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A capoeira no âmbito escolar: um conteúdo extracurricular

La capoeira en el ámbito escolar: un contenido extracurricular

 

*Licenciado em Educação Física pela Faculdade Social, BA

**Licenciado em Educação Física pela Faculdade Social, BA

(Brasil)

Jorjeval Marciel Silva*

vermelho29capu@yahoo.com.br

Wagner Santos Santana**

wagnersano@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estudo se propôs em analisar a contribuição da capoeira no âmbito escolar como uma atividade extracurricular, assim como um conteúdo da cultura corporal na disciplina Educação Física enfocando como se dá o trato com o conhecimento em ambos os eixos. Para tal, utilizou-se do “paradigma interpretativista” que indica a descrição e a interpretação dos fenômenos do mundo, confrontando-os com uma abordagem, a Crítico-Superadora. Através das análises identificou-se que cada eixo tem seu norte, mesmo sendo simétricos.

          Unitermos: Capoeira. Escola. Trato com o conhecimento.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A capoeira manifestação cultural afro-brasileira, tão discriminalizada durante anos, traz no seu conjunto a historicidade, a linguagem corporal, a apreciação estética, o seu universo simbólico com um propósito de contribuir na formação de indivíduos capazes de assimilar, refletir, compreender e criticar a sociedade na qual estão inseridos para sua possível transformação.

    O presente estudo surgiu da necessidade de evidenciar o trato com o conhecimento da capoeira no ambiente escolar como atividade extracurricular e como conteúdo da cultura corporal, na tentativa de fazer uma reflexão junto aos professores de Educação Física, que atuam na escola, para que eles se apropriem do conhecimento tanto teórico quanto prático e efetive a práxis dos elementos da cultura corporal, em específico, o que está sendo tema da pesquisa.

    Com isso, buscou-se traçar o caminho que a capoeira perpassou na sociedade até adentrar na instituição educacional. Por conseguinte, foram abordados os eixos norteadores dessa prática na escola, primeiro como atividade extracurricular e após como conteúdo da cultura corporal dentro das aulas de Educação Física. Por fim, nas considerações finais, as idéias são concretizadas dando fechamento à pesquisa, porém a intenção com este estudo não é chegar a um ponto final e sim adotá-lo como ponto de partida para ampliação de diversas discussões que permeiam a capoeira.

Problema

    Qual contribuição educacional a capoeira propicia aos seus educandos como atividade extracurricular e como conteúdo da disciplina Educação Física?

Objetivos

Geral

  • Analisar a contribuição da capoeira como atividade extracurricular e como conteúdo da Cultura Corporal na disciplina Educação Física.

Específicos

  • Identificar os fins educacionais da prática da capoeira no espaço escolar como atividade extracurricular;

  • Identificar os fins educacionais da prática da capoeira no espaço escolar como conteúdo da Cultura Corporal na disciplina Educação Física.

Metodologia

    A pesquisa tem como foco evidenciar um elemento da cultura corporal, a capoeira, através de experiências já vivenciadas sob a luz de estudos realizados com essa temática. Mas, de antemão, ressalta-se sua importância àqueles professores e professoras da disciplina Educação Física que vislumbram nos seus alunos um olhar mais crítico e reflexivo perante a realidade em que estão inseridos.

    Sua característica é de cunho qualitativo, que segundo André apud (Gody, 1995), insere-se no “paradigma interpretativista”, que indica a descrição e a interpretação dos fenômenos do mundo, dentro de uma abordagem epistemológica subjetiva. O mesmo autor considera que a verdade é relativa, não sendo, portanto neutra. Vez que, ao analisar os dados referentes a uma determinada amostra, têm uma intencionalidade, posiciona-se diante da “dimensão histórica e sócio-cultural, na qual estamos inseridos, e a nossa visão de mundo”.

    André (1995), afirma que:

    “o “paradigma interpretativista” segue uma abordagem qualitativa, que possibilita a interação pesquisador-pesquisado e, ao buscar novas informações, relações e a verificação e ampliação do conhecimento existente, complementa a abordagem quantitativa de pesquisa, na medida em que tem o ambiente natural como fonte de dados e o pesquisador como instrumento fundamental”.

    Nesse sentido, a amostra foram artigos que tratam do tema proposto, especificamente na Educação Física, e os relatos de experiências vivenciados por estes diante da lógica de mercado atual.

