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Antropometria, composição corporal e indicadores de potência anaeróbia obtidos com o Rast Test de atletas
da seleção brasileira de beach soccer

Anthropometry, body composition and anaerobic threshold indicators obtained from Rast Test of the Brazilian beach soccer team

 

*Pós-Graduação em Treinamento Desportivo e Fisiologia do Exercício

Universidade Castelo Branco (UCB) / Meta Produções, Rio de Janeiro

**Pós-Graduação em Fisiologia do Exercício

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo

(Brasil)

Luiz Escobar*

Fabíola Conceição Martins*

Williams Morales Manso**

luiz.escobar@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Estudos sobre beach soccer têm se mostrado carentes de dados sobre indicadores antropométricos, de composição corporal e treinamento em função de sua especificidade. O estudo propõe: apresentar dados de antropometria, composição corporal e potência anaeróbia através do RAST TEST, de atletas da seleção brasileira de beach soccer; comparar os dados de nível de lactato e de freqüência cardíaca máxima anterior, imediatamente após e 3 minutos após a realização do RAST TEST; verificar a existência de relação entre os limiares anaeróbios obtidos com o RAST TEST; verificar a relação entre os limiares de lactato e valores de freqüência cardíaca máxima anterior, imediatamente após e 3 minutos após a realização do RAST TEST.

          Unitermos: Beach soccer. Antropometria. Composição corporal. Aptidão Rast Test.

 

Abstract

          Studies involving beach soccer have shown lacking of anthropometric, body composition and training data due to its specificity. The study aimed: to present anthropometry, body composition and anaerobic threshold data through RAST TEST of athletes of the Brazilian Beach Soccer Team; to compare the data of lactate level and maximum heart rate before, immediately after and three minutes after the test; to verify the existence of a correlation between the data obtained with the anaerobic threshold on RAST TEST; to verify the correlation between lactate threshold and maximal heart rate data before, immediately after and three minutes after the test.

          Keywords: Beach soccer. Anthropometry. Body composition. Anaerobic threshold. Rast Test.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Embora menos popular que o futebol de campo ou vôlei de quadra, o beach soccer vem ganhando destaque no cenário esportivo. Em 2005, o beach soccer foi incorporado à Fédération Internationale de Football Association (FIFA), tornando-se uma modalidade esportiva de alto rendimento (Escobar; Lacerda, 2010). No entanto, tem-se notado a carência de literatura específica, especialmente em relação a dados sobre prescrição de treinamento e de aspectos físicos, técnicos, táticos e psicológicos devido ao ambiente em que o beach soccer é praticado.

    A fundamentação acerca das características envolvidas no esporte, como as vias metabólicas predominantes, o perfil antropométrico, a biomecânica entre outras são imprescindíveis para a estruturação dos treinamentos visando elevados níveis de preparação atlética.

    Doze atletas compõem o plantel de um time de beach soccer, porém somente cinco jogadores, sendo quatro de linha e um goleiro podem iniciar uma partida. Através de substituições ilimitadas consegue-se manter o nível elevado durante os três períodos de doze minutos em um espaço que varia de 35 a 38 metros de comprimento por 26 a 28 metros de largura (PEREIRA; AZEVEDO; SOARES, 2007).

    Neste sentido, o beach soccer se caracteriza como uma modalidade de caráter intermitente de elevada intensidade que solicita alta demanda energética e do sistema anaeróbico, com intensidades acima de 90% da freqüência cardíaca (FC) máxima. Em média, um atleta de beach soccer percorre uma distância de aproximadamente 100 metros a cada minuto de jogo, sendo necessário, portanto, alta velocidade e curtos intervalos de recuperação com relação de trabalho de 1,4 por 1 (Scarfone et al., 2009; Castellano; Casamichana, 2010) .

    Estudiosos afirmam haver uma interface entre os fatores: idade, sexo, características morfológicas e nível de condicionamento físico para a obtenção de altos níveis de desempenho esportivo (João; Fernandes Filho, 2002; McArdle; Katch; Katch, 2008).

