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O atletismo no contexto escolar: possibilidades 

didáticas no 2° ciclo do ensino fundamental

El atletismo en el contexto escolar: possibilidades didácticas en el 2º ciclo de la enseñanza básica

 


*Licenciado em Educação Física, UEPG
Especialista em Esporte Escolar pela mesma Instituição
Mestrando em Educação - Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR
**Especialista em Políticas Públicas para o Lazer e o Esporte, UEPG
Mestranda em Educação - Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR
Docente do Departamento de Educação Física desta Instituição

Clóvis Marcelo Sedorko*

tchelovolter@hotmail.com

Fabiane Distefano**

fabiane.distefano@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho é decorrente de uma proposta de intervenção pedagógica do atletismo, com estudantes entre 09 e 11 anos da Escola Municipal Doutor Raul Pinheiro Machado, da cidade de Ponta Grossa – PR, que teve por objetivo principal, contribuir para a ampliação das possibilidades de abordagem desse esporte no âmbito escolar. Foram desenvolvidas atividades pré–desportivas, que incorporaram um conhecimento geral a respeito das habilidades motoras naturais como: correr, saltar e lançar, na qual o fator lúdico sempre esteve presente. Durante o desenvolvimento das aulas, foi possível observar que os alunos ampliaram consideravelmente seu aparato motor, apresentando também um bom entendimento dos aspectos gerais do atletismo, mostrando-se capazes de praticar e compreender esse esporte de uma forma satisfatória. Ao finalizar este trabalho, verificou-se que o conteúdo e o método de intervenção foram bem aceitos pelos escolares, evidenciando dessa forma, que o ensino do atletismo baseado nos aspectos lúdicos pode gerar bons resultados.

          Unitermos: Atletismo. Educação Física. Ensino.

 

Abstract

          This paper is the result of an educational intervention proposal for athletics, with students between 09 and 11 years of the Municipal School Dr. Raul Pinheiro Machado, the city of Ponta Grossa - PR, which was aimed at contributing to the expansion of opportunities approach to the sport in schools. Activities were carried out pre-sports, which incorporated a general knowledge of natural motor skills such as: running, jumping and throwing, in which the play factor was always present. During the development of classes, it was observed that students significantly increased their motor apparatus, also showing a good understanding of general aspects of athletics, being able to practice and understand the sport in a satisfactory way. Upon completing this work, it was found that the content and method of intervention was well accepted by the school, showing thereby that the teaching of athletics based on the playful aspects can be productive.

          Keywords: Athletics. Physical Education. Teaching.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O atletismo é considerado um conteúdo clássico da Educação Física (EF) e precursor das demais modalidades esportivas, devido as suas habilidades que servem de base para outros esportes. No entanto, a literatura de um modo geral, denuncia que esse conteúdo é frequentemente negligenciado na Educação Física Escolar (EFE), por grande parte dos profissionais da área. De acordo com Matthiesen (2005 e 2007), a falta de espaços físicos e materiais adequados, a formação profissional deficiente e o desinteresse de alunos e de professores pela modalidade, figuram como as principais justificativas para a pouca difusão desse esporte. Betti (1999) relata que apesar do esporte ser o meio mais utilizado na difusão do movimento corporal nas escolas, somente algumas modalidades esportivas são utilizadas, normalmente as coletivas como o futebol, voleibol e basquetebol, sendo que modalidades individuais como o atletismo por exemplo, raramente são apresentadas aos escolares. A autora conclui elencando diversas hipóteses para a não utilização de outras modalidades esportivas no contexto escolar, entre as quais: a ausência de materiais, falta de espaço e motivação, comodismo dos professores e falta de aceitação destes conteúdos pela sociedade. No entanto, para Kirsch, Koch e Oro (1984), as justificativas levantadas para a não exploração do atletismo na EFE, no que se refere à falta de materiais e espaço físico adequado, na verdade indicam que o problema básico do atletismo brasileiro é, antes de tudo, mais de natureza cultural e educacional do que social e econômico, pois, percebe-se que o brasileiro não observa no esporte um valor cultural, na medida em que relaciona cultura como expressão de intelecto e o esporte como jogo de bola. De acordo com os autores:

    Como explicar, de outra maneira, que o atletismo, tecnicamente descomplicado, extensivamente ensinado nas escolas de todos os sistemas e níveis, [...] adaptável a qualquer área livre, não alcança maior iniciativa de uma população, que não pode ou não tem onde se associar a clubes esportivos, mas vai a escola e encontra meios de adquirir equipamento para jogar bola. (KIRSCK; KOCH; ORO, 1984, p. 04).

