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Influência da prática de atividade física na 

qualidade de vida do idoso: uma revisão bibliográfica

Influencia de la práctica de la actividad física en la calidad de vida de la persona mayor: una revisión bibliográfica

Physical activity influence in life quality: bibliographic review

 

*Universidade Federal de São Carlos – Residência Multiprofissional

em Saúde da Família e Comunidade, São Carlos, SP.

Possui graduação em Bacharelado e Licenciatura em Educação Física

pela Universidade Federal de São Carlos (2008). Especialista em Saúde

da Família, pela Universidade Federal de São Carlos

**Universidade Federal de São Carlos. Docente do Departamento de Educação Física

e Motricidade Humana, São Carlos, SP. Possui bacharelado e licenciatura em Educação Física

pela Universidade Estadual de Campinas. Especialização em Educação Física Adaptada

Mestrado (1998) e doutorado (2004) em Educação Física, na área de Atividade Física

e Adaptação, pela Universidade Estadual de Campinas

Thaís Aversan*

thais.vrsn@gmail.com

Profª Drª Mey de Abreu Van Munster**

mey@ufscar.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho teve como objetivo analisar a abordagem bibliográfica acerca das implicações da prática regular de atividade física no processo de envelhecimento e na qualidade de vida da população idosa. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica com as palavras-chave: idoso; envelhecimento; qualidade de vida; exercício; atividade física. O fenômeno do envelhecimento, ou avanço da idade, vem acompanhado de diversas alterações, tanto físicas quanto psicossociais que interferem diretamente em diversas variáveis relacionadas à qualidade de vida do idoso. A prática regular de atividade física, de acordo com o encontrado na literatura, está se mostrando como um meio eficaz na prevenção e tratamento das alterações e doenças que ocorrem durante esse processo, sendo importante tanto para os aspectos físicos quanto para os aspectos pssicossociais do envelhecimento.

          Unitermos: Idoso. Qualidade de vida. Exercício.

 

Abstract

          This present study aimed to analyze the approach literature about the implications of regular physical activity in the aging process and quality of life of the elderly population. To this end, we performed a literature search with the keywords: aged, aging, quality of life, exercise, physical activity. The phenomenon of aging, or aging, is accompanied by several changes, both physical and psychosocial disorders that interfere directly in several variables related to quality of life of the elderly. The practice of regular physical activity, according to other studies, is proving to be an effective prevention and treatment of diseases and changes that occur during this process it is important for both physical and for aspects of aging psychosocial.

          Keywords: Aged. Quality of life. Exercise.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 165, Febrero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O aumento da expectativa de vida, provocado pelos avanços tecnológicos e científicos, juntamente com a diminuição das taxas de mortalidade e de fecundidade, vem gerando um prolongamento da expectativa de vida, contribuindo para o crescimento da população idosa em nível mundial (PASCHOAL, SALLES e FRANCO, 2006; PASCHOAL, 2002). Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa população passará de 204 milhões, referência para a década de 1950, para 1.900 milhões em 2050 (BRASIL, 2002).

    Nos países desenvolvidos, o aumento da população idosa teve início ao final do século XIX, já nos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil, esse crescimento começou a ocorrer a partir da segunda metade do século XX.

    Há atualmente no país cerca de 15 milhões de idosos, sendo que, segundo as estimativas do IBGE, daqui a 20 anos este número poderá ultrapassar os 30 milhões (IBGE, 2002). Esse aumento da população de idosos, somado a queda acentuada da taxa de fecundidade, está provocando um envelhecimento da população brasileira. Esta alteração da conformação etária de um país é denominada de envelhecimento populacional e se refere à mudança na estrutura etária de uma população, gerando um aumento do peso relativo de pessoas acima de determinada faixa de idade, no caso do Brasil e dos demais países em desenvolvimento, acima de 60 anos (CARVALHO e GARCIA, 2003).

