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Inquérito epidemiológico dos fatores de risco para as doenças 

crônicas não transmissíveis realizado em Montes Claros, MG

Un estudio epidemiológico de los factores de riesgo para las enfermedades crónicas no transmisibles realizado en Montes Claros, MG

 

*Enfermeira Especialista em Saúde Pública. Diretora de Vigilância em Saúde

Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros e Docente da Universidade

Estadual de Montes Claros, UNIMONTES
**Enfermeira Especialista em Saúde Pública/Saúde da Família e em Gestão da Clínica

Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, MG

Rosangela Barbosa Chagas*

Ludmila Pereira Macedo**

ludmilapmacedo@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo geral descrever a prevalência de exposição a comportamentos e fatores de risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Doenças crônicas custam caro para o Sistema Único de Saúde (SUS), se não prevenidas e gerenciadas adequadamente, demandam uma assistência a saúde de custos sempre crescentes, em razão da permanente e necessária incorporação tecnológica. Para toda a sociedade, o número de mortes prematuras e de incapacidades faz com que o enfrentamento das "novas epidemias", causadas por DCNT, demande significativos investimentos em pesquisa, vigilância, prevenção, promoção da saúde e defesa de uma vida saudável. Trata-se de um estudo quantitativo, transversal de base populacional. A população alvo da pesquisa é representada por indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos no momento da pesquisa, residentes em Montes Claros. O desenho amostral é do tipo autoponderada com dois estágios de seleção, sendo as unidades primárias os setores censitários; as unidades secundárias, os domicílios. Os setores censitários foram numerados em ordem crescente e do centro para a periferia, de acordo com a metodologia utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O instrumento de coleta de dados foi baseado em modelo proposto pelo Ministério da Saúde e contempla diferentes variáveis avaliativas de comportamentos e fatores de risco para DCNT.

          Unitermos: Doenças crônicas não transmissíveis. Perfil epidemiológico. Fatores de risco. Epidemiologia descritiva.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os conhecimentos sobre a epidemiologia das doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), tratamentos, metodologias para estudos de tendências originaram-se nos países desenvolvidos da América do Norte e Europa. Também deles procedem os conhecimentos sobre prevenção e controle, mas os resultados nem sempre têm sido favoráveis. A vigilância epidemiológica para as DCNT nos Estados Unidos iniciou-se em torno de 1923 e acelerou-se a partir dos anos 70, por metodologias mais modernas. No caso do Brasil as dificuldades em lidar com essas doenças têm um desafio a mais: a dimensão continental do País para implementar programas abrangentes para DCNT (MALTA et al.,2006).

    Lessa (2004) relata que a literatura na área da saúde pública é pobre em textos sobre vigilância epidemiológica para DCNT, mas contém muitas propostas de programas e vários em andamento. O tema encontra-se em destaque no momento, tendo em vista as perspectivas da disseminação das epidemias desse tipo de doença, resultando em endemias e os custos sociais advindos.

    De fato, atualmente, as DCNT têm sido responsáveis por uma parcela significativa e crescente na carga de doenças no Brasil. Segundo Barbosa et al. (2003) cerca de dois terços da carga de doenças no país, são representados pelas DCNT, representando um problema em saúde pública. Estas doenças são de etiologia multifatorial e compartilham vários fatores de risco em comum. Este grupo de fatores de risco, muitas vezes modificáveis, demanda assistência continuada de serviços, com ônus progressivos, na razão direta do envelhecimento dos indivíduos e da população.

    Para Barbosa et al. (2003), o perfil epidemiológico dos fatores de risco das DCNT fornece um importante subsidio para revelar estado de saúde e doença na população contribuindo para avaliação dos serviços de saúde.

    As estratégias para se estruturar ações e intervenções nas DCNT, segundo Malta et al. (2006), devem ser baseadas em políticas que proporcionem a promoção e proteção da saúde, evitando mortes prematuras dos adultos e enfatizando o conhecimento e a prevenção dos fatores de risco passíveis de modificação, principalmente os relacionados aos hábitos de vida.