    Essa constatação demonstra que as barreiras existentes para a difusão do atletismo como conteúdo da cultura corporal na EF, não são fáceis de transpor, sendo necessária uma reorganização das propostas didáticas para o ensino do atletismo no Brasil, levando em consideração os aspectos culturais passíveis de mudanças.

    Para Kirsch, Koch e Oro (1984), tal reformulação deve ser interessante e atraente, capaz de criar uma atmosfera motivadora e favorável, para indicar novos valores e rumos dentro do esporte, não desmerecendo suas expectativas e convicções.

    Em contrapartida, Kunz (2006), citado por Bomfim (2011), entende que os problemas relacionados à infraestrutura e materiais podem estar vinculados a formação profissional. O autor lembra que na época da graduação, os professores utilizavam equipamentos nas universidades diferentes dos existentes nas escolas, não permitindo desse modo, a preparação em conformidade com a realidade encontrada.

    Gomes (2008) acredita que o fato de as universidades muitas vezes não oferecerem um ensino do atletismo com possibilidades concretas de abordagem no âmbito da escola, também contribui para que o professor exclua esse conteúdo da Educação Física Escolar.

    Outra questão é à falta de atualização profissional dos docentes. No estudo de Justino e Rodrigues (2007), boa parte dos profissionais relatou encontrar problemas para ensinar o atletismo na escola, devido a própria falta de conhecimento desse conteúdo.

    Em virtude dessa pequena participação do atletismo na EFE, grande parte dos alunos não usufrui dos conhecimentos possíveis de serem construídos ao debater esse esporte e, segundo Schmolinsky (1982), perdem também a oportunidade de aperfeiçoar e melhorar a coordenação e a capacidade de rendimento físico geral do organismo. Para Jonath et al (1977) citado por Oliveira (2006), os exercícios de atletismo se apresentam como um importante meio para desenvolver as qualidades físicas básicas como: força, resistência, velocidade, flexibilidade e agilidade. Ozolin e Markov (1991) ressaltam ainda que, além de contribuir para o desenvolvimento motor das crianças, o atletismo é também utilizado por alguns governos para aperfeiçoar a forma física da população e fortalecer sua saúde, preparando-a para o trabalho e a defesa da pátria. De acordo com Kirsch, Koch e Oro (1984), a abordagem do atletismo no âmbito das escolas permite adaptações em materiais, espaços físicos e em suas regras, possibilitando a todos os seus praticantes a oportunidade de vivenciar momentos de êxito nas atividades, na medida em que favorece aos indivíduos a descoberta de pelo menos uma forma de habilidade esportiva. Devido à diversidade de provas dessa modalidade, tem sempre uma que corresponde a determinado perfil de aluno.

    No entanto, apesar de diversos autores ressaltarem a importância desse conteúdo para a EF, a grande maioria dos estudos relacionados à utilização do atletismo no meio escolar, aponta, dentre outras justificativas citadas anteriormente, a falta de materiais e espaço físico adequado nas escolas como os maiores obstáculos para a exploração desse conhecimento (NOLL et al 2008; FURBINO et al, 2010; SEDORKO; DA SILVA, 2011; BOMFIM, 2011; MELO et al, 2011). Mesmo em instituições particulares, onde geralmente existem melhores condições em instalações e equipamentos esportivos, os professores justificam a não utilização do atletismo devido a falta de infraestrutura em relação a materiais e locais adequados (FURBINO et al, 2010).

    Para piorar a situação, Matthiesen (2007) adverte que nas raras vezes em que é abordado, o atletismo normalmente é trabalhado apenas como base para outros esportes e quase sempre sua especificidade é deixada em segundo plano, comprometendo dessa forma qualquer possibilidade de ampliação de seu conhecimento. De acordo com a autora, a implantação de projetos que contemplem todas as provas do atletismo no âmbito escolar é urgente e de fundamental importância, pois de modo geral, os livros existentes na área são demasiados antigos, onde a ênfase técnica predomina sobre a pedagógica. Em geral, não existem muitas bibliografias atualizadas disponíveis nesse campo. Em conseqüência, não é difícil localizar no meio escolar, sérias dificuldades por parte dos professores para trabalhar com esse desporto.

    Neste sentido, o presente estudo teve por objetivo relatar os resultados de um projeto de ensino do atletismo em uma Escola Municipal de Ponta Grossa - PR, com o intuito de fornecer aos profissionais da área algumas possibilidades didáticas na abordagem desse esporte no âmbito escolar.

