilo de vida ativo está amplamente relacionada à promoção da saúde em todas as idades. O objetivo desta revisão foi identificar estudos que descrevam a efetividade dos programas de promoção da atividade física no contexto familiar. As buscas foram realizadas nas bases de dados eletrônicas: Lilacs, SciELO e Medline e portal Google Scholar em 10/05/2011, utilizando-se os temos efetividade, família e atividade motora e seus equivalentes em inglês. Incluindo-se somente artigos publicados a partir de 2006. Foram localizados apenas nove manuscritos. As evidencias sugerem que quase sempre a efetividade da promoção da atividade física no contexto familiar está associada a outras intervenções, e baseadas principalmente no contexto escolar. Inferindo que quando pais são fisicamente ativos, esta propensão é 7,2 vezes superior à de outras crianças cujos pais sejam fisicamente inativos.

          Unitermos: Família. Atividade física. Promoção.

 

Resumen

          La familia cumple un papel decisivo en la educación formal e informal de sus miembros. Los valores éticos y humanitarios son impregnados en la construcción de los valores culturales y códigos entre las generaciones. La evidencia ha demostrado que la adopción de un estilo de vida activo está en gran parte relacionada con la promoción de la salud en todas las edades. El objetivo de esta revisión fue identificar los estudios que describen la eficacia de los programas para promover la actividad física en el ámbito familiar. Las búsquedas se realizaron en bases de datos electrónicas: Lilacs, SciELO y Medline y Google Scholar en el 10/05/2011, utilizando los términos: efectividad, familia y actividad motora y sus equivalentes en inglés. Se encontraron nueve manuscritos. La evidencia sugiere que con frecuencia la eficacia de la promoción de la actividad física en el entorno familiar se asocia con otros programas y se basa principalmente en el contexto escolar. Cuando los padres son físicamente activos, esta propensión es de 7,2 veces mayor que en la de otros niños cuyos padres son físicamente inactivos.

          Palabras clave: Familia. Actividad física. Promoción.

 

Abstract

          The family plays a decisive role in formal and informal education of its members. The ethical and humanitarian values ​​are absorbed in the construction of cultural values ​​ and indicators between generations. Evidence has shown that adopting an active lifestyle is largely related to health promotion at all ages. The aim of this review was to identify studies that describe the effectiveness of programs to promote physical activity within the family. The searches were conducted in electronic databases: Lilacs, SciELO and Medline and Google Scholar site on 10/05/2011, using the terms effectiveness, family and motor activity and their English equivalents. Including only articles published since 2006. Were found only nine manuscripts. The evidence suggests that often the effectiveness of promoting physical activity in the home environment is associated with other interventions, and based mainly in the school context. When parents are physically active, this propensity is 7.2times that of other children whose parents are physically inactive.

          Keywords: Family. Physical activity. Promotion.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Historicamente, o termo família origina-se do latim “famulus” que significa: conjunto de servos e dependentes, de um chefe ou senhor, que vivem sob um mesmo teto1. Entre os chamados dependentes inclui-se a esposa e os filhos. Assim, a família greco-romana compunha-se de um patriarca e seus “fâmulos”: esposa, filhos, servos livres e escravos2.

    Evidências têm mostrado que a adoção de um estilo de vida ativo está amplamente relacionada à promoção da saúde em todas as idades. A inatividade física leva a níveis baixos de aptidão física, que estão associados à debilidade e doenças. Por outro lado a atividade física regular favorece a melhora da aptidão física proporcionando saúde e bem estar.

    Atividades físicas moderadas realizadas na maior parte dos dias da semana proporcionam benefícios para a saúde de crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos e na família, em geral. A família desempenha papel determinante na educação formal e informal, sendo absorvidos os valores éticos e humanitários, construindo valores culturais e indicadores entre as gerações3. Por esta razão a promoção da atividade física no contexto familiar, embora raro, se caracteriza como um excelente argumento para adoção de um estilo de vida ativo, por parte de seus membros.

    Para que um programa de promoção da atividade física no contexto familiar seja efetivo, deve considerar as necessidades e interesses de cada membro, com orientações, estratégias e oportunidades plausíveis, possibilitando assim a conscientização das pessoas e levando-as a adotarem um estilo de vida ativo, refletindo na melhora da qualidade de vida4.

