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Obesidade na infância e o desenvolvimento motor de crianças

de 6 a 10 anos de escolas públicas de Montes Claros, MG

La obesidade en la infancia y el desarrollo motor de niños de 6 a 10 años de escuelas públicas de Montes Claros, MG

 

*Mestranda na Universidad Autônoma de Asunción

**Laboratório de Estudos do Movimento Humano, LEMOH
Departamento de Educação Física, UFLA
(Brasil)

Clécia Pereira Rocha*

cleciarochapereira@hotmail.com

Prof. Dr. Sandro Fernandes da Silva**

sandrofersilva@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo procurou verificar a influência da obesidade no desenvolvimento motor de crianças de 06 a10 anos pertencentes às series iniciais do ensino fundamental de escolas publicas do Município de Montes Claros, MG. A pesquisa teve a participação de 60 crianças de ambos os sexos, sendo 29 não obesos (G1) e 31 obesos (G2). Para a realização desta pesquisa foi solicitado às diretoras das escolas participantes autorização, assim como os pais dos alunos através do termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo se caracteriza por ser uma pesquisa descritiva do tipo exploratória, com enfoque quantitativo com a finalidade de verificar similaridades, explicar possíveis diferenças do desenvolvimento motor de grupos de não obesos e obesos. Com base nos resultados obtidos podemos concluir que os alunos obesos têm baixo nível no desenvolvimento motor. O que demonstra que crianças obesas não têm uma estimulação motora, pois muitas vezes são excluídas nas atividades físicas diárias principalmente na escola e o estilo de vida que é adotado por muitas dessas crianças também não deixa de interferir. Comparando os alunos não obesos do grupo (G1) e dos obesos (G2) podemos analisar que das variáveis estudadas foram satisfatórias para os aspectos antropométricos para os não obesos, enquanto os obesos a obesidade interferiu nos resultados, onde foi verificadas diferenças estatisticamente na media variável.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Obesidade infantil. EDM.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A obesidade hoje consiste em um grande problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Diversos estudos estão sendo realizados nas últimas décadas e demonstram haver um crescimento ascendente da obesidade, e está apresenta-se cada vez mais cedo, tornando a obesidade infantil uma doença nutricional de grande repercussão na vida do individuo1,2,3,4,5,6,7.

    A criança obesa ou em sobrepeso possui limitações físicas e psicológicas que influencia em sua socialização e saúde como um todo7,8. A sociedade com o avanço tecnológico trouxe consigo as facilidades e consequentemente o sedentarismo, refeições rápidas – Feds Foods e guloseimas, associadas a diversões “paradas” – jogar vídeo game, conservar com os amigos pela internet7,8,9,10. Também não poderíamos deixar de lado o problema da segurança pública, o que leva os pais não permitirem que os filhos vão á pé para a escola, buscando sempre o deslocamento por carro.

    As crianças do século XXI possuem baixo gasto energético associado ao grande consumo de calorias. Esta preocupação está relacionada ao fato de que o desenvolvimento da celularidade adiposa neste período será determinante nos padrões de composição corporal (especificamente na porcentagem e peso da massa corporal gorda) de um indivíduo adulto5,11.

    A incidência da obesidade na infância, conforme estudos publicados pela Pesquisa Nacional Sobre Saúde e Nutrição2,3,9 mostram que 7% dos meninos e 9% das meninas brasileiras são obesas.

    Sendo assim, a idade escolar, compreendida entre 06 e 10 anos, é um período de intensas alterações estruturais nas crianças. Nesta fase a criança é extremamente ativa e possui habilidades motoras que lhes permitem explorar de modo eficiente o meio em que vive12. Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor normal (DNPM) pode ocorrer em conseqüência da reduzida atividade motora e falta de interesse pelo exercício físico, uma das características mais freqüentemente encontradas nas crianças portadoras de obesidade infantil.

    Para tanto, o objetivo geral foi verificar a influência da obesidade no desenvolvimento motor de crianças 06 a 10 anos pertencentes ás series inicias do ensino fundamental de escolas publicas do município de Montes Claros/MG. Tendo como objetivos específicos: verificar índice de massa corporal (IMC) das crianças, verificar possível atraso no desenvolvimento motor da obesidade, verificar fator da obesidade que afeta o desenvolvimento motor em crianças de 6 a 10 anos, correlacionar o perfil motor das crianças obesas por sexo, aplicar testes motores de Rosa Neto Escala de Desenvolvimento Motor (EDM)13,14.

