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O universo circense: uma experiência de vida para o meio acadêmico

El universo del circo: una experiencia de vida para el ámbito académico

The circus universe: a life experience for the academic environment

 

*Mestre em Educação Física

**Bacharel em Educação Física

Universidade Nove de Julho, SP

(Brasil)

Dimitri Wuo Pereira*

Nataiane Alencar**

Deivid Silva**

dimitri@rumoaventura.com.br

 

 

 

 

Resumo

          As artes circenses vão além dos picadeiros nos dias de hoje, e a Educação Física pode aproximar-se dela para aumentar a motivação das aulas e incentivar a prática da atividade física. O objetivo dessa pesquisa é analisar as práticas circenses e relacioná-la com a Educação Física. O método utilizado é a pesquisa exploratória, tendo como instrumento uma entrevista com um sujeito que nasceu em família circense e atua como artista de circo. A escolha desse sujeito foi motivada por ser egresso de um curso de graduação em Educação Física, permitindo-lhe um olhar diferenciado sobre sua arte. A história do sujeito e sua aprendizagem das modalidades circenses (palhaço, acrobacias, trapézio, malabares, etc.) ocorreu tal qual a tradição circense, que se espalhou pelo mundo desde a idade média sendo transmitida de pais para filhos. Através da percepção do sujeito de da literatura estudada percebe-se que o circo pode contribuir para uma renovação das estratégias e conteúdos da Educação Física, acreditando-se inclusive numa maior aproximação desta com a arte.

          Unitermos: Artes circenses. Educação Física. Cultura.

 

Abstract

          The circus arts go beyond the riding stables today, and Physical Education can approach it to increase the motivation of the classes and encourage physical activity. The objective of this research is to analyze the practices circus and relate it to Physical Education. The method used is exploratory and the instrument was an interview with a man born in circus family and acts as a circus performer. The choice of this subject was motivated by being a graduate degree course in Physical Education, allowing him a different look on his art. The history of the subject and his learning modalities circus (clown, acrobatics, trapeze, juggling, etc.) occurred just as the circus tradition, which spread around the world since the average age being transmitted from parents to children. Through awareness of the subject studied in the literature it is clear that the circus can contribute to a renewal of the strategies and content of Physical Education, believing himself even closer to its citizens in the art.

          Keywords: Circus arts. Physical Education. Culture.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Educação Física é uma área de conhecimento que lida com ações corporais, vivenciadas de diversas formas, formando o que se conhece como cultura corporal. De acordo do Daolio (1995, p. 39) "[...] o ser humano, por meio do seu corpo, vai assimilando e se apropriando dos valores, normas e costumes sociais, num processo de incorporação". Em outros termos o ser humano incorpora a cultura por meio do seu corpo.

    Sendo assim, o circo, uma manifestação da ludicidade e fantasia construída desde a idade média, que tem no corpo humano seu principal instrumento artístico, é de extrema relevância para a Educação Física. Isto porque, as artes circenses não se restringem mais às lonas de circo, são também uma alternativa para quem pretende realizar exercícios, entrar em forma física, emagrecer, definir a musculatura, brincar, espantar o stress e acabar com o sedentarismo, como aponta Marietto (2011). Hoje se encontram em festas, parques, academias, clubes e escolas.

    Agregar os conhecimentos do circo à Educação Física pode ser uma alternativa que aguce o interesse e aumente a motivação das aulas nas escolas, favorecendo a aprendizagem e o gosto pelo movimento através de novas experiências que associam a diversão com o desafio de habilidades motoras variadas que o circo contém como o contorcionismo, o equilibrismo, o malabarismo, as acrobacias e o trapézio. Pode diferenciar-se assim o professor que concebe as artes circenses como possibilidade de conteúdo educacional.

    Nesta perspectiva, esse estudo objetiva estudar as diversas atividades circenses como: acrobacias, manipulações de objetos, equilíbrios corporais e encenações a partir das experiências de um profissional de circo relacionando-as com a Educação Física.

    Esta pesquisa de campo exploratória pretende analisar os dados como ocorrem para se familiarizar com o problema em questão. Sua natureza qualitativa usa a técnica de coleta de dados da entrevista do tipo aberta, para que o sujeito pesquisado possa desenvolver seu pensamento de forma ampla sobre o assunto (MARCONI e LAKATOS, 1993).

    O sujeito entrevistado é especialista em circo, tendo nascido numa família circense e conta com mais de 30 anos de experiência na área. Além disso, é graduando em Educação Física, o que favorece a pesquisa nas relações com a área, pois ele compreende as motivações do objeto de estudo em si.

