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Perfil do estilo de vida relacionado à saúde de professores

Perfil del estilo de vida relacionado con la salud de los profesores

Profile of lifestyle and health of teachers

 

*PPG Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde, Centro

de Ciências Naturais e Exatas, Universidade Federal de Santa Maria, UFSM

**Enfermeiro Hospital Santa Casa de Caridade de Uruguaiana, Rio Grande do Sul

***Médica Residente do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia

do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Maria, UFSM

****Professor Adjunto da Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA

Uruguaiana, Rio Grande do Sul
(Brasil)

Renato Xavier Coutinho*

Wendel Mombaque dos Santos**

Max Castelhano Soares*

Caroline Mombaque dos Santos***

Vanderlei Folmer****

Robson Luiz Puntel****

renatocoutinho@msn.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo avaliou o estilo de vida relacionado à saúde de professores de escolas públicas estaduais de Uruguaiana. Trata-se de uma pesquisa descritiva, quantitativa e de delineamento transversal. Os dados foram obtidos através do pentáculo do bem estar que avalia o perfil do estilo de vida, ele possui 15 questões fechadas e divide-se em cinco componentes: nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamentos e controle do stress. A amostra constou de 111 professores. Os resultados apontam que apenas 16% apresentaram um estilo de vida considerado positivo, foi observado também que a pior média obtida pelos professores está relacionada ao componente atividade física, as mulheres se alimentam melhor e se cuidam mais. Além disso, foi identificada uma correlação entre carga horária de trabalho e os componentes nutrição, relacionamentos e controle do stress, ou seja, quanto maior a carga horária de trabalho do sujeito maior a tendência dele ter um estilo de vida negativo. Portanto podemos inferir que boa parte dos professores apresenta comportamento de risco elevado para desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, fato este bastante preocupante que deve subsidiar ações junto aos professores da rede pública de Uruguaiana.

          Unitermos: Estilo de vida. Saúde. Professores.

 

Abstract

          The aim present study was to evaluate the lifestyle related to health of public school teachers from Uruguaiana. This research is a descriptive, quantitative and cross-sectional. The data were obtained through the questionnaire of the Pentagram which evaluates the lifestyle profile, it has 15 multiple choice questions and is divided into five components: nutrition, physical activity, preventive behavior, relationships and stress management. The sample consisted of 111 teachers. The study results show that only 16% had a lifestyle considered positive was also observed that the worst average obtained by teachers is related to physical activity component, and the women eat better and take more care with their own health. Furthermore, we identified a correlation between workload and the components nutrition, relationships and stress management, how the higher the workload of the person more likely a lifestyle considered negative, principally mainly on aspects related to physical activity and nutrition. Thus we can conclude that the most of teachers presents a high risk for developing chronic diseases, a fact of great concern that should support educational actions in the public school teachers of Uruguaiana.

          Keywords: Life stile. Health. Teachers.

 

          Agradecimentos: CAPES, CNPq, FAPERGS, FINEP.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O estilo de vida é um importante indicador para verificar as condições de saúde de determinados grupos da população, uma vez que os mesmos podem determinar uma melhor ou pior qualidade de vida (Nahas, 2006). Conforme Nahas (2006), o estilo de vida é um dos fatores mais importantes para a manutenção da saúde, bem como para favorecer a longevidade da população e representa o conjunto de ações cotidianas que reflete as atitudes e valores das pessoas. Estes hábitos e ações conscientes estão associados à percepção de qualidade de vida do indivíduo. Os componentes do estilo de vida podem mudar ao longo dos anos, mas isso só acontece se a pessoa conscientemente enxergar algum valor em determinado comportamento que deva ser incluído ou excluído, além de perceber-se como capaz de realizar as mudanças pretendidas.

    Estudos sobre o estilo de vida e as condições de saúde dos professores da educação básica são escassos no Brasil. Segundo Delcor et al (2004) a maioria dos estudos sobre esse tema exploram especialmente os efeitos do trabalho sobre aspectos da saúde mental, como o estresse e a Síndrome de Burnout. No entanto, sabe-se que outros problemas podem afetar a saúde dos professores, principalmente os relacionados à forma de organização do trabalho docente, ou seja, a elevada carga horária, o excesso de alunos nas aulas e a falta de tempo para atividades de planejamento e lazer (Delcor et al. 2004; Gasparini et al. 2005).

