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Velocidade do soco e do chute do karatê: uma meta-análise

Velocidad del golpe de puño y de la patada de karate: un meta-análisis

Velocity of the punch and of the kick of the karate: a meta-analysis

 

Mestre em Ciência da Motricidade Humana (CMH)

pela UCB do RJ

(Brasil)

Nelson Kautzner Marques Junior

nk-junior@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo da meta-análise foi identificar o golpe de maior velocidade linear do karatê. A velocidade linear dos golpes não teve diferença significativa (p>0,05). Em conclusão, a eficácia de um golpe exige alta velocidade linear e precisão para acertar o oponente.

          Unitermos: Karatê. Esporte. Velocidade.

 

Abstract

          The objective of the meta-analysis was to determine the technique with the best linear velocity of the karate. The linear velocity of the techniques not had significant difference (p>0,05). In conclusion, the efficacy of a technique needs high linear velocity and precision to hit the opponent.

          Keywords: Karate. Sport. Velocity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Velocidade linear é definida como o deslocamento que ocorre em um dado intervalo de tempo, sendo expresso pela equação v = d : Δt1. Enquanto que velocidade angular é a rotação de uma alavanca em torno de um eixo que ocorre em num intervalo de tempo, sendo apresentado por ω = Θ : Δt2. Quando um karateca faz um golpe em alta velocidade esses dois tipos de velocidade se manifestam na técnica ofensiva3. A velocidade linear descreve o movimento de todas as partes, ou seja, a velocidade de todo o membro inferior após o chute4. Já a velocidade angular, descreve o movimento de algumas partes, por exemplo, a velocidade do ombro após o soco. A unidade de medida mais usual da velocidade linear é metros por segundo (m/s) e da velocidade angular é graus por segundo (°/s)5.

    O karateca é um lutador que realiza um soco ou chute em alta velocidade. Isso é constatado nos campeonatos desse esporte, a maior parte das lutas é decidida em poucos segundos, 80% dos combates acabam em menos de 50 centésimos6. Em geral, um praticante dessa arte marcial efetua um soco numa velocidade linear de 9,8 metros por segundo (m/s), enquanto que o chute é mais rápido, é executado em 14,4 m/s7.

    Segundo Nakayama8, o soco de um karateca altamente treinado atinge uma velocidade linear de 13 m/s, produzindo uma força equivalente a 680 quilos. Então, qualquer golpe de um praticante dessa arte marcial pode causar dano ao oponente. Isso foi evidenciado nos anos 50, nos 52 combates que o faixa preta Oyama travou com touros, ele conseguiu matar 3 e quebrou o chifre de 48 deles9.

    Portanto, tanto o soco ou chute de uma karateca é efetuado com uma alta velocidade linear e angular10,11. Então, torna-se interessante estudar essa capacidade motora do esportista dessa modalidade. Sabendo que existem alguns estudos dessa natureza12,13, mas não foi encontrada nenhuma meta-análise sobre a velocidade do soco e do chute do karatê, parece que essa investigação é inédita. Logo, esse estudo é de extrema importância para os envolvidos nessa arte marcial. Afinal, qualquer golpe do karatê de competição (Por exemplo, disputa do karatê-dô tradicional de estilo shotokan) ou de combate (Por exemplo, no MMA) é necessário uma alta velocidade para a técnica ofensiva ser eficaz14.

    Qual golpe possui maior velocidade linear no karatê? Quando são comparados os principais tipos de socos versus os chutes, existe diferença significativa na velocidade linear desses golpes? Essas questões até a presente data as referências do karatê15,16 não podem responder. Sabendo dessa lacuna, o objetivo da meta-análise foi identificar o golpe de maior velocidade linear do karatê.

Referencial teórico sobre a velocidade dos golpes do karatê

    O karatê shotokan é constituído por diversos golpes de ataque, porém, na luta de competição (shiai kumitê), são utilizados somente as técnicas ofensivas de socos e chutes. Segundo Marques Junior17, os golpes que fazem ponto (ippon ou waza-ari) no karatê são constituídos por 6 técnicas ofensivas, que são as seguintes: o kizami zuki (soco com a mão da frente da guarda), o gyaku zuki (soco com rotação do tronco), o oi zuki (soco com deslocamento para frente), o ashi barai seguido de zuki (rasteira e soco), o mae geri (chute frontal) e o mawashi geri (chute semicircular). Por esse motivo esses golpes são os mais pesquisados pelos cientistas da biomecânica. Entretanto, a maioria dos estudos sobre a velocidade dos golpes do karatê acontece num ambiente laboratorial, sendo investigações de baixa validade ecológica.

