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Relação do estado nutricional com a percepção e a 

satisfação da imagem corporal de adolescentes inseridos 

em programa de inclusão social em Porto Alegre, RS

Relación entre el estado nutricional y la percepción y la satisfacción de la imagen 

corporal de adolescentes insertos en un programa de inclusión social en Porto Alegre, RS

Relationship to satisfaction and perception of body image of adolescents enrolled in a social inclusion program in Porto Alegre, RS

 

*Nutricionista, Doutora em Ciências dos Alimentos, USP. Coordenadora

do Curso de Pós Graduação em Nutrição Clínica da Universidade Gama Filho, UGF

**Nutricionista, Mestre em Nutrição Humana Aplicada – Pronut, USP. Professor

do Programa de Pós Graduação em Nutrição Clinica da Universidade Gama Filho, UGF

***Nutricionista, Programa de Pós Graduação em Nutrição Clínica da Universidade

Gama Filho. Mestranda do Programa de Pós gradua cão em Medicina: Hepatologia

Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, UFCSPA, RS

****Nutricionista, Programa de Pós Graduação em Nutrição Clínica

da Universidade Gama Filho – UGF, RJ

(Brasil)

Vanessa Fernandes Coutinho*

Cesar Henrique Azevedo**

Michely Lopes Nunes***

Camila Caetano de Moura****

Gissele Vargas da Rosa****

Julia Romero de Lima****

Roberta Veiga Machado****

michelynutry@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Relacionar o estado nutricional com a percepção e a satisfação da imagem corporal de adolescentes participantes de Programa de Inclusão Social em Porto Alegre. Métodos: Foram tomadas medidas antropométricas (peso e altura) e calculado IMC com classificação proposta pela Organização Mundial da Saúde. A percepção da imagem corporal foi obtida por auto-avaliação através da Escala de Figuras de Silhuetas Corporais – Escala de Stunkard. Para análise da satisfação corporal, foi aplicado o Body Shape Questionnaire – BSQ. Resultados: Participaram do estudo 139 adolescentes, sendo 38,1% do sexo feminino e 61,9% do sexo masculino, na faixa etária de quinze a dezenove anos. Segundo o IMC, 3,6% estavam com baixo peso; 76,3% eutróficos e 20,1% sobrepeso/obesidade. A maioria dos adolescentes, 84,9%, não apresentou insatisfação com a imagem corporal. A associação entre o estado nutricional e a autopercepção da imagem corporal foi significativa (26,4% p<0,001) com tendência a subestimar o estado nutricional em ambos os sexos, com representatividade maior no sexo masculino (64,3%). Conclusão: Não foi encontrada associação significativa entre o estado nutricional e a satisfação da imagem corporal. Houve associação entre estado nutricional e autopercepção da imagem corporal. Sugere-se que Programas de Inclusão Social desenvolvam atividades voltadas para a conscientização da percepção pessoal do adolescente, considerando-se que esta é uma fase importante de construção da identidade. É importante a realização de mais estudos para confrontar os resultados que se mostram divergentes entre pesquisas já realizadas.

          Unitermos: Adolescentes. Avaliação Nutricional. Imagem Corporal. Satisfação da Imagem Corporal.

 

Abstract

          Objective: Relate the nutritional status with the perception and satisfaction of body image of adolescents participating in a Social Inclusion Program in Porto Alegre. Method: Anthropometric measurements were taken (weight and height), and calculated BMI with classification proposed by the World Health Organization. The perception of body image was taken by self-evaluation using the Figure Silhouette Scale – Stunkard Scale. For the analysis of body satisfaction, the Body Shape Questionnaire was applied – BSQ. Results: One hundred and thirty-nine adolescents participated in the study, 38.1% female and 61,9% male, age ranging from 15 to 19 years. According to BMI, 3,6% were underweight; 76,3% eutrophic; and 20,1% overweight/obesity. Most adolescents, 84,9%, showed no dissatisfaction with body image. The association between nutritional status and self-body image perception was significant (26,4% p<0,001), with a tendency to underestimate the nutritional status in both genders, but with greater representativeness for males (64,3%). Conclusion: There was no found significant association between nutritional status and satisfaction with body image. There was an association between nutritional status and self-perception of body image. We suggest that Social Inclusion Programs develop activities aimed at awareness of personal perception of the adolescent, taking into consideration that this is an important phase of construction of the identity. It is important to conduct more studies to compare the results show that divergent in research already conducted.

