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Estratégia para competição. Pontos chaves para o 

melhor entendimento das mudanças do equilíbrio entre o sistema 

aeróbio e anaeróbio durante as diversas fases do treinamento

Estrategia para la competición. Puntos clave para la comprensión de los cambios de 

equilibrio en el sistema aeróbico y anaeróbico durante las diversas fases del entrenamiento

 

Doutorando pela Universidade de León, Espanha

(Brasil)

Luciano Bucco dos Santos

lucbucco@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Desde que a formação de ácido láctico durante a contração muscular foi diagnosticada, muita atenção tem sido dada aos prováveis mecanismos que controlam sua produção e remoção durante o exercício. O desempenho físico de um atleta pode ser avaliado através do seu sistema metabólico quando conhecida a sua velocidade correspondente durante o seu treinamento. O presente estudo do tipo descritivo tem como objetivo abordar os sistemas energéticos, anaeróbio e aeróbio expor seus pontos positivos e negativos bem como sua participação em determinadas intensidades e duração de esforço nos treinamentos e a relação de desenvolvimento máximo de cada capacidade durante o esforço.

          Unitermos: Acido lático. Sistema energético. Intensidade. Duração.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Durante o treinamento e competição o corpo se utiliza os três sistemas, para performance máxima, os três sistemas devem estar desenvolvidos de forma ótima, assim todos estarão equilibrados corretamente. A proporção da energia que o corpo usa através de cada sistema num determinado momento depende do desenvolvimento de cada sistema Withers et al (2000). É possível treinar o corpo a aumentar ou diminuir a ênfase de um sistema sobre o outro em certas situações. A proporção ótima ou o equilíbrio dependerá da prova e do nível do condicionamento do atleta Santos (1995), esta é uma das principais funções do treinamento, encontrar este equilíbrio ótimo (ponto de equilíbrio). Exercício anaeróbico Soares (1988) McArdle, Katch e Katch (2003) é um tipo de atividade física em que predomina o fornecimento de energia por processos metabólicos que não envolvem oxigênio, a palavra anaeróbia, significa literalmente "sem oxigênio" ou "sem presença de oxigênio”. O exercício anaeróbico é qualquer atividade física que trabalhe diversos grupos musculares durante um determinado e constante período de tempo, de forma contínua e ritmada. O treino aeróbico melhora significativamente o funcionamento do coração, pulmões e todo o sistema cardiovascular contribuindo para uma entrega de oxigénio mais rápida por todo o corpo McArdle, Katch e Katch (2003) Acsm (1994). São atividades breves de alta intensidade nas quais o metabolismo anaeróbico acontece nos músculos. Durante períodos de tempo mais longos de exercício físico, o metabolismo aeróbico provê a energia, o que é chamado de exercício aeróbio McArdle, Katch e Katch (1991). Exemplos de exercícios anaeróbicos incluem musculação, sprints, saltos; qualquer exercício que consista de movimentos rápidos de alta intensidade. Exercícios anaeróbios são geralmente usados por atletas para desenvolver força e bodybuilders para construir massa muscular. Músculos que são treinados sob condições anaeróbias desenvolvem melhor performance em atividades de curta duração e alta intensidade Fox e Mathews (1986).

    Exercícios aeróbicos, por outro lado, incluem atividade realizadas por longos períodos de tempo em menor intensidade. Exercícios como caminhar, correr, nadar e pedalar requerem grande quantidade de oxigênio para gerar energia por período prolongado de tempo Fox e Mathews (1986).

    Há dois tipos de sistema de geração de energia anaeróbica McArdle, Katch e Katch, (2003): o ATP-CrP, que tem a creatina fosfatada como principal fonte de energia, e o ácido lático (ou glicólise anaeróbia), que usa glicose na ausência de oxigênio. O segundo é um uso ineficiente da glicose que produz sub-produtos que, acredita-se, sejam prejudiciais ao funcionamento muscular. O sistema de ácido lático é o dominante durante exercícios de intensidade alta a máxima, durante curto período de tempo (em torno de um minuto), mas ele também é responsável por uma parte da energia durante exercício aeróbio, uma vez que o organismo é capaz de livrar-se dos sub-produtos anaeróbios até um certo nível. A eficiência da remoção dos sub-produtos pelos músculos melhora através do treinamento McArdle, Katch e Katch (2003).

Sistemas de energia e lactato

    A chave para um melhor desempenho do atleta está na velocidade em que o ATP é ressintetizado (McArdle, Katch e Katch, 1991; Balikian, 1996; Ferreira e Colaço, 2003) quanto mais rápido for ressintetizado mais rápido o músculo pode contrair, portanto, mais rápido ou veloz o atleta responde. A proporção dos sistemas de energia utilizada a um nível de esforço específico é afetada pelo treinamento (McArdle, Katch e Katch, 1991, 2003).

