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Teoria Crítica e a Educação Física

La Teoria Crítica y la Educación Física

 

Acadêmica do Curso de Especialização em Educação Física Escolar do CEFD/UFSM

Pesquisadora do Grupo de Estudo em Diversidade Corpo e Gênero, GEDCG/CEFD/UFSM

Acadêmica do Curso de Mestrado em Educação Física na Linha de Pesquisa Memória, Cultura

e Sociedade na UFPEL/PELOTAS. Pesquisadora do Grupo de Estudo

em Cultura, Infância e educação infantil

Michele Ziegler de Mattos

michelecefd@ibest.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O artigo tem como objetivo abordar os pressupostos da Teoria Crítica da sociedade e suas relações com a prática pedagógica na Educação Física. Nesse sentido, serve como suporte acadêmico, onde sucintamente, apresento esclarecimentos para a compreensão da mesma.

          Unitermos: Teoria Crítica. Educação Física. Escola de Frankfurt. Abordagem critico-emancipatória.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Teoria Crítica surge com um modelo de teoria que se contrapõe a Teoria Tradicional, e tem como objetivo unir à teoria a prática procurando exterminar com a idéia do racionalismo instrumental. A Teoria Crítica da Sociedade ao contrario da Teoria Tradicional tem como objeto os homens como produtores de suas histórias. Busca negar essa racionalidade instrumental, pois entende que essa razão transforma o homem como um manipulador de instrumentos, sendo visto, portanto, como uma máquina. A escola de Frankfurt tem um importante papel, já que seu objetivo primordial é de fazer uma crítica ao modelo capitalista, e de defender o homem como sujeito de sua própria história.

    Em seu artigo intitulado: “O marxismo de Marcuse na escola de Frankfurt”, Adauto Lopes da Silva Filho, menciona que a Teoria Crítica queria denunciar a contradição fundamental do capitalismo ao mesmo tempo em que delineava o alcance de uma razão realmente emancipada.

    Com base na Teoria Crítica, Almeida (2008), ressalta que os indivíduos devem conhecer claramente como se deu sua formação ou constituição enquanto sujeitos, pelas convicções, atitudes, normas instauradas numa sociedade de coação implícita. Ainda afirma que na medida em que se faz com que os indivíduos tomem ciência das coerções ocultas nas convicções, normas e atitudes impostas inconscientemente, possibilitam ainda uma liberdade para determinar seus próprios interesses.

    Vê-se, portanto, que o processo de mudanças na sociedade, vai ser gerado a partir da reunião de atitudes e convicções dos membros sociais ancorados pelos seus próprios interesses, visto que estes são constituídos com o diálogo para se chegar a um acordo, tornando-se comum a todos e não particulares, pois sendo assim permaneceria na submissão. (ALMEIDA, 2008, P.6)

    Na Educação Física, Eleonor Kunz faz menção para que a Educação Física atue como esclarecedora dos interesses ocultos (principalmente, da indústria esportiva) na cultura de movimento especialmente, sobre os esportes que incultam no indivíduo uma falsa consciência em que o que lhe é apresentado constitui seus próprios interesses, necessidades. Assim, a emancipação se dará quando o individuo for capaz de agir de forma autônoma, independente, fruto de seu esclarecimento.

    No tocante a emancipação, Kunz pretende que o indivíduo chegue até esta por via de sua construção e ação na cultura de movimento dentro de suas possibilidades, resistindo e contradizendo influências do meio exterior e assim, se auto realize.

    A Teoria Crítica discute o esclarecimento não sob a ética do acesso ao conhecimento científico, sistematizado, mas a reflexão e o questionamento a esse conhecimento objetivo, oportunizando ao indivíduo a tomada de decisão, sem coação, levando assim a emancipação.

    Os pensadores da época tinham como projeto comum a necessidade de pensar criticamente, para aproximar a teoria da prática. Jürgen Habermas, um dos representantes da Escola de Frankfurt, e que continua exercendo forte influencia nos estudos referentes a esta temática afirma que:

    “A orientação para a emancipação, que está na base da teoria, faz com que esta não se limite a descrever a realidade, mas também apontar as possibilidades nela embutidas e não realizadas” (Habermas, 2003a, pag. 113).

    Dessa forma, a Teoria Crítica atende seus princípios, quando consegue através de um diagnostico crítico das condições de dominação atual, buscar a emancipação social, a partir de possibilidades não realizadas. A Teoria Crítica propõe a transformação da realidade social, através da emancipação do homem envolvido pelas relações de poder.