    A revisão de Diacu18 constatou uma alta velocidade linear dos golpes do karatê. O kizami zuki tchudan (tchudan é um soco na direção do tronco) foi praticado com uma velocidade linear de 5,7 a 9,8 metros por segundo (m/s), o mae geri kekomi (kekomi é um chute feito na direção do tronco) e o mawashi geri kekomi são mais velozes do que o soco, o primeiro chute foi efetuado numa velocidade linear de 9,9 a 14,4 m/s, enquanto que o segundo chute, o mawashi geri kekomi, foi realizado numa velocidade linear de 9,5 a 11 m/s. Silvares9 identificou na revisão de literatura da sua Tese de Livre Docência, que a velocidade linear do golpe do karateca está relacionada com a graduação do praticante. O faixa preta 4º Dan fez o oi zuki tchudan com uma média da velocidade linear de 5,52 m/s, já o faixa preta 2º Dan, executou o oi zuki tchudan com uma média da velocidade linear de 4,48 m/s. Mas a pior média da velocidade linear foi do faixa branca, com um oi zuki tchudan de 3,35 m/s.

    Gianino19 selecionou karatecas de uma escola do ensino fundamental e fez uma filmagem bidimensional com o uso de uma câmera (não fez descrição da câmera) no plano sagital (de lado). Os dados obtidos pela câmera foram enviados para um computador e depois foram analisados pelo software de biomecânica (não fez descrição do software) para estabelecer a velocidade linear do gyaku zuki tchudan (tchudan é um soco na direção do tronco), do oi zuki tchudan e do mae geri keage (keage é um chute na altura do rosto). Os resultados apresentados foram através da média da velocidade linear, que foi 13 m/s para o gyaku zuki tchudan, 10 m/s para o oi zuki tchudan e 19 m/s para o mae geri keage. Em um estudo similar no laboratório, Mehanni20 investigou a cinemática linear e angular do kizami zuki tchudan. Foram selecionados 7 karatecas faixa preta com Dan entre o 1º ao 4º. A filmagem tridimensional aconteceu com uma freqüência de aquisição de imagens de 50 Hz e foi praticada com o uso de cinco câmeras Sony® DCR-VX 100 E no tripé Panasonic®. A filmagem ocorreu no plano sagital esquerdo (lado esquerdo) com duas câmeras, no plano sagital direito (lado direito) foi utilizada duas câmeras e no plano frontal (de costas) uma câmera registrou as imagens do kizami zuki. Os dados obtidos pela câmera foram enviados para um computador e depois foram analisados pelo software APAS® (Ariel Performance Analysis Systems) para estabelecer a velocidade linear e angular da técnica ofensiva.

    A investigação de Mehanni20 evidenciou a média da velocidade linear do kizami zuki tchudan de 5,8 m/s. A média da velocidade angular das articulações foi a seguinte: o joelho foi de 153,29 graus por segundo (°/s), o quadril foi de 140,15 °/s, o ombro foi de 111,81 °/s e o cotovelo foi de 164,79 °/s. Porém, o autor não mensurou a velocidade angular do tornozelo, da pelve e do punho durante o kizami zuki. A prática do kizami zuki estão envolvidas todas as articulações do corpo humano para proporcionar maior geração de força numa técnica ofensiva6.

    Chiu e Shiang21 recrutaram doze karatecas faixa preta (8 homens e 4 mulheres) que disputaram os Jogos Asiáticos de 1988. Um acelerômetro foi fixado no membro superior do lutador para determinar a média da velocidade linear do gyaku zuki tchudan. Os resultados apontaram uma velocidade linear de 6,1 a 8,5 m/s.