    Esse processo traz a tona novas preocupações, como o número de anos vividos a mais com e sem saúde e os problemas vivenciados pelos idosos, pois estes fatores inteferem de forma direta nos serviços de saúde (CAMARGOS, PERPÉTUO e MACHADO, 2005). Entretanto, se os indivíduos chegassem à velhice com uma melhor condição de saúde, os gastos com despesas médicas não aumentariam de maneira rápida (OMS, 2005).

    Dessa forma, observa-se a relevância social e científica de se investigar como se dá e quais são os fatores que interferem no processo de envelhecimento, assim como as alternativas para que essa fase seja vivida sem incapacidades que interfiram de forma significante na qualidade de vida dos idosos.

    Assim sendo, o presente estudo teve como objetivo analisar as implicações da prática regular de atividade física na qualidade de vida da população idosa.

    Para tanto, este trabalho apresenta-se como uma revisão bibliográfica, visando estabelecer o que vem sendo divulgado na literatura a respeito da influência da prática de atividade física para a qualidade de vida do idoso.

Procedimentos metodológicos

    Segundo Marconi e Lakatos (1990), a pesquisa bibliográfica abrange a bibliografia publicada em relação ao tema de estudo, permitindo que o pesquisador tenha contato direto com o que já foi escrito. De acordo com Manzo, citado pelas autoras, este tipo de pesquisa fornece subsídios para definição, resolução, não apenas de problemas já conhecidos, como também a exploração de novas idéias (MARCONI e LAKATOS, 1990).

    Segundo as autoras a pesquisa bibliográfica passa pelas seguintes etapas: identificação: na qual há o primeiro contato com o assunto, através de catálogos, índices, resumos e bibliografia; localização das fichas bibliográficas; compilação: que se trata da reunião sistemática das referências e; fichamento: registro das principais informações de cada obra selecionada.

    Para a elaboração do presente trabalho realizou-se uma pesquisa em publicações tais como: livros, artigos cientifícos, dissertações, teses, etc. O critério de seleção dos textos foi a presença das seguintes palavras-chave: Idoso; Envelhecimento; Qualidade de Vida; Exercício; Atividade Física.

1.     Classificação do envelhecimento

    A definição da idade na qual a pessoa é considerada idosa ou não varia, encontrando-se muitas diferenças na literatura gerontológica. Segundo Spirduso (2005), a maneira mais simples de determinar o envelhecimento é a partir da idade cronológia do indivíduo, classificando os idosos em três grupos: idosos jovens (65-74 anos); idosos (75-84 anos); idosos-idosos (85-99 anos); idosos muito idosos (100+).

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta outra classificação para determinar se o indivíduo é idoso ou não. Segundo a OMS, são consideradas idosas, nos países em desenvolvimento, as pessoas com 60 anos ou mais, já nos países desenvolvidos, o indivíduo é considerado idoso a partir dos 65 anos (CAMARGOS, PERPÉTUO e MACHADO, 2005). No Brasil, de acordo com a Lei Federal 8.842, assim como a OMS, é considerada idosa a pessoa com 60 anos ou mais (BRASIL, 1994). Neste estudo será adotada a classificação da Organização Mundial de Saúde, pois, sendo o Brasil considerado um país em desenvolvimento, esta definição mostra-se mais adequada.

    Embora a determinação do envelhecimento segundo a idade cronológica seja a mais usual, essa tem significado apenas legal ou social, não sendo o melhor critério para determinar em qual estágio do processo de envelhecimento se encontra o indivíduo, pois as fases cronológicas do ser humano nem sempre correspondem ao processo de envelhecimento natural (OMS,2005).

    Ainda, segundo Okuma (2004), o processo de envelhecimento não deve ser encarado apenas em seu aspecto biológico, pois este também acarreta modificações sociais e psicológicas. De acordo com a autora, há uma dependência mútua entre esses três fatores.

2.     Envelhecimento e qualidade de vida

    A qualidade de vida é construída ao longo dos anos no processo de envelhecimento. E por outro lado, o próprio envelhecimento pode influenciar na qualidade de vida do indivíduo.