    Para Barros (2008), os inquéritos de saúde possibilitam a obtenção de informações sobre diferentes dimensões do estado de saúde, sobre determinantes demográficos, sociais, econômicos e culturais da saúde-doença, além de comportamentos relacionados à saúde, muitos dos quais constituem conhecidos fatores de risco de doenças crônicas. Além disso, os inquéritos permitem conhecer a realidade do acesso aos múltiplos serviços e atividades da saúde. Em todas estas dimensões, os inquéritos possibilitam o reconhecimento e a análise do padrão das desigualdades sociais na saúde. As mudanças nos padrões de ocorrência das doenças têm imposto, constantemente, novos desafios, não só para os gestores e tomadores de decisão do setor da Saúde como também para outros setores governamentais, cujas ações repercutem na ocorrência dessas doenças. O desafio do financiamento das ações é um deles.

    Doenças crônicas custam caro para o Sistema Único de Saúde (SUS). Se não prevenidas e gerenciadas adequadamente, demandam uma assistência a saúde de custos sempre crescentes, em razão da permanente e necessária incorporação tecnológica. Para toda a sociedade, o número de mortes prematuras e de incapacidades faz com que o enfrentamento das "novas epidemias", causadas por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), demandem significativos investimentos em pesquisa, vigilância, prevenção, promoção da saúde e defesa de uma vida saudável. A presente pesquisa objetivou realizar o diagnóstico epidemiológico dos fatores de risco das DCNT, para que a partir desse diagnóstico possam ser planejadas ações municipais para o enfrentamento desses novos problemas de Saúde Pública em Montes Claros.

    Montes Claros é um município localizado no interior do estado de Minas Gerais, distante cerca de 410 km da capital. Ocupa uma área de 3 582,034 km², sendo que 38,7000 km² estão em perímetro urbano e os 3543,334 km² restantes constituem a zona rural (EMBRAPA).

    Em 2010 sua população foi contada pelo IBGE em 361.971 habitantes, sendo então o sexto mais populoso de Minas Gerais e o 62º de todo o país.

    Segundo informações do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), o município tem como principal causa de óbitos as doenças do aparelho circulatório, as neoplasias e doenças do aparelho respiratório.

Metodologia

    Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa que, significa quantificar opiniões e dados nas formas de coleta de informações e possui caráter transversal de base populacional, que é a coleta de informação em um único momento.

    Este estudo foi desenvolvido na cidade de Montes Claros, nas áreas urbana e rural.

    A população alvo da pesquisa foi representada por indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos no momento da pesquisa, residentes em Montes Claros.

    O modelo de amostragem adotado para a pesquisa é o de uma amostra autoponderada. Quanto à freqüência do evento estudado considerou-se 50%, por se tratar de uma frequência conservadora e que produz um “n” maior. Estimou-se um coeficiente de confiança de 95% e a margem de erro amostral de 3%. O tamanho amostral calculado foi de 1.064 indivíduos, mas, por se tratar de uma amostragem por conglomerados, utilizou-se um fator de correção, multiplicando o número encontrado por 2, achando uma amostra final de 2.128 indivíduos.

    Os setores censitários foram numerados de acordo com a metodologia utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a seleção dos mesmos foi feita de forma sistemática, com probabilidade de seleção proporcional ao número de domicílios que os mesmos possuem por ocasião do censo demográfico.

    Em cada setor censitário foram aplicados 50 questionários.

    Os dados foram coletados por meio de questionário de monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas baseado no modelo proposto pelo Ministério da Saúde, já validado e aplicado à aproximadamente 25.000 indivíduos de 15 diferentes capitais brasileiras.

    Os critérios de inclusão foram indivíduos com 18 anos ou mais no momento da pesquisa, residentes nos domicílios selecionados no setores selecionados e que aceitaram participar da pesquisa por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Resultados e discussão

    A amostragem consistiu em dois estágios de seleção, sendo as unidades primárias os setores censitários; as unidades secundárias, os domicílios. Foram sorteados 55 setores censitários, sendo 50 da zona urbana e 5 setores da zona rural. Para calcular o número de setores rurais considerou-se o percentual da população rural e a proporção dos setores rurais. Por motivos de excesso de amostra e também de segurança para os responsáveis pela coleta de dados, foram excluídos alguns setores censitários.

Em todos os setores houveram recusas em participar da pesquisa. O tempo médio de duração de cada entrevista realizada foi de 30 minutos.

