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A influência da música na atividade física

La influencia de la música en la actividad física

 

*Aluno de Educação Física na União das Faculdades dos Grandes Lagos

**Educadora Física. Mestre em Ciência da Motricidade Pela UNESP

Docente do Curso de Educação Física da União das Faculdades dos Grandes Lagos

(Brasil)

Vitor Ponchio Garcia*

Mariangela Zanin**

vitorponchiogarcia@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Em diversos exercícios físicos o aspecto da dor, do cansaço e da monotonia podem estar presentes, uma vez que a atenção do individuo fica focado em suas próprias sensações. Sendo assim, a música pode ser um elemento capaz de distrair o indivíduo, capaz de desvincular a atenção da pessoa para outro estímulo que seja mais prazeroso, e, neste momento, a música durante o exercício físico ganha significância e contorno, ou seja, quem a escuta responde tanto afetiva quanto corporalmente. Partindo da hipótese de que a música tem uma relação muito significativa com o estado psicofisiológico do sujeito, o presente estudo, buscou esclarecer qual a importância da música durante o exercício físico, através de um estudo da literatura existente. Os dados revelam como se processa as alterações psicofisiológicas e que o rendimento também é um dos fatores influenciados pela música. Desta forma, o estudo conclui que a música tem expressividade durante o exercício físico, podendo causar alterações físicas e psicológicas, que vão implicar no desempenho dos indivíduos que utilizam música para a prática da atividade física.

          Unitermos: Música. Exercício físico. Psicofisiológico. Desempenho.

 

Abstract

          Pain, tiredness and monotony can be present in many physical exercises, because the individuals focus their attention on their own tiredness and pain. In this context, the music can be a distraction element, being able to dissociate people’s attention to a more pleasure stimulus. At this moment, music during the physical exercise become more significant, in other words, who listen to it respond not only emotionally but also physically. Assuming that music has a very important relationship with people’s physical and psychological condition and through the existent literature in the area, the present study aims to clarify the importance of music during physical exercise. The data reveal how physical and psychological alterations happen and how efficiency is one of the factors affected by music. Thus, the study shows that music has expressivity during the exercise, causing physical and psychological alterations, what has consequences in people’s efficiency.

          Keywords: Music. Exercise. Psychophysiological performance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Em diversos exercícios físicos o aspecto da dor, do cansaço e dá monotonia podem estar presentes, como, por exemplo: pedalar uma bicicleta ergométrica dentro de uma academia. Se não houver um elemento que distraia o indivíduo durante este exercício, o mesmo pode ser extremamente enfadonho, principalmente por ser repetitivo. O que acontece com exercícios que possuem a repetição mecânica é que a percepção de dor pode se tornar mais nítida, pois a atenção do individuo fica focada em suas próprias sensações de cansaço e dor.

    Sendo assim, a música pode ser um elemento capaz de distrair o indivíduo, capaz de desvincular a atenção da pessoa para outro estímulo que seja mais prazeroso, e, neste momento, a música durante o exercício físico ganha significância e contorno.

    Pode-se observar que há sempre nas academias a presença de músicas, o que ajuda a estabelecer o ritmo dos exercícios dos praticantes e a distraí-los, contudo todas as pessoas ouvem as mesmas músicas, mas nem todas possuem o mesmo gosto. Sendo assim, a música quando desagradável ao gosto pessoal de algum indivíduo ao invés de ajudá-lo, poderá atrapalhar o desempenho físico dele.

    Nessa perspectiva, a música tem uma relação muito forte com o estado psicofisiológico do sujeito, tendo assim, uma relação direta com o seu rendimento na prática do exercício físico (SANTOS, 2008).

    A psicofisiologia permite compreender o entendimento do cérebro sobre o corpo humano, sabendo que muitas vezes a capacidade de esforço de trabalho de um atleta desenvolver certo treinamento é determinada pelo julgamento subjetivo do sujeito e não por falta de capacidade física de realização. Essa situação pode ser influenciada por vários fatores psicológicos como ansiedade, falta de motivação e ativação, e fatores fisiológicos como fadiga, cansaço e exaustão, causando uma diminuição na capacidade de desempenho. (MCARDLE et al, 1991)

    A partir dessas premissas, foi formulado o seguinte questionamento: Qual a relação da música no exercício físico? A música pode aumentar ou diminuir a capacidade do corpo de suportar cargas maiores durante atividade física?