    O Rast Test (Running Based Anaerobic Sprint Test) foi desenvolvido pela Universidade de Wolverhampton (Reino Unido) para testar em campo o desempenho anaeróbio. Trata-se ainda de um protocolo de simples aplicabilidade e composto por instrumentos de fácil aquisição e baixo custo para a sua realização entre preparadores físicos, treinadores e demais profissionais. De forma facilitada, o teste permite gerar de dados dos indicadores de potência e fadiga, favorecendo uma avaliação mais criteriosa para a elaboração de prescrição de treinamento (Pellegrinotti et al., 2008; Roseguini, 2008).

    Considerando a carência de dados sobre os tais indicadores, o estudo propõe: (a) descrever as medidas de antropometria, composição corporal e aptidão anaeróbia de atletas da seleção brasileira de beach soccer; (b) comparar os níveis de lactato e a freqüência cardíaca máxima coletados anterior, imediatamente após e 3 minutos após a realização do RAST TEST; (c) verificar a existência de relação entre os valores de limiar anaeróbios obtidos com o RAST TEST; (d) verificar a relação entre os limiares de lactato e valores de freqüência cardíaca máxima anterior, imediatamente após e 3 minutos após a realização do RAST TEST.

Metodologia

Modelo do estudo

    O presente estudo se caracteriza como quantitativo, de caráter descritivo, comparativo e relacional.

Amostra

    Participaram do estudo 12 atletas da seleção brasileira masculina de beach soccer, com idades compreendidas entre 22 e 37anos, avaliados durante a fase competitiva. Os atletas foram informados dos procedimentos aos quais seriam submetidos mediante apresentação e assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Castelo Branco, parecer nº 30/2006, conforme definido na Resolução 196/96.

Instrumentos

    Foram adotados e utilizados os seguintes procedimentos e instrumentos de avaliação, respectivamente:

  • Antropometria: utilizou-se um estadiômetro de parede Sanny® com leitura de até 220 cm e uma balança Filizola®, modelo PL-180. A composição corporal foi calculada através do protocolo de 3 dobras cutâneas: peitoral, abdômen e coxa (POLLOCK; WILMORE, 1993), usando um adipômetro Lange, modelo científico.

  • Potência anaeróbia: recorreu-se ao RAST TEST que consiste em obter valores de tempos, através de seis corridas percorridas na máxima velocidade em um espaço retilíneo de 35 metros, intercaladas por 10 segundos de recuperação (Santos; COLEDAM; SANTOS, 2009).

Coleta de dados

    Os dados foram coletados em outubro de 2011. Para não minimizar as chances de erro metodológico, foram adotadas as recomendações, a seguir: uso de roupa leve; realização do RAST TEST no período da manhã, a uma temperatura em torno de 21ºC e 23ºC, com cerca de 60% de umidade relativa do ar e em boas condições climáticas (FONTOURA, 2008).

    Para obtenção dos dados antropométricos foram adotados os procedimentos:

  • Para estatura: uso de roupas leves (sunga), posição ortostática, pés descalços, o indivíduo imóvel e de costas para o visor da balança;

  • Para MCT: cabeça em posição anatômica para a determinação do vértex pelo plano de Frankfurt (FONTOURA, 2008).

    Em relação aos procedimentos da composição corporal, os atletas tiveram suas medidas de dobras cutâneas mensuradas pelo lado direito, seguindo a ordem peito, abdômen e coxa. Utilizaram-se três medições de forma alternada por segmento. Entretanto, adotou-se a média na ocorrência de diferenças entre os dados para se obter o cálculo do valor estimado do percentual de gordura (%G) (FONTOURA, 2008).

    Foram analisados os seguintes indicadores de potência anaeróbia (RAST TES): potência máxima, potência média, potência mínima e índice de fadiga. Para a mensuração desses indicadores, os atletas realizavam um aquecimento de aproximadamente 10 minutos, com uma recuperação de 5 minutos para iniciar a participação no teste.

    O teste compreende 6 (seis) corridas de 35 metros em linha reta e velocidade máxima, com intervalos de 10 (dez) segundos entre elas (Pellegrinotti et al., 2008; Roseguini et al., 2008).

    O RAST TEST foi empregado na areia sendo realizado pelo atletas com os pés descalços. Um sinal sonoro (apito) era emitido para informar o início da corrida. Foi utilizado o cronômetro manual da marca Casio® para marcar o tempo de cada corrida.

    Para a avaliação das concentrações sanguíneas de lactato, pequenas amostras de sangue (25μl microlitros) foram colhidas do lóbulo da orelha, armazenadas em um tubo capilar heparinizado e mensuradas através do uso de lactímetro eletroquímico, modelo americano YSI 1500 Sport.