          Keywords: Adolescents. Nutritional assessment. Body image. Body image Satisfaction.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para a Organização Mundial de Saúde1 a adolescência é a fase do desenvolvimento compreendida entre os 10 e os 19 anos. É um período de formação de identidade onde o risco de insatisfação corporal ainda é maior, o que perturba a autoimagem e a autoestima, podendo predispor a transtornos psicológicos e alimentares.2

    Atualmente, observa-se uma série de distúrbios nutricionais em adolescentes, caracterizados tanto pelo excesso quanto pelo déficit nutricional. Dados recentes comprovam o aumento da prevalência de obesidade entre os adolescentes. Wang et al 3 estudaram a tendência de obesidade e baixo peso em crianças e adolescentes, constatando aumento significativo de prevalência de obesidade.

    Uma crescente preocupação com o corpo entre os adolescentes tem culminado com o grande número de indivíduos, nesta faixa etária, com distúrbios de imagem corporal e alimentares.4 Ao chegar à adolescência, o indivíduo traz consigo os efeitos de uma interação herança-ambiente anterior que, se tiver sido desfavorável, não permitirá o pleno desenvolvimento de seus potenciais. Tomado por um grande número de transformações, o adolescente comumente passa a ter dificuldades de entender e lidar com seu novo universo físico e mental. Em meio às transformações hormonais, funcionais, afetivas e sociais, as alterações de seu universo físico (corporal) adquirem importância fundamental.5

    Sabe-se que os jovens são discriminados e excluídos quando fogem a um padrão ideal de apresentação corporal exigido implicitamente nas relações sociais. 6

    A insatisfação corporal e a preocupação em estar magro são fortes preditores de transtornos alimentares como anorexia, bulimia, vigorexia e compulsão alimentar, e estão associados a altos índices de dietas restritivas (hipocalóricas, com severa restrição de nutrientes) em crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos. 7

    Sabe-se que a imagem corporal é um tema muito associado às questões referentes ao peso corporal, aos transtornos alimentares e, consequentemente, à qualidade de vida, já que proporciona bem estar através da satisfação corporal.8 Segundo Schilder9, imagem corporal é a representação mental do próprio corpo e do modo como ele é percebido pelo indivíduo, de modo que a imagem envolve os sentidos, as idéias e sentimentos referentes ao corpo.

    Assim, o presente estudo tem como objetivo relacionar o estado nutricional com a percepção e satisfação da imagem corporal de adolescentes inseridos em Programa de Inclusão Social em Porto Alegre/RS.

Casuística e métodos

    Trata-se de um estudo transversal descritivo, com 150 adolescentes, na faixa etária de quinze a dezenove anos, inseridos em Programa de Inclusão Social realizado em diferentes sedes (empresas parceiras) na cidade de Porto Alegre/RS, e que oferece cursos profissionalizantes.

    A cada adolescente foi entregue 2 vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que fosse assinado por seus pais e/ou responsáveis, ou pelo próprio adolescente caso o mesmo fosse maior de 18 anos.

    A coleta de dados foi realizada durante os meses de maio e junho de 2010. Das 15 turmas existentes no Programa, 9 aceitaram participar do presente estudo. Cada sessão durou em média 45 minutos e consistiu na tomada de medidas de peso e estatura, seguida pela aplicação da Escala de Stunkard e autoaplicação do BSQ, adaptado e validado por Di Pietro et al 10, e traduzido por Cordas11, após instrução para o preenchimento.

    Para a medição do peso utilizou-se uma balança digital TechlineÒ, modelo BAL 150, com precisão de 100g, e os adolescentes foram pesados sem calçados, sem peças de vestuário ou objetos pesados. A estatura foi aferida com o uso de uma fita métrica inelástica com capacidade de 2 metros. Foi calculado o IMC e sua classificação feita de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, adotado pelo Ministério da Saúde12 em escalas de percentis por faixa etária, onde < Percentil 3 = baixo IMC para a idade; ³ Percentil 3 e < Percentil 85 = IMC adequado ou Eutrófico; ³ Percentil 85 e < Percentil 97 = Sobrepeso e ³ Percentil 97 = Obesidade.