    Para responder a tais questionamentos, o presente estudo, que teve como metodologia a pesquisa bibliográfica, buscou como objetivo esclarecer qual a importância da música durante o exercício físico.

    Pelos achados da literatura, foi possível compreender como se processa essas alterações psicofisiológicas que são, de fato, significativas. Foi possível descobrir que o rendimento também é um dos fatores afetados pela música (SANTOS, 2008).

    Desta forma, o estudo aponta que a música tem expressividade durante o exercício físico, podendo causar alterações físicas e psicológicas, que vão implicar no desempenho dos indivíduos que utilizam música para a prática da atividade física (SANTOS, 2008).

2.     Compreendendo a música, o ritmo e o movimento

    A música é a sucessão de sons e silêncio organizada ao longo do tempo. O ritmo, a melodia, o timbre e a harmonia, elementos constituintes da música, são capazes de afetar todo o organismo humano, de forma física e psicológica. Através de tais elementos o receptor da música responde tanto afetiva quanto corporalmente (FERREIRA, 2005).

    Sobre o ritmo, Le Bouch (1994) o define como sendo a organização ou estruturação dos fenômenos temporais, sendo eles periódicos ou não.

    Todo ser humano é dotado de ritmo, que se manifesta antes mesmo do nascimento, através dos batimentos cardíacos, depois pela respiração e pela fala e que está presente também nas formas básicas de locomoção. Por isso, o ritmo é considerado o elemento da música que está mais associado ao movimento, às ações motrícias do Homem (TIBEAU, 2006).

    É o ritmo externo ao Homem que coloca em jogo, mais do que tudo, o movimento corporal e possíveis modificações fisiológicas (TIBEAU, 2006).

    Autores e pesquisadores que conceituaram o ritmo admitem a dificuldade de situá-lo como algo concreto e a impossibilidade de defini-lo e de avaliá-lo de forma objetiva. Poderíamos considerar que o ritmo é um fenômeno que existe de fato (TIBEAU, 2006).

    Hanebuth (1968) argumentou que o ritmo constitui a coordenação motora e a integração funcional de todas as forças estruturadoras, tanto corporais como psíquicas e espirituais.

    Entender o ritmo como algo interno e que pode ser alterado a partir de estímulos externos, advindos do meio ambiente, é considerá-lo como impulsionador de processos psíquicos, afetivos e emocionais (TIBEAU, 2006).

    O ritmo está presente em todas as manifestações da motricidade humana, é universal e o percebemos em todos os movimentos da vida. (TIBEAU, 2006). Zampronha (2002) considera que o ritmo possibilita ao indivíduo tomar consciência de seu corpo.

    Compartilhando com as idéias de Trebels (2003), movimento é deslocamento de posição no tempo e no espaço.

    A correlação entre movimento e ritmo, citada por Camargo (1994) é que: "O movimento, com todas as suas implicações físicas, emocionais e mentais, é um fenômeno dotado de organização, que se evidencia no espaço, no tempo e sob determinado ritmo."

    Assim, ritmo e movimento humano se desenvolvem simultaneamente no tempo e no espaço, confirmando a consideração de que o ritmo é movimento, que o movimento é ritmo e que ambos estão ligados à percepção temporal, espacial e proprioceptiva. (TIBEAU, 2006)

    No entender de Fonseca (1996) o ritmo e a música, assim como o movimento, devem ser vistos de dentro para fora, na medida em que não há movimento, música e ritmo para as pessoas, mas sim pessoas que se movem, que vivem e sentem a música e o movimento.

3.     A percepção da música e a relação com o movimento

    Um importante progresso na investigação científica da música foi a descoberta de que a música é percebida através da parte do cérebro que recebe o estímulo das emoções, sensações e sentimentos, sem ser primeiro submetida aos centros do cérebro que envolvem a razão e a inteligência. O significado deste fato com relação à terapêutica musical é exposto por Schullian e Schoen (1948):

    A música, que não depende do cérebro superior para penetrar no organismo pode estimular através do tálamo - a estação de todas as emoções, sensações e sentimentos. Uma vez que o estímulo seja capaz de atingir o tálamo, o cérebro superior é automaticamente invadido, e se o estímulo continuar por algum tempo, um mais estreito contato entre o cérebro superior e o mundo ou realidade pode ser assim estabelecido.