    Oliveira et alii22 estudaram a simetria intermembros do mae geri kekomi (kekomi é um chute feito na direção do tronco) do karatê. Participaram da pesquisa 10 karatecas de faixa roxa a preta, do gênero masculino (total de 9) e feminino (total de 1) com idade de 29,1±15,02 anos. O procedimento para a coleta de dados foi de posicionar o esportista na base zenkutsu dachi e realizar o mae geri kekomi num alvo. Cada lutador pode fazer 5 tentativas em máxima velocidade. A filmagem foi realizada com uma freqüência de aquisição de imagens de 60 Hz e foi efetuada por uma câmera Panasonic® M-9000. Os chutes foram coletados no plano sagital (de lado), mas essas imagens foram capturadas por uma placa Studio DV Pinnacle® para serem realizados os procedimentos de sincronização, medição, calibração e reconstrução tridimensional dos marcadores através do software Dvideow® (Digital Video for Biomechanics for Windows 32 bits) para estabelecer a média da velocidade linear da perna esquerda e direita. O teste “t” independente não identificou diferença significativa (p>0,05) entre o lado dominante e não dominante do karateca, ambas as pernas apresentaram a mesma média da velocidade linear do mae geri kekomi, 23 m/s.

    Em outro estudo sobre o chute do karatê, Emmermacher et alii23 recrutaram 3 karatecas, um faixa laranja e dois faixa preta (2º e 3º Dan). O golpe dos lutadores foi coletado em máxima velocidade linear, através da técnica de chute denominada mawashi geri e kizami mawashi geri (chute realizado com a perna da frente da base). Em ambos os golpes os karatecas efetuaram o mawashi geri na direção do tronco (kekomi) e do rosto (keage). Em cada golpe e conforme a direção, cada esportista realizou 6 tentativas e após a série aconteceu um intervalo de 3 minutos para restaurar a ATP-CP. Esse procedimento aconteceu da seguinte maneira: 6 vezes o kizami mawashi geri kekomi e depois pausa de 3 minutos, 6 vezes o mawashi geri kekomi e depois intervalo de 3 minutos, 6 vezes o kizami mawashi geri keage e depois pausa de 3 minutos, por último, 6 vezes o mawashi geri keage e é finalizada a coleta dos dados. Depois que o lutador termina essa série, outro karateca faz essa seqüência de golpes.

    A filmagem bidimensional aconteceu com uma freqüência de aquisição de imagens de 250 Hz e foi praticada com o uso de uma câmera VICON® system 8 MX 40. A filmagem ocorreu no plano sagital (de lado) e imediatamente os dados foram transferidos para um computador e depois foram analisados pelo software de biomecânica para estabelecer a velocidade linear do mawashi geri.

    Os resultados da pesquisa determinaram a seguinte velocidade linear do chute: kizami mawashi geri kekomi com 2,19±0,27 a 2,54±0,29 m/s, mawashi geri kekomi com 3,05±0,21 a 3,50±0,13 m/s, kizami mawashi geri keage com 2,36±0,17 a 2,55±0,25 m/s e mawashi geri keage 3,05±0,21 a 3,49±0,14 m/s. Quando foi comparado o mawashi geri kekomi versus o kizami mawashi geri kekomi e mawashi geri keage versus o kizami mawashi geri keage, o teste U de Mann-Whitney identificou diferença significativa (p≤0,05), ou seja, a velocidade linear do mawashi geri foi superior porque essa técnica de chute gera uma aceleração mais longa.

    Em todos os estudos sobre a velocidade linear e angular do soco e do chute, no karateca foi fixado pontos reflexivos nas articulações para facilitar o professor na calibração do software de biomecânica. Esses pontos reflexivos são feitos com uma metade de uma pequena bola de isopor que é pintada ou é colado papel brilhante22. As cores mais usadas nos pontos reflexivos devem ser as que refletem a luz ambiente, sendo indicado o amarelo, o amarelo florescente, o prateado ou o dourado. Esses pontos reflexivos são denominados de marcadores passivos porque refletem a luz ambiente sem nenhuma instrumentação eletrônica, sendo vantajoso por não necessitarem de cabos ou fios24 e ainda são de baixo custo financeiro. Para fixar o isopor na articulação, ele precisa ser amarrado por um fio transparente no velcro ou colado no mesmo tipo de implemento.