    A percepção da imagem corporal foi obtida através da aplicação da Escala de Stunkard, constituída de 9 silhuetas de cada gênero, com variações progressivas na escala de medida, onde são estabelecidas quatro categorias: baixo peso (1), eutrofia (2 a 5), sobrepeso (6 e 7), e obesidade (8 e 9)13.

    A análise da satisfação corporal foi realizada com a aplicação do BSQ10,11, um questionário fechado autoaplicativo com trinta e quatro perguntas que avaliam e exploram os pensamentos, sentimentos e comportamentos em relação ao corpo, graduando a insatisfação corporal. Cada questão apresenta seis possibilidades de respostas, segundo legenda: 1) Nunca, 2) Raramente, 3) Às vezes, 4) Frequentemente, 5) Muito frequentemente e 6) Sempre.

    A classificação dos resultados é feita pelo total de escores obtidos e reflete o nível de preocupação com a imagem corporal. Obtendo-se resultado menor que 110 pontos, constata-se um padrão de normalidade e ausência de insatisfação corporal; entre 110 e 138, leve insatisfação corporal; entre 139 e 167, insatisfação moderada; acima de 168 pontos, insatisfação grave.

    A seleção das turmas ocorreu por sorteio simples entre todas as sedes do Programa. A análise estatística foi realizada através do Programa SPSS versão 16.0. As variáveis analisadas foram sexo x Índice de Massa Corporal - IMC, Body Shape Questionnaire – BSQ x IMC, e Escala de Figuras de Silhuetas Corporais – Escala de Stunkard x IMC. A descrição das variáveis foi feita através de freqüências absolutas e relativas. A Associação entre o estado nutricional e a satisfação e percepção da imagem corporal foi avaliada através do teste qui-quadrado Pearson e o nível de significância considerado foi de <0.05.

Resultados e discussão

    Participaram do estudo 139 adolescentes, sendo 38,1% (n=53) do sexo feminino e 61,9% (n=86) do sexo masculino, na faixa etária de quinze a dezenove anos. A média de idade para meninas foi de 16,3 anos (± 1,7 anos) e para os meninos de 17,1 anos (± 1,9anos). Houve uma perda da amostra de 7,34% (n=11) por motivo de ausências nos dias da coleta e recusas em participar da pesquisa.

    Os dados referentes ao estado nutricional dos adolescentes avaliados (tabela 1) foram similares aos dados apresentados pelo Datasus14 em relação ao estado nutricional dos adolescentes usuários de Atenção Básica no Rio Grande do Sul no ano de 2007, que refere 7,2% baixo peso; 75,7% eutrofia e 17,1% sobrepeso/obesidade.

    O aumento da prevalência de obesidade vem preocupando tanto os países ricos quanto os em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, 27,7% dos meninos entre 2 e 19 anos de idade e 33,7% das meninas apresentam sobrepeso/obesidade.15

    No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE16 mostram uma tendência de aumento da prevalência de sobrepeso em crianças e adolescentes, entre 6 e 18 anos de idade. Em pesquisa realizada entre 2002 e 2003, foi detectado aumento considerável na proporção de adolescentes com excesso de peso, em relação às medições feitas em 1974 no Estudo Nacional de Despesa Familiar. Estavam acima do peso 3,9% dos meninos e 7,5% das meninas em 1974 e, em 2002-2003, o percentual encontrado foi de 18% e 15,4%, respectivamente. A freqüência de excesso de peso na região Sul foi maior, no sexo masculino 22,6% e no sexo feminino 17%, valores muito próximos dos obtidos no presente estudo, que apontaram 20,8% no sexo feminino e 19,8% no masculino.

    Cabe ressaltar que, segundo Gomes17, a mudança nos valores de corte empregados na definição do estado nutricional dos adolescentes pela OMS evidenciou significativa alteração no perfil nutricional dos adolescentes, com tendência a aumentar a representatividade de sobrepeso/obesidade, o que, consequentemente, ressalta a diferença dos valores encontrados nos dados do IBGE de 2002-2003 e de anos anteriores, que usaram como referência de avaliação as curvas do National Center for Health Statistics - NCHS.

