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Uma breve análise do esporte na cidade do Rio de Janeiro

 

Bacharel e licenciado em Geografia, UERJ

Graduado em Licenciatura plena em Educação Física, UFRJ

Mestrando em Educação, UFRJ

Marcelo da Cunha Matos

prof.marcelomatos@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Desde meados do século XIX, a introdução da prática esportiva na cidade do Rio de Janeiro possui relações com a dinâmica sócio espacial, permitindo uma crescente renovação de usos dos espaços públicos da cidade e, consequentemente, a adesão aos esportes, influenciados, também, pelos costumes europeus. Através de diversas intervenções urbanísticas e construções civis públicas e particulares, surgem novas formas cristalizadas na cidade dotadas de inéditos códigos de uso, até então desconhecidos para a maioria da população carioca. Portanto, este artigo tem como objetivo fazer uma breve análise histórica da inserção do fenômeno esportivo na cidade do Rio de Janeiro e a sua pujança que o torna uma manifestação cultural impregnada pelos valores da era moderna, ocupando uma parte bastante visceral do cotidiano das pessoas, e trás consigo, ao mesmo tempo, as idiossincrasias de uma sociedade capitalista.

          Unitermos: História do esporte. Rio de Janeiro. Espaço urbano.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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O início de um fenômeno: o espaço urbano e a vida cotidiana no século XIX

    Para entendermos a inserção do esporte na cidade do Rio de Janeiro, devemos analisar, primeiramente, a evolução e as modificações do espaço urbano e os costumes da população carioca, pois veremos que a prática esportiva sofreu várias influências nesse contexto social. A história do esporte está intimamente ligada à dinâmica estrutural urbana da sociedade e é através desta que entenderemos sua evolução. Brena (1985, p. 8) afirma:

    É no espaço urbano que se defrontam as ideologias e as praxes, e onde podemos ler, de forma bastante clara, os mecanismos e resultados daquilo que foi se definindo cada vez mais como um verdadeiro ‘choque cultural’.

    Nesta época, a população do Rio de Janeiro, localizada no que é hoje a área central da cidade, valorizava mais as atividades espirituais do que as atividades físicas, sendo essas alvo de desdém e preconceito.

    Esse cenário de aversão por qualquer tipo de exercício físico era explicado pelas atitudes de desconsideração que a sociedade carioca tinha pelo espaço público: um ambiente apático, indiferente. A população utilizava-o de uma maneira bastante austera e com uma concepção muito distinta da que se tem nos dias atuais.

    A vinda da família real em 1808 para a cidade, fugindo da invasão napoleônica em Portugal, ocasionou algumas mudanças a fim de abastecer as necessidades da corte portuguesa, acostumada a uma vida social mais intensa. O cotidiano da cidade resumia-se em procissões e cerimônias públicas, únicas atividades sociais frequentadas pela população no espaço urbano.

    As classes elitistas da cidade claramente demonstravam sua posição quanto ao espaço urbano da época. Eram extremamente indiferentes em relação a qualquer tipo de ato que exigisse esforço muscular, não havendo qualquer preocupação com a saúde física. Além disso, havia uma ausência de socialização nas ruas e o costume em sair de casa era praticamente inexistente (MASCARENHAS, 1999).

    O mau cheiro, o tráfego intenso, barulhento e perigoso das carroças, além das péssimas condições de pavimentação das ruas, eram outros aspectos negativos que refutavam a ideia de uma aproximação da população ao espaço público, local que na época demandava uma organização social. Melo (2001, p. 38), a respeito desse assunto, complementa que no Rio de Janeiro

    ...as condições de saneabilidade e salubridade eram péssimas. Sem uma estrutura de esgotos, coleta de lixo e abastecimento de água, a população era constantemente agredida pelas epidemias de doenças tropicais, como a cólera e a febre amarela. Somava-se a isso uma medicina bastante embrionária e os costumes pouco higiênicos trazidos pelos colonos portugueses.

    Mascarenhas (1999, p. 22), assim, percebe que:

    Tais atitudes deixariam profundas marcas nos espaços públicos de nossas cidades: durante a maior parte do tempo estes seriam povoados quase que exclusivamente pelas massas de negros escravos em sua pesada labuta cotidiana: o varejo ambulante, a coleta de água, o transporte de pessoas e mercadorias etc.

    Dessa forma, com um panorama urbano como este, o desenvolvimento de uma rede de sociabilidades que pudesse, porventura, gerar em práticas esportivas foi dificultada profundamente. Entretanto, ao longo do século XIX, a tradicional visão que fazia parte dos espaços públicos agregava certos valores que mostravam que a evolução da prática esportiva pela população carioca era questão de tempo e novos hábitos seriam incorporados às suas vidas.

