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Investigação sobre a associação de 

níveis de atividade física e comportamento sedentário 

com o IMC de jovens e adultos com deficiência intelectual

Investigación sobre la relación de los niveles de actividad física y conducta 

sedentaria con el IMC em jóvenes y adultos com discapacidad intelectual

 

Universidade Católica de Brasília, PPGEF

(Brasil)

André Luís Normanton Beltrame

Tânia Mara Vieira Sampaio

andrelbeltrame@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A obesidade e o estilo de vida sedentário são reconhecidos como problemas de saúde pública. Apesar de ser um problema de toda a população indivíduos com deficiência tendem a ser menos ativos fisicamente além de possuir uma prevalência de sobrepeso e obesidade maior quando comparados com indivíduos sem deficiência. Objetivo: Investigar a associação de níveis de atividade física e comportamento sedentário e sua relação com o IMC de 70 jovens e adultos com deficiência intelectual. Metodologia: A amostra foi composta por 70 jovens e adultos (40 homens e 30 mulheres) com idades variando entre 17 e 38 anos oriundos de dois centros de ensino especial da região administrativa de Ceilândia, Distrito Federal. Trata-se de um estudo transversal, causa e efeito detectados simultaneamente. A prevalência foi calculada para cada variável independente sendo comparado pelo teste qui-quadrado com nível de significância menor ou igual a 5% (p £ 0,05). Resultados: Dos avaliados 68.5% relataram ser insuficientemente ativos, sendo o grupo feminino mais prevalente (73%). a prevalência de sobrepeso/obesidade em classificadas como ativas foi 4.2% maior do que no público masculino e entre insuficientemente ativas foi 35% menor (.05). Conclusão: A probabilidade de sobrepeso e obesidade no público masculino é quase duas vezes e meia em inativos fisicamente e no feminino 1.2 vezes. Os resultados do presente estudo demonstram haver uma alta prevalência de inativos fisicamente e jovens e adultos com sobrepeso/obesidade existindo uma associação entre níveis de atividade física e composição corporal.

          Unitermos: Atividade física. Obesidade. Deficiência intelectual.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A obesidade e estilo de vida sedentários, em jovens e adultos é reconhecidamente um problema de saúde pública (1). Entretanto este fato é ainda mais preocupante na população com deficiência intelectual (DI). Estudos apontam reduzidos níveis de atividade física, aptidão física além de uma alta prevalência de sobrepeso e obesidade (2). Determinar a prevalência e distribuição dos níveis de atividade física é um passo importante para avaliar a eficácia de programas que visam promover a atividade física.

    A obesidade é considerada um problema de abrangência mundial, pois aumentam o risco de aparecimento de doenças secundárias que incluem: doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, câncer, hipertensão, dislipidemia, problemas respiratórios, artrite degenerativa e problemas ginecológicos (3). Estilo de vida sedentário, pouca motivação e barreiras psicológicas ou fisiológicas são alguns dos motivos que levam a baixa adesão a programas de atividade física por parte dos indivíduos com DI (4) o que pode ser motivo suficiente para a manifestação do desequilíbrio energético, que é a relação entre mais calorias consumidas do que gasta, caracterizando a fisiopatologia principal da obesidade.

    Historicamente estudos voltados para o DI receberam pouca atenção, mas nos últimos tempos tem assumido um grau maior de importância (1,5,11,12). Hoje pesquisadores, agências de fomento e governos têm discutido e destinado leis e recursos para estudo e pesquisa da promoção de saúde para esta população. Os objetivos dos programas de atividade física são centrados na redução de condições secundárias (obesidade, hipertensão e etc.), manutenção de independência funcional, oportunizar momentos para o lazer e bem-estar e melhorar a qualidade de vida reduzindo barreiras para a saúde (5).

    A atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética que resulte num gasto energético acima dos níveis de repouso (15). Está baseada em quatro situações: Trabalho, Atividades domésticas, Transporte e Atividades de lazer. Estudos mostram que determinados níveis de Atividade física têm associação inversa com o risco de desenvolver várias doenças além de oferecer ao indivíduo maior independência e produtividade sendo instrumento importante na prevenção primária da obesidade (6,7), porém poucos estudos de intervenção, focando esta população, têm abordado o tema o que gera importantes áreas de interesse para pesquisa que são a explicação do impacto da atividade física e determinação de quantidade ou dose de atividade física requerida para influenciar determinados parâmetros de saúde (8).

    A DI é definida pela incapacidade, caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e comportamento adaptativo apresentado antes dos 18 anos de idade (9,10). Usualmente se dividem em leve, moderada, severa e profunda embora haja dúvidas sobre a precisão de sua avaliação (8). No Brasil cerca de 1,6% da população apresenta esta condição de acordo com o IBGE (11).

    Entende-se a partir do exposto que a oferta de programas de atividade física seja importante para o aumento dos níveis de atividade física destes indivíduos, e no que diz respeito a questões de saúde, além de desenvolver ou manter variáveis neuromotoras ou metabólicas promove o gasto energético significativo para o controle de peso (16,17,18,19).