O caminho da capoeira

    Até hoje, não se sabe ao certo sobre a origem da capoeira, sua verdadeira história. Alguns estudos trazem a idéia de que a capoeira originou-se numa prática chamada N'golo, também conhecida como dança da zebra, uma dança violenta de origem africana na qual os praticantes lutavam, entre si, até que seu vencedor tivesse o direito de escolher uma jovem da tribo, que saía da adolescência para a vida adulta, pronta para se casar.

    Mello (2002), afirma que possivelmente a capoeira nasceu aqui no Brasil, no século XVII, e “que dificilmente terá existido, em toda história do Brasil, um ambiente mais propício para o surgimento de uma modalidade de luta como a capoeira" (VIEIRA apud MELLO, 2002, p.3). Mas, essa comprovação não pôde ser feita por que os documentos que poderiam contar a sua história foram incinerados pelo então ministro das finanças da época, Rui Barbosa.

    O mesmo Mello conta que a incineração desses documentos no período deu-se na tentativa do magistrado (Rui Barbosa) em apagar a história do “negro” no Brasil, sobrando apenas, alguns poucos acervos confiáveis sobre sua origem em nosso país. No entanto, os pressupostos da origem da capoeira foram voltados para a zona rural, emergindo nos grandes centros no século XIX, dentre eles, Salvador e Rio de Janeiro, respectivamente, os que mais influenciaram para essa prática.

    A capoeira durante anos foi vista como uma prática marginalizada, aqueles que a praticava, naquela época (os negros, os escravos), parte opressora de nossa sociedade, eram presos e condenados a serem chicoteados, e até mesmo, isolados numa localidade na qual a força armada do Estado, a polícia, chamava de ilha.

    Segundo o próprio Mello, os capoeiristas “foram veementemente perseguidos pelas autoridades sob o argumento de conter a “barbárie negra”, de conter a doença moral que proliferava nas cidades civilizadas” (2002, p.3). Contudo, pesava aos capoeiristas agravantes de violência, badernas e desordem em bares, ruas e diversos outros espaços nos quais eles freqüentavam. Nesse sentido, a capoeira acabou sendo considerada crime, junto ao código penal brasileiro decreto nº847 de 11 de outubro de 1890, apresentando seu corpo de texto, no capítulo XIII denominado Dos Vadios e Capoeiras, dizeres que previam sanções, tais como:

    Artg.402 - Fazer nas ruas e praça públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação de capoeiragem: andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, incutindo o temor ou algum mal, pena: de prisão celular de dois a seis meses.

    Parágrafo Único – É considerada circunstância agravante pertencer o capoeira a algum bando ou malta. Aos chefes ou cabeças se imporá pena em dobro.

    Artg.403 – No caso de reincidência será aplicado ao capoeira, no grau máximo a pena do artg.400 - Pena de um a três anos em colônias penais que se fundarem em ilhas marítimas, ou nas fronteiras do território nacional, podendo para esse fim serem aproveitados os presídios militares existentes.

    Parágrafo Único – Se for estrangeiro será deportado depois de cumprir a pena.

    Artg.404 – Se nesses exercícios de capoeiragem perpetrar homicídios, praticar lesão corporal, ultrajar o pudor público e particular, e perturbar a ordem, a tranqüilidade e a segurança pública ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas cominadas para tais crimes. (BRASIL, DECRETO Nº. 847 DE 11 DE OUTUBRO DE 1890)

    Mesmo com toda essa represaria por parte do Estado, a capoeiragem continuou, só que num desenho mais disfarçado. Os seus praticantes incrementaram as cantigas de roda e instrumentos, atabaque, agogô, caxixi, dentre outros, tornando a capoeira que era vista como uma luta agressiva – na qual os negros a utilizavam para sua autodefesa e contra ao regime escravista – em uma dança, jogo, camuflando sua arte, mas, com os mesmos objetivos, a luta contra a opressão. Ainda assim, ela tinha sua peculiaridade, a musicalidade, a religiosidade, os movimentos acrobáticos – que se intensificaram com a criação da capoeira Regional, tendo como seu criador o dos maiores nomes da capoeira, mestre Bimba – e outros do seu universo simbólico e motor.

    Sendo assim, ela veio ganhando aval perante a sociedade que tanto se pautava em “princípios médicos higienistas que pressupõe a inferioridade da raça negra” (MELLO, 2002, p. 4). Moldando-se, reconfigurando-se, ganhando forma, tornou-se “elemento ativo da dinâmica cultural”.