    Um processo iniciado em meados do século em questão ajudou a mudar esta problemática social que havia na cidade: o fortalecimento das teorias higiênicas. Pereira (2000, p. 42) afirma:

    Dentro desse impulso geral, que vinha pelo menos desde os tempos do Segundo Reinado, um objetivo particular ia assumindo, para os médicos dos primeiros anos do século, uma importância especial: a higienização do corpo do indivíduo, supostamente depauperado por séculos de inércia e de preguiça.

    Médicos da época já refletiam acerca da importância das atividades físicas para crianças, adolescentes e adultos. Inúmeros estudos foram publicados e, junto a isso, ganhava força a inclusão do ensino da ginástica em escolas primárias e secundárias da cidade.

    O trecho abaixo exemplifica a preocupação que o educador Paulo Lauret tinha com relação à necessidade dos exercícios ginásticos, ferramenta fundamental para o futuro dos indivíduos e da sociedade:

    (...) Lembremo-lo hoje às mães, a quem a educação física deve merecer os maiores desvelos. Não há espírito são onde o corpo é fraco.

    E vós, oh mães! Que muitas vezes, nos eflúvios do vosso amor, cerrais os olhos e os ouvidos à ciência, à consciência e ao dever, tornando-vos impotentes para a missão sublime, escutai um conselho que mais tarde vos dará o prazer de terdes cumprido um dever, e olhardes para o fruto do vosso ventre com alegria, em vez de passardes horas de vigília junto da cabeceira daquele que adorais (Lauret apud Pereira, 2000).

    As teorias higiênicas transformavam-se, portanto, num primeiro passo para a inclusão de novos adeptos aos esportes. Além do mais, era uma sólida justificativa para empresários convencerem patrocinadores a conceder um suporte adequado para implantação de futuros espaços para o jogo e, até mesmo, formulação de campeonatos.

    É válido que, já no Renascimento, no século XVII, também se levantou essa questão ao se abordar um novo conceito de uso do corpo e das atividades físicas, atrelando o corpo à alma, o que proporcionava maior atenção à higiene mental e física. Assim, nasceu a ideia da Educação Física como formação integral e livre da personalidade.

O contexto da inserção dos esportes na cidade

    De fato, como visto acima, a prática esportiva teve muitas dificuldades para se instalar na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo com as teorias higiênicas formuladas por muito médicos da época, havia ainda um certo receio nesta novidade que estava sendo disseminada pela cidade.

    Uma ausência de oportunidades para o lazer dos cidadãos foi outro requisito que impulsionou a inserção dos esportes, pois sabemos que existia, como explicitado anteriormente, uma atrofia das relações sociais. Assim, ao se deparar com tal novidade, tornar-se-ia inevitável a curiosidade e a discussão da população sobre aquele acontecimento.

    A prática dos esportes ao ar livre no Rio de Janeiro, por exigir espaços abertos, se realizava em praças, parques, praias e baldios, tornando a atividade visível à comunidade local e, portanto, passível de assimilação (MASCARENHAS, 2002, p. 133).

    Outro fator preponderante que influenciou a inserção dos esportes foi o regresso de universitários brasileiros vindos da Europa, principalmente da Inglaterra. Além de cursarem uma universidade no exterior, esses rapazes de famílias nobres, elitistas, obtinham novos hábitos sociais e culturais, dentre eles o futebol, hábito já difundido com uma maior regularidade nos países nos quais eles residiam. Ao voltar para o País, difundiam o futebol pela cidade, tornando-se tal prática o passatempo principal, capaz de aprimorar a inteligência, o caráter e outros atributos morais (MASCARENHAS, 2001).

    Havia, também, a forte influência de missionários ingleses, vindo a trabalho ao Brasil. Foram eles que “trouxeram o hábito e o desejo de estruturar clubes, organizar competições esportivas e até mesmo ensinar práticas ligadas às atividades físicas e esportivas” (MELO, 2001, p. 24).

    A adoção do modismo europeu pelas elites da cidade, a chamada belle époque, foi algo primordial para haver uma mudança de postura com relação a esses novos hábitos, já que sem a referência do Velho Mundo o país continuaria com os mesmos costumes nada aprazíveis do período do início do século XIX.