    A coleta das amostras foram realizadas em 3 momentos: antes do início do RAST TEST, ou seja, logo após a pausa do aquecimento; imediatamente após o término do teste; e 3 minutos após o término do teste.

    O cardiofreqüencímetro da marca Polar Eletro®Ou foi colocado junto ao peito dos atletas para mensuração da freqüência cardíaca (FC). Os valores da FC também foi realizado nos 3 momentos distintos mencionados no parágrafo anterior.

Análise estatística

    A estatística descritiva foi utilizada para caracterização da amostra através do cálculo de valores de tendência central, dispersão, máximo e mínimo, bem como de valores absolutos e relativos referentes às variáveis anaeróbias e de lactato.

    Mediante o programa Stata for Windows versão 10, a ANOVA de Friedman foi empregada para identificação de eventuais diferenças significativas entre os níveis de lactato e de FC (p<0,05) nos 3 momentos do RAST TEST, segundo o protocolo. Em seguida, foi aplicado o post-hoc de Scheffé (p<0,05) para identificar em que momentos da realização do teste as variáveis apresentaram a diferença. A correlação de Partial Rank de Kendall foi aplicada para averiguar a relação entre os valores absolutos e relativos de indicadores anaeróbios e a somatória dos 6 tempos de corrida. O mesmo teste de correlação foi utilizado para a identificação de relações entre as variáveis nível de lactato e freqüência cardíaca nos 3 momentos do teste já mencionados. Para Morrow Junior et al. (2003), tais análises se fazem necessárias por envolverem amostras pareadas e de distribuição não-normal (população específica).

Resultados

    Os dados de antropometria, composição corporal e idade dos atletas estão descritos na tabela 1.

Tabela 1. Valores descritivos de idade, antropometria e composição corporal de atletas da seleção brasileira de beach soccer

    Em seguida, as tabelas 2 e 3 ilustram os valores dos parâmetros de potência anaeróbia absolutos e relativos à MCT, respectivamente.

Tabela 2. Valores descritivos absolutos dos parâmetros de potência anaeróbia e índice de fadiga dos atletas de beach soccer

 

Tabela 3. Valores descritivos relativos à massa corporal total dos parâmetros de potência anaeróbia e índice de fadiga dos atletas de beach soccer

    A tabela 3 apresenta os dados de estatística descritiva referentes à concentração de lactato nos respectivos períodos pré-teste, imediatamente após o teste e 3 minutos após o término do teste, além do valor da somatória do tempo das 6 corridas.

Tabela 4. Valores descritivos do Rast Test referentes aos parâmetros: somatória dos 6 esforços; 

concentração de lactato antes da realização do teste, imediatamente após e no 3º minuto posterior ao término

    Ao observar os resultados da tabela 5, é possível constatar a presença de correlação significativa e direta ou positiva entre a potência mínima e potência média (r = 0,6; p<0,01). A potência mínima também se correlacionou significativa e positivamente com os valores relativos à MCT de: potência mínima (r = 0,75; p<0,01); potência média (r = 0,58; p<0,01); e potência de pico (0,39; p<0,05), embora as correlações oscilem entre magnitudes forte e fraca (MORROW JUNIOR, et al., 2003). No tocante à potência mínima, a variável apresentou correlação inversamente proporcional ou negativa quando relacionada à somatória do tempo das 6 corridas (r = -0,67; p<0,05). Quanto à potência média, houve correlação positiva entre a potência de pico absoluta (r = 0,45) e às potências mínima e média relativas à MCT (r = 0,44; r = 0,42, respectivamente; p< 0,05). Novamente, a correlação negativa se mostrou entre a potência média e a somatória do tempo das 6 corridas (r = - 0,52; p< 0,05).

    Já a potência de pico mostrou também relação linear positiva com a potência de pico relativa à MCT (r = 0,55; p<0,05).

    No que se refere à somatória do tempo das 6 corridas foram encontradas correlações negativas com a potência absoluta mínima (r = -0,67; p<0,01) e média (r = -0,52; p<0,05); com as potências relativas mínima (r = -0,81; p<0,01) e média (r = 0,85; p<0,01), ambas de forte magnitude; e de pico (r = -0,48; p<0,05) (MORROW JUNIOR et al., 2003).