    O presente estudo foi financiado pelo Ministério da Saúde, através de convênio por meio da Portaria N 3.228 de 21 de dezembro de 2007 e possibilitou uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros e a Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Para a coleta dos dados de base populacional do inquérito, foi realizada a seleção de acadêmicos desta Instituição de Ensino. Os mesmos foram selecionados de acordo com critérios estabelecidos pela coordenação do projeto, através de entrevista, análise de currículo e questionário aplicado.

    Após a seleção, os acadêmicos foram capacitados quanto aos objetivos da pesquisa, a realização das entrevistas e trabalho de campo.

    A coleta foi feita durante o período de Julho de 2010 a Julho de 2011.

    O questionário, através da divisão por módulos, permite analisar dados relacionados a indicadores como características sócio-demográficas, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, prática de atividades física como parte do trabalho, atividade física como meio de transporte, atividade física em casa, trabalho doméstico e cuidar da família, atividade física como recreação, esporte e lazer, tempo gasto sentado, acesso e uso dos serviços de saúde, percepção do estado de saúde, peso referido e aferido, morbidade, hipertensão arterial, diabetes e câncer, realização de citologia oncótica para detecção de câncer de útero, exposição solar, exame clínico das mamas, mamografia, antropometria e hábitos alimentares.

    Os dados foram processados em arquivos digitalizados por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 19.0 no setor de Vigilância Epidemiológica do município de Montes Claros –MG. O banco de dados foi montado por um enfermeiro da Secretaria Municipal de Saúde. A digitação dos dados foi feita por 02 acadêmicos do curso de sistema de informação da Unimontes, estagiários do Projeto, através da Secretaria Municipal de Saúde.

    As características dos sujeitos da pesquisa foram descritas tanto pela freqüência simples das variáveis, quanto pela elaboração de indicadores compostos. Foram estimadas as prevalências dos fatores de risco e agravos sob investigação. Além disso, foram realizadas análises estratificadas para distribuição das freqüências dessas características por sexo e faixa etária.

    Análise bivariadas foram realizadas por meio da comparação de proporções com uso do teste do qui-quadrado. O nível de significância assumido foi de 5% (p<0,05). Após análises preliminares, as variáveis de interesse e com potencial de intervenção no desfecho final foram avaliadas em conjunto por meio de regressão múltipla.

    Os procedimentos do estudo foram desenvolvidos de forma a proteger a privacidade dos indivíduos, garantindo a participação anônima e voluntária. Um consentimento informado foi assinado pelo próprio entrevistado, já que esta é uma exigência para a participação no estudo, obedecendo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas da UNIMONTES com o Parecer Consubstanciado de nº1728/2009.

Conclusão

    Dando continuidade ao trabalho, será feita divulgação dos resultados, bem como serão gerados boletins epidemiológicos, produzidos artigos científicos e com isso serão fornecidas orientações em geral aos órgãos competentes e a comunidade.

    Acreditamos que tendo em mãos esse diagnóstico epidemiológico dos fatores de risco das doenças crônicas não transmissíveis, estaremos mais aptos a enfrentar esse novo problema de saúde pública, bem como nortear as ações do Sistema Único de Saúde no município de Montes Claros – MG.

Referências bibliográficas

  • BARBOSA, J. B., et al. Doenças e Agravos não Transmissíveis: bases epidemiológicas. In: Rouquayrol, M. Z. Epidemiologia & Saúde. 6ª ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p. 289-301.

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  • BRASIL, Ministério da Saúde/SVS. VIGITEL BRASIL 2006: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Editora MS, 2007

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  • DATASUS, Departamento de Informática do SUS. Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Causa de óbitos doenças do aparelho circulatório, neoplasias, e doenças do aparelho respiratório – Montes Claros-MG, 2008. Disponível em: www.datasus.gov.br/catalogo/sim.htm. Acesso em: 18 Jul. 2009.

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  • BRASIL, Ministério da Saúde/SVS. Ações Transversais da Vigilância em Saúde: promoção, análise e integração. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

  • SILVA JÚNIOR, J. B.; GOMES, F.B.C.; CEZÁRIO, A.C.; MOURA, L. Doenças e Agravos não Transmissíveis: bases epidemiológicas. In: Rouquayrol MZ. Epidemiologia & Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p. 289-301.

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