    Os três sistemas de ressíntese de ATP são:

Sistema anaeróbio

    Fornece energia muito rápida. Produz energia 2-3 vezes mais rápida do que o sistema aeróbio.

    O sistema anaeróbio não usa oxigênio mesmo quando existe oxigênio disponível. A ausência de oxigênio não é razão para este sistema ser usado. Os três sistemas de energia são usados continuamente, mas a proporção da participação se altera dramaticamente dependendo da intensidade e da rapidez da atividade. A proporção da participação dos sistemas de energia é afetada pelo treinamento (McArdle, Katch e Katch, 2003). É objetivo de qualquer técnico treinar seu atleta com intuito de alcançar o melhor desenvolvimento de cada sistema Balikian (1996). Cada sistema de energia apresenta seus aspectos positivos e negativos em relação um ao outro. Por isso necessitamos a participação dos três sistemas.

Pontos negativos

Medida do sistema anaeróbio

    É obtida pela quantidade de lactato produzido após um esforço máximo durante um curto espaço de tempo (40-90 minutos) (Wilmore e Costill, 1994). É importante que o atleta esteja descansado para a realização do teste e que não seja nem muito curto e nem muito longo. O atleta deve estar completamente exausto após o teste. Caso o atleta não faça esforço máximo, o resultado do lactato não representará sua produção máxima, podendo, portanto, subestimar a capacidade anaeróbia. O teste do sistema anaeróbio não é afetado pelos dois outros sistemas (Santos, 2002; Kumagai et al, 1982; Mazza, 2003a).

Sistema aeróbio ou oxidativo

    Consiste no término da oxidação dos carboidratos envolve a oxidação dos ácidos graxos. Ambas as partes do sistema do oxigênio possuem o Ciclo de Krebs como sua via final de oxidação (McArdle, Katch e Katch, 2003). A energia liberada pela desintegração das substâncias alimentares e quando a CP é desfeita, são utilizadas para refazer novamente a molécula de ATP. Fontes Aeróbias de ATP - Metabolismo Aeróbio Na presença de oxigênio, 1 mol de glicogênio é transformado completamente em dióxido de carbono (CO2) e água (H2O), liberando energia suficiente para a ressíntese de 39 moles de ATP (McArdle, Katch e Katch, 2003). As reações do sistema do oxigênio ocorrem dentro da célula muscular, ficam confinadas em compartimentos subcelulares especializados, denominadas mitocôndrias. O músculo esquelético está repleto de mitocôndrias. As muitas reações do sistema aeróbio podem ser divididas em três séries principais: (1) Glicólise Aeróbia; (2) Ciclo de Krebs; (3) Sistema de Transporte dos Electrons.

Sistema aeróbico e metabolismo das gorduras

    A gordura armazenada representa a mais abundante fonte corporal de energia potencial. A produção de energia é quase ilimitada. Representa cerca de 90.000 a 110.000 kcal de energia. A reserva de energia na forma de carboidratos é inferior a 2.000 kcal (Chtara et al, 2005). 

Papel da proteína no metabolismo aeróbio

    Papel apenas secundário durante o repouso e, na maioria das condições de exercício, quase não desempenha qualquer papel Chtara et al (2005). Na inanição, nas condições com privação de carboidratos e nas façanhas de resistência incomum (corrida de 6 dias), o catabolismo das proteínas pode ser significativo.

Energia aeróbia total no músculo (a partir do glicogênio)

    O sistema aeróbio é particularmente adequado para a produção de ATP durante o exercício prolongado tipo resistência (endurance). Nesses tipos de exercícios, o principal fornecedor de ATP é o sistema aeróbio (Chtara et al, 2005; Marcinik et al, 1991; Rushton, 1990). Os sistemas do ácido lático e do ATP-CP também contribuem, porém apenas no início do exercício, antes de o consumo de O2 alcançar um novo nível de estado estável (steady-state); durante esse período contrai-se um déficit de O2. Depois que o consumo de O2 alcança um novo nível de estado estável (em cerca de 2 ou 3 minutos), torna-se suficiente para fornecer toda a energia ATP exigida pelo exercício. Por essa razão, o ácido lático sangüíneo não alcança níveis muito altos durante o exercício que duram por mais de uma hora. A glicólise anaeróbia cessa uma vez alcançando o consumo de O2 de estado estável e a pequena quantidade de ácido lático acumulada previamente se mantém previamente constante até o término do exercício (Rushton, 1990; Chtara et al, 2005; McArdle, Katch e Katch, 2003; Kumagai et al, 1982).

