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Observação do comportamento pedagógico do 

treinador de natação. Influência da experiência

Observación del comportamiento pedagógico del entrenador de natación. Influencia de la experiencia

 

*Escola Superior de Desporto de Rio Maior

Instituto Politécnico de Santarém

**Centro de Investigação em Desporto, Saúde

e Desenvolvimento Humano, CIDESD, Vila Real

***Departamento de Ciências do Desporto, Exercício

e Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real

(Portugal)

Telmo Matos* **

matos.telmo@hotmail.com

João Freitas* **

dionovas@hotmail.com

Ana Teresa Conceição* **

anaconceicao@esdrm.ipsantarem.pt

Ana Amâncio*

António Silva** ***

ajsilva@utad.pt

José Rodrigues* **

jrodrigues@esdrm.ipsantarem.pt

Hugo Louro* **

hlouro@esdrm.ipsantarem.pt

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objectivo conhecer, descrever, sistematizar e analisar a actividade pedagógica do treinador de natação em função da sua experiência profissional. Neste contexto, recorreu-se a um conjunto de treinadores com diferentes níveis de experiência profissional, para caracterizar as seguintes características comportamentais: (1) o perfil comportamental que os treinadores de natação de jovens nadadores adoptam, (2) a relação entre os comportamentos dos treinadores em função da experiência profissional. O Sistema de Observação do Treinador e do Atleta (SOTA), desenvolvido por Rodrigues et al. (1993) foi utilizado para caracterizar o comportamento dos 8 treinadores constituintes da amostra, 4 treinadores com menos experiência profissional e 4 treinadores com mais experiência profissional. Os resultados indicaram que em ambos os grupos, com mais e menos experiência profissional, a dimensão predominante foi “Controlo”, 62.1% e 63.3%, respectivamente. Outra nota a considerar, foi que o grupo com mais experiência deu maior ênfase à dimensão “Organização” em relação ao grupo com menos experiência, no entanto este último teve um valor mais elevado na dimensão “Outros Comportamentos”. Podemos considerar que e experiência profissional leva a que existam diferenças entre os grupos de treinadores, não sendo essas diferenças estatisticamente significativas. É de referir que os treinadores com mais experiência profissional adoptam preferencialmente perfis comportamentais centrados na observação, informação e interacção, enquanto os treinadores com menos experiência profissional recorrem à observação, informação e conversas como perfis comportamentais mais acentuados.

          Unitermos: Observação. Comportamento do treinador. Natação. Experiência profissional.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desporto e actividade física oferecem aos mais jovens oportunidades de experimentar o desafio, a diversão e o prazer enquanto aumentam a auto-estima e diminuem o seu stresse1.

    Neste sentido o treinador assume um papel e uma missão muito importantes, na medida em que lhe é exigido o exercício de uma infindável lista de tarefas, de aptidões, de atitudes e comportamentos, em aumento crescente de exigências2.

    Sendo o treinador responsável pela condução da equipa no treino e competição, a observação do seu comportamento e da interacção com os atletas revela-se muito importante.

    As prioridades que os treinadores promovem, as atitudes, os valores que transmitem e a natureza da interacção com os atletas podem, notadamente, influenciar os efeitos da participação desportiva de crianças e jovens 3.

    Diferentes estudos4,5 têm usado critérios semelhantes para definir treinadores experientes, como por exemplo, estar envolvido no treino de equipas nacionais, número de anos de experiencia acumulada e o desenvolvimento de atletas de elite.

    Nash & Collins referem que a tomada de decisões é decisiva nas características de treinadores, no entanto o facto que define um treinador experiente não é meramente a tomada de decisões, mas a tomada de decisões de forma acertada6.

    Por outro lado7,8, definem as competências do treinador como um conjunto de actuações e condutas didácticas que se realizam, em treino e em competição.

    Desta forma, entre muitos determinantes do sucesso desportivo, o papel e a função do treinador devem ser destacados e não desvalorizados.

    O conhecimento das suas próprias capacidades, constitui um passo decisivo para que os treinadores possam demonstrar essas mesmas capacidades2. O treino é um processo relacional muito complexo e a valorização de algumas capacidades pode indicar o sentido do envolvimento dos treinadores, bem como provocar influências na concepção dos programas de formação.

    A aquisição do conhecimento por parte dos treinadores desportivos de jovens é, em parte, assegurada pela certificação obtida através de programas formais de formação, no entanto os autores colocam que esta aquisição de conhecimentos não garante competências em campo9.

    Segundo Arroyo & Alvarez10, o comportamento do treinador durante o processo de ensino-aprendizagem de uma modalidade desportiva, no treino ou na competição, tem sido, recentemente, objecto de estudo de diversas investigações.