    No início do século XX, outro fator preponderante que indiretamente influenciou a evolução esportiva, visto que não era seu objetivo principal, foi a Reforma Passos, de 1902 a 1906. Influenciada pela belle époque, a cidade do Rio de Janeiro passou por um grande plano de remodelação urbanística (seguindo o modelo francês) e, consequentemente, trazendo inúmeras modificações de cunho social e até mesmo cultural. Abreu (1997, p. 67) apoia a ideia de que a Reforma Passos:

    É a superação efetiva da forma e das contradições da cidade colonial-escravista, e o início de sua transformação em espaço adequado às exigências do Modo de Produção Capitalista. Neste movimento de transição o papel do Estado foi fundamental, tanto no que diz respeito à sua intervenção direta sobre o urbano, como no que toca ao incentivo dado á reprodução de diversas unidades do capital.

    Uma dessas transformações ajudou muito na evolução das práticas esportivas como, por exemplo, a valorização da balneabilidade litorânea, proporcionando a difusão do uso da orla para diversos propósitos. Veremos posteriormente que o Remo foi bastante beneficiado com as obras do prefeito Francisco Pereira Passos.

    Deste modo, modificava-se cada vez mais o espaço urbano da cidade, transformando-a numa cidade moderna, “européia”, higiênica, oxigenada, gerando ocupações em novas áreas, além de melhorar o fluxo de pessoas para as áreas litorâneas. E foi nas últimas duas décadas do século XIX e no início do século XX que se multiplicaram os clubes de regatas.1

Foto 1. Remadores do Vasco da Gama. Fonte: Revista Náutica

As primeiras modalidades esportivas

    As práticas esportivas praticadas na virada do século XIX com maior grau de evidência eram o Turfe e o Remo, ambos esportes praticados apenas pelas elites.

    O Turfe, a partir de 1850, já demonstrava seu desenvolvimento, uma vez que existia no Rio de Janeiro uma pista para sua prática localizada próxima à Quinta da Boa Vista, perto das residências das elites daquela época. Essa pista foi construída de maneira que todos os detalhes animassem seus freqüentadores, desde sua arquitetura até a localização (MELO, 2001).

    Posteriormente, em 1868, nascia um verdadeiro hipódromo, o Prado Fluminense, próximo à estação ferroviária São Francisco Xavier, levando milhares de pessoas às corridas atraídas pelas apostas e pelo requinte elitista que aquele esporte promovia, exercitando o sentimento de distinção, a exemplo do que já acontecia na Inglaterra e na França.

    Em sua obra “Cidadesportiva” (2001, p. 31), Melo esboça através de um exemplar do Diário Fluminense, jornal da época, a grandeza de um evento turfístico:

    ...tiverão lugar, na Praia de Botafogo, grandes corridas de cavalos, as quais SS.MM.II se dignarão presenciar. A prova apresentava uma interessante vista, o grande número de cavaleiros, de seges, e de embarcações faziam um todo aparatoso: entre o grande número de pessoas que ali vimos, notamos os Exmos. Conde de Palma, Ministro dos Negócios Estrangeiros, o dos Negócios da Justiça, Sir Charles Stuat, e outras muitas pessoas distintas.

    O Remo era outro esporte praticado na cidade que, desde 1851, com muito êxito, conquistou a população com sua narrativa que preconizava uma atividade física capaz de melhorar a saúde, educar os músculos e a moral dos praticantes dessa modalidade. Assim, influenciado por essas teorias e, também, pelo modismo oriundo da belle époque, no final do século XIX, inúmeros clubes de regatas surgiram, entre eles, o Club de Regatas Vasco da Gama, em 1898.

    Nessa perspectiva, o Remo evoluía cada vez mais e ganhava novos adeptos. Mascarenhas (1999) aponta que tais eventos demandaram, como qualquer outra modalidade esportiva, alterações inéditas na materialidade urbana, até então desprovida de locais e equipamentos adequados.

    Além disso, a partir do fim do Império, em 1889, a elite perde a referência política, localizada no bairro de São Cristóvão. Ao mesmo tempo, nascia na cidade um novo caminho de desenvolvimento em que a população carioca expandia-se para a Zona Sul. Essa mudança de postura por certo foi muito importante no desenvolvimento do Remo e no envolvimento das elites com tal esporte.

    Francisco Pereira Passos, prefeito da cidade em 1905, estimulou esta migração para a Zona Sul, entre outras obras,2 investindo maciçamente em campeonatos para difundir sua prática pela juventude carioca. Consequentemente, houve uma grande remodelação urbanística e transformações de cunho social e econômico em direção a esta nova área. “O espaço é concebido como locus da reprodução das relações sociais de produção, isto é, reprodução da sociedade” (CORRÊA, 1995, p. 26).