Pontos positivos sistema aeróbio

  • O sistema aeróbio é que pode prover energia por longo período de tempo. O produto final é água e gás carbônico.

Pontos negativos sistema aeróbio

  • Relativamente lenta na produção de energia, não supre energia para a maioria das provas durante competição.

Como mensurar o sistema aeróbio

    A ausência de variação do lactato durante qualquer esforço sustentado é um indicativo do uso do sistema aeróbio. Quanto maior é este esforço antes que ocorra aumento substancial do lactato, mais desenvolvido é o sistema aeróbio. Porém, somente a força do sistema anaeróbio é que determina a quantidade de piruvato produzido (glicólise anaeróbia) e por isso afeta o teste para o sistema aeróbio. Portanto, o sistema anaeróbio deve ser antes mensurado para que o sistema aeróbio seja corretamente avaliado (Kumagai et al, 1982).

Importância do sistema aeróbio

    A capacidade aeróbia segundo McArdle, Katch e Katch (2003) é comumente associada ao consumo máximo de oxigênio (VO2máx), o VO2máx proporciona uma medida quantitativa da capacidade do indivíduo para a ressíntese aeróbia do ATP, em exercício, o consumo de oxigênio aumenta proporcionalmente ao aumento da intensidade, atingindo o seu valor máximo em intensidades próximas à exaustão. O momento no qual o consumo de oxigênio alcança um platô ou aumenta apenas levemente com os aumentos adicionais na intensidade do exercício representa o consumo máximo de oxigênio (McArdle, Katch e Katch, 2003). Importância do sistema aeróbio: Provê grande parte da energia em toda a atividade com duração acima de 2 minutos.Utiliza-se dos produtos do sistema anaeróbio (lactato piruvato).Tanto velocistas como fundistas necessitam de um sistema aeróbio bem desenvolvido. Quando o sistema aeróbio é bem desenvolvido utiliza mais piruvato gerado pela glicólise anaeróbia, com isso retarda o aparecimento da acidose nas fibras musculares. Para todos os atletas é muito importante, mas, para os velocistas se torna crucial. O sistema aeróbio é o mais treinável dos três sistemas de energia. O sistema de energia aeróbio envolve uma estrutura física (mitocôndria) assim como a síntese de diversas enzimas aeróbias na célula, o número e o tamanho das mitocôndrias assim como as quantidades das enzimas aeróbias respondem ao treinamento. Os outros dois sistemas de energia nada mais são do que apenas combinações químicas (não são estruturas) (McArdle, Katch e Katch, 2003).

Medida do sistema aeróbio

    A concentração do lactato estabiliza durante esforço relativamente longo de aproximadamente 5 minutos à velocidade abaixo do VO2 máximo. O teste do sistema aeróbio é afetado pelo desenvolvimento do sistema anaeróbio (glicólise anaeróbia). Uma capacidade anaeróbia forte gera mais piruvato levando um aumento mais cedo de lactato enquanto que uma capacidade anaeróbia fraca gera menos piruvato levando um aumento mais tarde do lactato. A capacidade anaeróbia varia entre os atletas e se modifica como passar do tempo, idade, etc. (McArdle, Katch e Katch, 2003).

O que é limiar de lactato

    O limiar do lactato nada mais é do que o ponto de equilíbrio entre a produção e a eliminação do lactato Mazza (2003b). A produção é uma função de uma exigência de energia, intensidade do nível do esforço. A rapidez com que o músculo pode produzir energia pelo processo anaeróbio (capacidade anaeróbia) e a rapidez com que o corpo pode utilizar o lactato piruvato produzido (capacidade aeróbia) Mazza (2003a) e, possivelmente, alguns outros fatores que aceleram o movimento do lactato em torno do corpo (lançadeira de lactato – clearance). Não existe nada misterioso ou místico a esse respeito. Todos os processos acima respondem ao treinamento, por isso o treinamento deve ser dirigido, em determinados momentos, no sentido de capacitar o atleta a alcançar a desempenho máximo. Defini-se o Limiar Anaeróbico (LAn) como sendo uma carga trabalho a partir da qual acontece um incremento exponencial da concentração de lactato no sangue, onde o oxigênio ofertado não é mais suficiente para suprir a demanda energética (Svedahl e Macintosh, 2003). O conceito de Limiar Anaeróbico (LAn) vem sendo pesquisado recentemente como parâmetro para mensurar a capacidade aeróbica do atleta e para estabelecer a intensidade do treinamento (Nicholson e Sleivert, 2001). Assim, o resultado obtido em um teste de esforço, no qual se determinam os níveis de lactato como resposta ao incremento da intensidade, permite estabelecer intensidades corretas para melhorar a capacidade e a potência das vias energéticas aeróbicas de um indivíduo. Desta forma, pode existir uma boa correlação estatística entre o limiar ventilatório e o limiar anaeróbico durante um teste de esforço (Caiozzo et al, 1982; Brunetto et al, 2005). Respostas metabólicas também podem determinar, com bastante precisão, o comportamento do LAn num teste de esforço com cargas progressivas (Farrel et al, 1979; Heck et al, 1985). Esta forma é a mais comumente utilizada em laboratórios, geralmente com dosagem sanguínea (Denadai et al, 2004) servindo como parâmetro para determinação e aplicação em campo (Silva et al, 2005).