    O desenvolvimento desta pesquisa levou em consideração comparações sobre os padrões da atividade motora de crianças obesas e não obesas, a primeira impressão que temos é a de que as crianças magras são mais ativas, porém, se as obesas exercitam menos que as não obesas é uma questão complexa. Entretanto, em relação á obesidade os achados mais evidentes em estudos realizados com o propósito de caracterizar os padrões dos movimentos de membros, demonstram hiporatividade de crianças obesas2,15. Desta forma, pode-se presumir que esta hiporatividade é um fator contribuinte para o ganho de peso excessivo na infância. Estas respostas foram observadas por Johnson16 avaliando alguns parâmetros motores de um grupo de escolares de mesmo nível sócio econômico, altura e idade. Porém sobre o desenvolvimento motor de crianças obesas verificou-se poucas pesquisas. Assim sendo é um campo a ser explorado.

    Para tanto é importante este estudo por se tratar de um assunto de suma importância para os acadêmicos e profissionais da saúde.

Metodologia

    Esta pesquisa caracterizou-se como uma pesquisa descritiva do tipo exploratória, com enfoque quantitativo. A população foi constituída por alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental das Escolas Estaduais da cidade de Montes Claros/MG. Sendo a amostra constituída por 60 alunos de ambos os gêneros com idade entre 06 e 10 anos.

    Para fazerem parte do estudo, os sujeitos deveriam estar acima do peso para sua idade e possuírem o peso normal para a idade. Foram vetados todos aqueles que os pais não concordaram com os termos propostos. Sendo também respeitada a vontade das crianças que se recusaram a participar mesmo com a autorização dos pais. E foram excluídos os que não compareceram no dia da coleta de dados.

    Durante a realização da pesquisa os examinadores/pesquisadores tiveram a responsabilidade e a ética de seguir todos os padrões e regras regidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e da Resolução do Conselho Nacional de Saúde - CNS 196/96 de 10/10/1996. O referido estudo possui a aprovação do Comisión de Ética en investigación con seres humanos y animales da Universidad Autonóma de Asunción nº 22/11.

    As avaliações foram realizadas durante três meses onde os testes eram realizados individualmente. Sendo os participantes distribuídos de acordo com a idade cronológica, seguindo os critérios de Rosa Neto14, EDM (Escala de Desenvolvimento Motor). Os participantes foram analisados em dois grupos G1 e G2, o grupo G1, os que estavam acima do peso para sua idade e o G2 aqueles que possuíam o peso normal para sua idade. O peso ideal foi através do cálculo do IMC16.

    Os equipamentos para a aferição antropométrica foram uma fita métrica (metálica), e uma balança com precisão de 100g, de marca BRITÂNIA para medir o peso corporal. Para os valores das dobras cutâneas (DC) utilizou-se um instrumento especifico denominado compasso de Dobras cutâneas de marca SANNY. Todos os materiais utilizados na coleta eram periodicamente verificados durante todo o período da pesquisa.

    Para verificar o percentual de gordura utilizou-se o protocolo de Lohman43. Equação de Lohman43 para crianças e jovens de 06 a 16 anos de idade: G% = 1,35 (TR+SB) - 0,012 (TR+SB)² - C

    Para a avaliação do desenvolvimento motor, foram utilizados os critérios de Rosa Neto14, EDM (Escala de Desenvolvimento Motor). As variáveis analisadas foram: Motricidade fina, Motricidade global, Equilíbrio, Esquema corporal, Organização espacial, Organização temporal, Lateralidade, Prova motora, Idade motora, Idade cronológica, Idade motora geral, idade negativa ou positiva (IN/IP), Quociente motor geral.

    Os testes foram diversificados e com dificuldades graduados para cada faixa etária. O tempo estimado era de 30 a 45 minutos, apesar de alguns realizarem em cerca de 60 minutos.

