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Desempenho motor de crianças praticantes

e não praticantes de ginástica rítmica

El rendimiento motor de niñas practicantes y no practicantes de gimnasia rítmica

Motor performance of children practitioners and non practitioners rhythmic gymnastic

 

*Professora de Educação Física

**Professora orientadora deste trabalho. Mestre em Educação Física

Titular do curso de Educação Física da Universidade do Estado de Santa Catarina

***Professor co-orientador deste trabalho. Pós doutor e titular

do curso de Educação Física da Universidade do Estado de Santa Catarina

****Professora co-orientador deste trabalho. Mestre em Educação Física

Professora do curso de Educação Física da Universidade do Estado de Santa Catarina

Bruna Paz*

Maria Helena Kraeski**

Ruy Jornada Krebs***

Veruska Pires****

veruskapires@univali.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo identificar o desempenho motor de crianças de 8 a 10 anos praticantes e não praticantes de Ginástica Rítmica. Participaram do estudo 45 crianças do sexo feminino, sendo 20 praticantes das aulas de Educação Física escolar e praticantes de Ginástica Rítmica (GRUPO 1) e 25 praticantes das aulas de Educação Física escolar e não praticantes de Ginástica Rítmica (GRUPO 2). Para avaliar o desempenho motor dos sujeitos foi utilizado o Test of Gross Motor Development – Segunda Edição (TGMD-2). Os resultados encontrados apresentaram diferença em todas as tarefas que compõem as habilidades de locomoção e controle de objetos. Para o quociente motor amplo ficou evidenciado uma diferença estatisticamente significativa (p<0,001) entre os grupos. Concluiu-se então, que o grupo que pratica Ginástica Rítmica tem seu desenvolvimento motor melhor que o grupo que pratica atividade física apenas nas aulas de Educação Física da escola.

          Unitermos: Desempenho motor. Ginástica Rítmica. Educação Física.

 

Abstract

          This study aimed to identify motor performance of children aged between 8 to 10 years old practitioners and non practitioners of Rhythmic Gymnastics. A total of 45 female children participated of the study, of which 20 were practitioners of scholar physical education classes and Rhythmic Gymnastics (group 1) and 25 were practitioners of physical education classes at school and not engaged in Rhythmic Gymnastics (group 2). To evaluate motor performance of the subjects was utilized the Test of Gross Motor Development - Second Edition (TGMD-2). The results showed differences in all the tasks regarding locomotion skills and object control. For the gross motor quotient it was evidenced a statistically significant difference (p <0.001) between groups. In conclusion, the group that practices Rhythmic Gymnastic has their motor development better than the group that practices physical activity only in the scholar physical education classes.

          Keywords: Motor performance. Rhythmic gymnastic. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Estudos relacionados sobre Desenvolvimento Motor são fundamentais para a Educação Física, pois nesta área o professor tem a necessidade e a responsabilidade de entender e relacionar os aspectos cognitivos, afetivos, sociais e principalmente motores, nas ações aplicadas que visem um desenvolvimento qualificado de seus alunos. Com isso, o foco estabelecido para este estudo permeia os conceitos de desempenho motor aplicados no contexto da educação física escolar e do esporte sistematizado. A escolha da temática se configura na necessidade de re-significar as aulas de Educação Física resgatando seus propósitos junto ao desenvolvimento motor dos alunos, bem como entender a contribuição da prática regular da Ginástica Rítmica no movimento construído no cotidiano dos escolares.

    Segundo Gallahue e Ozmun (2005) o desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento motor ao longo da vida, proporcionada pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente. Nesta mesma perspectiva, Gabbard (2009) define o desenvolvimento motor como o estudo de mudanças no comportamento motor, sendo este influenciado por fatores biológicos e ambientais, ou seja, a interação de mudanças dos sistemas biológicos e contextos ambientais. Krebs apud Brauner e Valentini (2009) ao discutir o desenvolvimento humano afirma que este resulta de interações entre características do organismo e os diferentes contextos e tarefas aos quais o indivíduo é exposto. O contexto em que o sujeito está inserido e os diversos ambientes dos quais faz parte podem, de alguma forma, afetá-lo, sendo evidenciada a interdependência dos diferentes ambientes freqüentados pela criança no seu processo de desenvolvimento. Segundo Suely Santos et al. (2004, p. 33),

