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Iniciação esportiva e especialização esportiva: análise de terminologias

Iniciación deportiva y especialización deportiva: análisis de terminologías

 

*Graduanda/o em Educação Física pela FESBH

**Professora Mestre Orientadora pela FESBH

(Brasil)

Breno Martins Silva Paniagua*

Bruna Mara Morais Assis*

Sarah Cloves Agripino*

Cláudia da Fonseca Braga**

claudia.braga10@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A iniciação esportiva e especialização esportiva são termos presentes na vida esportiva das crianças, porém existem divergências na sua definição, compreensão e aplicação durante o processo da formação esportiva. Desta maneira, torna-se importante a realização deste estudo a fim de contribuir no entendimento e na diferenciação das terminologias. Além disso, tem por finalidade analisar os conceitos e os objetivos da iniciação esportiva e da especialização esportiva através da revisão de literatura expositiva.

          Unitermos: Análise de terminologias. Iniciação esportiva. Especialização esportiva.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O esporte vem ocupando um espaço cada vez maior na vida das pessoas, especialmente das crianças e dos jovens. Nunomura e Tsukamoto (2005) destacam as contribuições proporcionadas pela prática esportiva, que quando orientada adequadamente, abrangem todas as dimensões do desenvolvimento, seja social, cognitivo, afetivo, físico ou motor. Oliveira, Arruda e Lopes (2007) complementam que o incentivo à prática de esporte na infância e na adolescência aumenta a probabilidade de que essa criança ou esse adolescente seja ou se torne um indivíduo ativo. Então, para as crianças terem uma vida esportiva prolongada, chegando ao esporte de alto rendimento, torna-se necessário que suas experiências motoras e de iniciação esportiva sejam positivas.

    Silva et al. (2001) destacam a crescente importância social do fenômeno esportivo com a influência da mídia e do acentuado aumento na oferta de competições num quadro esportivo cada vez mais especializado, o que consequentemente, passou a definir novas exigências no domínio da preparação, de modo a estimular especializações cada vez mais precoces.

    A perspectiva de obter-se, rapidamente, sucesso e vitórias tem provocado o abandono da base teórica preconizada nos centros acadêmicos quanto ao momento certo de ocorrer à especialização. Por outro lado, Nunomura e Tsukamoto (2005) ressaltam que essa atitude é contrária às necessidades das crianças, em especial do ponto de vista motor, considerando a importância da variedade de experiências na fase de iniciação, principalmente para ampliar o acervo motor e estar apta a escolher uma modalidade para dedicar-se.

    Foi observado após análise de alguns estudos que realmente ocorre uma precocidade na especialização de uma modalidade, isto é, a idade ideal, indicada pela literatura e apontada pelos próprios professores de Educação Física, para este momento não corresponde à idade real, ao que de fato ocorre na prática (ARENA, BÖHME, 2000 e SILVA et al., 2001).

    Diante dessas indicações, Silva et al. (2001) enfatiza que a tendência de se reduzir a idade de iniciação em muitas modalidades esportivas cria dúvidas e gera questionamentos em torno da chamada “especialização precoce”, que de acordo com Vidal (2006), transforma o indivíduo em objeto, mercadoria, digna de planejamento, investimento estratégico, capital humano e ainda afirma que isto pode ser observado frequentemente, na especialização precoce no esporte em escolinhas de iniciação esportiva, valendo lembrar que nem todas têm este objetivo, mas que, no entanto, é real.

    A problemática da criança no esporte, conforme Darido e Farinha (1995) afirmam, é uma questão complexa porque envolve além do aspecto biológico, a questão do contexto sociocultural. Incluídos neste contexto estão representantes de vários segmentos da sociedade, como técnicos, professores e dirigentes representando o mercado de trabalho, empresas que vendem produtos relacionados ao esporte, além da pressão dos pais e dos amigos e a esperança de obter sucesso e status.

    A pesquisa de Balbino (2001) revelou que muitos autores demonstram a preocupação com os conceitos equivocados que comandam as práticas. Para Moreira (2003) a confusão está no entendimento e na diferenciação de iniciação esportiva e especialização esportiva precoce, sendo que a primeira pode acontecer em qualquer fase, e a segunda, o autor julga não ser necessária ocorrer. Assim, o futuro esportivo da criança depende, em grande parte, deste entendimento de terminologias para fazer, posteriormente, a diferença na prática.

    Tendo em conta os conceitos existentes de iniciação esportiva e especialização esportiva precoce, é necessário apontar as diferenças existentes entre as ideias e significados que são obtidos desses processos ao tratar de incluí-los na formação esportiva (BALBINO, 2001).