    De acordo com Isabel Salema Morgado, os que preconizam os princípios da Teoria Crítica defendem que na sociedade tecnocrática em que vivemos só poderemos emancipar-nos física, intelectual e socialmente se alcançarmos uma real qualidade de vida, e isso desde que se transformem as condições socioeconômicas que estruturam essa sociedade. Bruno Pucci, coordenador na faculdade de Educação da UNIMEP, em seu artigo intitulado “Teoria Crítica e Educação: contribuições da Teoria Crítica para a formação do professor” ressalta que:

    O termo “teoria crítica” se consagrou a partir do artigo de Max Horkheimer, em 1937 “Teoria tradicional e teoria crítica”, em que o autor prefere utilizar essa expressão para fugir da terminologia “materialismo histórico” utilizada pelo marxismo ortodoxo, hegemônico na época, e por querer mostrar que a teoria marxiana era atual, mas devia se importar em suas reflexões com outros aspectos críticos presentes na abordagem da realidade: o filosófico, o cultural, o político, o psicológico e não se deixar conduzir predominantemente pelo economicismo determinista. (Pucci, pag. 3).

Abordagem critico emancipatória

    Uma das principais obras já publicadas dentro da perspectiva crítico emancipatória no escopo da Educação Física é de autoria do Professor Elenor Kunz, e intitulada "Transformação didático-pedagógica do esporte", inspirada, especialmente, nos pressupostos da teoria crítica da escola de Frankfurt. Neste livro, o autor busca apresentar uma reflexão sobre as possibilidades de ensinar os esportes pela sua transformação didático-pedagógica, de tal modo que a Educação contribua para a reflexão crítica e emancipatória das crianças e jovens.

    Kunz (1994) afirma que a abordagem critico emancipatória é um dos desdobramentos da tendência critica e valoriza a compreensão critica do mundo, da sociedade e de suas relações, sem a pretensão de transformar esses elementos por meio escolar.

    Através de uma perspectiva fundamentada na teoria social critica, a Educação Física busca provocar nos alunos maior autonomia, oportunizando aos mesmos, que eles sejam os protagonistas da sua própria cultura de movimento.

    Em um estudo que tinha como objetivo analisar a importância de uma transformação didático-pedagógica do esporte da escola realizada por Ronchi (2010 apud Kunz,1994) possibilitou entender que uma educação mais emancipadora, deve estar voltada para a formação da cidadania do jovem, e não a simples instrumentalização técnica para o trabalho.

    Na visão crítico-emancipatória, uma das tarefas que desafia o profissional de educação física atualmente, seria o desenvolvimento de competências para transformar didaticamente o esporte e a cultura de movimento, a fim de recoloca-los na esfera do mundo vivido, onde a veracidade e a adequação de normas sociais possam ser reconstruídas consensualmente pela racionalidade comunicativa. (PIRES, 2004).

Considerações finais

    A metodologia de ensino para a Educação Física, proposta por Kunz, tem por objetivo a formação de sujeitos críticos e autônomos para transformação (ou não) da realidade em que estão inseridos, por meio de uma educação de caráter crítico, reflexivo e fundamentada no desenvolvimento de três competências: 1) A competência objetiva, que visa a desenvolver a autonomia dos alunos através da técnica; 2) A competência social, referente aos conhecimentos e esclarecimentos que os alunos devem adquirir para entender o próprio contexto sócio-cultural; 3) A competência comunicativa, que assume um processo reflexivo responsável por desencadear o pensamento crítico e ocorre através da linguagem – que pode ser de caráter verbal, escrita e/ou corporal (Bracht, 1999).

Referencias bibliográficas

  • ALMEIDA, A. S. Interfaces metodológicas da educação física crítico emancipatória. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.30, p.27-38, jun.2008.

  • FILHO, A. L. S. O marxismo de Marcuse na escola de Frankfurt. Revista LABOR, nº 6, v.1.2011.

  • GOMES, L. R. Teoria crítica e educação política em Theodor Adorno. Revista HISTEDBR (Online). v. 39, p. 286-296. Campinas-Unicamp, 2010.

  • GOMES, L. R. Teoria crítica, esfera pública e formação política em Habermas. UFSCar.

  • MORGADO, I. S. Teoria Crítica. Instituto de Filosofia da Linguagem. Dicionário de Filosofia Moral e Política.

  • OFFRED, J. C. F. A escola de Frankfurt e a Teoria Crítica. In: Uma proposta de democracia segundo Habermas: uma contribuição para concepção e análise do Direito. Rio de Janeiro, maio de 2007.

  • PIRES, G. L.; NEVES, A. O trato com o conhecimento esporte na formação em educação física: possibilidades para sua transformação didático metodológica. In: KUNZ, Elenor (org.). Didática da educação física 2. Ijuí: Unijuí, 2004.

  • PUCCI, B. Teoria Crítica e Educação: contribuições da Teoria Crítica para a formação do professor.

  • RONCHI, A. M. A transformação didático-pedagógica do esporte na educação física escolar. Criciúma, julho de 2010.

  • TAFFAREL, C. Z. Critica a teoria critica emancipatória: um dialogo com Eleonor Kunz a partir do conceito de emancipação humana. FACED/UFBA. Disponível em: http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/853.htm, 22 de maio/2012.

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