    No Brasil, são poucas as referencias sobre a efetividade de programas específicos para promoção da atividade física baseada no contexto familiar. No âmbito internacional são encontrados estudos que avaliam programas de promoção da atividade física associados a outras intervenções, mostrando uma associação positiva entre o envolvimento dos pais e o comportamento ativo dos filhos.

    Pelo exposto acima o objetivo desta revisão foi identificar estudos que evidenciaram a efetividade dos programas de promoção da atividade física no contexto familiar.

Procedimentos metodológicos

    Para a realização deste estudo foram realizadas buscas nas bases de dados eletrônicas Lilacs, SciELO e Medline; adicionalmente foi acessado também o portal Google Scholar. Para as buscas foram adotados os descritores: efetividade, família e atividade motora, com seus respectivos em inglês, adotando-se como filtro para análise dos manuscritos a data de publicação a partir de 2006. O critério de inclusão foi artigos que referenciavam a temática de programas de promoção da atividade física no contexto familiar.

Resultados

    Foram localizados apenas nove estudos. No estudo de Moore et al.5, conduzido com 100 crianças dos quatro aos sete anos de idade e respectivos pais, foi evidente que, quando o pai é fisicamente ativo, a propensão para a criança ser ativa é 3,4 vezes superior à de uma criança cujo pai é inativo. Por outro lado, quando a mãe é fisicamente ativa, a sua propensão é 2 vezes superior. Finalmente, quando ambos são fisicamente ativos, tal propensão é 7,2 vezes superior à de outras crianças cujos pais sejam fisicamente inativos.

    Analisando a importância do incentivo da família e escola no nível de atividade física de 3.471 escolares da Nova Zelândia, Hohepa et al.6, encontraram que baixo apoio dos pais e dos pares foi associado a chances reduzidas de ser regularmente ativo em horários fora da escola. Estes dados nos mostram a importância do incentivo da família sobre a prática constante de atividades físicas.

    A efetividade das intervenções para promoção da atividade física em crianças e adolescentes, em diferentes contextos, foi estudada por Sluijs et al.7 através de uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados. O estudo demonstrou que, ao mesmo tempo em que são apresentadas evidências do aumento do nível de atividade física das crianças, sendo a escola e a família grandes responsáveis pela escolha de hábitos saudáveis, são também apresentados resultados mostrando que o nível de evidência da efetividade dos programas relacionados às intervenções para promoção da atividade física na família não são conclusivos ou a evidência é inexistente.

    Um estudo longitudinal com uma amostra de 68 crianças e seus familiares, participantes do Programa “Fit Kids/Fit Families”8 criado nos Estados Unidos, visando ajudar as crianças a manterem/diminuírem o IMC, aumentar a atividade física, diminuir atividades sedentárias, melhorar a auto-estima e aumentar o conhecimento geral sobre comportamentos de vida saudáveis, verificou após 12 semanas de acompanhamento dos participantes do programa, que:

  • Os pais (96%) e crianças (81%) demonstraram melhora em conhecimentos e atitudes em relação às mudanças de estilo de vida saudável.

  • 59% das crianças aumentaram a atividade física e 32% reduziram as atividades sedentárias.

  • 81% apresentaram melhora enquanto 13% mantiveram seus Índices de Massa Corporal.

  • Alta prevalência de melhora na autoestima.

    Apesar dos efeitos positivos observados no Fit Kids/Fit Families demonstrando a importância de programas voltados para o contexto familiar, bem como estas intervenções são fundamentais devido ao apoio dos pais na adoção de um estilo de vida saudável e ativo, sendo eles importantes preditores de comportamentos dos filhos9, o estudo é inconclusivo quanto à efetividade do programa.

    Em revisão sistemática das publicações referentes às intervenções para promoção da atividade física em adolescentes europeus, conduzida por De Meester et al.10, dos 20 manuscritos incluídos no estudo, 15 eram primordialmente de intervenções escolares. Destes, três abordaram programas escolares com intervenções em família e outros três acrescentando intervenções com comunidade, além da escola e família.