    o desenvolvimento motor na infância caracteriza-se pela aquisição de um amplo repertório de habilidades motoras, que possibilita a criança um domínio completo do seu corpo em diferentes posturas (estáticas e dinâmicas), locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas (andar, correr, saltar, etc.) e manipular objetos e instrumentos diversos (receber uma bola, arremessar uma pedra, chutar, escrever, etc.). Essas habilidades básicas são requeridas para a condução de rotinas diárias em casa e na escola, como também servem como propósitos lúdicos, tão característicos na infância. A cultura requer das crianças, já nos primeiros anos de vida e particularmente no início de seu processo de escolarização, o domínio de várias habilidades.

    Neste sentido, é essencial um olhar mais atento da área da Educação Física já que, hoje em dia as crianças estão cada vez mais utilizando brincadeiras e jogos eletrônicos, passando muitas horas diante da televisão ou computador e realizando atividades desenvolvidas em pequenos espaços, que limitam as possibilidades de movimentos e, com isso, estão se tornando indivíduos sedentários. Atualmente, todos esses fatores exercem grandes influências sobre o nível de desenvolvimento motor das crianças. (AZEVEDO, 2009)

    Estes movimentos são denominados como habilidades motoras fundamentais que podem ser classificadas em três categorias: estabilidade (relacionada com o ganho de controle sobre a musculatura em oposição à gravidade), locomoção (capacidade de explorar os potenciais motores do corpo, à medida que se movimentam no espaço) e manipulação (onde é desenvolvido rapidamente o contato controlado e preciso com os objetos de seu ambiente), as quais são essenciais no processo de desenvolvimento motor do indivíduo, é nesta fase que se adquire movimentos básicos e importantes para a aprendizagem mais a frente dos movimentos especializados. (GALLAHUE, 2005)

    Esta discussão torna-se pertinente para a Educação física escolar, pois assume o espaço destinado ao movimento e a exploração deste, na rotina das crianças. No entanto se faz necessário que os profissionais dessa área busquem conhecer o está­gio de desenvolvimento motor da criança e delinearem atividades que promovam seu aprimoramento. (Neto et al., 2004) Portanto, destaca-se a Ginástica Rítmica como uma possibilidade de prática qualificada que auxilie as ações da Educação Física escolar. Esta modalidade esportiva através de sua estrutura trifásica de elementos corporais, manejo de aparelhos e acompanhamento musical, privilegia o desenvolvimento global do aluno, já que todos os domínios do desenvolvimento humano são trabalhados. Estudiosos do esporte acreditam que a partir de uma prática contínua da Ginástica Rítmica, o aluno possa ser beneficiado, já que esta modalidade enriquece a formação da criança nos aspectos físico, emocional, intelectual e social. (PIRES, 2003)

    Subsidiado por estes conceitos e perspectivas teóricas o presente estudo teve como objetivo investigar e comparar os escores de desempenho motor de dois grupos de sujeitos do sexo feminino, sendo o grupo 1 meninas praticantes das aulas de Educação Física escolar e de uma escolinha de Ginástica Rítmica e o grupo 2 apenas praticantes de Educação Física escolar. Buscando encontrar aspectos relevantes para justificar a utilização da prática de Ginástica Rítmica na escola.

    Robert Malina (2003, p. 50) expõe:

    A aquisição de competências em atividades motoras é uma tarefa importante no desenvolvimento da infância. Todas as crianças, exceto algumas com deficiências graves, têm o potencial para se desenvolver e aprender uma variedade de padrões fundamentais de movimento e habilidades motoras mais especializadas. Tais atividades são parte integrante das crianças em seu repertório de comportamento motor.