Medida do lactato

    O lactato é uma substância muito dinâmica, assim a mensuração no sangue é afetada pelo nível de sua Produção e Eliminação. Um teste de lactato pode prover o técnico com informação em quatro variáveis. A seguir uma pequena descrição destas quatro variáveis: Informação fornecida pelo teste de lactato.

Produção ideal do lactato máximo (VLmax)

    O VLmáx representa um dos principais problemas para os cientistas do esporte e técnicos. Porque é difícil mensurá-lo, como também determinar qual seu nível ótimo e, qual a direção que deve ser treinado Mazza (2003b). Portanto é difícil saber se está se encaminhando na direção certa e na quantidade certa. Os técnicos se utilizam sua experiência e intuição durante o treinamento de seus atletas, ajustando a capacidade anaeróbia baseadas na abordagem do treinamento tradicional. Não têm certeza do que aquilo representa durante sua realização, mas, seguem uma trajetória que parece funcionar durante os seus anos de treinamento e competição. O problema é que isso pode levar muitos atletas a não alcançarem a otimização do treinamento. Existem vários tipos de testes, mas apenas alguns mensuram a produção da energia nos músculos. O teste de lactato (figura 1, 2 e 3) é o mais fácil e o melhor caminho para se medir a energia produzida pelo músculo Mazza (2003b). Mede de forma indireta. O lactato é formado quando existir energia criada através do sistema anaeróbio. O produto final do metabolismo anaeróbio é o piruvato. O piruvato pode ser usado pelo metabolismo aeróbio ou se transformar em lactato. Parte deste lactato entra na circulação sangüínea onde pode ser facilmente mensurado. Se o teste for corretamente realizado o lactato fornece uma medida tanto da capacidade aeróbia como da capacidade anaeróbia. Lenzi (1986, apud Caiozzo et al, 1982), por sua vez, elaborou um esquema de aplicação de cargas de trabalho baseado em dados relacionados a percentagens do Limiar Anaeróbio.

Figura 1. Curvas típicas do desempenho de lactato de um corredor de velocidade, corredor meia 

distancia e um corredor de maratona. Fonte Rushton (1990) "Lactate Testing for Sprinters”

 

 

Figura 2. Curva de desempenho de lactato de acordo com a velocidade. Fonte Rushton (1990) “Lactate Testing for Sprinters”

 

Figura 3. Representatividade dos resultados de coleta de lactato durante: Repouso, estimulo e recuperação. Fonte André et al (2009)

 

 

Relação de desenvolvimento máximo de cada capacidade

Inato - treinamento – competição

Considerações finais

    Conclui-se através desta revisão acerca das metodologias de avaliação dos sistemas aeróbio e anaeróbio em atletas, que os métodos de avaliação do atleta e do planejamento das etapas do macrociclo tem um papel importante para estimar a evolução e a performance do atleta . E ainda, que há métodos específicos para aprimorar determinadas capacidades físicas, de acordo com os objetivos traçados no inicio do planejamento e baseado nos resultados das avaliações funcionais e fisiológicas. Através destes conceitos colocados neste trabalho, quando respeitados e seguidos, acredita-se que os atletas de alto desempenho possam sempre melhorar e/ou manter o desempenho esportivo em altos níveis. Ressalta-se a importância de o treinamento e as avaliações serem sempre o mais próximas da realidade do desporto, respeitando assim o princípio da especificidade, e que a prescrição do treinamento seja feita baseada em resultados de testes fisiológicos individuais, respeitando desta forma o princípio da individualidade biológica de cada pessoa. Além disto, recomenda-se a rotineira avaliação destes parâmetros estes que podem inferir um possível estado de overtraining, e assim corrigir e reestruturar os ciclos de treinamento dos atletas.

Bibliografia

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