    Mello (2002) retrata a capoeira atual:

    “a capoeira hoje em dia, apresenta contornos bem diferentes daqueles que a originaram. Sua crescente desportivização, sua inserção no contexto educacional e a grande investigação acadêmica, têm levado esta manifestação a ganhar, cada vez mais, espaços institucionais, sendo considerada um importante instrumento de análise de aspectos relacionados à população e à cultura brasileira.” (MELLO, 2002, p 1)

    Essa prerrogativa afirma a proporção que tal prática ganhou, tanto no rol da Cultura Corporal quanto no mundo da esportivização, chegando a ser pensada em até mesmo ser esportivizada, não sendo este o caso. Para tanto, a capoeira foi bem aceita na instituição educacional, com alguns vieses e discursos de que a capoeira é uma luta "autenticamente nacional", uma "excelente ginástica". “Molde ginástico” esse, que sustentava a inserção da Educação Física no sistema educacional brasileiro daquela época.

    Nesse sentido, foi foco de diversos estudos acadêmicos. Por outro lado, não perdeu de vista a sua especificidade, sua originalidade, os mestres de capoeira continuaram a comandar suas rodas, até hoje ela é designada dessa forma, mesmo na instituição educacional, em particular, a privada. A qual se disponibiliza em contratar técnicos/profissionais/mestres para realizar intervenções pedagógicas com seus alunos. O olhar do estudo se enraíza aí, em buscar, identificar o ponto de partida e os fins educacionais da capoeira como atividade extracurricular bem como conteúdo da Cultura Corporal da disciplina Educação Física.

O eixo norteador da capoeira como atividade extracurricular e como conteúdo da cultura corporal

    No dicionário Aurélio, eixo significa: “linha reta (real ou imaginária) que divide em duas partes iguais ou simétricas os corpos ou as superfícies”. Pois, atualmente, é assim que a capoeira se configura no ambiente escolar.

    A pesquisa debruçou-se em olhar como se desenvolve o trato com o conhecimento dessa prática, nesse espaço, na perspectiva de uma atividade extracurricular bem como conteúdo da Cultura Corporal, este último, ingressado no currículo escolar pela disciplina Educação Física. Esmiuçaram-se artigos que tratam deste assunto, porém os recortes se consistiram em apenas alguns que tratam, da referida temática, a capoeira no âmbito escolar.

    Para o seu desenvolvimento, buscou-se correlacionar as experiências já vivenciadas com observações feitas neste campo, a partir de outros de profissionais (técnicos, mestres dentre outros), e com as leituras especificas, utilizando o “paradigma interpretativista”, que indica a descrição e a interpretação dos fenômenos do mundo dentro de uma abordagem epistemológica subjetiva.

A capoeira na atividade extracurricular

    Dayrell (1999) indica que a escola é vista como um espaço que deveria gerar o acesso a conhecimentos sociais acumulados e as diferentes formas de cultura, entre elas, a afro-brasileira e mais especificamente a Capoeira. No entanto, algumas dessas manifestações são negadas aos alunos nessa instituição, em essencial, essa mesma prática. Muitas vezes por estereótipos que criaram sobre ela, vinculando-a a algumas religiosidades, não tão bem aceitas pela sociedade, dentre elas, o candomblé, por fazer parte, também, da cultura negra que tanto é discriminalizada até hoje. Outras, por parte dos próprios professores, que não tem em seu bojo, conhecimentos para efetivar sua práxis.

    É nesse sentido que o mestre de capoeira se insere no meio escolar, muitas vezes sem conhecimentos teóricos. A não apropriação por parte do professor de Educação Física referente a esse conteúdo, de caráter específico, a capoeira, abriu espaço para que tal profissional adentrasse na escola, principalmente, na privada, como atividade extracurricular, ou seja, não indexada ao currículo escolar e, preferencialmente, em horário oposto de aula “formal”.