    Além disso, entre os temas transversais dispostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais elaborados pelo Ministério da Educação (Brasil, 1998), que buscam orientar o desenvolvimento de ações no contexto escolar está o tema saúde. Deste modo, entende-se que o conhecimento das questões relativas à saúde e o estilo de vida dos professores é fundamental para o trabalho nas escolas e o sucesso do processo de ensino-aprendizagem do tema transversal saúde no contexto escolar. De fato, Nahas (2006) aponta que o conhecimento de uma determinada questão por uma pessoa, está relacionado diretamente com a atitude que essa pessoa tem diante dessa questão. Assim, a partir do momento em que o professor tiver consciência da sua saúde ele terá melhores condições de ensinar os conteúdos relacionados à mesma.

    Neste contexto, os professores podem colaborar com a educação em saúde, pelo fato de seu constante convívio com escolares favorecer o desenvolvimento de orientação quanto aos cuidados com a saúde agindo, assim, como parceiros dos programas preventivo-educativos (Ferreira et al. 2005; Gonçalves et al. 2008; Leonello e L’Abbate, 2006). Portanto, a partir do exposto e da importância de um estilo de vida saudável para que os professores possam desempenhar bem o seu papel no ambiente escolar, o presente estudo teve o objetivo de avaliar o estilo de vida relacionado à saúde de professores de escolas públicas estaduais de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, Brasil.

Metodologia

    Esta pesquisa se constitui em um estudo descritivo, quantitativo e transversal, no qual os professores foram interpelados diretamente em palestras realizadas nas escolas públicas de Uruguaiana sobre as questões que afetam a saúde deles. A rede pública estadual de Uruguaiana é composta de aproximadamente 520 professores, a partir disso procedeu-se o cálculo amostral para definir o tamanho da amostra (e=0,05; p=0,1; a=0,05), o qual resultou em uma amostra mínima de 110 indivíduos. Quanto a proporção de homens e mulheres no exercício do magistério em Uruguaiana, em um estudo anterior (Coutinho, 2010) foi identificado que em torno de 79% dos professores do município são do sexo feminino.

    Para a realização da pesquisa foi utilizado o pentáculo do bem estar do perfil do estilo de vida de Nahas et al. (2000), validado por Hernandez et al. (2007), cujos componentes são: nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamentos e controle do stress. O questionário possui 15 itens (questões fechadas), sendo 3 em cada um dos componentes do pentáculo. Para responder as questões havia quatro alternativas: (0) absolutamente não faz parte do seu estilo de vida; (1) às vezes corresponde ao seu comportamento; (2) quase sempre verdadeiro no seu comportamento; (3) a afirmação é sempre verdadeira no seu dia a dia. Foram considerados com o estilo de vida positivo os indivíduos que apresentaram escores médios superiores a 2 pontos em todos os itens do pentáculo do bem estar (2=quase sempre verdadeiro no seu comportamento). Esta classificação seguiu o descrito em Nahas (2006) o qual aponta que os escores próximos a zero indicam a ausência do item no estilo de vida, enquanto os próximos a três apontam para a realização do comportamento analisado.

    A análise quantitativa dos dados foi realizada com o programa SPSS Statistics 17.0. Foram analisadas as médias dos escores em cada um dos componentes e itens do pentáculo. Utilizou-se o teste Mann-Whitney para comparar os dados das médias segundo o sexo (masculino X feminino) e o teste Kruskal-Wallis para comparar os dados das médias segundo a carga horária docente (20horas X 40horas X 60horas). Também foi realizado o teste de correlação de Spearman para buscar identificar se existe correlação entre a carga horária e algum dos itens do pentáculo. Em todos os testes foi considerado o nível de significância P<0,05.

Resultados

    Responderam ao instrumento 111 professores da rede pública estadual no município de Uruguaiana, sendo 16 do sexo masculino e 95 do sexo feminino. Destes professores 24 trabalham sob o regime de 20 horas semanais, 67 sujeitos 40 horas e 20 trabalham 60 horas. Os resultados do estudo apontam que apenas 18 professores (16%) apresentaram um estilo de vida considerado positivo (média superior a dois pontos em todos os itens do questionário). A média de pontuação nos questionários foi de 23 pontos de um total de 45 possíveis, a maior pontuação foi 36 e a menor foi 5 pontos. É possível observar na Figura 1, a qual representa o estilo de vida coletivo (média do grupo), que o grupo apresenta escores abaixo do ideal em vários comportamentos, principalmente, no componente atividade física.