    A partir da problemática exposta, torna-se importante a realização deste estudo a fim de contribuir no entendimento e na diferenciação das terminologias. Desta maneira, este estudo tem por finalidade analisar os conceitos e os objetivos da iniciação esportiva e da especialização esportiva.

2.     Metodologia

    Trata-se de uma revisão de literatura expositiva, no qual foi realizada uma busca de artigos na Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) nas bases de dados: LILACS e SCIELO. Foram ainda utilizadas outras fontes, as quais foram pesquisadas em livros, no site SCIRUS e no Google Acadêmico e, com isso, selecionou-se algumas dissertações de mestrado relacionadas ao tema proposto. Foram escolhidos os artigos indexados pelos descritores: iniciação esportiva, especialização esportiva e especialização esportiva precoce.

    Os critérios utilizados para inclusão dos artigos foram: disponibilidade na íntegra, estudos experimentais ou de revisão e que atendessem aos questionamentos e ao objetivo do estudo após a leitura dos mesmos.

    De acordo com os objetivos e estratégias metodológicas definidas para o estudo procurou-se identificar na literatura especializada as opiniões dos autores em relação às terminologias: iniciação esportiva e especialização esportiva.

3.     Revisão e discussão da literatura

3.1.     Iniciação Esportiva

    De acordo com os estudos de Vidal (2006) constatou-se que as alterações sociais, tais como a globalização, sociedade capitalista regida pela competitividade, afetam diretamente a definição da iniciação esportiva, e que, estas constantes modificações e a utilização de termos diferentes para conceitos parecidos aumentam a dificuldade em obter um consenso sobre a sua conceituação.

    Apesar das discordâncias na denominação presentes na literatura, Vidal (2006) conceitua a iniciação esportiva como uma atividade física que oferece ao indivíduo inúmeras possibilidades motoras e vivências no processo de aprendizagem de um grande número de jogos e modalidades esportivas, buscando desenvolver as capacidades e habilidades humanas nas dimensões motoras, cultural, social, cognitiva e afetiva.

    Para Barbanti (1979) a iniciação esportiva é a fase inicial de todo treinamento esportivo, com uma preparação generalizada para que as crianças possam colher experiências motoras em varias atividades. O ideal seria começá-lo aos 8-9 anos. Objetiva-se com isso conseguir as condições necessárias para atingir resultados esportivos elevados na idade adulta. Nessa mesma abordagem, Nunomura e Tsukamoto (2005) afirmam que a iniciação é uma etapa de formação generalizada, com o objetivo de ampliação do acervo motor da criança e estimular o prazer à prática.

    A iniciação esportiva pode ter um enfoque bastante diferenciado. Assim como Vidal (2006), Marques e Kuroda (2000) afirmam que pode ser pautado em uma prática esportiva educacional ou com o objetivo de formar futuros atletas. Drubscky (2003) ainda salienta que existem dois caminhos formadores no esporte: a iniciação esportiva escolar e a clubista, sendo que a estrutura clubista e as escolinhas esportivas são as que mais oferecem a iniciação esportiva mais direcionada à competição.

    Conforme Kunz (2001), a iniciação esportiva visa promover o desenvolvimento corporal, psíquico e social, possibilitando o reconhecimento de capacidades individuais próprias para ampliar a vivência de experiências e meios que promovam a autovalorização e melhora da autoestima. Com a mesma concepção de Kunz (2001), Ferreira (2008) acrescenta que além da criança adquirir níveis mínimos de desenvolvimento de suas qualidades físicas, psíquicas e motoras, também objetiva-se que ela seja capaz de exercer domínio sobre técnicas corporais básicas e, desta forma, a iniciar no aprendizado de diferentes técnicas específicas de um determinado esporte.

    Para Paes (2006), a iniciação esportiva deve ser diversificada, proporcionando a criança o conhecimento de diferentes modalidades e afirma que deve ocorrer o mais cedo possível, pois a prática do esporte desde a iniciação poderá proporcionar a criança inúmeros benefícios. Vidal (2006) ainda acrescenta que o indivíduo que teve uma iniciação ruim e não teve uma preparação adequada, provavelmente não terá sucesso no esporte de alto rendimento.

    Segundo Balbino (2001), o objetivo da iniciação esportiva é de preparar a criança para ser um potencial atleta de alto rendimento na vida adulta, o que corresponde a uma pequena parcela daqueles que iniciam nos esportes. Contrapondo-se a esta ideia, Paes (2006) declara que mais do que formar atletas é finalidade da iniciação esportiva, contribuir para a formação do cidadão, que eventualmente poderá ou não ser atleta.

