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Investigação de lesões bucofaciais em praticantes de artes marciais

Investigaciones de lesiones bucofaciales en practicantes de artes marciales

 

*Graduado em Odontologia, Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

** Doutor em Ciências da Saúde (UFRN)

Professor dos Cursos de Odontologia e Educação Física

da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

Ismael de Lima Rossas*

Danilo Lopes Ferreira Lima**

lubbos@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A procura pelos esportes de contato, notadamente pelas diversas artes marciais, tem aumentado a prevalência de lesões durante a prática esportiva. O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de lesões bucofaciais em praticantes de artes marciais. Foram avaliados 60 indivíduos do sexo masculino através de um questionário semi-estruturado que contém: modalidade, categoria (amador ou profissional), tempo e frequência semanal de prática do esporte, utilização de protetores bucais, ocorrência de lesões e tipos de lesões (fratura dentária, fratura de ossos da face, laceração de mucosa). Ao serem indagados sobre a ocorrência de lesões bucofaciais, 49(81,7%) reportaram ter sofrido algum dano, enquanto 11(18,3%) nada sofreram. Dos que sofreram algum tipo de lesão, 37(61,7%) tiveram apenas laceração de mucosa, 5(8,3%) tiveram lacerações de mucosa associadas a fraturas dentárias, 4(6,7%) tiveram lacerações de mucosa associadas a fraturas de ossos faciais e 3(5%) sofreram os três tipos de lesões. Foi observado no presente estudo que lesões bucofaciais são freqüentes em esportistas que praticam artes marciais. Isto indica que faz-se necessário que o cirurgião-dentista seja sempre consultado pelo esportista.

          Unitermos: Odontologia. Esporte. Traumatismo em atletas.

 

Abstract

          Demanding for contact sports, particularly the many martial arts, has increased the prevalence of injuries during sports activities. The aim of this study was to assess the prevalence of oral and maxillofacial injuries in martial arts practioners. 60 male subjects were evaluated using a semi-structured questionnaire containing: sport, category(amateur or professional), time and weekly frequency of sports practicing, using of mouthguards, occurrence of injuries (tooth fracture, facial bone fracture, lacerations of mucosa). When asked about the occurrence of orofacial injuries, 49(81.7%) said that suffered some damage, while 11(18.3%) were unaffected. Between those who suffered some kind of injury, 37(61.7%) had only lacerations of mucosa, 5(8,3%) presented lacerations of mucosa associated with dental fractures, 4( 6.7%) had lacerations of mucosa associated with fractures of facial bones and 3(5%)suffered both three injuries. It was observed that orofacials injuries are common in athletes who practice martial arts. This indicates the needing of a dental appointment by the athletes.

          Keywords: Dentistry. Sport. Sports injuries.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A arte marcial é definida como qualquer estilo de luta ou sistema de técnicas de luta derivados total ou parcialmente da região do Oriente, que use uma ou mais partes do corpo, como mãos, pés, cotovelo, joelho e cabeça (CARPEGGIANI, 2004). Pesquisadores acreditam que as artes marciais foram criadas na antiguidade pelo ser humano em busca de defesa contra os animais e em lutas tribais. Elas foram originadas na China, onde combinavam disciplina, habilidades defensivas e autocontrole (CONFEF, 2010).

    As artes marciais têm como filosofia trabalhar o corpo e a mente de forma indissociável, buscando sempre o desenvolvimento pleno do indivíduo. Com o avanço da humanidade surgiram diversas modalidades, mas seus princípios continuaram os mesmos (CONFEF, 2010).

    É comum a ocorrência de lesões em atletas nesses esportes. Entretanto, alguns fatores de risco contribuem para seu aumento, como a falha no uso do equipamento protetor, falta de experiência do atleta, sexo masculino e participação em competições. Dentre as regiões mais lesadas estão: joelho, ombro e cabeça (CARPEGGIANI, 2004).