    Como objetivos específicos, buscou-se desmistificar possíveis dificuldades na aprendizagem do atletismo, além de oportunizar a vivência dessa modalidade aos escolares envolvidos no projeto e contribuir dessa forma para seu aprendizado e desenvolvimento motor.

Encaminhamentos metodológicos

    O trabalho teve início com a elaboração de um projeto de ensino do atletismo, com base nas propostas de Kirsch, Koch e Oro (1984); Kunz (1994); Bragada (2000); Freire e Scaglia (2003); Matthiesen (2005 e 2007) e Oliveira (2006), referentes a metodologias de ensino desse esporte, sendo o estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Estadual de Ponta Grossa por meio do parecer número 49/2011. O projeto consistia em disponibilizar aulas especiais de Educação Física no contra turno escolar, para uma turma de alunos do 1° e 2° ano do 2° ciclo da escola Municipal Dr. Raul Pinheiro Machado, no Município de Ponta Grossa. Foi efetuado contato prévio com a direção da escola, onde os objetivos e metodologias empregados no projeto foram expostos.

    Após aprovação dos responsáveis, a equipe pedagógica da escola indicou um grupo de estudantes entre 09 e 11 anos, do 1° e 2° ano do 2° ciclo, para compor a turma do projeto, que no total foi composta por 32 alunos, sendo 14 alunos do sexo masculino e 18 do feminino.

    A direção da escola agendou uma reunião com os pais dos alunos participantes, na qual foi possível prestar esclarecimentos e sanar dúvidas sobre a implantação do projeto, bem como obter a autorização dos mesmos através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    As aulas foram efetuadas no período da tarde, no contra turno escolar, de modo a não prejudicar as aulas regulares de EF. O projeto foi desenvolvido entre os meses de junho e setembro de 2011. Considerando o período de férias escolares, teve aproximadamente três meses de duração, sendo as aulas ministradas duas vezes por semana, com duração de 50 minutos cada aula.

    Cabe salientar ainda, que a escola envolvida no projeto é a maior do Município, tanto em relação ao número de alunos, quanto ao espaço físico e, dessa forma, foi possível utilizar vários outros espaços da escola além da quadra esportiva. Também percebeu-se que essa instituição de ensino não apresentava variado material esportivo, portanto, acrescentou-se ao projeto a confecção de alguns materiais alternativos para o desenvolvimento das atividades.

Contextualização e desenvolvimento do projeto

    O projeto foi dividido em duas etapas. Inicialmente foram desenvolvidas atividades pré-desportivas contendo jogos e brincadeiras recreativas que incorporaram um conhecimento geral a respeito das habilidades motoras naturais como: correr, saltar e lançar, inerentes a prática do atletismo. Também foram realizadas oficinas nas quais os alunos tiveram a oportunidade de confeccionar e adaptar os implementos do atletismo como: discos; pesos e dardos. A estruturação do conteúdo levou em consideração a divisão desse esporte nas suas especialidades, portanto, em um segundo momento foi realizada a iniciação esportiva do atletismo, com as abordagens de suas diferentes provas e ao final, os alunos foram convidados a conhecer as instalações do Campus Uvaranas, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, mais especificamente a pista de atletismo, onde puderam identificar os locais específicos de cada prova e praticar o que aprenderam durante a participação no projeto.

    Como forma de avaliar a aprendizagem dos escolares, além de observações individuais em relação a evolução dos aspectos motores, também solicitou-se aos mesmos que relatassem através de textos ou desenhos, o que aprenderam ou o que mais gostaram na prática do atletismo.

Atividades pré-desportivas

    A prática desportiva no ambiente escolar pode proporcionar a socialização, integração e inclusão de todos os alunos, sendo o atletismo uma das modalidades esportivas mais indicadas para que esses objetivos possam ser alcançados. Composto por regras descomplicadas, de aprendizagem rápida e que normalmente se repetem em suas diferentes provas, esse esporte é considerado por diversos autores como o mais acessível para a iniciação esportiva de qualquer criança.

    Para Kirsch, Koch e Oro (1984), o atletismo devido as suas características de trabalhar as habilidades naturais do homem como o: correr, saltar e arremessar pode oferecer a qualquer um a oportunidade de descobrir, pelo menos um tipo de aptidão esportiva. Além do mais, os movimentos naturais inerentes a prática desse esporte, aliado as facilidades de adaptações em materiais e espaços físicos, fazem, ou pelo menos deveriam fazer do atletismo, um conteúdo indispensável da EFE.