    Caso a luz ambiente resulte num reflexo pequeno dos pontos anatômicos reflexivos, é indicado que o ambiente do estudo tenha luzes voltadas para o karateca através de pequenos refletores, mas deve estar atento para essa luminosidade não incomodar a visão do lutador e não esbranquiçar a imagem (luz em excesso) ou causar sombras que podem prejudicar a análise dos dados25. A câmera e as luzes precisam estar posicionadas para que os marcadores ou pontos reflexivos estejam visíveis durante a filmagem. Entretanto, quando os dados forem coletados numa competição do karatê, não será possível realizar essas recomendações – utilizar pontos reflexivos, portanto, isso é uma limitação que o professor precisa estar ciente numa investigação do “mundo real”.

    Baseado em Wasik26, Zahran e ElSeoufy27, quando o pesquisador realizar a análise biomecânica de qualquer golpe de ataque ou de defesa da arte marcial, o lutador precisa estar com a roupa utilizada no seu esporte de combate para não interferir na qualidade da biomecânica do soco e do chute. Então, o ideal é que o karateca esteja de kimono.

    Segundo Bauer25, o professor da biomecânica deve coletar as imagens da ação esportiva através de uma câmera com uma freqüência de aquisição de imagens entre 10 a 60 Hz, para movimentos de velocidade lenta (Exemplo, golpe de uma luta), ou também, com filmadora para movimentos muito rápidos (Exemplo, ações do piloto na corrida de moto aquática), com uma freqüência de aquisição de imagens de 1000 Hz ou mais.

    Conclui-se que essas informações merecem aplicação em qualquer estudo da biomecânica do golpe do karatê para a investigação possuir uma alta precisão. Porém nem sempre é possível utilizar toda essa instrumentação em situações do “mundo real”, o caso da competição do karatê.

    Após essa revisão foi possível observar que existem alguns estudos sobre a velocidade linear e somente um estudo foi encontrado sobre a velocidade angular dos golpes de ataque do karatê, inclusive muitas referências não mencionam o estilo de karatê que foi investigado. Logo, uma pesquisa sobre esse tema é de grande valia para os envolvidos nesse esporte.

Método

    Nesta meta-análise foram selecionadas pesquisas sobre a velocidade linear do golpe do karatê. A coleta das pesquisas aconteceu no PubMed, Bireme e no Google Acadêmico, com a palavra-chave karate, punch karate, kick karate e biomechanics of the karate. Foram selecionados os periódicos que tinham no mínimo o Qualis CAPES B5. Também, o critério de inclusão dos artigos nessa pesquisa seguiu as seguintes características de codificação: 1) velocidade linear em metros por segundo (m/s) dos golpes que fazem mais ponto no karatê, 2) idade próxima dos sujeitos, 3) sexo masculino e feminino e 4) karateca adulto.

    Para determinar os golpes que fazem mais pontos no karatê o estudo foi embasado em Marques Junior17 e em Koropanovski, Dopsay e Jovanovic28. Nessa pesquisa somente foram aceitos resultados dos golpes que tinham mais de uma investigação, então a meta-análise foi focada no soco tchudan (tchudan é um soco na direção do tronco) e no chute kekomi (kekomi é um chute feito na direção do tronco). A tabela 1 e 2 apresenta os estudos selecionados (Obs.: são as mesmas referências do referencial teórico) nessa meta-análise.

Tabela 1. Média da velocidade linear em m/s do soco do karatê

 

Tabela 2. Média da velocidade linear em m/s do chute do karatê

    Nesse artigo aconteceu uma comparação entre os valores da velocidade linear dos socos, dos chutes e entre os socos e os chutes. Para combinar e resumir os resultados de diversos estudos numa síntese matemática foi destacado somente a média da velocidade linear dos golpes do karatê.