Foto 2. Em 1905, a recém-criada Avenida Beira-Mar, o qual atraía milhares de pessoas em dias de regatas. Fonte: MALHANO (2002)

    O Remo necessita para sua prática o mar, um espaço público que, como visto anteriormente, não possuía nenhum tipo de conservação e cuidado. No litoral, grande parte do lixo era jogada pelo mar, sendo este foco de doenças e mau-cheiro. Felizmente, no final da primeira metade do século XIX, as preocupações com a saneabilidade da cidade ficaram em evidência, visto que seria uma forma de modernizar o país e de identificação com os países europeus. É apropriado relembrar que isso aconteceu no auge da dita belle époque carioca em que a preocupação com o modo de vida europeu era algo fundamental para o contexto socioeconômico da época.

    Destaca-se, também, outras práticas esportivas como, por exemplo, as touradas; a patinação que, a partir de seus espaços originaram as primeiras lutas de boxe; as corridas a pé ou atletismo; a natação e o ciclismo que na época eram, na verdade, corridas de velocípedes etc., porém nenhuma delas conseguiu tanto êxito e nem importância socioeconômica na cidade quanto o Turfe e o Remo (MELO, 2001).

    Havia também modalidades que atualmente causam surpresa quando intitulados de esportivas como brigas de galo, jogo do bicho, corridas de cachorro e as de pombo correio. “As práticas consideradas esportivas eram tão díspares que até mesmo o banho de mar eram assim denominados” (MELO, 2001, p. 27).

Considerações finais

    Não podemos analisar a história sócio espacial da cidade do Rio de Janeiro a partir do século XIX sem abordar a sua inserção esportiva. Os costumes europeus e as intervenções urbanísticas são características marcantes neste processo e, como eles, vêm os esportes e as atividades físicas.

    E por que não dizer numa mudança de paradigma? Afinal, o que outrora era visto como símbolo de maus costumes, da escravidão e dos negros, se tornou um exemplo de ‘europeização’, de classe e de saúde. O que era visto como locais inóspitos, abandonados e irrelevantes, se tornaram áreas nobres e valorizadas, em direção ao ‘progresso’ da cidade.

    Embora não tenha sido esmiuçado neste artigo, o crescimento de clubes de regatas e sua profissionalização – que ainda se expandiram para outros esportes como, mais especificamente, o futebol – é um exemplo de evolução deste fenômeno. Além disso, foi através do ‘football’ – um esporte de elite – que as classes menos favorecidas puderam se mostrar à cidade, ‘multiculturalizando’ o nosso esporte bretão.

    Como pesquisador, considero de extrema relevância a abordagem desta ótica para compreendermos como o fenômeno esportivo se tornou uma das manifestações culturais mais fortes do século XX e que tem persistido ao longo do século XXI.

Notas

  1. Como, por exemplo, o Club de Regatas Vasco da Gama.

  2. A Avenida Beira-Mar, construída em seu plano de reformas, por exemplo, era palco de grandes disputas ditas modernas e civilizadas de remo.

Referências

  • ABREU, Maurício de A. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO, 1997.

  • BRENA, Giovanna R. D. Uma cidade em questão: duas etapas de uma proposta interdisciplinar. Revista do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.7-13, dezembro/1985. p.8.

  • MALHANO, Clara E. S. M. B. São Januário: arquitetura e história. Rio de Janeiro: Mauad: FAPERJ, 2002.

  • MASCARENHAS, Gilmar. A Geografia e os Esportes: uma pequena agenda e amplos horizontes. Conexões: Educação, Esporte, Lazer. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), junho de 1999, p. 46-59.

  • ____________________. Construindo a Cidade Moderna: a introdução dos esportes na vida urbana do Rio de Janeiro. Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, CPDOC (Fundação Getúlio Vargas). Número 23, p, 17-39, junho de 1999.

  • ____________________. A bola nas redes e o enredo do lugar: uma geografia do futebol e de seu advento no Rio Grande do Sul. Tese de Doutorado em Geografia Humana, Universidade de São Paulo, 2001.

  • ____________________. Considerações Teórico-metodológicas sobre a Difusão Espacial do Futebol. In: Revista do Departamento de Geografia, Rio de Janeiro, UERJ, n. 10, p. 73-82, Setembro de 2001.

  • ____________________. O lugar e as redes: futebol e modernidade na cidade do Rio de Janeiro. In: MARAFON, G. e RIBEIRO, M. (orgs.) Estudos de Geografia Fluminense. Rio de Janeiro: Infobook, 2002, p. 127-142.

  • MELO, Victor A. Cidadesportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumaré: FAPERJ, 2001.

  • PEREIRA, Leonardo A. de M. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro: 1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

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