    A Odontologia Esportiva é a área da Odontologia voltada para o conhecimento, prevenção e tratamento das lesões e doenças do sistema estomatognático na prática esportiva. Baseia-se, portanto, no estudo da interferência do esporte no sistema estomatognático e como a saúde bucal pode comprometer o desempenho físico e psicológico do esportista (SIQUEIRA, 2005). Infecções geradas por problemas periodontais, respiração bucal e disfunções têmporomandibulres (DTM) podem afetar a performance do atleta. Fraturas dentárias ou faciais decorrentes de impacto gerado em esportes de contato, bem como lacerações de tecidos moles podem afastar os atletas temporariamente de competições (LIMA, 2009).

    O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de lesões bucofaciais em praticantes de artes marciais.

Descrição metodológica

    Este trabalho é um estudo do tipo transversal realizado com 60 praticantes de diversas modalidades de artes marciais, tendo sido incluídos indivíduos que praticam o esporte há, pelo menos, um ano e excluídos aqueles que praticam o esporte menos de duas vezes por semana e esportistas do sexo feminino. Os dados foram coletados durante campeonatos de artes marciais realizados na cidade de Fortaleza, Ceará.

    Para verificar traumas decorrentes da prática desportiva foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário semi-estruturado contendo:

  1. Modalidade praticada

  2. Participação de competições

  3. Categoria de disputa: amador ou profissional

  4. Tempo de prática do esporte (em meses)

  5. Frequência semanal de prática do esporte (quantos dias na semana)

  6. Utilização de protetores bucais (faz uso em treinos, competições, em ambos ou em nenhuma ocasião)

  7. Ocorrência de lesões (se sofreu ou não)

  8. Tipos de lesões (fratura dentária, fratura de ossos da face, laceração de mucosa ou ambas).

    Os dados foram tabulados e a estatística descritiva realizada através do programa Microsoft Office Excel®. Somente participaram do estudo aqueles que assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para que o estudo pudesse ter início houve submissão e aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).

Descrição dos resultados

    Foram avaliados 60 lutadores de artes marciais, sendo todos do sexo masculino e com idades variando entre 18 e 39 anos, com média de 25,3±5,4 anos.

    Dos entrevistados, 16(26,7%) praticam jiu-jitsu; 14(23,3%) muay thai; 10(16,7%) MMA (Mixed Martial Arts); 2 (3,3%) boxe; 2 (3,3%) capoeira; 2 (3,3%) luta livre esportiva; 2 (3,3%) judô; 1(1,7%) boxe chinês; 1 (1,7%) kung fu; 1 (1,7%) boxe inglês e 9 (15%) duas ou mais artes marciais. Do total de lutadores, 23(38,3%) não participam de competições e 37(61,7%) participam, dos quais 20(54,1%) eram profissionais e 17(45,9%) eram amadores.

    Seus tempos de prática variaram entre 12 e 336 meses com média de 79,6±65,7 meses. Quanto à frequência de treino, 3(5%) realizam treinos duas vezes por semana; 27(45%) três vezes por semana; 1(1,7%) quatro vezes por semana; 14(23,3%) cinco vezes por semana; 7(11,7%) seis vezes por semana e 8(13,3%) treinam todos os dias da semana.

    Com relação ao uso de protetor bucal durante a prática do esporte, 3(5%) afirmaram utilizar o dispositivo somente em competições, 17(28,3%) utilizam apenas em treinos, 28(46,7%) utilizam tanto em treinos como competições e 12(20%) nunca fazem uso do dispositivo (Tabela 1).

Tabela 1. Utilização de protetores bucais

    Ao serem indagados sobre a ocorrência de lesões bucofaciais, 49 (81,7%) reportaram ter sofrido algum dano, enquanto 11 (18,3%) nada sofreram. Dos que sofreram algum tipo de lesão, 37 (61,7%) tiveram apenas laceração de mucosa, 5 (8,3%) tiveram lacerações de mucosa associadas a fraturas dentarias, 4 (6,7%) tiveram lacerações de mucosa associadas a fraturas de ossos faciais e 3 (5%) sofreram os três tipos de lesões (Tabela 2).

Tabela 2. Tipos de lesões sofridas na prática esportiva

Discussão

    O conceito de Odontologia Desportiva no Brasil teve início, recentemente, em 1995. O alto grau de combate nas práticas esportivas de disputa é essencial, já que elas são desenvolvidas através de fundamentos de competição. Os resultados obtidos são, muitas vezes, definidos por pequenas variáveis, entre estas, a saúde bucal (ARAÚJO; CORMACK, 2000; LEMOS; OLIVEIRA, 2007).