Quadro 1. Comparação de conceitos da iniciação esportiva

 

Quadro 2. Comparação de objetivos da iniciação esportiva

    De acordo com Nascimento (2005), o trabalho na iniciação esportiva deve ser realizado de forma global, objetivando uma larga vivência e variadas experiências motrizes, voltadas para a modalidade, e só posteriormente iniciar a especialização esportiva.

    Arena e Böhme (2000) recomendam a fase dos 7 aos 12-13 anos para uma etapa de iniciação e formação básica geral, indicação que se aproxima do resultado apresentado por Silva et al. (2001) que aponta para a faixa dos 8-12 anos para desportos individuais e a faixa de 10-12 anos para as modalidades coletivas. Sendo que nos estudos de Silva et al.(2001), deparou-se com a idade real para modalidades individuais de 5-8 anos e para modalidades coletivas de 7-10 anos, enquanto que nos estudos de Arena e Böhme (2000), o início da prática específica de uma modalidade vem acontecendo em idades abaixo das recomendadas pela literatura (1-2 anos antes), diretamente relacionadas com as idades da primeira categoria da federação.

    Greco (1997) sugeriu um sistema de formação e de treinamento esportivo composto de fases sequenciais: fase pré-escolar, dos 2/3 aos 6 anos; fase universal, que vai dos 6 anos até os 12 anos; fase de orientação, dos 12 anos até 14 anos; fase de direção, que se refere aos 14 anos até os 16 anos; em seguida, vem a fase de especialização, compreendendo os 16 anos e abrange até os 18 anos; fase aproximação/integração, dos 18 anos até 21 anos e por fim, a fase de alto nível ocorre a partir dos 21 anos. A fase universal é a mais ampla e rica do processo de formação esportiva, caracterizada pela iniciação esportiva, em que se procura desenvolver todas as capacidades motoras e coordenativas de uma forma geral, criando base ampla e variada através de movimentos que ressaltam o aspecto lúdico.

    Através dos resultados observados no estudo de Arena e Böhme (2004) verificou-se que existe um sistema de competição realizado em idades baixas ou precoces, em alguns esportes como futsal, ginástica, judô, natação e tênis, comparando com a proposta da literatura. No entanto, outras federações (basquetebol, handebol, voleibol e atletismo) apresentam idades adequadas para o início da competição.

    De acordo com Santana, França e Reis (2007) não é preciso se iniciar e competir cedo no esporte, tampouco praticá-lo exclusivamente, para se alcançar categorias futuras e, por conseguinte, almejar um futuro promissor, já que os atletas avaliados em seu estudo conseguiram bons resultados sem se submeterem a especialização precoce.

3.2.     Especialização Esportiva

    De acordo com Barbanti (1979), o sucesso nesta etapa depende da boa formação nas etapas anteriores e afirma que a especialização esportiva tem como objetivo preparar o atleta para resultados e competições de alto nível.

    Weineck (2003) acredita que em diversos tipos de esportes não se pode obter um elevado desempenho sem que haja uma especialização orientada e oportuna, além disso, afirma que atletas que iniciaram sua vida esportiva mais tarde apresentam um perfil de desempenho diverso, enquanto os melhores em modalidades esportivas mais sofisticadas, que exijam grande coordenação e aprimorada técnica, iniciaram na infância.

    Segundo Nascimento (2005), a especialização esportiva deve ser embasada nas Ciências do Esporte, em princípios didáticos e metodológicos que contribuam para o desenvolvimento da personalidade do jovem e constituam meios para obtenção de rendimentos no futuro.

    Paes (2006) ainda acrescenta que se devem considerar e respeitar o processo natural de crescimento e desenvolvimento da criança, compatibilizando a proposta pedagógica com suas características e sua fase sensível à aquisição das habilidades motoras especifica.

    Kunz (2001) a define como um processo de treinamento planejado e organizado de longo prazo e que se efetiva em um mínimo de três sessões semanais, visando gradual aumento do rendimento, além de participação periódica em competições esportivas. Nunomura e Tsukamoto (2005) contribui com a definição de que a especialização esportiva é uma etapa que ocorre a canalização dos esforços para a prática especializada de uma única modalidade, visando à obtenção de resultados máximos.

    Greco (1997) a considera como uma fase em que enfatiza a modalidade escolhida, por meio do aperfeiçoamento técnico e tático, desenvolvendo comportamentos táticos de alto nível competitivo com aumento da participação em competições. Enquanto Ferreira (2008) a define como prática sistemática de atividades adequadamente planejadas e orientadas. Com o objetivo que os gestos motores tornem-se gradualmente mais consistentes e que a execução das técnicas específicas sejam realizadas com mais dinamismo, precisão, eficácia e economia de função.