    Música e movimento são considerados não como um processo de combinação, mas uma unicidade, uma integração, uma vez que ambos provêm da mesma origem - o ritmo - separados pela forma de manifestação exterior. A interação música-movimento deve tornar “visível” a música e “audível” o movimento (CAMARGO, 1999).

    A Música é hoje, uma das vertentes artísticas mais presente no nosso dia a dia, e particularmente na vida cotidiana de crianças e jovens, sendo facilitadora do desenvolvimento rítmico, elemento fundamental a ser explorado para garantir o aprendizado da dança, dos esportes das lutas e das atividades físicas de modo geral (BRAGA, 2009).

    Música e som são energias que estimulam o movimento interno e externo no Homem. A ação musical implica movimento impulsionando o Homem à ação (TIBEAU, 2006).

    A música, em todos os tempos, foi reconhecida como um agente unificador e estimulador durante a atividade física. Verificou-se experimentalmente que a música diminui ou aumenta a energia muscular. Isto certamente justifica o uso da música em conexão com trabalho que requer movimentos sincronizados. A música não serve somente para distrair um individuo, mas também para estabelecer o ritmo de sua atividade física. Em esportes coletivos os movimentos e gestos técnicos não acontecem de maneira repetitiva e são realizados de acordo com alterações no ambiente. Nesses casos, a música não favorece o desempenho, mas as canções podem ajudar na motivação quando ouvidas antes.

    Segundo Pavlovic (1987), a música adequada dá ritmo ao movimento, amplitude e leveza ao corpo. As vibrações musicais provocam vibrações corporais. A música tonifica, exalta, alivia. Num animado murmúrio geral libertam-se a timidez e as frustrações e, levado pela corrente musical, o participante deixa-se invadir por extraordinárias sensações corporais. A música faz com que se esqueça um pouco o corpo e as suas fraquezas, com que se purifique pela beleza um gesto em particular, participando ao máximo da aula.

    A música especialmente selecionada aumenta a capacidade de trabalho dos músculos. Ao mesmo tempo, o ritmo de movimentos do trabalhador muda com a mudança de ritmo musical. É como se a música determinasse uma velocidade ideal do movimento rítmico. Outra série de experiências em estudantes provou que não somente a capacidade de trabalhar é alterada sob a influência da música, mas também a pulsação e a pressão sangüínea (MELNIKOV, 1970).

    Martins (1996), afirma também que:

    Mais uma vez a presença da música durante o exercício poderia ser considerada relevante, fazendo com que a prática deste seja facilitada pelos ritmos que a música provê, já que o próprio organismo trabalha sobre seus ritmos específicos. Ou seja, o organismo está familiarizado com o ritmo, tendo em vista que ele mesmo tem os seus. Conseqüentemente, se o exercício for “guiado” por um ritmo musical, o organismo “entenderá está informação, deixando-se levar pela música, facilitando assim a execução do movimento.

    Camargo (1994) lembra que a música deve ter a medida certa para o movimento, e enumera as contribuições que a música traz para o movimento, como auxiliar no desenvolvimento psicomotor, neuromuscular, senso de direção, como estimulante, motivadora, e para indicar o ritmo automaticamente, auxiliando o professor a proporcionar uma maior liberdade de movimentos. Ou como afirma Langlade e Langlade (BRAGA, 2002), a Música tem o papel fundamental de inspirar, vivificar, desencadear um sentimento interno que, quando traduzido em expressão corporal, tenha um caráter total e rítmico.

    Anshel & Marisi (1979) utilizam a observação de McDougal (1902), que pressupunha que o ritmo facilita o movimento por causa da similaridade entre tal movimento e os padrões rítmicos inerentes do organismo.