Tabela 5. Coeficientes de correlação de Kendall dos valores absolutos e relativos à massa corporal total de potência 

anaeróbia e da somatória do tempo dos 6 esforços (∑ 6T) em função dos resultados obtidos com o RAST TEST

    Mediante o teste de Friedman, a partir dos valores de estatística descritiva, constataram-se diferenças significativas relativas à concentração de lactato e FC entre os momentos pré, imediatamente após e 3 minutos após o RAST TEST. Assim, o valor de concentração de lactato se revelou significativamente inferior no pré-teste (2,43 ± 0,70) quando comparados àqueles auferidos imediatamente após o término do teste (8,69 ± 3,47) e após 3 minutos (11,13 ± 2,12).

    No tocante às medidas de FC (Tabela 6), a média se mostrou significativamente inferior no pré-teste (88,42 ± 8,50) quando comparado ao momento imediatamente após o teste (180 ± 10,39) e após 3 minutos (119,08 ± 9,56). Da mesma forma, a média da FC após 3 minutos foi superior significativamente em relação ao pré-teste (119,08 ± 9,56 vs. 88,42 ± 8,50) e inferior estatisticamente em comparação ao pós-teste (119,08 ± 9,56 vs. 180 ± 10,39).

Tabela 6. Comparação entre a concentração de lactato e de freqüência cardíaca inicial, máxima e de recuperação nos períodos determinados pelo RAST TEST

    Através da tabela 7, observa-se que os valores do coeficiente de correlação se revelam positivos ao nível de p<0,05 entre a concentração de lactato inicial (pré-teste) e 3 minutos após o término do teste (r = 0,55). Já entre a concentração de lactato imediatamente após o término do teste e 3 minutos após, o coeficiente de correlação se mostrou positivo (r = 0,44).

Tabela 7. Coeficientes de correlação de Kendall dos valores de concentração de lactato e 

da freqüência cardíaca nos 3 períodos de mensuração determinados pelo protocolo do Rast Test

Discussão

    Os valores médios de composição corporal apresentaram níveis inferiores aos valores estabelecidos por Pollock e Wilmore (1993), ou seja, de 14% a 16% para indivíduos entre 18 e 25 anos e 18% e 20% para indivíduos entre 26 e 35 anos; bem como aqueles estabelecidos pela American College of Sports Medicine (ACSM, 2007), ou seja, ≈14% para homens entre 18 e 29 anos e ≈16% entre 30 e 39 anos. Contudo, pode-se considerar que a composição corporal do grupo investigado encontra-se em níveis de excelência, considerando sexo, idade e a condição de atleta (NIEMAN, 1999).

    No que se refere ao beach soccer, não foram encontrados critérios de referência pré-estabelecidos em relação aos indicadores antropométricos e de composição corporal, o que levou somente à comparação com resultados de estudo de Telles e Prada (2007), envolvendo atletas da seleção de beach soccer do Distrito Federal cuja idade e cujo percentual de gordura apresentaram os seguintes valores de média e desvio padrão, respectivamente: 27,5 ± 3,74 (Vs. 29,25 ± 4,75 encontrado neste estudo) e 11,15 ± 2,75 (Vs. 9,05 ± 2,72). Apesar da maior faixa etária média dos atletas deste estudo, o valor médio do percentual de gordura corporal se encontrou em nível considerado ideal para atleta (NIEMAN, 1999), ainda que inferior àquele encontrado por Telles e Prada (2007), indo ao encontro da constatação de Rezende et al. (2010) ao relatar que o percentual de gordura tende a aumentar com a idade devido à menor carga de treinamento e fatores de envelhecimento.

    Previamente à discussão das tabelas subseqüentes, é de se salientar que não foram encontrados estudos que empregassem o RAST TEST em jogadores de beach soccer. Em contrapartida, vale destacar que a modalidade esportiva tem suas raízes fixadas nas características técnicas e táticas do futebol de campo e futsal (PEREIRA; AZEVEDO; SOARES, 2007), tornando-se esta a justificativa e base para a realização de comparações entre as qualidades físicas exigidas nas modalidades.