Tratamento estatístico

    As variáveis investigada nesse estudo foram descritas através de suas distribuições de freqüência, medidas de centro e variabilidade e intervalos de confiança de 95% (variáveis quantitativas). Utilizou-se: Teste do Qui-quadrado, teste t Student, Coeficiente de Pearson, regressão linear múltipla. Todas as análises foram efetuadas com o PASW Statistics (v. 18: SPSS Inc, Chicago, IL). Adotou-se para todas as análises uma probabilidade de erro tipo I (a) de 0,05.

Resultados

    A amostra foi composta por 29 (48,3%) escolares não obesos e 31 (51,7%) escolares obesos. As distribuições de freqüência desses escolares segundo sexo e idade (em anos) estão apresentados na tabela 1, observa-se que os dois grupos não apresentaram diferenças significativas (valor-p = 0,951 e 0,812).

Tabela 1. Distribuição de freqüência dos escolares não obesos e obesos segundo sexo e idade cronológica

    Os valores médios das variáveis antropométricas, com seus respectivos intervalos de confiança de 95%, segundo grupo de escolares (não obesos e obesos) estão descritos na tabela 2. Observam-se diferenças estatisticamente significantes entre as médias de IMC (p=0,000), D.C. tricipital (p=0,000), D.C. subescapular (p=0,000), e percentual de gordura (p=0,000). Quanto à idade cronológica, não foi observada diferença significante entre as médias dos dois grupos comparados (p=0,397).

    Os valores médios das variáveis de desenvolvimento motor, com seus respectivos intervalos de confiança de 95%, segundo sexo estão descritos na tabela 3. Foi observada diferença estatisticamente significante apenas na variável idade negativa (p=0,031), nos quais os escolares do sexo masculino apresentaram média inferior às do sexo feminino.

    Na tabela 4 estão apresentados os valores médios, desvio-padrão e intervalo de confiança das variáveis de desenvolvimento motor nos dois grupos de escolares (não obesos e obesos). Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre as médias comparadas.

    As correlações entre a idade cronológica e as variáveis de desenvolvimento motor estão apresentadas, através do coeficiente de correlação de Pearson, na tabela 5. Foram observadas fortes correlações positivas entre a idade e praticamente todas as variáveis investigadas, exceto a variável coeficiente motor geral (r= 0,087).

Tabela 5. Coeficiente de correlação de Pearson (r) entre idade cronológica e variáveis de desenvolvimento motor

    Tendo em vista que a idade está altamente correlacionada com o desenvolvimento motor, foram ajustados modelos de regressão linear para verificar a associação entre obesidade (variável independente) e desenvolvimento motor (variáveis dependentes) controlando a idade (co-variável) dos escolares. Os modelos ajustados estão apresentados na tabela 6. Verifica-se que após ajuste pela idade, as associações entre obesidade e desenvolvimento motor mantiveram não significativas, exceto no modelo para a variável motricidade fina, que apresentou coeficiente β=5,3 para a variável grupo (não obeso e obeso) estatisticamente significante (p=0,007). Indicando um aumento de 5,3 unidades no valor médio da motricidade fina no grupo de obesos quando comparados com o grupo de não obesos, controlando a idade dos mesmos.

Conclusão

    A partir da analise das variáveis estudadas as médias relacionadas à avaliação foram satisfatória na maioria das variáveis de acordo com o desempenho de cada teste em todas as crianças estudadas, porém foi observada diferença estatisticamente significante na análise do aspecto antropométrico entre os dois grupos onde as crianças obesas sofreram alterações decorrentes da obesidade comparadas com as não obesas. Quanto à idade cronológica, não foi observada diferença significante entre as médias dos grupos.

    Conclui-se que as idades das crianças de ambos os grupos encontram-se de acordo com os padrões de normalidades tanto na antropometria como no desenvolvimento motor. Nos resultados deste estudo verificou que a associação entre obesidade e desenvolvimento motor se mantiveram não significantes ao comparar um grupo com o outro o que demonstra que a obesidade neste estudo ao contrario dos encontrados na literatura não houve interferência na obesidade no desenvolvimento motor. Sugere-se que no próximo estudo tenha uma amostra maior de participantes o que pode ter influenciado no resultado.

Referencias bibliográfica

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  16. Fernandes Filho J. A pratica da avaliação física: teses, medidas e avaliação física em escolares, atletas e academias de ginástica. Rio de janeiro: Shape, 2003:2.

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