    Assim, buscou-se construir um aporte teórico acerca da temática do desempenho motor, sobre Educação Física escolar e Ginástica Rítmica, aplicamos testes em dois grupos específicos que permitiu a análise do desempenho motor amplo, bem como dividido em habilidades de locomoção e controle de objetos. Com estas variáveis podemos entender o funcionamento do comportamento motor destes escolares. “Especificando isoladamente o comportamento motor, evidenciam-se suas principais características, fundamentando a importância de uma prática variada nas aulas de Educação Física, verificando a interferência destas ações na aquisição de conhecimentos dos alunos”. (PIRES, 2003, p. 43) Contudo, buscou-se fornecer informações aos profissionais de Educação Física sobre a prática das atividades específicas de Ginástica Rítmica, já que se acredita que esta pode auxiliar no desempenho motor de crianças.

Método

    O presente estudo limitou-se em analisar a variável dependente de desempenho motor, não foram controlados os hábitos de vida de todas as crianças participantes, não objetivou intervenções nas aulas de educação física, bem como atividades extras realizadas pelas crianças que não seja a Ginástica Rítmica. Por meio de uma pesquisa descritiva, cuja finalidade é analisa e correlaciona fatos e fenômenos (variáveis) sem manipulá-los.

    Após a aprovação do estudo pelo comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC (protocolo no 137/2010), primeiramente foi feito um contato com a escola, Instituto Estadual de Educação localizado no município de Florianópolis/SC, para esclarecimentos a respeito do projeto e posteriormente a entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido juntamente com a autorização para a realização das filmagens. Sendo que a partir deste momento foi possível a aplicação dos testes definidos para a coleta dos dados.

    Participaram do estudo 45 crianças do sexo feminino sendo 20 praticantes das aulas de Educação Física Escolar e participantes de uma escolinha de Ginástica Rítmica na cidade de Florianópolis (GRUPO 1) e 25 praticantes das aulas de Educação Física Escolar em uma escola da mesma cidade (GRUPO 2) e que entregarem os termos de consentimento livre e esclarecido devidamente assinados pelos pais ou responsáveis.

    Para avaliar o desempenho motor dos participantes foi utilizado o Test of Gross Motor Development – Second Edition (TGMD-2), desenvolvido por Ulrich (2000). O TGMD-2 avalia as habilidades motoras amplas em uma faixa etária de 3 a 10 anos de idade, este teste consiste em dois tipos de avaliação e cada uma divide-se em 6 itens, portanto, avaliação locomotora (corrida, galope, salto com 1 pé, passada, salto horizontal e corrida lateral) e avaliação de controle de objetos (rebater, quicar, receber, chutar, arremessar por cima e arremessar por baixo). (ULRICH, 2000)

    Para cada um dos itens foi observado pelo avaliador de 3 a 5 critérios motores específicos, estes critério foram determinados conforme os padrões maduros das habilidades motoras fundamentais referenciados na literatura por profissionais da área de desenvolvimento motor. Na medida em que os critérios de desempenho foram sendo identificados pelo pesquisador, o avaliado recebeu 1 ponto em cada critério e quando não foi identificado não ocorreu nenhuma pontuação. No final de cada habilidade foi gerado um escore, onde se determinou um percentual de acerto para cada habilidade, com a soma dos escores referentes aos itens de cada avaliação foi determinado um escore locomotor e um escore de controle de objeto, na soma dos escores locomotores e de controle de objetos encontrou-se o escore final das habilidades motoras amplas. (ULRICH, 2000)

    Inicialmente foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk, não observando normalidade na distribuição dos dados (p<0,001). Para análise descritiva foram utilizadas as medidas de mediana, valores máximos e mínimos, freqüência e percentual. Para melhor descrição dos resultados utilizou-se também a análise do percentual dos sujeitos que estavam abaixo, dentro e acima da mediana dos escores relativos ao desempenho de cada habilidade motora. Foi utilizado o teste U de Mann-Whitney para comparar o desempenho das habilidades motoras entre os dois grupos de escolares. O nível de significância adotado foi de p<0,05.

Resultados

    A aplicação dos testes possibilitou o agrupamento das informações coletas estabelecida pelas categorias observadas. A sistematização deste processo apresentou resultados significativos por grupos e especificidades que são descritos primeiramente a partir da concretude de cada teste e posteriormente analisados com base nos princípios teóricos utilizados.