4.     Influencia da musica na atividade física e ritmo musical no exercício

    Pesquisadores como Anshel e Marisi (1979); Copelan e Franks (1991), Becker e Chambliss e Marsh e Montemayor (1995), Brett e Crowers e Haring e Becker e Chambliss e Marsh e Montemayor (1994), Blumenstein e Bar-Eli e Tenenbaum (1995) estudaram a influência da música no exercício físico, incluindo seu ritmo (lento e/ou rápido) e intensidade (volume alto ou baixo), sendo que os resultados obtidos indicam que a música realmente afeta a performance do indivíduo antes ou durante a prática de atividade física em crianças, adolescentes, adultos e idosos.

    Santos (2008) cita a Martins (2007) quando diz que é interessante ressaltar que não é só a música que causa esta alteração na percepção da dor, o próprio organismo humano trabalha neste aspecto, pois durante o exercício físico o cérebro, a glândula pituitária e outros tecidos produzem uma série de endorfinas que causam euforia e reduzem a sensação de dor. Contudo, esta alteração na percepção da dor é muito mais forte na presença de música com a ação da percepção seletiva do sistema nervoso central.

    Martins (1996) cita Broadbent (1958) e Hernadez-Peon (1961) que já haviam teorizado: que a música tem o “poder de anestesiar” o indivíduo, fazendo com que ele ignore estímulos desagradáveis que o exercício físico pode causar.

    Em exercícios de baixa intensidade, a música pode inibir a sensação de cansaço, tornando o treino mais prazeroso. O pesquisador britânico participou de estudos em 1999 e em 2007 que mostram que esse “desligamento”, chamado de dissociação reduz em 10% a percepção de esforço durante uma corrida da esteira realizada em uma intensidade da até 75% da freqüência cardíaca máxima (ZANOLLI, 2010).

    Conforme ZANOLLI (2010), citando Karageorghis, quando o individuo pratica uma corrida ouvindo musica ele se desconecta perde a noção do tempo, não vê o tempo passar, esse estado é chamado pelos pesquisadores de “Estado de Flutuação”. O individuo vai mais longe nos treinos; sua percepção de esforço diminui em cerca de 10%; o estado de humor muda diminuindo as sensações de cansaço. As músicas que possuem um significado, por exemplo, de “superação” causam transformação da realidade fazendo com que inconscientemente traga a emoção para aquele momento.

    Segundo Radocy e Boyle (1979) algumas músicas podem se relaxantes, outras podem fazer o indivíduo ser sentir mais feliz, outras podem causar frustração, agitação, entre outras manifestações.

    Gilman e Paperte (1958) demonstraram que a música pode baixar o limite da percepção sensorial. Descobriram que a música e os sons rítmicos podem aumentar a visão dos ouvintes até 25%. Ainda que pequenos como o tique-taque de um relógio, as experiências demonstraram que eles serviram para estimular a visão.

    Novamente vemos que a música pode melhorar a performance do indivíduo ao amenizar sensações inerentes de seu organismo, quando submetido ao esforço.

    Valin (2002) afirma que:

    De acordo com Tame (1984), a música pode afetar a energia muscular, elevar ou diminuir os batimentos cardíacos, influenciar na digestão. Csikszentmihalyi (1192) afirma que uma das funções da música é dirigir a atenção do ouvinte para padrões adequados a um determinado estado de ânimo, além de afastar o tédio e a ansiedade. A música nas atividades é utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios físicos ou de distrair o praticante de estímulos não prazerosos como cansaço, dor ou até tensão psicológica.

    Além disso, Todres (2007) afirma que:

    Os efeitos da música na redução da dor se explicam pela teoria do portal do controle da dor. A música age como um estímulo em competição com a dor, distrai o paciente e desvia sua atenção da dor, modulando, desta forma, o estímulo doloroso. Estudos de imagem do cérebro mostraram atividade nos contornos auditivos, no córtex auditivo e no sistema límbico em resposta a música. Mostrou-se que a música é capaz de baixar níveis elevados de estresse e que certos tipos de música, tais como a música meditativa ou clássica lenta, reduzem os marcadores neuro-hormonais de estresse.

    Ao pesquisarem, em 1991, os "Efeitos de tipos e intensidades da música de fundo na resistência em esteira rolante", Copeland e Franks chegaram à conclusão que a música lenta e com baixo volume (de 60 a 70 decibels) produz um efeito relaxante durante o esforço físico submáximo, além de aumentar a resistência cardiorrespiratória do indivíduo.