    Nesse sentido, é necessário traçar uma definição sobre qualidade de vida, sobretudo no contexto do envelhecimento. Trata-se de um tema bastante pertinente para a época, tendo em vista que dentro da Organização Mundial de Saúde há um grupo específico que trata deste tema.

    De acordo com Fleck e col (2000), o Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde define qualidade de vida como o entendimento que uma pessoa tem de sua posição na vida, considerando seu contexto cultural e os valores da sociedade em que está inserida, assim como a relação destes fatores com seus objetivos, padrões e preocupações.

    Segundo Conte e Lopes (2005), o grau de satisfação com a vida está relacionado a diversos aspectos e é influenciado pelos hábitos de vida, pelo nível de atividade física, dieta, comportamento preventivo, percepção de bem-estar, condições físicas e ambientais, renda, percepção de saúde, relacionamento familiar, amizades e aspectos religiosos.

    Ainda há, na literatura, uma grande discussão sobre qual a melhor definição do termo qualidade de vida, entretanto, é consensual que a qualidade de vida engloba pelo menos três dimensões: física, emocional e social (TEIXEIRA-SALMELA e col, 2005). Para Spilker, citado por Canepelle (2007), a avaliação da qualidade de vida de um indivíduo pode ser feita através de 3 domínios: funcionamento físico, funcionamento psicológico e funcionamento social. O primeiro refere-se à (in)capacidade percebida pelo indivíduo em relação as variáveis físicas; o segundo é referente a fatores como ansiedade, depressão, medo, auto-aceitação, entre outros; e o último tem relação com os contatos sociais e a maneira como o indivíduo vivencia seus papéis sociais, sejam eles de pai, mãe, marido, esposa, entre outros (CANEPPELLE, 2007). Segundo Neri, citada por Viana (2003), esses critérios também são importantes para a determinação da qualidade de vida durante a velhice e a relação entre eles tem proporção direta com o bem-estar percebido, ou seja, a qualidade de vida do idoso será um reflexo do seu grau de satisfação com a vida (VIANA, 2003).

    Apesar de considerarmos importantes todos os aspectos que corrroboram com o entendimento da qualidade de vida, neste estudo será apresentado de forma mais aprofundada apenas o funcionamento físico.

    Dentro do domínio físico da qualidade de vida está a capacidade funcional. Esta pode ser entendida como a aptidão do indivíduo em níveis emocionais, mentais e físicos. O primeiro diz respeito às características psicológicas, o segundo à capacidade intelectual e de raciocíonio do indivíduo e o terceiro está relacionado ao funcionamento sensorial e motor do organismo (BATISTA, 2003).

    A velhice vem acompanhada de alterações biológicas comuns do processo de envelhecimento, entretanto, este não é o principal fator responsável pelo desenvolvimento de doenças e dependência entre os idosos, mas sim a atrofia por desuso provocada pelo sedentarismo, que leva a uma diminuição da capacidade física dos indivíduos, podendo levar a incapacidade funcional (OKUMA, 2004; SHEPHARD, 2003; TEIXEIRA e col, 2007).

    A incapacidade funcional provoca redução do grau de independência do idoso na realização das atividades de vida diária (AVD), que são as tarefas que uma pessoa precisa realizar para cuidar de si e das atividades instrumentais de vida diária (AIVD), atividades que o indivíduo precisa realizar para administrar o ambiente em que vive, causando comprometimentos que dificultam a permanência da sua independência (COSTA, NAKATANI e BACHION, 2006). Segundo Canepelle (2007) o envelhecimento ativo é importante para a melhora da percepção de qualidade de vida da população idosa, por esta razão, a diminuição da capacidade funcional tem relação direta com a baixa qualidade de vida de indivíduos idosos. Em seu estudo, a autora postula que a capacidade de realizar AVDs e AIVDs está diretamente associada a todos os domínios da qualidade de vida.