    Nesse contexto, ao condicionar a faixa etária dos alunos para a implantação do projeto, levou-se em consideração também os apontamentos de Freire e Scaglia (2003), onde relatam que ao final dos primeiros anos do Ensino Fundamental, muitos alunos já começam a vivenciar o início da puberdade, período de grandes transformações físicas, intelectuais, morais e sociais, fase marcada pela transição da infância para a adolescência, onde as relações sociais ganham destaque. Nesse sentido, acreditou-se que a prática esportiva de uma modalidade como o atletismo, poderia contribuir com a socialização, oportunizando discussões e adaptações em relação ás regras e às características dos alunos. De acordo com Freire (1997), os jogos e as brincadeiras são meios que facilitam o processo de ensino e aprendizagem, desde os primeiros anos da educação infantil até o Ensino Médio, dessa forma, optou-se por abordar esse esporte de uma maneira lúdica, com atividades que pudessem despertar o interesse dos alunos pela modalidade, tornando-a mais atrativa e desmistificando dessa forma eventuais dificuldades que os alunos pudessem relacionar ao atletismo.

    Para Oliveira (2006), o atletismo pode ser adaptado, brincado, jogado e reconstruído de maneira lúdica, indo ao encontro de suas técnicas específicas.

    Assim sendo, no desenvolvimento das primeiras aulas, foram realizadas várias atividades pré–desportivas, baseadas em jogos e brincadeiras, a fim de disponibilizar aos alunos uma vivência inicial das habilidades motoras básicas como as corridas, saltos, lançamentos e arremessos.

    Dentre as atividades desenvolvidas destacam-se: as corridas com transposição de obstáculos; corridas em duplas, trios e grupos; corridas de velocidade com diferentes formas de locomoção; corridas e caminhadas de precisão em equipes e estafetas de corridas com estímulos sonoros, táteis e visuais para a saída, partindo das posições em pé, sentadas, deitadas ou agachadas. Nos saltos, utilizou-se as diversas amarelinhas existentes na escola, bem como a área do parquinho, que continha areia, de modo a minimizar o impacto nas articulações dos alunos. Foram realizadas estafetas de saltos em distância e altura, com o auxílio de bexigas e elásticos. Para os lançamentos e arremessos, foram desenvolvidas atividades com alvos, como lançamentos de bolas no tablado de basquete e em bambolês fixados nas traves, além de arremessos de bola em distância e por cima de elásticos em alvos dispostos no chão. As atividades desenvolvidas são apresentadas no quadro 1.

Quadro 1. Atividades pré-desportivas

Oficinas de atletismo

    Após esse contato inicial com as atividades, buscou-se apresentar aos alunos através de vídeos e revistas, o atletismo em sua forma institucionalizada, para que estes pudessem compreender as diferentes provas presentes nessa modalidade e aprender que os gestos básicos de correr, saltar e arremessar, quando regulamentados e sistematizados em técnicas específicas, transformam o atletismo em um esporte como os demais. Os escolares também assistiram a uma pequena palestra que abordou de forma bastante superficial alguns aspectos históricos e fisiológicos do atletismo, mostrando sua importância nos Jogos Olímpicos e também em nossa vida diária.

    As propostas de Kunz (1994) foram consideradas no desenvolvimento do projeto, onde o autor propõe uma transformação didática-pedagógica do esporte (nesse caso o atletismo), em que seja possível favorecer a compreensão do esporte como um fenômeno cultural, propiciando a formação de sujeitos críticos, capazes de questionar e avaliar o verdadeiro sentido do esporte. Disponibilizando aos escolares, mesmo que de forma sutil, uma apresentação inicial do atletismo em suas diferentes manifestações sociais, acreditou-se que seria possível avançar no desenvolvimento do projeto.

    Em seguida, foi proposto aos alunos que discutissem entre si e em suas casas, com seus familiares, o que entenderam até então a respeito dessa modalidade esportiva. Como resultados dessas discussões, os estudantes trouxeram desenhos, maquetes e cartazes, que foram expostos em uma exposição pedagógica da escola, juntamente com os implementos do atletismo como discos; pesos; martelos; dardos e bastões, adaptados e confeccionados com materiais alternativos pelos próprios alunos durante a realização das oficinas.

    Para a confecção dos implementos, foram consideradas as sugestões de Oliveira (2006), sendo solicitado aos alunos diversos materiais recicláveis para a elaboração dos equipamentos.