    Portanto, o objetivo deste estudo foi determinar a prevalência e distribuição dos níveis de atividade física e a associação com o índice de massa corporal em 70 indivíduos com deficiência intelectual.

Metodologia

    A pesquisa foi voluntária e não invasiva além de ser feita no horário escolar depois de aceite de termo de consentimento livre e esclarecido para pais ou responsáveis. A amostra foi composta por 70 jovens e adultos (40 homens e 30 mulheres) com idades variando entre 17 e 38 anos oriundos de dois centros de ensino especial da região administrativa de Ceilândia, Distrito Federal. Todos os alunos possuíam deficiência intelectual de moderada a profunda e eram freqüentes às atividades escolares, além disso, não tinham restrições para a prática da educação física escolar, embora alguns não a fizessem além disso nenhum aluno participava de programas de atividade física além da própria aula de educação física escolar duas vezes por semana cerca de 45 minutos. Foram excluídos do estudo os escolares com quadros sindrômicos que tivessem relação com a obesidade, síndrome de Down e Prader Willi, por exemplo, ou fizessem uso de medicamentos, como os benzodiazepínicos, em doses que alterassem sobremaneira o dia-a-dia do indivíduo.

    Trata-se de um estudo transversal, causa e efeito detectados simultaneamente, onde os escolares foram avaliados por idade, gênero, nível socioeconômico e nível de atividade física, comportamento sedentário e índice de massa corporal.

    O nível socioeconômico foi avaliado pelo questionário de classificação econômica da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), que através do nível de escolaridade e bens de consumo classifica a classe social em níveis de A a E (20).

    Uma maneira simples e que oferece uma estimativa razoável para a massa corporal é o IMC (índice de massa corporal), que tem boa correlação com medidas mais precisas de gordura corporal, como a pesagem hidrostática ou a técnica de medidas de dobras cutâneas (r=0,70). O IMC é a divisão do peso pela altura ao quadrado que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 18,5 – 24,9 como faixa recomendável. Foi utilizada uma balança digital da marca Plenna, modelo Wind, com graduação de 100 g e capacidade de 150 kg.

    Os níveis de atividade física foram avaliados pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), versão 8 forma longa. O IPAQ foi proposto com o objetivo de validar um instrumento de pesquisa que permitiria realizar um levantamento mundial da prevalência da atividade física em adultos. Classifica o nível de atividade física habitual em muito ativo, ativo e insuficientemente ativo observando tipo ou intensidade, freqüência e duração das atividades físicas (21, 22,23). Comportamento Sedentário (tempo que passa sentado).

    Os alunos foram submetidos a entrevistas, junto aos pais e responsáveis, para a avaliação do IMC e questionários ao longo de três semanas por 4 professores de Educação física. Os questionários foram preenchidos através do autopreenchimento.

    A prevalência foi calculada para cada variável independente sendo comparado pelo teste qui-quadrado com nível de significância menor ou igual a 5% (p £ 0,05). Na investigação sobre associação atividade física e IMC foi avaliado o cálculo de risco, com a razão de prevalências além da razão de produtos cruzados com intervalo de confiança de 95%.

Resultados

    Na tabela 1 são apresentadas as características sociodemográficas, de idade, gênero, nível sócio econômico, atividade física e IMC. Dos avaliados 68.5% relataram ser insuficientemente ativos, sendo o grupo feminino mais prevalente (73%). A prevalência de insuficientemente ativos não obteve relação estatística (.64) com a classe social na classe E (23%) em relação à classe D (25%) e classe C (22%). O IMC também não encontrou prevalência significativa em classe social C, D e E respectivamente (24%, 23%, 23%). A população de 30-38 anos se encontrou mais ativa fisicamente, entretanto com IMC maior.

    Na investigação de associação entre atividade física e IMC (Tabela 2) os resultados demonstram que o índice de massa corporal que classifica os indivíduos com sobrepeso ou obeso era mais freqüente naqueles que possuíam o nível de atividade física classificada como insuficientemente ativos (80%) do que nos classificados como muito ativos/ativos (33.3). A razão entre as prevalências é 2.4, o que demonstra, no momento da coleta de dados, a probabilidade de sobrepeso e obesidade é quase duas vezes e meia em inativos fisicamente.

    Na Tabela 3 a prevalência de sobrepeso/obesidade em classificadas como ativas foi 4.2% maior do que no público masculino e entre insuficientemente ativas foi 35% menor (.05). A probabilidade do sobrepeso e obesidade é 1.2 vezes maior em inativos fisicamente.