    Deste modo, os valores médios de potência de pico e de potência máxima relativa à MCT descritos nas tabelas 2 e 3, respectivamente, mostraram-se inferiores aos encontrados por Ferreira et al. (2009) entre atletas de futsal da seleção brasiliense, ou seja, de 575,87w Vs. 874,7w para potência de pico; e de 7,69 w/Kg Vs. 11,7 w/Kg para potência relativa à MCT. Quanto ao índice de fadiga, os valores deste estudo foram superiores (6,30 w/s Vs. 1,08 w/s), fato que pode ser resultante do menor número de atletas envolvidos neste estudo (12 Vs. 23) e também da idade superior dos mesmos (29,25 ± 4,75 Vs. 27,1 ± 3,6).

    Outro ponto a ser observado reside no protocolo empregado por Ferreira et al. (2009): o de Wingate, mas que apresenta correlação linear forte e significativa quando relacionado ao RAST TEST feito em campo ou em quadra entre atletas de modalidades esportivas analisadas por Gonçalves et al. (2007), incluindo o futsal e futebol.

    Supõe-se, portanto, que os testes podem ser empregados sem que haja distorções significativas de resultados. Sendo firmadas as bases do beach soccer nas fundamentações do futsal, pode se pressupor também que os coeficientes de correlações se apresentem significativamente relacionados sem que haja discrepâncias entre os resultados.

    Cabe ainda destacar que houve forte correlação positiva entre o RAST TEST em campo e em quadra para ambas as modalidades, sendo de r = 0,93 para o futsal e r = 0,85, para o futebol (GONÇALVES et al., 2007), pressupondo que os resultados das variáveis passíveis de avaliação através do protocolo possam apresentar similaridades independentemente do solo em que foi empregado.

    Em suma, tais constatações permitem a realização de analogias entre os resultados encontrados neste estudo e nas pesquisas de Ferreira et al. (2009), supramencionado, e Santos, Coledam e Santos (2009) ao avaliarem variáveis anaeróbias entre atletas de futebol de campo através do RAST, a seguir.

    Assim, os valores de média das potências relativas da para os atletas de futebol (SANTOS; COLEDAM; SANTOS, 2009) e os atletas deste estudo (beach soccer) pré-temporada foram, respectivamente: potência mínima: 5,90 ± 0,83 Vs. 4,68 ± 0,97; potência média: 6,74 ± 0,72 Vs. 5,92 ± 0,79; potência máxima: 8,47 ± 1,04 Vs. 7,69 ± 1,15.

    Da mesma forma, os valores obtidos com o RAST entre os atletas de beach soccer foram inferiores na pós-temporada. A idade pode ter sido um fator de influência visto que os atletas de futebol eram mais jovens (20,8 ± 3,2 anos Vs. 29,25 ± 4,75 anos).

    Com base nos preceitos de Bompa (2002) e McArdle, Katch e Katch (2008), o treinamento anaeróbio, adotados intervalos curtos de recuperação, tem como resultantes maiores acúmulo e ressíntese de ATP, quantidade de creatina-fosfato (CP) e glicogênio muscular, podendo levar a um aumento da resistência à fadiga. No tocante aos resultados da tabela 6, o organismo tende a alcançar o steady-state, ou seja, o equilíbrio entre gasto e consumo e oxigênio durante o esforço físico. Nos exercícios predominantemente aeróbios, o lactato pode ser utilizado como fonte energética, sendo os níveis mantidos em situação de equilíbrio entre sua utilização e demanda ou até mesmo inferior quando alcançado o steady-state.

    No entanto, quando se trata da prática de exercício predominantemente anaeróbio, conforme o aumento da intensidade do exercício, a concentração de lactato tende a aumentar em proporções superiores à capacidade de sua remoção realizada pela atividade respiratória, levando ao seu acúmulo na corrente sanguínea e nas células musculares (GOMES; SOUZA, 2008).

    O lactato tem suas origens em meio ácido (pH < 7). O substrato (ácido) sofre ação de tamponamento pela creatina que consiste na separação dos íons cátion (H+) e ânion, sendo estes os que compõem a parte lática. Em seguida, essa parte se liga à molécula de potássio intramuscular ou ao sódio presente na corrente sanguínea, transformando o substrato em um sal de pH neutro. A ocorrência de câimbra tem sua explicação com base na sobra de uma molécula de hidrogênio resultante dessa reação química (BOMPA, 2005; McARDLE; KATCH; KATCH, 2008).