    O profissional sem ter vivenciado, partilhado de conhecimentos teóricos sistematizados, conceituados e referendados, os quais só se adquirem na instituição de nível superior, pode reduzir a apropriação do conhecimento que a capoeira nos traz: sua historicidade, seus rituais, dentre outros. Não fornecendo estes aos seus alunos, reduz sua prática para a simples reprodução de movimentos, com poucos nexos, e sem propiciar a eles uma “reflexão pedagógica” “de forma a pensar a realidade social desenvolvendo determinada lógica” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 16). No entanto, “para desenvolvê-la, apropria-se do conhecimento científico, confrontando-o com o saber que o aluno traz do seu cotidiano e de outras referências do pensamento humano: a ideologia, as atividades dos alunos, as relações sociais, entre outras.” (1992, p.16).

    Contudo, a atividade extracurricular da capoeira também é ministrada por professores de Educação Física, que durante a sua trajetória acumulou conhecimentos práticos e apropriou-se dos teóricos, através do ensino superior, para abordá-los numa perspectiva de manifestação da cultura afro-brasileira, contextualizando-a no seio escolar.

    Para melhor explicar o trato com o conhecimento da capoeira na escola, analisou-se um artigo que aborda, exatamente, esta em horário oposto, ou seja, como atividade extracurricular, numa escola particular. Nas linhas do artigo, os autores relatam a experiência de um projeto idealizado por eles, numa escola da rede privada de ensino na região Sul. Segundo eles, “O projeto iniciou-se em maio de 2005 com as atividades para crianças de 9 a 14 anos”. (SABINO; BENITES, 2010, p. 6). Neste ano conseguiram reunir apenas quatro alunos, e no decorrer dos outros anos (o artigo foi publicado em 2010, ou seja, eles relatam cinco anos de experiência) a maior quantidade de alunos, até a publicação do estudo, foi no ano de 2009, com a participação de 19 alunos.

    Diante do que foi constatado, mesmo os professores tendo o cuidado de trabalhar o conteúdo da Cultura Corporal de forma conceituada, Darido (2001) sinaliza que “para iniciar a discussão sobre conteúdos na Educação Física escolar é preciso esclarecer o seu conceito, uma vez que este termo é tão utilizado quanto mal compreendido.” (p.1).

    Coll et al. (2000) apud Darido (2001)

    “definem conteúdo como uma seleção de formas ou saberes culturais, conceitos, explicações, raciocínios, habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes, interesses, modelos de conduta, etc., cuja assimilação é considerada essencial para que se produza um desenvolvimento e uma socialização adequada ao aluno”. (p.1)

    Coll et al. (2000); Zabala (1998) apud Darido (2001) lembram muito bem que “ao longo da história da educação determinados tipos de conteúdos, sobretudo aqueles relativos a fatos e conceitos, tiveram e ainda têm uma presença desproporcional nas propostas curriculares” (p.2). A capoeira se enquadra como um desses conceitos, sendo em alguns momentos, negado dentro da instituição educacional. Ou como mostra o artigo analisado, que só há participação daqueles que seus familiares têm condições financeiras para propiciar a eles o fazer dessa atividade extra, tornando a capoeira que é uma atividade da manifestação cultural afro-brasileira, em produto de comércio, negando o seu acesso.

    No que diz respeito ao trato com o conhecimento, nota-se que seus autores não se apropriam da “necessidade de se fundamentar, de maneira articulada, as formas como o homem, historicamente, construiu e sistematizou o conhecimento, como este conhecimento se expressa na realidade, e como o homem pensa sobre ele" (COLETIVOS DE AUTORES, 1992, p. 16). Pautou-se em conteúdos sistematizados que podem fragmentar o conhecimento da capoeira, de forma há não apresentar sua totalidade.

    Segundo Jerônimo et al., (2010, p.3) “muito desse conhecimento não é levado ao educando em virtude dessa cultura (a Capoeira) ser deixada de lado, não vinculado-a aos saberes que deveriam ser ensinados na escola. Por muitas vezes acontece até a sua negação por motivos diversos.” E quando nega-se a cultura evidencia um processo de desumanização da sociedade (DAOLIO, 2004) apud (JERÔNIMO et al., 2010).

A capoeira como conteúdo da Cultura Corporal na disciplina Educação Física

    Pistrak (1981) apud Chaves; Sánches; Taffarel (2011) apontam que

    “o trabalho na escola é considerado base da educação e deve estar ligado ao trabalho social, à produção real e a uma atividade socialmente útil. Dentre os enunciados que esse autor propõe, destaca-se o “princípio da pesquisa ao trabalho escolar”, onde o conteúdo de ensino consiste em dar subsídios ao educando para criação de uma nova sociedade valorizando-se o trabalho coletivo e suas formas de organização” (p.128).