    Escalas de avaliação e classificação da efetividade de programas começaram a surgir na literatura. Dentre as poucas existentes podemos citar a Escala de Avaliação de Estudos Quantitativos, recomendada pelo manual de revisores de Cochrane, e a Escala Statistical Power Analysis for the Behavioral Sciences, de Cohen14. Esta escala, utilizada também para avaliar a efetividade dos programas de intervenções comportamentais, classifica a efetividade em: trivial (Cohen’s d≤.2); pequeno (Cohen’s d>.2); moderado (Cohen’s d>.5); grande (Cohen’s d>.8) e muito grande (Cohen’s d>1.3).

    Apesar de existirem, o que se observa é que as escalas classificam a efetividade dos programas de forma distinta, já que o estudo de Christodoulos et al.11, classificado como forte pela primeira escala, teve sua classificação definida como pequena na escala de Cohen. Semelhantemente ocorreu com o estudo de Harison et al.12, classificado como moderado pelo manual de Cochrane e como pequeno pela escala de Cohen.

Considerações finais

    Em síntese, verifica-se que são escassos estudos relatando as evidencias da efetividade dos programas de promoção da atividade física no contexto familiar, e que as evidências apresentadas sugerem que quase sempre a efetividade das intervenções neste contexto está associadas a outros programas e baseadas, principalmente, no contexto escolar.

Referencias

  1. Houaiss A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0, Rio de Janeiro, RJ (Brasil): Editora Objetiva Ltda. dez. 2001. 1 CD-ROM.

  2. Prado D. O que é família. São Paulo, SP (Brasil): Ed. Brasiliense, 1981. 95 p.

  3. Ferrari M. Kaloustian SM. Introdução. In: Kaloustian SM, org. Família brasileira: a base de tudo. 2. ed. São Paulo, SP: Editora Cortez; 1994. p. 11-15.

  4. Roecker S. O trabalho educativo do enfermeiro na estratégia saúde da família no âmbito da 10ª Regional de Saúde do Paraná [dissertação]. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciências da Saúde; 2010.

  5. Moore LL, Lombardi DA, White MJ, Campbell JL, Oliveria SA, Ellison RC. Influence of parents' physical activity levels on activity levels of young children. The Journal of pediatrics. 1991; 118(2):215-9.

  6. Hohepa M, Scragg R, Schofield G, Kolt GS, Schaaf D. Social support for youth physical activity: Importance of siblings, parents, friends and school support across a segmented school day. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity. 2007; 4:54.

  7. Sluijs EMF, McMinn AM, Griffin SJ. Effectiveness of interventions to promote physical activity in children and adolescents: systematic review of controlled trials. BMJ. 2007; 335(7622):1-13

  8. Joosse L, Stearns M, Anderson H, Hartlaub P, Euclide J. Fit Kids/Fit Families: a report on a countywide effort to promote healthy behaviors. Wisconsin Medical Journal. 2008; 107(5):231-36

  9. Seabra AF, Mendonça DM, Thomis MA, Anjos LA, Maia JA. Determinantes biológicos e sócio-culturais associados à prática de atividade física de adolescentes. Cadernos de Saúde Pública. 2008; 24:721-36.

  10. De Meester F, van Lenthe FJ, Spittaels H, Lien N, De Bourdeaudhuij I. Interventions for promoting physical activity among European teenagers: a systematic review. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity. 2009; 6:82.

  11. Christodoulos AD, Douda HT, Polykratis M, Tokmakidis SP. Attitudes towards exercise and physical activity behaviors in Greek schoolchildren after a year long health education intervention. Br J Sports Med. 2006; 40:367–371.

  12. Harrison M, Burns CF, McGuinness M, Heslin J, Murphy NM: Influence of a health education intervention on physical activity and screen time in primary school children: 'Switch Off-Get Active'. Journal of Science and Medicine in Sport 2006, 9:388-394.

  13. Crutzen R. Adding effect sizes to a systematic review on interventions for promoting physical activity among European teenagers. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity. 2010; 7:29.

  14. Cohen J: Statistical power analysis for the behavioral sciences 2nd edition. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum associates; 1988.

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