    O aumento no número de praticantes de esportes de contato e da competitividade promoveram, concomitantemente, um aumento substancial nas estatísticas envolvendo acidentes traumáticos nos esportes (FREITAS et al, 2008). Sendo assim, o trauma facial causado por esporte é o quarto mais incidente, com 5,5% dos casos, não havendo prevalência de sexo (WULKAN et al, 2005).

    Os traumas ocasionados na prática esportiva representam uma parcela de 14 a 39%, entre as etiologias do traumatismo dentário. Diversos trabalhos indicam que o índice de traumatismo em esportistas é alto, variando de acordo com o esporte praticado, e superior se comparado ao índice da população em geral. Contudo, os traumatismos dentários no esporte possuem a particularidade de poderem ser prevenidos pelo uso de protetores bucais (PINHEIRO et al, 2002).Esse número corrobora com aquele encontrado no presente estudo, onde 8(13,3%) praticantes de artes marciais informaram ter sofrido fratura dentária.

    Os protetores bucais são aparelhos que se encaixam nos dentes com a função de protegê-los de qualquer impacto. Devem ser usados sempre que o atleta participa de atividades esportivas que envolvam possibilidades de quedas, contatos físicos bruscos, choques com objetos voadores, ou qualquer atividade que possa produzir ferimentos na área da boca. Independente do tipo, os protetores bucais devem ser flexíveis, resistentes à ruptura e cômodo de usar. (ANACLETO et al. 2007).A obrigatoriedade da utilização dos protetores bucais nas artes marciais não tem sido respeitada pelo grupo estudado, visto que 20% dos indivíduos entrevistados não utilizam o dispositivo.

Conclusão

    Foi observado no presente estudo que lesões bucofaciais são freqüentes em desportistas que praticam artes marciais. Isto indica que faz-se necessário que o cirurgião-dentista seja sempre consultado pelo esportista.

Referências bibliográficas

  • ANACLETO, F.N; SCHNEIDERS; SANTOS, J.F.F. Uso de protetores Bucais em atividades esportivas. In: INIC UNIVAP, 2007, São Jose dos Campos. 2007.

  • ARAÚJO, C.S.; CORMACK, E.F. Odontologia Desportiva. Atendimento odontológico aos jogadores das seleções brasileiras de futebol. Medcenter, 2000.

  • CARPEGGIANI, J.C. Lesões no jiu-jitsu: estudo em 78 atletas. 2004. 36p. Trabalho de Graduação (Graduação em Medicina) – Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Florianópolis, 2004.

  • CONFEF. Artes Marciais: Profissionais e Proprietários de Academias reconhecem que a sociedade percebe a melhoria da qualidade do serviço prestado nas academias, após a Lei n 9696/98.

  • FREITAS, D.A.; FREITAS, V.A.; ANTUNES, S.L.N.O.; CRISPIM, R.R. Avaliação do conhecimento de acadêmicos de Educação Física sobre avulsão/reimplante dentário e a importância do uso de protetor bucal durante atividades físicas. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço, v. 37, n. 4, p. 215 - 218, 2008.

  • LEMOS, L.F.C.; OLIVEIRA, R.S. Odontologia Desportiva. Uma breve revisão sobre essa nova tendência no esporte. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, n.113, 2007. http://www.efdeportes.com/efd113/odontologia-desportiva.htm

  • LIMA, D.L.F. Odontologia desportiva e interdisciplinaridade. Coleção Pesquisa em Educação Física, v.8, p.193-198, 2009.

  • PINHEIRO, A.A, RUIZ, P.A. Guia de Traumatismo Dentário. Disponível em: http://www.patologiaoral.com. Acesso em 23/03/2011.

  • SIQUEIRA, E. Odontologia Desportiva - O Esporte e a Saúde Bucal. 2005. Saúde Total.

  • WULKAN, M.; PARREIRA, J.G.; BOTTER, D.A. Epidemiologia do trauma facial. Rev Assoc Med Bras, v.51, n.5, p.290-5, 2005.

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