    Sendo o sistema aeróbio incapaz de metabolizar ou remover a elevada concentração de lactato durante o exercício, sugere-se que a diminuição da intensidade da atividade ou sua interrupção incorra na potencialização da remoção do lactato muscular na medida em que a freqüência respiratória ainda se encontra elevada causando uma compensação de oxigênio (excesso de oxigênio consumido pós-exercício ou EPOC), embora a remoção pareça ser agilizada em situação de exercício de leve ou moderada intensidade na medida em que o sistema aeróbio passa a utilizar o substrato como fonte energética (DANTAS, 2003; McARDLE; KATCH; KATCH, 2008).

    Tal fato pode ser explicado uma vez que os valores de freqüência cardíaca diminuem drasticamente após alguns minutos pós-exercício (Tabela 6), considerando a necessidade de recuperação celular de cerca de uma hora para remoção ou/e metabolização de grande parte do substrato intramuscular, podendo ser ainda observado na respectiva tabela um aumento na concentração de lactato mesmo 3 minutos posteriores à realização do teste.

    Para Foureaux, Pinto e Dâmaso (2006), a recuperação ativa constitui um importante facilitador para a ressíntese de ATC/CP, pelo aumento da atividade da bomba de sódio e potássio, contribuindo para a remoção do lactato, restauração do dano tecidual entre outros fatores.

    A concentração de lactato é classificada em moderada, pesada e severa. A concentração moderada caracteriza-se pelo esforço de intensidade leve com pouca ou nenhuma a modificação do lactato sanguíneo em relação aos valores de repouso, ou seja, abaixo de 2mM. Já a concentração pesada se refere ao menor esforço físico resultando em um aumento do lactato até o limite de 4 mM em média. Por fim, na concentração severa, o lactato se encontra em níveis elevados durante todo o esforço até a exaustão, a partir de 10 mM (FERRARI; GUGLIELMO, 2007).

    Em estudo de Gorostiaga et al. (2006) foi estabelecido um parâmetro de intensidade de exercício de até 3 mM como capacidade aeróbia. Três minutos após a realização do RAST TEST foi observado aumento da concentração além do limite para a determinação de exercício predominantemente aeróbio, ou seja, de 11,13 ± 2,12, e expressivo em comparação ao valor anterior à realização do teste (2,43 ± 0,70), resultando na correlação significativa de r = 0,55 (Tabela 7) e ratificando a natureza predominantemente anaeróbia da modalidade esportiva.

    Ainda no que se refere à tabela 7, a diminuição do lactato não ocorreu até o fim do 3º minuto após a realização do teste, corroborando com estudos de Thomas et al. (2004, 2005) ao observarem diminuição da concentração de lactato somente após o 29° minuto de recuperação passiva considerando a classificação severa (> 5mM) também encontrada nesse estudo. Porém, foi observado aqui o aumento do valor de concentração após o 3º minuto, o que pode ser associado à menor capacidade de remoção do lactato pela diminuição da FC (119 ± 9,56 bpm) em comparação ao valor auferido imediatamente após o término do teste (180 ± 10,39 bpm). Assim, a recuperação ativa poderia ser o mecanismo de otimização da remoção de lactato (RIBEIRO, 2004).

Conclusão

    A composição corporal apresentou níveis de excelência de acordo com parâmetros de Nieman (1999) para atletas em geral. Porém, não foram encontradas referências de indicadores antropométricos e de composição corporal pré-estabelecidos específicos para o beach soccer.

    Os níveis de lactato e os valores de FC máx. coletados anterior, imediatamente após o RAST TEST e 3 minutos após apresentaram valores correspondente ao encontrado na literatura. Porém, os dados encontrados 3 minutos após o término do teste revelaram a redução da FC e o aumento concentração de lactato, sendo necessário maior tempo para a remoção ou/e metabolização de grande parte do substrato.

    Não foram encontrados estudos sobre a aplicação do RAST TEST entre atletas de beach soccer. Sugere-se a realização de mais pesquisas a fim de verificar os mecanismos fisiológicos que determinam o comportamento deste teste em solo arenoso para a determinação de novos parâmetros de carga de treinamento, valores de antropometria e composição corporal, podendo ter como base os valores encontrados neste estudo.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 169 | Buenos Aires, Junio de 2012  
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