    “Parece difícil acreditar que, quando existe o objectivo de melhorar a performance desportiva, o treinador, o comportamento do treinador e a formação do treinador têm sido considerados como variáveis com pouca influência neste objectivo” 11. O mesmo autor refere que o comportamento do treinador durante o treino vai estar condicionado pelas decisões pré-interactivas (conjunto de decisões tomadas pelo treinador antes do treino ou da competição) mas, sempre sujeito, à “imprevisibilidade do treino”. Após o treino, a preocupação do treinador irá centrar-se sobre as decisões pós-interactivas (conjunto de decisões tomadas pelo treinador após o treino ou competição) que vão, consequentemente, influenciar as decisões pré-interactivas do treino ou competição seguintes e assim sucessivamente.

    Um dos estudos que é normalmente muito referenciado neste domínio e que foi pioneiro na observação do comportamento do treinador e na identificação das suas principais funções pedagógicas12, analisa um treinador de sucesso, John Wooden, conceituado treinador de basquetebol da U.C.L.A. (Universidade de Califórnia em Los Angeles). A observação efectuou-se na época de 1974/75 durante 15 sessões de treino. Os resultados deste estudo, demonstrou que o treinador acentua a sua intervenção na instrução de tarefas e na correcção das execuções dos atletas: Instrução (50.3%), Pressão (12.7%), Diversos (9.0%), Reprimenda- Reinstrução (8.0%), Elogios (6.9%) e Reprimendas (6.6%).

    Existem diferentes estudos sobre o comportamento dos treinadores ao longo da época desportiva. O estudo realizado por Alves et al. 13 teve por objectivo a caracterização do comportamento do treinador na Ginástica Rítmica. Foram estudados 6 treinadores (2 da selecção portuguesa, 2 de selecções estrangeiras na categoria individual e 2 de selecções estrangeiras na categoria de grupo), o sistema de observação utilizado foi o S.O.T.A., desenvolvido por Rodrigues, et al., (1993). Os resultados evidenciam uma dominância da categoria observação (44% - 57%). Revelou-se também elevado a categoria conversas (7% - 32%). A instrução (3% - 26%) e a correcção (7% - 22%) assumem-se imediatamente como as categorias com mais frequência.

    Outro estudo14 em que a amostra foi constituída por 102 treinadores de 3 modalidades, indicou que cerca de 85% dos comportamentos dos treinadores têm a ver com o conteúdo do treino, como a Instrução (33%), Observação (18%). Sendo os restantes 15% do tempo repartidos pelas outras categorias do sistema de observação.

    Num estudo realizado com base em 10 treinadores experientes e 10 treinadores inexperientes, Jones, Housner & Kornspan15 estudaram o comportamento e as decisões interactivas de treinadores de Basquetebol, em treino. Como conclusões, registaram que os treinadores experientes deram mais instruções técnicas do que os treinadores inexperientes.

    Esta fase de diversidade de hipóteses e problemas é absolutamente decisiva para a construção de teorias explicativas do comportamento do treinador e das suas funções pedagógicas, no contexto do Treino Desportivo16.

    O presente estudo pretende realizar uma análise dos comportamentos dos treinadores de natação em jovens nadadores, numa dupla perspectiva: (1) caracterizar o perfil comportamental que os treinadores de natação de jovens nadadores adoptam, (2) caracterizar a relação entre os comportamentos dos treinadores e a experiência de treino.

Métodos

Caracterização da amostra

    A amostra foi constituída por 12 treinadores de natação seleccionados, 6 com mais experiência profissional e outros 6 com menos experiência profissional (Tabela I).

Tabela I. Caracterização da amostra

    O critério utilizado para a inclusão dos treinadores na amostra deste estudo foi efectuado em função dos anos de experiência dos treinadores que fazem parte da nossa amostra:

  • Treinadores com menos experiência profissional: Todos os treinadores que tinham menos 5 anos de experiência.

  • Treinadores com mais experiência profissional: Todos os treinadores com 5 ou mais anos de experiência.

    A recolha de dados foi efectuada durante o período competitivo (final do 1º macrociclo).

Variáveis

    O comportamento do treinador releva-se como a variável mais importante no processo pedagógico no treino desportivo. É sobre esta variável que se centra a nossa observação.

    Tendo conta que o objectivo do estudo foi analisar os comportamentos dos treinadores de natação em jovens nadadores, numa dupla perspectiva (caracterizar o perfil comportamental que os treinadores de natação de jovens nadadores adoptam; caracterizar a relação entre os comportamentos dos treinadores e a experiência de treino), foi definida como variável dependente o comportamento do treinador, enquanto a variável independente foi a experiencia profissional dos treinadores.