    Eles não conseguiram comprovar que a música rápida e com volume alto (de 75 a 85 decibels) aumenta estímulos psicológicos ou fisiológicos do organismo.

    Já em 1994, Becker, Brett, Chambliss, Crowers, Haring, Marsh e Montemayor analisaram a "Música lenta e rápida antecedendo ou ao decorrer da performance atlética de crianças, adultos e idosos" e deduziram que a distância que tais grupos percorreram na bicicleta ergométrica (utilizada na experiência) foi muito maior quando feita sob o estímulo musical (estímulo anterior ao exercício ou durante o exercício físico) que na ausência da música. Não houve nenhuma diferença significativa entre a música rápida ou lenta afetando a performance física de tais indivíduos. As pesquisadoras sugeriram que a performance física poderia aumentar ainda mais se o tipo de música fosse selecionado de acordo com a idade de cada indivíduo (principalmente entre os idosos).

    Schullian e Schoen (1948) citam Hughes que reconhecendo que a música vigorosa aumenta o grau de pulsação e de respiração, afirmou:

    Ocorre, algumas vezes, que os jovens se esforçam mais - e por um período mais longo - na dança do que nas ocupações mais proveitosas e menos rítmicas. De modo semelhante, tem-se observado que uma banda em marcha faz com que os soldados se esqueçam de sua fadiga, pelo menos por algum tempo, permitindo-lhes marchar com renovado vigor.

    Baseando-se nos resultados de uma pesquisa feita de 2006, conclui-se que a presença da música durante o exercício físico pode contribuir para a melhoria da performance psicofisiológica do indivíduo em alguns dos itens estudados (MARTINS, 1996).

    Em 1979, Anshel e Marisi estudaram o "Efeito da música e ritmo na performance física", averiguando que a resistência física de um indivíduo pode ser aumentada se o movimento exercido for ritmicamente coordenado com um estímulo musical. Por outro lado, se a música utilizada não for sincronizada com o movimento de pedalar (utilizado nesta experiência), o tempo em que o indivíduo consegue manter um trabalho de resistência não é significantemente maior se comparado ao mesmo tipo de trabalho, porém com a ausência de música.

    Schullian e Schoen (1948) citam Soibelman que descobriu que, embora seja a música rítmica um auxilio na atividade, a música não exerce efeito positivo quanto à precisão ou exatidão do movimento, se o ritmo não for adaptado ao ritmo do trabalho.

    Lembramos que há critérios para utilização da Música em atividades físicas. Não é qualquer música que atenderá os objetivos da Educação Física. Para Angelim (2003), em termos emocionais, a Música com vibrações lentas têm efeito relaxante, e as extremamente rápidas têm efeito de intensa estimulação nervosa.

5.     Influencia da musica preferida e não preferida na atividade física

    Desde então, foi visto o efeito positivo da música, mas ela pode ter um efeito negativo também, ouvir uma música dissonante aos ouvidos pode além de causar irritação, fazer com que a percepção seletiva do indivíduo seja voltada para dor e para o cansaço ao invés de estar voltada para a música, já que naquele momento a música está sendo um estímulo desagradável (SANTOS, 2008).

    Se a música estabelece o ritmo do exercício físico, conseqüentemente ela vai influenciar no rendimento do indivíduo, pois quanto mais estimulado pela música ele estiver mais ele tenderá a ter um melhor desempenho, além disso, ele terá sua percepção de dor e cansaço desvinculada, o que o ajudará também a ter um melhor desempenho físico. Tudo isto, é explicado através da teoria da Percepção Seletiva de Broadbent (1958) e a teoria da Atenção Restrita de Hernandez-Peon (1961), ambos citados por Martins (1996), onde estes teóricos afirmam que: “O sistema nervoso pode somente atender a estímulos ambientais limitados a qualquer momento enquanto omite outro estímulo desagradável e extrínseco. Assim, a habilidade de um indivíduo resistir em uma tarefa física baseada em um estímulo auditivo agradável pode ser explicada através do bloqueio de uma transmissão sensorial em um ‘caminho’ para facilitar a transmissão de atividade elétrica em outro ‘caminho’ eferente”.