Quadro 3. Comparação de conceitos da especialização esportiva

 

Quadro 4. Comparação de objetivos da especialização esportiva

    Agora a especialização esportiva precoce abordada por Ramos e Neves (2008, p. 1), se refere “ao processo pelo qual crianças tornam-se especializadas em um determinado esporte mais cedo do que a idade apropriada para tal”. É um processo de adaptação ao ambiente esportivo em determinado grau, de forma prematura e antecipada, supondo-se, o adiantamento de adaptação a determinadas etapas (BALBINO, 2001).

    É importante mencionar que a decisão de alguns treinadores e pais de escolherem uma única modalidade esportiva para a criança irá limitar suas oportunidades de tornar-se uma atleta de alto rendimento somente para aquela modalidade, no entanto, uma base generalizada de aprendizagens esportivas poderá garantir um número maior de opções, não apenas para carreiras esportivas, como também para uma prática permanente de uma atividade esportiva componente de um estilo de vida ativo (KREBS, 2001).

    Com a mesma concepção de Krebs (2001), Nascimento (2005) salienta que a especialização precoce pode acarretar definição por uma modalidade e a especificidade de uma posição ou de uma prova de forma antecipada. Esse fato pode acarretar a impossibilidade de outras experiências e a restrição de outros movimentos, justificando a afirmativa de que a especialização precoce não é garantia de atletas bem sucedidos.

    Nunomura, Carrara e Tsukamoto (2010) não recomendam a especialização precoce, pois acarreta uma série de consequências negativas, seja em médio ou longo prazo, aos praticantes, tais como redução do repertório motor; aumento da incidência de lesões; prejuízos gerais ao desenvolvimento da criança; manifestação de efeitos psicológicos negativos como o “burnout”; desmotivação e prejuízos à formação escolar.

4.     Conclusão

    Existe um consenso em que a prática de atividades físicas para as crianças é um fator extremamente importante que abrangem todas as dimensões do seu desenvolvimento, seja social, cognitivo, afetivo, físico ou motor. Assim, deve ter por quem a orienta, uma atenção cuidadosa no que se refere a seus objetivos e métodos, pois da mesma maneira que o esporte pode ser um excelente instrumento para a saúde, pode ser prejudicial caso não seja orientado e conduzido de forma adequada.

    Observou-se que existe uma tendência a especialização do treinamento esportivo realizado abaixo da idade recomendada pela literatura. É importante mencionar que a iniciação esportiva, assim como a especialização esportiva, foram vistas como uma etapa, um processo e que ainda existe confusão para definição de conceito, já que existem ações iguais para diferentes denominações, e ainda, diferentes denominações para diferentes ações. O universo de compreensões diferenciadas sobre a iniciação e a especialização esportiva é grande e recebem interferências dos locais onde estão situadas, da estrutura que as envolvem e dos objetivos com que são tratadas. Estes desencontros de informações foram um fator motivador para o desenvolvimento deste estudo.

    É visível nas abordagens que há uma fase antecedendo a outra, a geral antecede a especializada, ou seja, há um consenso sobre a recomendação que a iniciação esportiva seja realizada primeira. Subentende-se que qualquer adiantamento ou substituição é, no mínimo, passível de questionamento.

    O profissional que trabalha com crianças e jovens atletas necessita compreender que começar cedo no esporte não é necessariamente começar precocemente o treinamento sistematizado com competições regulares em uma determinada modalidade. É consenso que o início da prática esportiva generalizada de diferentes esportes é um aspecto positivo, então é preciso que a formação esportiva seja desenvolvida por professores de Educação Física preparados e capazes de estabelecer objetivos, conteúdos, metodologia e avaliações diferenciadas a cada nível de maturação da criança e tendo como principal objetivo o desenvolvimento global dela, o respeito à sua individualidade e suas necessidades.

    Enfim, com o entendimento destas terminologias espera-se a adoção de um sentido crítico e bom senso do profissional em educação física em julgar e estabelecer o melhor momento para iniciar e especializar uma criança ao esporte, considerando as vantagens e desvantagens que a iniciação esportiva e a especialização esportiva produzem na vida da criança. O que se quer propor é que esses conceitos sejam aplicados à prática, de forma a levar o esporte a se tornar mais centrado no próprio homem, promovendo os valores positivos de sua prática, não apenas se remetendo ao alto nível.

Referências

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