    O questionário de avaliação da satisfação corporal (BSQ) identificou que 118 adolescentes (84,9%) não apresentam insatisfação com a imagem corporal, 16 (11,5%) apresentam insatisfação leve e 5 (3,6%) moderada, não havendo na amostra nenhum caso grave de insatisfação. Contudo, diversos estudos18, 2, 19, 20, 21 relatam a presença de índices elevados de insatisfação com o corpo durante a adolescência, especialmente no sexo feminino, tanto na dimensão emocional (insatisfação) como na dimensão perceptiva (superestimação).

    Evidências indicam o inicio da insatisfação corporal em idades mais jovens, resultado da forte influência dos aspectos socioculturais.22, 23 Estudos destacam a variável idade como um dos fatores determinantes da satisfação corporal, levantando à hipótese que a insatisfação possa começar no início da adolescência e ir aumentando com o decorrer da idade, apresentando maiores ocorrências entre 17 e 19 anos, principalmente no sexo feminino.2, 19

    Os resultados da avaliação da satisfação da imagem corporal não apresentaram diferenças significativas entre os sexos (p=0,100), tanto os meninos (89,5%) quanto as meninas (77,4%) na sua maioria não apresentam dados que revelem insatisfação com a imagem, porém Brook e Tepper20 estudaram adolescentes norte-americanos e constataram que o desejo de ser mais magro se mostrou quatro vezes superior nas meninas que nos meninos. A insatisfação também foi constatada por Cooper21 em estudo com adolescentes do sexo feminino, com valor significativo.

    O BSQ mede o grau de preocupação com a forma do corpo e a freqüência de autodepreciação em virtude da aparência física e da sensação de “estar gorda”. A escala de Stunkard revelou que os adolescentes do presente estudo, apresentam distorção da imagem corporal com tendência a subestimar, e essa pode ser uma hipótese para que o resultado de satisfação da imagem corporal, avaliado pelo instrumento do BSQ, não tenha apresentado relevante grau de insatisfação com a imagem corporal, já que este método aponta o descontentamento em “sentir-se gordo” e os adolescentes do presente estudo consideraram-se abaixo do peso.

    O instrumento de avaliação da insatisfação da imagem corporal BSQ pode não ser o método mais adequado para avaliar o sexo masculino, já que ele foi validado inicialmente com 535 mulheres inglesas comparadas com 38 pacientes bulímicas. A tradução e validação10, 11 para o português foi realizada com 164 estudantes de ambos os sexos, porém a autopercepção de subestimar a imagem corporal e a vontade de estar “maior” é explicado na literatura em adolescentes do sexo masculino, e como o BSQ avalia a insatisfação em “sentir-se gordo”, não mostra a insatisfação. Não quer dizer que os adolescentes não estão insatisfeitos, a insatisfação pode estar presente na vontade de estar “maior”, com mais massa magra, e o instrumento utilizado pode estar inadequado.

    Dos 21 adolescentes que apresentaram algum grau de insatisfação corporal, 13 (61,90%) estavam eutróficos, 7 (33,3%) com sobrepeso/obesidade e 1 (4,8%) com baixo peso, não havendo, portanto, associação significativa (p=0,484) entre o estado nutricional e a insatisfação com a imagem corporal. Ferrando18 estudou 480 adolescentes na Itália, dos quais 57% estavam com eutrofia e 56% referiram insatisfação com a imagem corporal, independente do estado nutricional. Branco24, entretanto, mostrou associação significativa entre a satisfação da imagem corporal com o estado nutricional e em ambos os sexos, especialmente nos adolescentes com sobrepeso/obesidade.

    Os valores encontrados na Tabela 2 sugerem que os alunos não possuem insatisfação com seus corpos, já que é inferior a 110 pontos. Numa primeira análise, esses dados parecem contradizer a literatura que afirma que a insatisfação com a imagem corporal tem atingido números expressivos25. Porém, é preciso enfatizar que, segundo Di Pietro10, os escores inferiores a 110 pontos são observados na maior parte da população não clínica. Escores mais elevados são observados em pessoas com traços sugestivos de transtornos dismórficos corporais e transtornos alimentares.