As artes circenses e seus pressupostos históricos

    Os personagens que marcam a história do circo eram conhecidos como nômades. Eram esses viajantes que divertiam o público em praças e feiras durante a idade média, eram considerados vagabundos, mas atraiam a atenção das pessoas, pois na época dos reis, a igreja dominava o pensamento na Europa, e se os cristãos condenavam pela sua “imoralidade” aqueles que não trabalhavam, a população adorava os que os divertia em época tão negra contrariando com seu fascínio e deslumbramento os dogmas do ideal feudal de vida (SILVA, 1996).

    Desde o início do século XVIII, o circo se firma como um incontestável contentamento das famílias. Porém foi em 1770 que o oficial da cavalaria inglesa, Philip Astley, montou uma estrutura com arquibancadas em círculo e uma lona cobrindo o espaço, definindo o circo como o conhecemos hoje. O circo adquiriu então as características militares de seu organizador com uniformes, rufar dos tambores, vozes de comando para as situações de risco e a criação do mestre de cerimônias. Essa inovação talvez tenha diminuído as resistências ao estilo de vida nômade e livre, colocando ordem e facilitando a aceitação por parte das autoridades do período medieval.

    Já no século XIX surge uma nova atração, os animais selvagens vindo da África e Ásia, como serpentes, leões, gorilas, elefantes e ursos, tornaram o espetáculo ainda mais fantástico. O ilusionista foi outro personagem marcante dessa época, pois retirava das pessoas a capacidade de perceber o real levando-as ao imaginário e o desconhecido. Por fim o palhaço é tão antigo quanto o próprio circo, pois surgidos na Itália com roupas de espantalhos tinham como objetivo trazer a alegria para aqueles que viviam da força do trabalho na lavoura sua forma de viver. Eles representavam a composição entre o trabalho e o ócio que era negado aos cidadãos da época (TORRES, 1998).

    A partir de 1830, constatou-se a presença de vários artistas circenses levando sua arte além da Europa, principalmente com famílias ciganas de saltimbancos que viajavam de cidade em cidade. Essas pessoas transmitiam oralmente sua tradição, construindo assim uma escola única e permanente, mesmo sem registros escritos de seus saberes. O que se sabia era suficiente para ensinar os filhos e preparar peças teatrais. As crianças eram ensinadas desde o nascimento a se tornar artistas. Essa reprodução do conhecimento também era transmitida a quem não nascia nas lonas de um circo, bastava interesse e disposição para aprender o ritual circense, porém como esse se deslocava a pessoa interessada acabava incorporando-se as famílias e tornando-se um circense (SILVA, 1996).

    No Brasil, especificamente, o circo se expande pelo país e sofre mudanças principalmente em Minas Gerais sendo apresentado em teatros e locais fechados com cobrança de ingressos num modelo um pouco diferente do nomadismo clássico. O circo assim sempre se recria e se transforma, mas não se extingue. Observa-se que o entretenimento, os modelos de preparação física, a festividade sacra e religiosa e a apresentação para o público onde este estiver constitui-se na base da atividade circense (COSTA, TIAEN e SAMBUGARI, 2008).

    Segundo Bortoleto e Machado (2003) em 1977 instalou-se a primeira escola do circo no estádio do Pacaembu e logo após em 1982 surgiu a Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro. Essa formação especifica facilitou o acesso de quem não havia nascido numa família circense. Hoje em dia algumas escolas públicas e privadas incluem entre suas atividades as habilidades circenses de forma extracurricular ou como conteúdo da Educação Física. Nos cursos de graduação as artes circenses aparecem na UNICAMP através do Grupo de Estudo e Pesquisa das Atividades Circenses (CIRCUS), que tem por objetivo compreender essa manifestação cultural na sociedade (AYALA, 2008).

    Propor as artes circenses na Educação Física é aumentar o leque de opções para o professor e resgatar a cultura artística na formação do profissional da área trazendo consigo o valor educativo, performático, criativo, social, cultural e corporal.

As modalidades do circo

    De acordo com Bortoleto e Machado (2003) existem várias formas de se classificar as modalidades praticadas no circo. Pode se usar o critério das ações corporais, como mostra o quadro:

Classificação das modalidades circenses segundo as ações motoras

 

Aéreas

Trapézio, lira, corda, tecido, quadrante

Acrobacias

Corpóreas

De solo, em duplas, trios, banquinas, contorcionismo

Trampolim

Trampolim acrobático

Manipulações

De objetos

Malabares, mágica, fantoches, faquirismo, ventriloquia

De objetos

Claves, bastões e antipodismo

Equilíbrios

Sobre objetos

Perna de pau, monociclo, corda bamba, arame, rolo americano, bicicleta

Acrobáticos

Paradismo, mão a mão

Encenações

Artes corporais

Arte cênica, dança e música

Palhaço

Diferentes técnicas e estilos

Adaptado de Bortoleto e Machado (2003)

    A respeito das modalidades cada uma teve uma origem e um desenvolvimento.