    Assim, destaca-se a tabela 1, onde podemos observar os escores medianos de locomoção e controle de objetos de cada um dos grupos formados pelos participantes do estudo. Ficou evidenciado que tanto nas habilidades de locomoção quanto nas de controle de objetos o grupo 1, composto pelos indivíduos praticantes de Ginástica Rítmica apresentou um resultado superior no desempenho das habilidades motoras desenvolvidas no teste, demonstrando assim um quociente motor amplo mais elevado que o grupo 2. O grupo 1 nos escores de locomoção atingiu uma pontuação máxima de 10,0 e mínima de 4,0 pontos, já nos escores de controle de objetos a máxima pontuação foi de 9,0 e a mínima também de 4,0 pontos. Sendo assim a pontuação máxima e mínima do quociente motor amplo deste grupo foram 90,0 e 70,0, respectivamente. Os valores adquiridos pelo grupo 2 foram mais baixos, sendo 5,0 e 1,0 a pontuação máxima e mínima, respectivamente, destes indivíduos nos escores de locomoção e 8,0 e 1,0 nos escores de controle de objetos. Atingindo então, 79,0 e 46,0 pontos como máximo e mínimo para o quociente motor amplo deste grupo. Contudo, na comparação dos grupos 1 e 2 verificou-se diferenças estatisticamente significativas (p<0,001) no escore motor amplo, locomoção e no controle de objetos.

Tabela 1. Escores mínimos, máximos e medianos dos participantes conforme o grupo

    Para facilitar o entendimento do Quociente Motor Amplo das meninas praticantes de Ginástica Rítmica e não praticantes da mesma modalidade foi analisado separadamente o desempenho motor de cada um dos grupos nas habilidades de locomoção, assim apresentado na tabela 2. E pode-se observar que no grupo 1 os indivíduos obtiveram os melhores desempenhos nas tarefas de Galopar, onde 100% dos participantes ficaram na mediana e na passada com 90% atingindo a mediana, porém os escores mais baixos foram encontrados na Corrida e na Corrida Lateral com 55% na mediana e 45% abaixo da mediana. Já o grupo 2 obteve seu melhor desempenho na Passada com 68% dos participantes na mediana, 28% acima da mediana e apenas 4% abaixo da mediana e seu desempenho mais baixo ocorreu na tarefa de Galopar onde 24% estavam na mediana, 40% acima da mediana e 36% abaixo da mediana.

Tabela 2. Descrição do desempenho nas habilidades de locomoção conforme os grupos

    Assim como a análise isolada das habilidades de locomoção, na tabela 3, realizamos um diagnóstico com as habilidades de controle de objetos e ficou evidenciado que o grupo 1 destaca-se na tarefa de Receber, pois 80% das meninas praticantes de Ginástica Rítmica estão na mediana e as outras 20% estão divididas igualmente abaixo e acima da mediana. No grupo 2 o melhor desempenho ocorreu na tarefa de Quicar onde 52% das meninas que participam apenas das aulas de Educação Física ficaram na mediana e 48% abaixo da mediana. E o desempenho mais baixo aconteceu no Arremesso por cima, pois apenas 8% dos sujeitos atingiram a mediana, 48% estão acima e 44% estão abaixo da mediana.

Tabela 3. Descrição do desempenho nas habilidades de controle de objeto conforme os grupos

    O teste utilizado para a análise do desempenho motor das habilidades motoras fundamentais de meninas praticantes e não praticantes de Ginástica Rítmica, além da avaliação numérica nos mostra uma avaliação descritiva composta por sete classificações: muito superior, superior, acima da média, na média, abaixo da média, fraco e muito fraco. A classificação de cada grupo conforme os critérios do teste podem ser observados na tabela 4.

Tabela 4. Avaliação descritiva dos escores dos participantes conforme o grupo

    Na tabela 4 pode ser observado que 50% das meninas investigadas no grupo 1 estão com seu desempenho motor classificados como fraco e os outros 50% estão abaixo da média ou na média. No entanto o grupo 2 apresenta resultados piores, pois 88% das meninas que participam apenas das aulas de Educação Física têm suas habilidades classificadas como muito fraco e as outras 12% estão fraco.