    No entanto, esses autores, apontam outra vertente sobre o trabalho na escola, assinalando o que Enguita (1989) comenta:

    “(...) analisando os discursos e contrapondo-os à prática, destaca a questão do conteúdo e da forma dos mecanismos de vigilância e controle de avaliação, motivação, competição, subdivisão do trabalho, recompensa, organização do contexto material, a ordem, a autoridade, a submissão, a burocracia, a impessoalidade, a alienação, percepção do tempo, o processo de dissuasão e o processo de qualificação e desqualificação” (p.128).

    Pois, consideram que “estas categorias de análise permitem indicar conexões entre o processo de organização do trabalho pedagógico e as relações sociais mais amplas” (CHAVES; SÁNCHES; TAFFAREL, 2011, p. 128). E é nesse sentido que a abordagem Crítico-Superadora indica o trabalho pedagógico do professor de Educação Física, no contexto escolar, a trabalhar com os seus elementos jogo, dança, esportes, etc. e, especificamente, o que está sendo análise desse estudo, a capoeira, de forma a “considerar certos critérios pelos quais os conteúdos serão organizados, sistematizados e distribuídos dentro de tempo pedagogicamente necessário para a sua assimilação.” (COLETIVOS DE AUTORES, 1992, p.44)

    Mas, essa assimilação não pode deixar de lado a “luta de emancipação do negro no Brasil escravocrata, (...) a “voz” do oprimido na sua relação com o opressor.” e nem tão pouco deixar de “resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou.” (COLETIVOS DE AUTORES, 1992, p.53)

    Visando uma Educação Física escolar capaz de proporcionar ao aluno uma leitura desta realidade, numa perspectiva crítica, o Coletivo de Autores (1992), posicionou-se em relação ao que se deve ensinar na escola:

    A Educação Física é uma disciplina que trata pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada aqui de cultura corporal. Ela será configurada com temas ou formas de atividades, particularmente corporais, como as nomeadas anteriormente: jogo, esporte, ginástica, dança, ou outras, que constituirão seu conteúdo. O estudo desse conhecimento visa apreender a expressão corporal como linguagem (Ibid, p. 61-62).

    Logo, selecionar conteúdos é o mesmo que negar o acesso à diversidade de conhecimentos que fazem parte do acervo da área. Cabe ao professor à reflexão sobre o seu papel na escola e o que este pretende ensinar aos seus educandos diante da realidade social que os cercam.

Considerações finais

    Considerando o que foi evidenciado na pesquisa, nota-se que a capoeira como atividade extra, pode reduzir a reflexão do aluno para a simples reprodução de movimentos, sem propiciá-los a leitura da realidade na qual está inserido numa evolução espiralada, bem como restringe o acesso dessa manifestação cultural afro-brasileira àqueles que não detêm de um poder aquisitivo para sua prática, tornando-a assim, em produto de comércio.

    No entanto, há uma prática pedagógica emergente que está ganhando força nas linhas e entrelinhas da escola, a qual supera a visão do sistema capitalista atual da instituição educacional, assim como, a prática da capoeira nesta localidade. Na perspectiva de “construção de uma Educação Física transformadora, progressista, voltada para a formação da cidadania, que significa acesso a bens culturais que garantem a vida digna para todos, que significa participação, responsabilidade, compromisso com a referência ética da emancipação humana e social” (TAFFAREL, 1997, p. 27)

    Dessa forma fica evidente que a capoeira quando tratada fora do currículo escolar apresenta uma contribuição tecnicista, abordando o movimento pelo movimento a partir de uma linguagem mecânica, não priorizando a expressão espontânea. Já este elemento quando trabalhado nas aulas de Educação Física transmite para o aluno certos sentidos e significados relativos a esta manifestação da cultura, contextualizando-a como uma forma de expressão corporal criadas pelos e para os seres humanos. Isso devido às possibilidades conceituais, procedimentais e atitudinais que o ensino da Educação Física escolar permite.

    Cabe ressaltar que com este trabalho almeja-se abrir possibilidades para um olhar mais crítico e real a cerca da capoeira como conhecimento a ser tratado pela Educação Física e, que o mesmo seja visto como um conteúdo da cultura corporal viável e possível de ser trabalhado no currículo, sentindo-se o professor de Educação Física capaz de ministrar este conhecimento tanto quanto os demais.

Referências

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