    As acrobacias segundo Bortoleto (2008) confundem-se com a história humana de se relacionar com o mundo, pois o corpo nos permite fazer movimentos para nossa sobrevivência (caçar, pescar, construir, fugir) e para nossa convivência (música, dança, artesanato, guerra).

    O acrobata aprende a saltar no solo, fazer parada de mão, flic flac, rodantes, mortais e a cair de modo seguro. Bortoleto (2008) comenta que os movimentos são aprendidos de forma padrão partindo dos rolamentos, das posições invertidas, das rotações e assim por diante.

    Essas atividades não necessitam de muitos materiais e podem ser praticadas em qualquer lugar apenas com um colchão. Quando se avança na aprendizagem o uso de plintos, trampolins, e colchões maiores são necessários para garantir a segurança. As acrobacias muito se assemelham a prática da ginástica artística e muito influenciaram sua criação na Europa do século XIX.

    A acrobacia é a base para a vida no circo e seus praticantes são conhecidos como “dandis”.

    Nas acrobacias aéreas, cada material tem uma forma especifica e permite determinados movimentos. Ressalta-se que a altura é o elemento desafiador, pois as quedas podem gerar lesões aos praticantes.

    Os trapézios são pendurados e balançam permitindo a exibição com giros, largadas, saltos, e retomadas com e sem auxílio de um companheiro. Já na lira observa-se maior estabilidade com o arco que é preso por um cabo no topo do picadeiro e há grande exigência de força.

    As acrobacias realizadas no tecido são figuras e quedas. Segundo Bortoleto e Calça (2007) o tecido provavelmente surgiu da corda lisa que era constituída de uma corda de sisal ou de algodão. O tecido por sua vez permite realizar mais movimentos, pois é mais macio e as evoluções e movimentos corporais nele são mais variadas e esteticamente mais vistosas.

    O trampolim originou-se de um artista chamado Du Trampolin que viu a possibilidade de realizar a rede de segurança do trapézio como forma de propulsão e também como aparelho de decolagem (POL e col. 2006). Ele é constituído por uma cama elástica na qual se fazem movimentos acrobáticos e coreografias aéreas.

    Dentre as manipulações de objetos, o malabarismo é o mais conhecido tendo até campeonatos mundiais. De Blas (2003) afirma que o malabarismo é executar um gesto complexo visual ou físico, utilizando um ou mais objetos no qual o método de manipulação não é misterioso, não havendo segredo algum, apenas a habilidade. Segundo Ayala (2008) os aparelhos usados são: bolinhas, aros, swings, pratos, lenços, diabolôs. Ele pode ser praticado individual ou coletivamente.

    Nos equilíbrios corporais a perna de pau é uma modalidade em que o praticante altera sua estatura para parecer um gigante. Gera-se fascínio no publico pelo tamanho da figura que camufla as pernas de pau acopladas ao seu corpo, tanto quanto pelo equilíbrio que essa pessoa adquire (BORTOLETO, 2003). Os monociclos e bicicletas são usados em diversas situações sendo as mais marcantes a travessia em arame, pela grande dificuldade de execução.

    O palhaço é a figura do circo que através da sua encenação, expressão e comunicação ludibria tempo e o espaço vivido. Ele cria situações inusitadas e engraçadas ligadas diretamente a imaginação do público (DUPRAT, 2007).

    Todas essas atrações fazem do espetáculo circense uma das maiores obras artísticas da humanidade comparada ao teatro, aos concertos musicais e as exposições de artes plásticas. Nos últimos 50 anos o grande concorrente do circo foi a tecnologia, que levou o entretenimento a milhões de pessoas ao mesmo tempo em todo mundo. A televisão, o cinema, o computador e o telefone têm sua magia, porém a emoção do circo ao vivo não pode ser superada por nenhuma mídia.

A vida sob as lonas

    A entrevista com o artista que será relatada a seguir possibilitou compreensões sobre o modo de vida dos artistas do circo e permitiu relacionar a Educação Física com as atividades corporais seculares que são apresentadas por esses artistas. A comunicação da entrevista intercala as expressões do sujeito e as interpretações do pesquisador, possibilitando um conhecimento maior sobre o circo e a Educação Física.