Procedimento aplicado

    Para possível concretização e obtenção de autorização para a recolha dos dados, efectuámos uma breve reunião com cada treinador e director das equipas, explicando o objectivo e de toda a metodologia de recolha de dados, assegurando-se desde logo, a estrita confidencialidade dos dados e anonimato. Deste modo, foi possível obter a autorização para a recolha dos dados.

    Posteriormente foi pedido aos treinadores para que explicassem aos seus atletas o porquê das filmagens dos treinos, para que não ocorressem condicionantes no comportamento.

    Para obtenção dos dados relativos ao comportamento dos treinadores foi necessário realizar filmagens das sessões de treino, estas foram filmadas com a câmara no solo do recinto da piscina, de modo a capturar todos os movimentos do treinador, durante o processo de treino.

    A intervenção verbal do treinador durante o treino foi captada através de um microfone de lapela, com um receptor ligado a uma câmara de vídeo. Assinalamos que o microfone é extremamente pequeno e muito leve, não perturbando o treinador, ficando colocado num local fora da sua visibilidade (por baixo da camisa de treino e preso aos calções de treino), de forma a influenciar o menos possível na intervenção do treinador.

Instrumento utilizado

    O sistema utilizado para observação do treino e respectiva análise foi, o Sistema de Observação do Comportamento do Treinador e do Atleta (SOTA) 17. Este sistema tem-se revelado um instrumento importante para a observação de comportamentos dos treinadores e atletas no contexto desportivo, sendo uma construção de diversos autores18. Este sistema apesar de inovador assenta os seus fundamentos nos trabalhos de12,19,20. Permite assim a definição de um perfil geral dos comportamentos do treinador, mais frequentes em treino.

    Apresentando pela primeira vez em 1991, no II Congresso de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa, tem por objectivo estudar o comportamento do treinador em ambientes desportivos. Estuda as funções desempenhadas pelos treinadores na condução das sessões de treino21. Está dividido 5 dimensão (instrução, organização, interacção, controlo e actividade) e 16 categorias de análise do comportamento do treinador (informação, demonstração, correcção, questionamento, avaliação positiva, avaliação negativa, gestão, afectividade positiva, afectividade negativa, pressão, conversa, observação, atenção às intervenções verbais dos alunos, actividade motora, actividade não motora e outros comportamentos).

    Para a recolha dos dados referentes às sessões de treino utilizamos o seguinte material: 1 Câmara de vídeo Sony Mini Dv (foi dirigida parar o treinador e turma), 1 Microfone com emissor – receptor Sony (será colocado no treinador), 1 Tripé, que serve de suporte para a câmara de vídeo, 1 Extensão eléctrica, Cassetes de vídeo Mini Dv, Pilhas, para os microfones.

    Numa segunda fase, que correspondeu à análise da sessão de treino por parte do observador, utilizou-se o seguinte material: Computador Portátil, Câmara de vídeo Sony Mini Dv, Cabo que liga as portas IEEE 1394, Placa captura de vídeo.

    A ferramenta informática de suporte utilizada foi o Match Vision Studio 3.022 para codificar e registar as intervenções dos diversos treinadores ao longo do processo de treino analisado, sendo a codificação realizada através do SOTA.

    No presente estudo para determinar a qualidade dos dados estudámos a fiabilidade pela concordância intra-observador e precisão pela concordância inter-observadores, com recurso ao Índice de Kappa23,24,25. A fidelidade foi garantida através da realização de duas observações diferenciadas no tempo, pelo mesmo observador da mesma prelecção e treino, com um intervalo de 7 dias.

Técnica estatística e análise estatísticas

    Foram quantificados e analisados estatisticamente os dados relativos ao comportamento do treinador durante a sessão de treino. Todos os resultados recolhidos foram transcritos para o programa Microsoft Excel, e deste para o programa SPSS 13.0, neste programa foi feita uma análise descritiva dos resultados obtidos.

    Os resultados foram apresentados de acordo com a estatística descritiva, ou seja, de acordo com os parâmetros de tendência central (média), parâmetros de dispersão (desvio padrão e limites de variação), de forma a tornar possível a apresentação gráfica dos resultados, facilitando a compreensão dos mesmos.

    Após o agrupamento dos dados pelas categorias e para comparação dos grupos, utilizamos análise estatística não paramétrica sendo o teste utilizado Mann-Whitney.

    Em primeiro lugar, foram observados e filmados os respectivos treinos e registadas as ocorrências durante o processo de treino que cada treinador teve, para posteriormente serem codificadas.