    Stice e Whitenton26 referem que, nas meninas, o aumento de massa corporal está associado com o aumento da insatisfação corporal e que nos meninos a relação é contrária. Assim, o aumento de peso nas meninas está associado com um afastamento do ideal de magreza, enquanto a baixa massa magra corporal nos meninos está associada com o afastamento do ideal de beleza.27

    Grigg et al 28 observaram 853 adolescentes australianas com insatisfação corporal, e verificou em 57% a prática de dietas consideradas não saudáveis, e em 36% o uso de pílulas anorexígenas, diuréticos, laxantes e dietas extremamente restritivas.

    A escala de silhuetas de Stunkard, (tabela 3), indicou que a maioria dos adolescentes 98 (70,5%) considerou-se eutróficos, 29 (20,9%) com baixo peso e 12 (8,6%) com sobrepeso/obesidade. O teste qui-quadrado mostrou significativa tendência de distorção da imagem corporal ao relacionar o estado nutricional com a autopercepção da imagem corporal (p<0,001), evidenciando a subestimação do estado nutricional tanto nos meninos quanto nas meninas, com representatividade maior no sexo masculino.

    Observa-se entre os meninos com IMC de sobrepeso/obesidade, que 82,4% identificaram-se como eutróficos e apenas 17,6% identificaram-se corretamente com sobrepeso/obesidade, evidenciando a expressiva tendência de subestimar o estado nutricional (p<0,001). Já entre as meninas, 36,4% das com IMC de sobrepeso/obesidade e 11,9% das com IMC de eutrofia consideraram-se erroneamente com baixo peso. Cabe destacar que mais da metade dos meninos e meninas eutróficos se perceberam corretamente na Escala de Stunkard.

    A distorção da imagem corporal é explicada como conseqüência das transformações que o corpo sofre ao estabelecer seu formato e pela pressão social que as comunicações exercem ao idealizar um padrão de beleza.29 Em estudos similares realizados na Espanha30, São Paulo24, Estados Unidos31 e Belo Horizonte32, foram verificadas semelhanças em subestimar a imagem corporal no sexo masculino, entretanto no sexo feminino a tendência foi superestimar.

    No estudo realizado com adolescentes de 14 a 19 anos em São Paulo24, a tendência de subestimar a imagem corporal foi verificada em 26,3% dos adolescentes com sobrepeso que se consideraram eutróficos e em 42,8% com obesidade que se viram com sobrepeso. Neste mesmo estudo, aproximadamente 39% das meninas eutróficas se percebiam com sobrepeso e 47% daquelas nesta condição se percebiam obesas. Segundo Vilela et al 33, nos meninos prevalece o desejo de ganhar peso num porte atlético, e esse ideal de beleza justifica a subestimação da imagem.

    No sexo feminino, o presente estudo revelou tendência a subestimar a imagem corporal, entretanto outros estudos revelam a tendência de superestimar a imagem corporal.30,24,31,32 Segundo Fleitlich et al.5 as adolescentes, mesmo quando estão no peso adequado ou abaixo do peso ideal, costumam se sentir gordas ou desproporcionais.

    Lynch et al 34 mostraram que a insatisfação corporal em adolescentes americanas era o mediador de maior significância entre o Índice de Massa Corporal (IMC) e o risco de transtorno alimentar e comportamentos alimentares de risco à saúde.

Conclusão

    Neste estudo, as evidências encontradas indicam que há relação entre a satisfação e a tendência de distorção da imagem corporal, pois sabe-se que há influência do peso corporal em relação a distúrbios alimentares e de comportamento.

    Pesquisas com populações maiores ajudariam a confrontar com as constatações do presente estudo e compartilhar de mais informações relevantes sobre o tema.

    A conscientização da percepção corporal e social entre os adolescentes deve ser objetivo de enfoque entre os profissionais de saúde e organizações afins para evitar futuros distúrbios entre os jovens.

Agradecimentos

    Agradecemos à Diretoria do Programa de Inclusão Social onde a pesquisa foi realizada e aos jovens que consentiram em participar deste estudo.

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