Figura 1. Perfil do estilo de vida coletivo

    Ao analisarmos os cinco componentes do pentáculo (Tabela 1), foi possível observar que a pior média obtida pelos professores está relacionada ao componente atividade física, seguido dos itens nutrição, comportamento preventivo, controle do stress e o relacionamento social. Além disso, podemos notar na Tabela 1 que conforme aumenta a carga horária dos professores há um leve decréscimo no escore médio em todos os componentes e itens do pentáculo.

Tabela 1. Escores médios e associação entre carga horária e estilo de vida

    Em relação ao sexo (Tabela 2), foram identificadas diferenças significativas nos itens relacionados ao componente nutrição (alimentação com frutas e verduras, alimentos gordurosos e o número de refeições ao dia) e ao componente comportamento preventivo (conhecimento e controle sobre a pressão arterial e o nível de colesterol, realização de exames preventivos regularmente). Os resultados apontam que as mulheres se alimentam melhor e se cuidam mais, já nos itens atividade física, relacionamento social e controle do stress houve um equilíbrio.

Tabela 2. Diferenças de comportamento entre homens e mulheres

    Devido ao fato de vários estudos apontarem que o excesso de carga horária é um dos principais responsáveis pelas dificuldades e problemas de saúde dos professores, foi analisada a associação entre a carga horária de trabalho dos professores e aspectos relacionados ao estilo de vida, sendo verificado que existe uma correlação negativa entre os itens do pentáculo e a carga horária. A Tabela 3 mostra que quanto maior a carga horária de trabalho do sujeito menor a tendência dele ter uma alimentação saudável (r = - 0,213; p = 0,025), de sentir-se um sujeito útil no ambiente social (r = - 0,207; p = 0,029), e de dedicar-se ao próprio lazer (r = - 0,189; p = 0,047). Sendo assim, constata-se que o excesso de trabalho incide principalmente nos aspectos relacionados à nutrição, relacionamentos e controle do stress (Tabela 3).

Tabela 3. Correlação entre carga horária e estilo de vida

Discussão

    Os resultados demonstram que os maiores problemas para um estilo de vida saudável dos professores estão relacionados aos componentes atividade física e comportamento preventivo. As dificuldades relativas à atividade física se relacionam à carga horária de trabalho, o que também é apontado em outros estudos sobre a saúde de professores (Delcor et al. 2004; Gasparini et al. 2005; Rocha e Fernandes, 2008).

    Assim, podemos apontar que esses professores, os quais não praticam atividades físicas, têm maior probabilidade de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis (doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças respiratórias crônicas), pois a prática regular de atividade física reduz, por si só, em 35% o risco de morte por doenças cardiovasculares e em 33% a mortalidade por todas as causas (Nocon et al. 2008).

    Sobre o consumo de bebidas alcoólicas e o tabagismo podemos apontar que mesmo sendo aspectos desfavoráveis para a saúde, o uso principalmente de álcool é socialmente aceito e considerado por muitos professores, conforme suas manifestações nas palestras, como um momento de descontração, lazer e relaxamento. Deste modo esses comportamentos não são vistos como algo ruim (pelos professores), havendo uma compensação dos malefícios desses hábitos pelo prazer que eles proporcionam. Entretanto o consumo de álcool tem efeitos na estabilidade psicológica dos indivíduos, podendo repercutir no rendimento profissional, dependência, no envelhecimento e em mortes violentas (Gaspar et al. 2006).

    Acerca dos benefícios dos comportamentos preventivos, Nahas et al. (2000) citam como um importante comportamento preventivo conhecer a pressão arterial e os níveis de colesterol. Quando esses controles não são realizados, o indivíduo fica mais suscetível aos problemas cardiovasculares, podendo ocorrer um acidente vascular e levá-lo até a morte, demonstrando com isso a relevância da realização de exames periódicos e a redução do consumo de bebidas alcoólicas e o tabagismo.