Discussão dos resultados

    Nos resultados descritos anteriormente se observa que as meninas praticantes de Ginástica Rítmica apresentaram níveis superiores de desenvolvimento motor quando comparado com os níveis de desenvolvimento das meninas que participam apenas as aulas de Educação Física Escolar. Com isso ressalta-se que segundo Ripka et al., (2009) o aumento da prática favorece e enriquece as experiências motoras dos indivíduos, proporcionando um maior desenvolvimento motor em comparação àque­las que se limitam às atividades curriculares escolares. Também, para Gallahue e Donelly (2008) crianças têm uma melho­ra no repertório motor quando praticam atividades que são organizadas com a finalidade de aprendizagem e interação dos conceitos de movimento. Esses aspectos são característicos nas atividades desenvolvidas nas aulas de Ginástica Rítmica.

    Resultados semelhantes aos deste estudo foram apresentados por Ripka et al., (2009) que utilizou o TGMD-2 com crianças praticantes e não praticantes de mini-voleibol, onde ficou evidenciado que as crianças não praticantes de mini-voleibol obtiveram resultados abaixo da média enquanto as crianças que realizavam duas aulas de Educação Física e duas de mini-voleibol obtiveram a classificação na média. Outro estudo semelhante foi o realizado por Souza et al., (2008) que analisou os efeitos sobre crianças de um programa de educação pelo esporte no domínio das habilidades motoras fundamentais e especializadas da dança, foram 10 semanas de intervenção com a aplicação do TGMD-2 antes e depois deste período e os resultados obtidos foram que o programa promoveu ganhos motores nas habilidades das crianças, quando ocorreu uma participação efetiva.

    Outro estudo realizado por Trac e Oliveira (2006), os autores compararam o perfil motor de crianças praticantes de capoeira (G1), alunos de educação física que não praticam capoeira (G2), e alunos não praticantes de capoeira e que tem aulas na rede municipal de ensino de Curitiba – PR, com recreacionistas não habilitados em Educação Física (G3) e os resultados foram que os indivíduos praticantes de capoeira apresentaram um desempenho motor superior aos indivíduos pertencentes aos grupos 2 e 3. Com isso nota-se que crianças que participam de outras atividades físicas constroem um repertório motor mais amplo, obtendo um maior desenvolvimento motor. Por outro lado as crianças que praticam apenas atividade nas aulas de Educação Física escolar estão com um atraso no desenvolvimento motor.

    Segundo Cepcka (2007), para as crianças, as habilidades motoras são essenciais para a execução de muitas tarefas motoras. As habilidades em geral são importantes tanto para a interação social no playground quanto para o desempenho das atividades em Educação Física. Atrasos do desenvolvimento ou transtornos podem influenciar na socialização das crianças de forma negativa.

    As habilidades motoras fundamentais, ou básicas, são assim chamadas por servirem de alicerce para os estágios posteriores de movimento. Também por não serem exclusivas de nenhum esporte (mas futuras combinações entre si permitirão alcançar as técnicas necessárias para os movimentos mais utilizados nas modalidades esportivas), servem para aumentar o repertório motor da criança para que possa realizar todos os tipos de atividades diárias. (PERES, 2008) Para as meninas praticantes de ginástica Rítmica este estágio de combinações entre as habilidades motoras básicas e as especificas está sendo iniciado gradativamente, conforme as necessidades para a iniciação das mesmas na modalidade.