Tabela 1. Características sociodemográficas e comportamentais de jovens e adultos com deficiência intelectual

 

Tabela 2. Investigação sobre a associação entre atividade física e IMC em jovens e adultos com DI (masculino)

 

Tabela 3. Investigação sobre a associação entre atividade física e IMC em jovens e adultos com DI (feminino)

Discussão

    De acordo com os estudos que avaliam indivíduos sem deficiência existe uma maior probabilidade de o público feminino ser mais inativo fisicamente (12,24). Resultado semelhante foi encontrado neste estudo onde 73% foram inativas fisicamente.

    Avaliação secundária, e pertinente para observação, a classificação do nível socioeconômico apesar de não ter relação estatisticamente significativa com níveis de atividade física, pode-se observar a relação da deficiência com a ausência de políticas públicas como acompanhamento psicológico, pré-natal adequado e saneamento básico, possíveis vetores da deficiência mental (25).

    Reduzidos níveis de atividade física demonstram uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade que aumentam o risco para desenvolver doenças secundárias (10). No presente estudo observou-se um caso peculiar onde indivíduos da faixa etária 30-38 anos apesar de estatisticamente serem mais ativos, suas atividades físicas eram classificadas como leves, principalmente em função de pequenos deslocamentos ao longo do dia, o que talvez explique a distorção com o IMC (.05).

    O trabalho de determinar a relação entre atividade física e indicadores de saúde envolve uma série de variáveis (8), próprias até da história da inclusão social do deficiente. O ambiente escolar pode ser um fator muito importante neste processo por conta da filosofia de trabalho empregada em escolas inclusivas e centros de ensino especial. Uma vez que o estudo foi realizado em um centro e ensino especial, e sabendo da política que envolvem os dois, observou-se que mesmo sendo atestada a condição para a prática de educação física era comum os alunos e alunas não participarem das aulas.

    O envolvimento dos indivíduos com DI e programas de atividade física tem sido uma prioridade nos últimos tempos (2,13) e avaliar a eficácia desses programas tem sido razões para se medir atividades físicas. No estudo em questão nota-se que a educação física do ensino especial carece de dúvidas quanto ao fato de determinar a quantidade ou dose necessária de atividade física que influencie em parâmetros de saúde. Em contrapartida é possível notar que há uma busca em se identificar fatores biológicos e culturais que influenciam a atividade física desta população, através de festividades e atividades de lazer com a comunidade.

    Os resultados do presente estudo demonstram haver uma alta prevalência de inativos fisicamente e jovens e adultos com sobrepeso/obesidade existindo uma associação entre níveis de atividade física e composição corporal.

Bibliografia

  1. Brock D.W, Thomas O, Cowan C.D, Allison D, Gaesser G.A, Hunter G.R. Association Between Insufficiently Physically Active and the Prevalence of Obesity in the United States. J Phys Act Health, 2009 January; 6(1):1-5.

  2. Cervantes C.M, Porreta D. L. Physical Activity Measurement Among Individuals With Disabilities: A Literature Review. Adapted Physical Activity Quarterly, 2010, 27,173-190.

  3. Troiano RP, Flegal KM, Kuczmarski RJ, Campbell SM, Johnson CL. Overweight prevalence and trends for children and adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med. 1995; 149:1085-1091.

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  6. Richard P. Troiano, PhD, RD; Katherine M. Flegal, PhD; Robert J. Kuczmarski, DrPH, RD; Stephen M. Campbell, MHS; Clifford L. Johnson, MSPH. Overweight Prevalence and Trends for Children and Adolescents. The National Health and Nutrition Examination Surveys, 1963 to 1991.Arch Pediatr Adolesc Med. 1995; 149(10):1085-1091.

  7. Elinder LS, Jansson M: Obesogenic environments–aspects on measurement and indicators. Public Health Nutr 2009, 12(3):307-315.

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  9. Luckasson R, Coulter DL, Polloway EA, et al. Mental retardation: definition, classification and systems of support. Washington, DC: American Association of Mental Retardation; 2002.

  10. DSM-IV-TR. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Trad. Cláudia Dornelles; 4º ed. Rev. Porto Alegre: Artmed, 2006.

  11. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2000. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em março de 2011.

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  16. Ozmen T, et al. Effects of School-Based Cardiovascular-Fitness Training in Children With Mental Retardation. Pediatric Exercise Science, 2007, 19,171-178.

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  20. Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (ABEP). Critério de classificação econômica- Brasil. http://www.anep.org.br/mural/anep. Acesso: 15/03/2011.

  21. http://www.celafiscs.com.br Acesso:10/3/2011.

  22. Nahas, Markus Vinícius. Atividade Física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3° edição ver. Londrina: Midiograf, 2003.

  23. Barros, Mauro Virgilio Gomes de.: Medidas da atividade física: Teoria e aplicação em diversos grupos populacionais. Londrina: Midiograf, 2003.

  24. Ceschini FL et al. Inatividade física em estudantes do ensino médio - Jornal de Pediatria 2009; 85(4):301-306.

  25. Ribas João Baptista Cintra. O que são pessoas deficientes. Editora Brasiliense. 2003, pg. 80.

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