    Os melhores escores obtidos pelos professores foram nos componentes relacionamentos ao controle do stress e comportamento preventivo. Podemos apontar que o perfil positivo nas questões relacionadas aos relacionamentos estão ligadas ao próprio ambiente escolar, pois é o espaço onde os professores passam a maior parte do seu dia e podem interagir com colegas e estudantes. Além disso, essas relações interpessoais exercem uma pressão para que a pessoa cuide de sua própria saúde, influenciando no comportamento preventivo, porque quando um professor realiza exames ou adoece, os outros ficam sabendo e comentam sobre o assunto. De acordo com Carmona e Melo apud Carneiro et al. (2007) esta situação ocorre quando uma pessoa tem uma conduta interpessoal efetiva e desenvolve uma rede social de apoio, onde o problema de um repercute na vida do outro, assim, um fato é capaz de influenciar na prevenção dos problemas de saúde de todos os indivíduos da rede.

    Em relação ao controle do estresse, Nahas et al. (2000) entendem que a identificação das situações de estresse permitem que a pessoa aprenda a reagir de maneira equilibrada e acabe sofrendo menos as consequências desses eventos. Neste estudo podemos notar que os momentos de relaxamento e descontração não estão associados à atividade física, ou seja, os instantes de lazer dos professores são predominantemente passivos. De fato, os momentos de descontração na região onde se desenvolveu o estudo têm uma influência cultural bastante evidente marcada pelo consumo do chimarrão, o qual ocorre na "roda de chimarrão", considerado um ritual público de descanso, tempo de entretenimento entre amigos e família (Woortmann, 2009).

    Além disso, a prática de atividade física nos momentos de lazer é dificultada pelo tipo de trabalho dos professores, o qual pode ser desgastante física e psicologicamente. De fato, boa parte dos professores trabalham em mais de uma escola, obrigando-os a se deslocar de uma escola para outra, o que contribui para aumentar o desgaste da atividade docente.

    Quanto às diferenças entre os sexos podemos apontar um viés de gênero, no qual as mulheres se cuidam mais e possuem hábitos mais saudáveis. Conforme Spirduso (2005) existem explicações sociais para isso, baseadas na desigualdade de trabalho e de responsabilidade entre homens e mulheres, pois às mulheres, na maioria das vezes, é atribuído o papel de cuidadora da saúde de sua família, e também pelo fato de elas terem mais contato com os sistemas de saúde. Ainda, segundo Korin (2001), a sociedade aponta sucesso e força como características masculinas, os homens acabam buscando, no processo de socialização (pela mídia, entre pares, na família), o distanciamento de características relacionadas ao feminino: sensibilidade, cuidado, dependência, fragilidade. Estas atribuições simbólicas diferenciadas entre homens e mulheres resultam, muitas vezes, para os homens, em comportamentos que os predispõem as doenças, lesões e mortes. O mais comum é que homens casados dependam de suas mulheres no cuidado à saúde.

    Portanto, após este estudo é possível afirmar que quanto maior a carga horária de trabalho do professor, mais negativo é o estilo de vida do sujeito, pois falta tempo para atividades físicas. As pessoas acabam optando por alimentos industrializados cujo preparo é mais rápido, porém menos saudáveis, além do tempo reduzido para atividades de lazer e relaxamento que leva ao aumento dos níveis de estresse.

Conclusões

    Os resultados do presente estudo evidenciaram que a maioria dos professores investigados não possui um estilo de vida saudável. O componente atividade física foi aquele em que os professores apresentaram pior resultado, sendo destaque nesse contexto o reduzido número de sujeitos que realizam atividade física de forma regular ao menos 30 minutos de forma contínua, 5 ou mais dias na semana. Além disso, destaca-se negativamente o consumo de cigarro e/ou álcool e o item alimentação com frutas e verduras. Deste modo, podemos inferir que boa parte dos professores apresenta um comportamento de risco elevado para desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, fato este bastante preocupante que deve subsidiar ações junto aos professores da rede pública de Uruguaiana.

    A partir deste estudo, portanto, entendemos ser importante a difusão desses dados, dentro e fora dos meios acadêmicos, servindo de alerta e de respaldo para futuras intervenções na saúde desses indivíduos, pois a aquisição e manutenção de hábitos saudáveis pelos professores são fundamentais para o desenvolvimento de ações que trabalhem o tema transversal saúde no ambiente escolar.

Referências bibliográficas

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