    Os cabos de vassoura se transformaram em dardos e bastões. Bolas, cordas de varal, meias e sacolas plásticas com areia foram utilizadas na construção de pesos, pelotas e martelos para os arremessos e lançamentos. Caixas de papelão viraram obstáculos ou barreiras para as corridas e os discos foram desenvolvidos com materiais como: papelão, mangueira de chuveiro e jornal. Depois da exposição dos implementos, os escolares puderam utilizá-los novamente no decorrer da segunda etapa do projeto.

Abordagem das diferentes provas do atletismo

    Durante a segunda fase do projeto, o atletismo foi apresentado de forma mais específica, sendo as aulas divididas de acordo com as provas desse esporte, como pode ser observado no quadro 2.

Quadro 2. Distribuição das modalidades de acordo com as diferentes provas abordadas

    A Federação Internacional de Atletismo (2006) organizou um guia prático para orientar e estimular o desenvolvimento do atletismo com crianças e adolescentes entre 07 e 15 anos em todo o mundo. No projeto intitulado “Mini-Atletismo IAAF”, existe várias provas adaptadas de acordo com cada faixa etária, que visam despertar o interesse na prática do atletismo. No desenvolvimento do projeto foram abordadas muitas destas atividades propostas, utilizando inclusive os implementos confeccionados pelos próprios estudantes nas oficinas.

    Como previsto no projeto, na etapa final das atividades, disponibilizou-se aos alunos um passeio a Pista de atletismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde foi possível apresentar aos estudantes os locais das diferentes provas desse esporte e os implementos oficiais da modalidade. Além da visita, também foi organizada uma mini-competição de atletismo por equipes, com algumas das provas abordadas durante o desenvolvimento do projeto. No quadro 3, estão dispostas as provas realizadas durante a competição.

Quadro 3. Provas realizadas durante a mini-competição pedagógica

    Para Ferreira (2000), a competição, apesar de ser um elemento motivador no processo de ensino de novas habilidades motoras, só deve ser apresentada aos estudantes, após estes terem vivenciado e adquirido certo domínio dos movimentos. De outra forma, ela poderá exercer influência negativa na aprendizagem dos escolares. Nesse sentido, durante a realização do projeto de ensino, buscou-se disponibilizar aos alunos uma diversidade de atividades motoras, com corridas, saltos, lançamentos e arremessos. Além dos exercícios pré-desportivos, num segundo momento, procurou-se também facilitar e incentivar a participação deles em todas as provas do atletismo propostas, pois dessa forma, os estudantes poderiam identificar as modalidades em que teriam mais sucesso e com isso obter maiores possibilidades de vivenciar experiências positivas em sua iniciação esportiva.

    Ao final das provas, foi possível observar que a competição foi bem aceita pelos escolares, pois em virtude da divisão dos alunos em equipes, notou-se que o trabalho em grupo possibilitou que todos os indivíduos contribuíssem de alguma forma para a soma final da pontuação. A competição favoreceu também aos estudantes a vivência do ”perder” e do “ganhar”, que são inerentes ao esporte e, guardando-se as proporções, a nossa vida em sociedade. Para Oliveira (2006), a competição está presente na vida e não adianta excluí-la nas escolas para tentar facilitar as condições do seu cotidiano. É necessário saber se posicionar diante dela e entender que para competir precisamos da presença do “outro”, ou seja, de cooperação. Freire (1997) entende que reconhecer a importância do vencedor é mais educativo do que nunca competir. Para o autor, todos devem aprender a competir e a lidar com alegrias e frustrações.

    Como programado anteriormente, no último dia do projeto, os escolares deveriam trazer um texto, pintura ou desenho, retratando o que aprenderam ou o que mais gostaram durante o desenvolvimento do atletismo. As observações individuais em relação á aprendizagem motora, juntamente com a análise do material trazido pelos estudantes, possibilitaram uma avaliação da participação deles no projeto.

Considerações finais

    Ao finalizar esse trabalho, pode-se observar que de um modo geral, os escolares ampliaram consideravelmente seu aparato motor e apresentaram também um bom entendimento dos aspectos gerais do atletismo, mostrando-se capazes de praticar e compreender esse esporte de uma forma satisfatória. Acredita-se que o fator lúdico, sempre presente no decorrer das atividades, contribuiu significativamente para o desenvolvimento do projeto, motivando a participação de todos os alunos. Espera-se que o relato desta intervenção pedagógica possa contribuir para ampliar as possibilidades de abordagem do atletismo no âmbito das escolas e também desmistificar eventuais dificuldades, normalmente apresentadas como justificativas para a sua não utilização na Educação Física escolar.

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