    Sobre isto Martins (1996) ainda afirma que: “Tem explicado o processo de atenção seletiva pela limitada capacidade de processamento de informações do sistema nervoso central. De acordo com estas explicações, a sugestão de que a percepção do indivíduo de um estímulo auditivo agradável predominaria sobre a atenção individual de outro estímulo menos agradável associado com esforço físico, parece plausível”.

    Em pesquisa realizada por Santos (2008) com o objetivo de mensurar a influencia da musica preferida e não preferida no desempenho e na freqüência cardíaca de praticantes de caminhada obtiveram o seguinte resultado.

    A tabela abaixo mostra à distância percorrida pelos indivíduos, amostra, em metros, sendo possível a mensuração porque os indivíduos caminharam na linha de 40 m X 20m da quadra poli esportiva da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Campus de Jequié.

Tabela 1. Influência da música no desempenho dos indivíduos durante caminhada

DP: Desvio Padrão

 

Figura 1. Influência da música no desempenho dos indivíduos durante caminhada

    Pode-se observar na Figura 1 que a musica influência tanto para melhorar como para piorar o desempenho dos indivíduos, em função do gosto musical de cada pessoa. Quando perguntados por Santos (2008) qual a preferência musical para pratica de atividade física, 50% dos participantes da pesquisa responderam Rock, 30% responderam Axé, 10% responderam Dance e 10% responderam que gostam de fazer atividade física com música, mas não gostam de nenhum estilo musical apresentado.

    Martins (1996) afirma que quando a música deixa de ser um estímulo agradável o sistema nervoso voltará sua atenção para outro estímulo ambiental. Como a sessão de dance foi a menos preferida, isto a poderia ter equiparado a sessão sem música, voltando sua atenção para outros estímulos ambientais, mas o que acontece e que quando a música é dissonante aos ouvidos isto pode causar irritação e desconforto, o que a diferencia da sessão sem música, demonstrando que quando a música não é consonante aos ouvidos, ela vai ser um fator de rendimento negativo maior do que fazer exercícios físicos na ausência de música.

    Desta forma, provando que a música, quando ela é agradável, e tem haver com o gosto pessoal do praticante para a situação especifica, ela é capaz de proporcionar efeitos positivos durante o exercício, mas quando isto não acontece, e a música é desagradável ao ouvinte durante seu exercício físico, ela vai proporcionar alterações fisiológicas negativas. Provando que, é melhor para o desempenho físico não ouvir música durante o exercício físico do que ouvir músicas desagradáveis, mais se a música for agradável vai ser melhor para o rendimento do que não ouvir música.

4.     Conclusão

    A pesquisa realizada demonstra que a música interfere na atividade física de diferentes maneiras e intensidades, ou seja, um estímulo musical pode aumentar ou diminuir a capacidade do individuo de suportar as cargas impostas pela atividade física, dependendo do seu gosto musical.

    A presença da música durante a atividade física pode aumentar a freqüência cardíaca devido ao estímulo ao sistema endócrino, que faz com que o corpo libere muitos hormônios. Como conseqüência disso ocorre o aumento da oxigenação dos tecidos musculares fazendo com que o individuo suporte por mais tempo as cargas impostas, tendo uma fadiga mais tardia. No entanto este fenômeno só é observado quando o ritmo musical é agradável aos ouvidos do indivíduo. Pode-se observar também que a música agradável distrai da dor e cansaço causados pela atividade física.

    Em contra partida quando a música for desagradável aos ouvidos, o individuo terá uma percepção maior da dor e cansaço, assim o estímulo musical influenciará de forma contraria, aumentando a percepção do corpo para respostas negativas do exercício.

    Pode-se concluir então que quando a música for agradável ao gosto musical do individuo será mais um aliado a prática da atividade física, pois irá distraí-lo, principalmente das respostas internas do corpo à atividade física. Já se a música utilizada durante a atividade não for de gosto musical do individuo, será mais um empecilho para a prática da atividade, sendo melhor a ausência da música, pois o individuo terá seu organismo voltado para respostas internas desagradáveis como dor e cansaço.

    Por tudo isso a música, quando agradável, pode também influenciar na performance do individuo, pois o mesmo tem uma percepção de dor e cansaço mais tardia e sua capacidade física aumentada e intensificada.

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