    Em estudo realizado por Fleck, Chachamovich e Trentini (2003) com grupo de idosos e seus cuidadores e em trabalho realizado por Pascoal, Santos e Broek (2006), com 52 idosos residentes no interior de São Paulo, ambos autores encontraram que os participantes consideram como variáveis importantes para avaliar a qualidade de vida aspectos como saúde, suporte social e prática de atividade física.

    Pereira e col (2006) pesquisaram qual o grau de influência dos domínios físico, psicológico, social e ambiental, na qualidade de vida global de 211 idosos do município de Teixeira, Minas Gerais. Dentre os resultados obtidos, os autores encontraram que o domínio que mais contribuiu para a qualidade de vida global, foi o domínio físico.

    Dessa forma, é possível observar a grande relevância dada a capacidade funcional, para a manutenção da qualidade de vida.

3.     Envelhecimento e atividade física

    A atividade física pode ser entendida como qualquer tipo de movimento corporal gerado pelos músculos esqueléticos que façam com que o corpo saia do seu estado de homeostasia e gere gasto energético (SPIRDUSO, 2005). Existem diferentes categorias de atividade física, como, atividades de lazer, utilitárias, esportes e exercício físico. É conhecido que a prática regular de atividade física traz diversos benefícios para o individuo, sendo alguns deles a melhora do condicionamento físico, ganho de força, diminuição da perda de massa óssea, redução da incapacidade funcional, melhoras na auto-estima, no humor e prevenção/tratamento de doenças crônicas (BENEDETTI e col, 2008; MORAES e col, 2007; HARGREAVES, 2006; ALVES e col, 2004).

    O processo de envelhecimento traz consequências tanto para o desempenho psicossocial quanto para o desempenho físico dos indivíduos, apresentando características como a diminuição da força, da capacidade aeróbia, da capacidade funcional, isolamento social, aumento da incidência de doenças crônico-degenerativas, etc. Por esta razão, segundo Okuma (2004), a prática de atividade física é um fator importante para retardar e diminuir tanto os efeitos psicológicos quanto os efeitos biológicos do envelhecimento. De acordo com a autora, os efeitos advindos da prática de atividade física, como aumento da flexibilidade, da força muscular, entre outros, que colaboram para melhora da realização de atividades de rotina, fazem com que haja um ganho na auto-estima, diminuição do risco de depressão e aumento da interação social, gerando melhora também nos fatores psicológicos do envelhecimento.

    Entretanto, apesar dos comprovados efeitos salubres da atividade física sobre o processo de envelhecimento, os níveis de sedentarismo entre a população idosa costuma ser elevado. Em estudo realizado por Alves e col. (2010), com 1.018 adultos e 1.010 idosos do estado de Pernambuco, os autores encontraram uma taxa de sedentarismo de 68,3% entre os idosos, sendo que este valor aumenta com o aumento da idade. O sedentarismo é considerado um problema de saúde pública, especialmente nos grandes centros urbanos, e um dos fatores de risco para o desenvolvimento de diversas doenças crônico-degenerativas, principalmente as cardiovasculares (FORTI e DIAMENT, 2006; REICHERT, 2006; FLORINDO e col, 2001)

    A prática de atividade física regular auxilia na manutenção e no aumento da aptidão física da população idosa, assim como interfere de forma positiva no processo de envelhecimento biológico, o que, segundo Shephard (2003), é um fator importante para o prolongamento do período de vida independente. Hayflick (1997) preconiza que idosos fisicamente ativos possuem uma capacidade aeróbia muito maior quando comparados a seus pares sedentários, assim como seus tempos de reação e movimento também são superiores. O autor salienta que:

    (...)as pessoas idosas fisicamente ativas têm capacidade de exercício semelhante a das pessoas jovens ativas. Isso significa que alguns processos fisiológicos que diminuem com a idade podem ser modificados pelo exercício e pelo condicionamento físico: podemos melhorar a eficiência cardíaca, função pulmonar e níveis de cálcio ósseo. Contudo, a despeito dos benefícios da prática de exercícios para a saúde, há bons indícios de que a expectativa de vida é maior nos idosos fisicamente ativos (HAYFLICK, 1997, p.174).