    O sujeito nasceu na cidade de São Paulo, tem 42 anos e descende, por parte de mãe, de uma família do circo vinda da antiga Iugoslávia, que há 250 anos cultiva as tradições circenses. Como outras famílias do circo vieram para a América no século XX e se expandiram sem deixar a vida nos picadeiros. A trajetória nômade da família esteve presente desde sua vinda ao novo continente, desde a França até os Estados Unidos, rumando para a Argentina onde seus avós se estabeleceram e local do nascimento de sua mãe, até a vinda ao Brasil. Aqui sua mãe conheceu seu pai que não era do circo e que foi incorporado à cultura pelo avô materno do entrevistado. Essa herança continua na família até hoje com os filhos do sujeito pesquisado aprendendo a arte e possibilitando a continuidade da tradição.

    Observa-se que a história nômade dessa família de artistas circenses relatada pelo entrevistado segue os mesmos passos das pesquisas citadas nesse artigo. A tradição de pai para filho dos saberes circenses é ao mesmo tempo, uma forma contraditória de manter a cultura viva dentro dos padrões em que se criou, e um risco de enfrentar a mídia altamente tecnológica que influencia a vida das pessoas com novidades e variedades a todo o momento nos tempos atuais.

    Em 1960 no Rio de Janeiro o circo de sua família viveu uma tragédia. Um incêndio criminoso, noticiado na época, causou a morte de várias pessoas durante o espetáculo, e mesmo descendo do trapézio e enfrentando as chamas, seu tio não conseguiu contê-las. Apesar da dificuldade do recomeço a união da família em torno do ideal circense não permitiu que a tradição acabasse. Atualmente seus avós já são falecidos, bem como a maioria dos tios, e, mesmo sua mãe está aposentada dos picadeiros, fazendo apenas aparições em feiras e eventos. Ela que já foi a maior artista dos arames, sendo a primeira mulher a andar de monociclo sobre eles no país.

    Muito da história do circo no Brasil está guardada na memória dos próprios artistas. Poucas são as obras que resgatam os momentos vividos por essas pessoas, como por exemplo, Duarte (1995) e Silva (1996), todavia, apesar de pouca difundida a memória viva dos artistas circenses continua nos descendentes que transmitem aos seus filhos os momentos marcantes e a forma de entreter as pessoas há séculos.

    O sujeito entrevistado iniciou nos picadeiros aos quatro anos de idade como palhaço, logo após começou o treinamento e apresentação da ginástica acrobática com as paradas de mão, estrelas e rolamentos, e em seguida partiu para o trampolim e o trapézio.

    Essa sequência de aprendizado e desempenho nos picadeiros é quase natural, pois a criança com sua espontaneidade pode ser engraçada e divertida, brincando e fazendo o público rir com suas estripulias. O desenvolvimento físico e motor da criança se completa com atividades em que o corpo adquire força, resistência, agilidade e equilíbrio. Assim a ginástica acrobática proporciona a descoberta de múltiplas potencialidades no decorrer do crescimento e a cada novo movimento desenvolvido surge uma apresentação que prenderá a atenção do público. Enfim, a entrada da adolescência é um momento de desafio frente à vida, e as atividades arriscadas de trampolim e trapézio são possibilidades do jovem mostrar suas capacidades e habilidades altamente refinadas e sua coragem. A aprendizagem do circo é uma escola cuja Educação Física vai do lúdico à vertigem desenvolvendo a manifestando as potencialidades humanas continuamente.

    O entrevistado também relata que concomitante com a vida no circo ele estudava e fazia apresentações aos finais de semana e férias. Ele se especializou em malabares, habilidade que o filho desempenha atualmente e que o levou ao terceiro lugar em torneio internacional nos Estados Unidos. Após dez anos atuando continuamente, ele largou as lonas e mantém-se profissionalmente como artista de apresentações na televisão, festas, eventos e adestramento de cães.

    A profissão de artista circense como demonstrado pelo sujeito está se adequando a realidade vivida, pois o artista deve ir onde o povo está. A criação de competições de habilidades circenses é uma mostra dessa nova face do circo e atrai um grande público, além do que, as apresentações podem ser feitas em locais menores para pessoas que podem pagar por elas sem que tenham que se deslocar para as lonas. É a comodidade das grandes cidades e a dificuldade de deslocamento que traz o espetáculo às pessoas ao contrário de levar as pessoas ao espetáculo.