    Em segundo lugar foi aplicado o estudo de precisão do trabalho, de modo a cruzar os dados entre o perito e os observadores para verificar a fidelidade (concordância) do mesmo.

    Seguidamente, foi realizada a análise descritiva dos dados obtidos de cada treinador e a respectiva comparação entre os memos resultados adquiridos. Após realizados todos estes passos, passou-se então para as conclusões através da análise dos resultados alcançados, onde foi efectuado também uma comparação entre as variáveis em estudo (comportamento do treinador com mais experiência profissional e o comportamento do treinador com menos experiência profissional).

Resultados

    Na análise individual do comportamento dos treinadores, caracterizámos os comportamentos durante as sessões de treinos, isto é, foi feita uma análise dos valores das dimensões e respectivas categorias de cada treinador durante o processo de treino.

    Os treinadores com menos experiência profissional apresentaram os seguintes valores em relação ao seu comportamento durante a sessão de treino (Tabela II).

Tabela II. Análise descritiva das categorias do comportamento dos treinadores com menos Experiência profissional

    Tal como podemos verificar na tabela 2, os treinadores com menos experiência profissional apresentaram como comportamento dominante a “Observação” (57%).

    A “Informação” (15.6%) foi a principal intervenção do treinador dirigida aos atletas durante o treino, seguindo-se da categoria “correcção” (1.8%) e a categoria “Demonstração” (1.6%).

    O valor de 0.6% para a categoria “Questionamento” confirma o que já foi referido anteriormente, de que esta não foi muito utilizada pelos treinadores com menos experiência profissional.

    A categoria “Conversas” (dimensão “Interacção”) apresentou um valor de 6.5%, outra categoria com um valor relevante foi a categoria “Outros Comportamentos” (5.5%) este valor deveu-se a momentos em que o treinador saiu da filmagem ou não se encontrava a realizar outra actividade.

    Relativamente aos comportamentos de “Afectividade”, verificamos que o valor referente à “Afectividade Negativa” (0.5%) foi superior à “Afectividade Positiva” (0.2%).

    Por fim a dimensão “Organização” (única categoria - “Gestão”) apresentou o resultado de 4.4%.

    A experiência acumulada pelos treinadores ao longo dos anos poderá ser importante para definição do seu perfil comportamental.

    Relativamente ao grupo de treinadores com mais experiencia profissional (Tabela III) podemos verificar que a categoria “Observação” foi a principal categoria comportamental verificada. Correspondeu a 60.9% da sessão de treino, o que significou que os treinadores passaram mais de 85% do tempo de treino em comportamentos de observação ou instrução aos atletas.

Tabela III. Análise descritiva das categorias do comportamento dos treinadores com mais Experiência profissional

    A categoria “Informação” voltou a predominar com um valor de 12.6%, este grupo de treinadores apoiou a categoria anterior com a categoria “Demonstração” (3.4%).

    Os comportamentos de “Avaliação Positiva” (0.3%) tiveram igual valor à “Avaliação Negativa” (0.3%) nos treinadores com mais experiência.

    A categoria “Gestão” com 5.1%, relevou que estes treinadores dispensaram algum tempo para a organização dos atletas, principalmente no controlo de tempos de nado durante o de treino. A categoria “Conversa” (8.6%) voltou a ter um valor elevado perante as outras categorias.

    A categoria “Outros Comportamentos” apresentou um valor menor que o outro grupo de treinadores (3.4% contra os 5.5%).

Discussão

    Segundo os resultados obtidos (tabela 2 e 3), dentro da dimensão de Controlo, a categoria da Observação foi a mais utilizada pelos treinadores experientes (60,8% para os treinadores mais experientes e 57% para os treinadores menos experientes), resultados que também se verificam em investigações anteriores13,26,27. De acordo, com o estudo de Rodrigues et al17, em que os autores aplicaram o Sistema de Observação do Treinador e do Atleta em treinos de voleibol e de natação de alto rendimento, tendo os resultados evidenciado uma dominância dos comportamentos de “Observação” (58% a 77%), podemos conferir uma analogia entre os dados obtidos.

    A dimensão que se seguiu foi a “Instrução”, para a maioria dos treinadores, esta é a forma como os treinadores contactam mais directamente com os seus atletas quer através da categoria da “Informação” com o objectivo de dar as tarefas a realizar e a corrigir aspectos técnicos de natureza individual ou colectiva; quer através da “Demonstração” para uma melhor compreensão das tarefas motoras por parte dos atletas. Outro estudo28 refere que, seguidamente á informação, a demonstração é a categoria que mais se evidencia dentro da dimensão de instrução.