    Após esse procedimento os dados receberam um tratamento estatístico. A estatística descritiva foi apresentada pela média e pelo desvio padrão. A Anova one way (p≤0,05) foi aplicada para comparar a velocidade linear entre os três tipos de socos tchudan (kizami zuki, gyaku zuki e oi zuki), e também, entre todos os golpes. Caso seja necessário, foi aplicado o post hoc Scheffé (p≤0,05) para determinar a diferença entre as médias. O teste “t” independente (p≤0,05) foi utilizado para comparar a velocidade linear dos dois tipos de chutes kekomi (mae geri e mawashi geri), e também, detectou a diferença da velocidade linear dos socos tchudan versus os chutes kekomi. O gráfico com a média e o desvio padrão foi elaborado no Excel do Windows 7.

Resultados e discussão

    A tabela 3 apresenta a estatística descritiva da velocidade linear em m/s dos golpes do karatê.

Tabela 3. Média e desvio padrão da velocidade linear em m/s dos golpes

    A Anova one way não detectou diferença significativa (p>0,05) na velocidade linear das seguintes comparações: dos três tipos de socos tchudan , F (2,7) = 1,12, e também, entre todos os golpes, F (4,11) = 0,03.

    O teste “t” independente não detectou diferença significativa (p>0,05) na velocidade linear das seguintes comparações: dos dois tipos de chutes kekomi, t (6) = 0,36, e também, dos socos tchudan versus os chutes kekomi, t (14) = - 0,28.

    Apesar de não existir diferença significativa (p>0,05) da velocidade linear dos golpes do karatê, o leitor merece seguir as recomendações de Tavares29, se basear apenas os resultados do estudo em dados estatísticos pode comprometer o treinador na sua orientação para os atletas. Então, conforme a situação da luta, o karateca deve utilizar o golpe mais rápido e de maior precisão para resultar no ponto.

    A figura 1 mostra a média e o desvio padrão da velocidade linear dos golpes do karatê.

Figura 1. Velocidade linear com os valores em ordem decrescente

    Observando o gráfico, o gyaku zuki tchudan é o soco mais rápido do karatê (9,2±2,86 m/s). Parece que a alta velocidade desse soco está relacionada com a eficácia dele na competição. Koropanovski et alii28 evidenciaram que esse golpe é a técnica ofensiva que causa mais waza-ari e ippon no karatê shotokan. Portanto, deveria ser averiguado se a velocidade linear do gyaku zuki tchudan possui uma alta ou boa correlação em gerar ponto na luta desse esporte.

    Entretanto, a velocidade linear dos tipos de socos desse estudo foram abaixo dos achados de Rasch1, para esse autor um karateca efetua um soco numa velocidade linear de 14 m/s. Mas quando é comparada a velocidade linear de dois tipos de soco dessa pesquisa (7,1±1,88 m/s do kizami zuki tchudan e 9,2±2,86 m/s do gyaku zuki tchudan) com o golpe com a palma da mão do kung fu yau-man (6,57 m/s)30, os karatecas obtiveram golpes mais velozes.

    Essa meta-análise evidenciou que o mae geri é golpe com maior velocidade linear do karatê (15,76±5,45 m/s). Porém, esse chute consegue fazer algum waza-ari e efetua muito pouco o ippon17. Apesar da sua elevada velocidade, existe explicação para esse golpe ser menos eficaz na prática do ippon do que o mawashi geri que possui menor velocidade linear (8±3,24 m/s). O mae geri é um chute numa trajetória frontal, como o oponente se posiciona de lado na base livre (base de luta), permite defesa do karateca. Enquanto que o mawashi geri é desferido numa trajetória semicircular, dificultando o lutador de defender essa técnica, mesmo ele estando de lado. Conclui-se que, não basta somente uma alta velocidade linear para o golpe ser eficaz, a técnica ofensiva exige também precisão para acertar no alvo.

    Isso é corroborado com o soco (7,22±2,84 m/s), apesar da maior velocidade do chute (11,88±5,93 m/s), na competição de karatê o soco proporciona 80% dos pontos, somente 11% acontecem através de chute31. Outra vantagem do soco em relação ao chute é uma menor alavanca para completar o golpe e em geral, as pessoas possuem maior habilidade com o membro superior.

    Em conclusão, a eficácia de um golpe exige alta velocidade linear e precisão para acertar o oponente. Nesse estudo o soco mais eficaz foi o gyaku zuki e o chute foi o mawashi geri.

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