    Em estudo realizado com o objetivo de averiguar o efeito da prática de hidroginástica na aptidão física de um grupo de idosas, Alves e col. (2004) observaram melhora significativa da aptidão física do grupo treinado em relação ao grupo controle.

    Corazza e col (2003), investigaram os efeitos agudos do exercício aeróbio sobre a pressão arterial de 14 mulheres adultas de meia idade e idosas jovens normotensas e hipertensas limítrofes. O trabalho encontrou diferenças significativas na redução dos valores da pressão arterial sistólica e da pressão arterial diastólica após o exercício aeróbio agudo, demonstrando ser eficaz para o controle e manutenção da pressão arterial e por conseqüência, para o sistema cardiovascular.

    Resultados semelhantes foram encontrados por Krasue e col. (2007). Os autores relacionaram o nível de atividade física com o nível de aptidão cardiorrespiratória (ACR) de 960 idosas, com idade superior a 60 anos, participantes do Projeto Terceira Idade Independente, da Universidade Federal do Paraná. Em seu estudo, os autores encontram que a ACR diminui com a idade, entretanto, essa diminuição é significativamente menor nas mulheres com níveis mais elevados de atividade física.

    Em estudo similar, no qual procuraram avaliar a evolução, no período de um ano, das variáveis neuromotoras da aptidão física e da capacidade funcional de mulheres fisicamente ativas, na faixa etária de 50 a 79 anos, Matsudo e col. (2003) observaram que, embora não tenha ocorrido ganho significativo, a prática freqüente de atividade física foi eficaz, segundo os autores, para a prevenção e promoção da saúde, pois as variáveis de aptidão física e capacidade funcional fatores importantes para a manutenção do nível de independência e qualidade de vida durante o processo de envelhecimento.

    Mattos e Farinatti (2007), em estudo realizado com 16 mulheres na faixa etária dos 68 aos 82 anos, submetidas a oito sessões de treinamento de exercícios aeróbios de baixa intensidade e volume, verificaram melhoras na autonomia e na aptidão físico-funcional dessas mulheres.

    Em relação à prática de alongamento, Cristopoliski e col. (2008), estudando os efeitos de exercícios de flexibilidade dos músculos extensores e flexores do quadril sobre a marcha de mulheres idosas, logo após a sessão de treinamento, observaram que, após os exercícios de alongamento, as idosas apresentaram mudanças significativas no padrão de marcha, diminuindo o risco de quedas e apresentando um padrão mais similar a de adultos jovens do que antes dos alongamentos.

    Estudos vêm demonstrando que a atividade física, além de auxiliar a retardar os efeitos decorrentes do processo de envelhecimento biológico, é um fator importante no que diz respeito aos efeitos psicossociais do envelhecimento. Lebrão e Laurenti (2005), em análise dos resultados obtidos no município de São Paulo com o estudo SABE – saúde, bem-estar e envelhecimento, realizado pela Organização Pan-Americana de Saúde, encontraram que a prevalência de deterioração cognitiva é de 6,9% entre os idosos, havendo um aumento progressivo com o avançar da idade. Sintomas depressivos foram encontrados em 18,1% dos idosos, havendo uma maior ocorrência na faixa etária entre 60 e 64 anos de idade.

    Oliveira (2005) realizou um estudo objetivando avaliar os efeitos do exercício físico no tratamento da depressão maior em idosos e compará-lo com a terapêutica medicamentosa tradicional. Para tanto a autora avaliou três grupos de idosos, sendo que o grupo 1 realizou tratamento medicamentoso para a depressão, o grupo 2 passou por protocolo de exercícios e tratamento medicamentoso e o grupo 3 participou apenas do protocolo de exercícios. Os resultados obtidos demonstraram que, embora tenha ocorrido melhora nos níveis de depressão de todos os grupos, o grupo 3 foi o que apresentou índices melhores em todas as variáveis analisadas. A autora concluiu em seu trabalho que a prática regular de atividade física foi eficiente no tratamento da depressão em idosos e na melhora da qualidade de vida, apresentando-se como uma boa opção terapêutica.