    A modalidade pesquisada neste estudo destacou-se por ser uma modalidade esportiva praticada a mãos livres e com aparelhos, que consente em um empenho do corpo em relação ao espaço, tempo, ritmo, objetos, pessoas, num contexto de comunicação não verbal, produzindo reações afetivo-sociais significantes para a vida do ser humano. (GAIO; BATISTA, 2006) Esta modalidade é uma das mais completas para o desenvolvimento das habilidades motoras do indivíduo, é um esporte que proporciona o desenvolvimento de todas as características para os seus aprendizes, através de várias oportunidades de movimento. (PIRES, 2003) Nesta variedade de movimentos proporcionados pela modalidade pode-se observar que o individuo estará sempre diversificando seu repertório motor, fazendo com que este fator beneficie seu desenvolvimento motor. Segundo Palmer (2003) estas oportunidades são infinitas, as crianças usam sua criatividade natural e imaginação para manipular os aparelhos com formas diferentes e divertidas. Para Alonso apud Caçola (2004) a Ginástica Rítmica é um dos esportes privilegiados, que por possuir habilidades motoras bem próximas da cultura corporal encontrada nas brincadeiras e nos jogos infantis, favorece desde os cinco anos de idade a possibilidade de vivências motoras na Ginástica Rítmica sem que estejamos iniciando precocemente na habilidade.

    Porém, durante a análise do teste ficou evidenciado que no grupo 1 a aprendizagem das habilidades motoras fundamentais estão voltadas para a prática específica da modalidade, com isso as meninas não alcançaram um desempenho de 100% em algumas das tarefas determinadas pelo teste. O movimento galopar se concretiza em um exemplo, onde um de seus critérios são braços flexionados e mantidos na altura da cintura no momento que os pés deixam o solo, e nenhuma das meninas que praticam Ginástica Rítmica conseguiu atingir 100% deste item, pois na modalidade especificamente este galopar acontece com os braços estendidos. Segundo Nedialkova e Barros (1999, p. 23),

    durante um trabalho ginástico, os braços, como segmento do corpo, apresentam possibilidades variadas de ações psicomotoras: braços estendidos ao longo do corpo, braços estendidos para cima, na vertical, braços paralelos estendidos à frente e braços ao lado do corpo.

    Além disso, outro exemplo constatado foi que no item de arremesso por baixo, as meninas não flexionam os joelhos para abaixar o corpo e rolar a bola no solo. Sendo que, um dos critérios desta habilidade é a flexão dos joelhos, no entanto acredita-se que a flexibilidade considerada uma capacidade física orgânica (Mello et al. apud Soares, 2007) que possibilita a relação de grande amplitude no decorrer da execução dos movimentos, sendo possivelmente a maior exigência para selecionar uma praticante de ginástica, permita que esta flexão não seja necessária para a execução deste movimento.

Considerações finais

    Sugere-se que a utilização dos movimentos básicos desta modalidade durante as aulas de Educação Física escolar podem auxiliar no processo de desenvolvimento motor das crianças, na busca da integração social e no desempenho de habilidades do cotidiano. Dentro deste contexto, a Ginástica Rítmica por ser uma modalidade menos conhecida, sua prática se torna pouco aplicada nas aulas de Educação Física, fazendo com que seus benefícios não sejam explorados no desenvolvimento dos alunos.

    Os resultados demonstraram a superioridade do desenvolvimento motor das meninas praticantes de Ginástica Rítmica em relação às meninas que praticam atividade física apenas nas aulas de Educação Física quando analisados os escores padrão de locomoção, controle de objetos e quociente motor amplo. Evidenciou-se que em ambos os grupos os sujeitos apresentam um atraso motor, porém, as meninas que realizam atividades extras encontram-se em um desenvolvimento avançado em relação ao outro grupo.

    No entanto, é de responsabilidade dos profissionais de Educação Física apresentar e proporcionar aos alunos o maior número de conteúdos e possibilidades de movimentos para que a criança desenvolva um amplo repertório motor, possibilitando um melhor desempenho motor. Portanto, o desenvolvimento de atividades que proporcionem um aprimoramento do desempenho motor é fundamental, pois esse ponto é extremamente necessário para a realização de simples tarefas do cotidiano de uma criança, fazendo com que futuramente tornem-se adultos com vida ativa, saudável e com um bom convívio social.

    Além disso, sugere-se a necessidade de novos estudos que analisem outros fatores que podem estar influenciando para o atraso motor das crianças em ambos os grupos, pois mesmo um estando à frente do outro os dois apresentam um desenvolvimento a baixo do determinado pelos critérios do teste. Entende-se como necessário investigar aspectos como, os fatores ambientais, hábitos diários e a prática das atividades físicas desenvolvidas nas escolas.

Referências

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