    Atualmente o sujeito mostra novos interesses em relação ao circo. Segue a carreira da Educação Física, pois acredita que pode levar sua arte às escolas e a educação formal. Ele ministra aulas em uma escola para mais de 80 alunos, sendo um sucesso entre os mesmos. Ele acredita na melhoria das capacidades físicas e cognitivas com a aprendizagem das modalidades circenses. Uma de suas metas é a criação de estratégias de ensino que englobem as vivências do circo à educação. Os educativos que propõe para a aprendizagem de malabares, por exemplo, são uma forma de desenvolver os procedimentos do circo (habilidade corporal), com as atitudes (alegria) e os conceitos (tradição) de forma única na Educação Física.

    Ele acredita também que cada modalidade do circo pode desenvolver melhor um potencial do aluno: os malabares levam a lateralidade e coordenação; o trapézio leva a força de membros superiores; a perna de pau e o monociclo aprimoram o equilíbrio; o tecido desenvolve resistência. Além disso, a concentração e a cognição são aguçadas em cada modalidade, pois a persistência é a chave para o sucesso de uma boa apresentação e a percepção do ambiente e as respostas motoras a cada variação do mesmo permitem que a inteligência esteja sempre se remodelando.

    Todos esses aspectos observados pelo entrevistado ajudam a perceber a importância que o circo pode ter na educação e especificamente na Educação Física, afinal a magia da arte atrai o aprendiz. Essa motivação intrínseca é a chave para o aprendizado, e, muitas vezes, a grande dificuldade dos professores na escola que não conseguem manter a atenção dos alunos em seus conteúdos. Percebe-se na fala do sujeito, que a compreensão do circo como estratégia educacional vai de encontro às dimensões procedimentais, atitudinais e conceituais que os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam para a educação brasileira e que o objeto da Educação Física, isto é, o corpo em movimento é valorizado na arte circense, como aponta Duarte (1995).

    Além dos aspectos educacionais o artista cita que o circo nos dias atuais tem aumentado seu interesse pela população não apenas como espetáculo, mas como atividade física a ser praticada. Cita a importância de uma aprendizagem correta, principalmente no aspecto da segurança, como no trapézio a acrobacias. Apesar de seu maior interesse pessoal ser os malabares e o trapézio afirma que o tecido é o que mais atrai os jovens, talvez pela sua facilidade de aprendizagem e possibilidade de desenvolvimento físico e vivência nos momentos de lazer.

    Particularmente, acredita que o circo contribui muito para diminuição do stress devido à animação, envolvimento e motivação das atividades praticadas. Para ele a prática circense nas academias, clubes e até em empresas deve-se a esse fator juntamente com a contribuição no desenvolvimento físico dos praticantes.

    Considera-se que a entrada do circo em ambientes diversos, como os citados pelo sujeito demonstra a força da tradição na vida moderna adaptando-se as mudanças do mundo contemporâneo, sem deixar de lado as raízes na qual se originou.

    Para a Educação Física o circo apresenta-se como uma novidade, que a despeito de não ser nova pode reanimar e rejuvenescer as formas tradicionais (esporte, luta, jogo, ginástica, dança) nas quais se firmou seu conhecimento. Uma renovação a partir do circo pode trazer benefícios às profissionais de Educação Física no que diz respeito ao olhar mais artístico para a existência da área.

Considerações finais

    A tradição secular circense ainda se faz na forma mais básica de ensino que a humanidade conhece, a transmissão do conhecimento de pais para filhos. O saber que ela difunde cruzou o mundo sem perder sua essência, mas adaptando-se as necessidades vividas pelos artistas em cada época. O corpo sempre foi o principal instrumento de apresentação do circo seja nas demonstrações de habilidades, seja na expressão de alegria ou espanto da caricatura criativa do palhaço ou do mágico. Arte e movimento se complementam, não podendo ser separadas pela mente humana, que sente antes mesmo de conhecer o que se sentiu. A reflexão sobre o espetáculo circense e sua magia só pode ser posterior à própria sensação vivida no momento do espetáculo, e já está influenciada por esta no instante da emoção.

    Essas características únicas construídas na arte circense tornam-na distinta de outras manifestações artísticas e culturais de que se têm notícias. A Educação Física graças a sua proximidade com o circo através do exercício do corpo, como ator principal do espetáculo pode aproveitar os ensinamentos da vida do circo, para recriar-se e atrair as pessoas para a prática da atividade física e a educação dos sentidos.

    As habilidades do trapézio, das acrobacias, do trampolim, da perna de pau, dos malabares, do tecido, entre outras são uma possibilidade do profissional de Educação Física se apropriar de saberes que completam o conteúdo da área agregando o valor da alegria, do divertimento, da coragem e do amor que se propaga nas tradições circenses há gerações.

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