    Benedetti e col. (2008) analisaram o estado de saúde mental relacionado com os níveis de atividade física de 875 idosos de Florianópolis - SC. Os autores demonstraram haver uma associação inversa e estatisticamente significativa entre o nível de atividade física total (trabalho, tarefas domésticas, transporte e lazer), principalmente das atividades físicas de lazer, com as ocorrências de demência e depressão.

    Já em revisão de literatura realizada por Moraes e col. (2007), na qual os autores investigaram os efeitos do exercício físico na prevenção e no tratamento da depressão, encontrou-se que há em idosos uma relação inversa entre nível de atividade física e sintomas depressivos.

    Considerando-se, dessa forma, a importância da prática de atividade física regular para os idosos, resgatamos os trabalhos de Rahal e Sguizzatto (2006) e Shepard, (2003), nos quais os autores assinalam alguns pontos para a elaboração de um programa de atividade física para a população idosa. De acordo com os autores, antes de iniciar um programa de exercícios com essa população é necessário realizar algumas avaliações, como anamnese e testes físicos. Para indivíduos que iniciarão atividades de intensidade leve é necessário apenas a aplicação de um questionário, para identificação de possíveis riscos durante o exercício. Já para indivíduos que procuram atividades mais intensas ou que apresentam fatores de risco para arteriosclerose ou são portadores de afecções cardiovasculares, os autores recomendam, além da aplicação do questionário, a realização de testes ergométricos.

    Quanto a intensidade do exercício, este deve ser iniciado com a intensidade em níveis leves a moderados, sendo incrementada gradualmente. Para mensurá-la é possível utilizar os valores de freqüência cardíaca e o índice de percepção de esforço de Borg. As metas de um programa de atividade física para idosos devem visar melhoras da aptidão física através do aumento da resistência cardiovascular, da força, da composição corporal e flexibilidade, atuando favoravelmente na ansiedade e sociabilização do idoso (RAHAL e SGUIZZATTO, 2006).

    Podemos observar, através dos estudos apresentados, que indivíduos fisicamente ativos têm menores riscos de desenvolver doenças crônico-degenerativas e um declínio menos acentuado das capacidades funcionais. Embora, além da prática de atividade física, fatores econômicos, culturais, herança genética, hábitos nutricionais, sociais, etc. interfiram no processo de envelhecimento, é consenso que a prática regular de atividade física, independente da época em que é iniciada, exerce influências positivas sobre os efeitos biológicos e psicossociais do envelhecimento, atuando para a prevenção e preservação da capacidade funcional e, por conseqüência, da qualidade de vida de indivíduos idosos.

Considerações finais

    O aumento da população mundial de idosos torna cada vez mais relevante, tanto científica quanto socialmente, a criação de programas e estudos que contribuam para um envelhecimento saudável e bem sucedido.

    O processo de envelhecimento traz consigo diversas alterações para os indivíduos, tanto físicas quanto psicossociais. Essas alterações podem causar uma diminuição da capacidade funcional do idoso e influenciar diretamente sua qualidade de vida. A qualidade de vida é um fator subjetivo, que depende da percepção do indivíduo de como está a sua vida em um determinado momento, levando em consideração três aspectos: físico, social e psicológico. Esses fatores determinam qual a percepção de bem-estar do idoso, influindo diretamente em sua qualidade de vida.

    Observou-se que, nesse segmento da população, os fatores que mais influenciam na percepção de bem-estar são a saúde, a prática de atividade física e o convívio social e familiar.

    Dessa forma, através dos estudos apresentados, conclui-se que a prática regular de atividade física proporciona melhoras nos diversos aspectos do envelhecimento, tanto físicos quanto psicossociais, sendo a atividade física eficaz na promoção da saúde, na automia e, por consequência, na manutenção da qualidade de vida da população idosa.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 165 | Buenos Aires, Febrero de 2012
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