    Podemos constatar que os treinadores com menos experiência utilizaram mais a dimensão “Instrução”, esta situação pode dever-se à diminuição de confiança sentida por parte dos treinadores menos experientes, o que implica uma maior afirmação dos conteúdos a abordar durante a sessão de treino. Jarov29, apresenta uma distinção entre dois tipos de treinadores: o treinador experiente como oposto o treinador novato ou principiante. Este autor afirma que um treinador principiante tem uma maior dificuldade em dirigir os atletas da sua equipa. Esta situação diminui a disponibilidade do treinador para observar. Assim, podemos dizer que disponibilizam mais tempo nas outras categorias.

    No estudo realizado sobre análise do comportamento do treinador de futebol durante o treino26, concluiu-se que o comportamento do treinador apresenta alterações em função dos seus objectivos, tendo em conta cada situação de treino, seja este de ordem técnica, táctica ou de competição. Os resultados ilustraram que a observação variou entre os 45,3% e os 75,1%, seguido da instrução com uma variação entre os 6,8% a 20,3%, categorias com os valores mais elevados. A categoria do “elogio” (0% e 1%) é a categoria com valores mais baixos. Amostra foi constituída por 3 treinadores (1º divisão na Bélgica), tendo sido os treinadores observados durante 3 semanas, durante o período competitivo.

    De acordo com a investigação em curso, os valores encontrados para a dimensão da “instrução” foram de 20.6% para o grupo com mais experiência e de 18.5% para o grupo com menos experiência.

    Encontrámos valores superiores para os treinadores com mais experiência na dimensão “Interacção”, os valores encontrados para cada grupo foram de 9.4% para o grupo com mais experiência e de 7.5% para o grupo com menos experiência. Esta diferença deveu-se ao facto de existir uma maior interacção dos treinadores com mais experiência com os seus atletas e outros agentes durante o processo de treino.

    Na dimensão “Organização” voltamos a não encontrar diferenças estatisticamente significativas, embora o grupo com mais experiência apresente um valor superior. Este resultado deveu-se aos treinadores gerirem constantemente os tempos de nado e saídas dos atletas, ao contrario dos treinadores com menos experiência que utilizaram este tempo na manipulação de material e organização da equipa.

    A categoria “Outros Comportamentos” apresentou valores de 3.4% para o grupo com mais experiência e de 5.5% para o grupo com menos experiência. Assim os treinadores com menos experiência passam mais tempo a realizar comportamentos que não se englobam nas restantes categorias.

    Por outro lado, os treinadores com mais experiência também conversaram mais que os treinadores com menos experiência, embora ambos os grupos apresentem um valor elevado perante outras categorias mais relevantes no processo de treino, pois o tempo que passaram em conversa pode ser prejudicial para os atletas, isto, porque os treinadores puderam não estar em contacto visual com os mesmos. Os treinadores com mais experiência tiveram uma maior preocupação em manifestar comportamentos que visem aumentar o empenhamento dos atletas nos treinos, pois apresentaram valores mais altos na categoria “Pressão”.

Conclusões

    Quanto á caracterização do perfil comportamental que os treinadores de natação de jovens nadadores adoptam verificamos que a dimensão predominante foi a dimensão “Controlo”, nomeadamente a “Observação”, ou seja, o grupo deu preferência à observação enquanto os seus atletas realizam as tarefas. A dimensão que se seguiu foi a “Instrução”, para os treinadores, esta foi a forma como contactam mais directamente com os seus atletas quer através da categoria “Informação” como da “Demonstração” e “Correcção”.

    Os treinadores com mais experiência foram mais “Observadores”, enquanto os treinadores com menos experiência apresentaram um valor mais elevado de “Instrução”.

    Quanto à análise global dos comportamentos dos mesmos, caracterizámos o comportamento dos treinadores através da média total dos valores que cada treinador obteve em cada uma das dimensões e respectivas categorias (SOTA).

    Quando comparamos os grupos em função da sua experiência profissional, concluímos que existem diferenças no que se refere ao comportamento dos treinadores, não sendo essas diferenças estatisticamente significativas, o que não confirma a nossa hipótese de pesquisa. Apesar de o estudo não mostrar diferenças estatisticamente significativas, os valores que cada grupo apresenta nas diferentes dimensões e categorias possibilitam retirar algumas conclusões plausíveis.

    O estudo em questão procurou conhecer o comportamento do treinador de natação, no que respeita às principais funções pedagógicas, em situação de treino e verificar a existência de diferenças em função da sua experiência profissional.

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