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Treinamento concorrente: uma revisão

El entrenamiento concurrente: una revisión

Treinamento concorrente: uma revisão

 

Graduado em Educação Física

pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Preparador Físico de futebol profissional

no Clube Brasil de Farroupilha

Rodrigo Piano Rosa

rodrigopiiano@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Inúmeros estudos têm sido desenvolvidos para testar as possíveis variáveis causadas durante o treinamento concorrente. Alguns autores não encontraram em seus estudos interferência do treinamento em adaptações aeróbias e de força, sugerindo que as respostas fisiológicas específicas não alteram o desenvolvimento dos níveis de força. Em contrapartida, outros autores encontraram diferenças significativas no desenvolvimento de força, e concluem que ha interferência durante o treinamento. Assim, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão de literatura a respeito da influência do treinamento concorrente e as adaptações centrais e periféricas proporcionadas durante o processo de treino.

          Unitermos: Aeróbio. Força. Treinamento.

 

Abstract

          Many studies have been developed to test adaptations caused during aerobic and resistance training. Some of them found no interference in aerobic and strength adaptations suggesting that specific physiological responses do not alter the development of strength levels. However, other authors found significant differences in strength development, and suggest that aerobic training changes strength levels. In this way, the aim of this study was to conduct a review about the influence of concurrent aerobic and strength training and the central and peripheral adaptations provided during the training process.

          Keywords: Aerobic. Strength. Training.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para qualquer atividade física seja em ambiente competitivo ou não o condicionamento aeróbio, e de força se tornam muito importantes. Atualmente, surge um grande número de pesquisas sobre treinamentos que envolvem o desenvolvimento aeróbio e de força simultaneamente. Sabe- se que a especificidade das adaptações pós-treino depende da especificidade do treino praticado (McCarthy et. al12) por isso, muitas hipóteses têm sido testadas com o objetivo de analisar os efeitos do treinamento concorrente na ativação neural e muscular dos indivíduos, visando as interferências que o treinamento aeróbio pode causar no desenvolvimento da força muscular. (Glowacki et. al6).

    Analisando os aspectos fisiológicos sabemos que treinamento de força acarreta inúmeras alterações dentre elas: produção de força muscular, aumento da atividade das enzimas glicolíticas, aumento do estoque de ATP/CP, hipertrofia das fibras musculares, adaptações no sistema nervoso para o recrutamento de unidades motoras. Já o treinamento aeróbio aumenta a quantidade de mioglobina intramuscular, capacidade aeróbia e enzimas oxidativas. Por isso, essas respostas antagônicas podem afetar a evolução das características particulares de cada uma dessas valências fisiológicas.

    Frente a essas considerações, inúmeros estudos têm sido desenvolvidos para testar as possíveis variáveis causadas após o período de treinamento. Alguns autores não encontraram em seus estudos interferência do treinamento concorrente, sugerindo que as respostas fisiológicas específicas não alteram o desenvolvimento dos níveis de força. (McCarthy et. al)12. Em contrapartida, outros autores encontraram diferenças significativas no desenvolvimento de força, e concluem que ha interferência durante o treinamento. (Hakkinen et. al)7.

    As adaptações que ocorrem a nível cardiovascular durante o treinamento são adaptações centrais. Já as adaptações que ocorrem a nível muscular são denominadas adaptações periféricas. Dentro dessa perspectiva Docherty et. al4 citou que existe um possível ponto em que ocorre a interferência durante o treinamento concorrente e esse ponto está ligado às adaptações fisiológicas periféricas. Nesse modelo ele propôs a manipulação da intensidade do treinamento para controlar essas variáveis, pois um treinamento aeróbio intervalado de alta intensidade e um treino de força entre 8 e 12RM seriam os responsáveis pelas mudanças fisiológicas a nível periférico. Com base nisso, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão de literatura a respeito da influência do treinamento concorrente e as adaptações centrais e periféricas proporcionadas durante o processo de treino.

Revisão de literatura

    McCarthy et. al12 quis analisar a ativação neural na produção de força e verificar se o treinamento aeróbio iria mascarar adaptações específicas. Em seu estudo ele utilizou 30 homens sedentários que foram divididos em 3 grupos: O grupo que realizou treinamento Concorrente (GFA), o grupo que realizou treinamento de força (GF) e o grupo que realizou treinamento aeróbio (GA). O treinamento durou 10 semanas e os 3 grupos treinavam 3 vezes na semana sendo que o GFA realizava treinamento de força e aeróbio na mesma sessão. O treinamento aeróbio consistiu em 50 minutos contínuos no cicloergômetro. O treinamento de força era realizado com 3 séries entre 5 e 7 RM. Em seu estudo, ele observou ganhos semelhantes nos níveis de força para o grupo que treinou força e para o grupo que realizava treinamento concorrente de resistência e força, além disso, observou similar aumento na hipertrofia das fibras do tipo II e seus resultados nos ganhos de força isométrica foram semelhantes aos outros estudos analisados que usaram 3 dias de treinamento por semana. Com esses resultados, Mc Carthy et. al12 sugeriu que o treinamento aeróbio não interfere nos ganhos de força. Resultados que não estão de acordo com os encontrados por Bell et. al3 que verificou os efeitos fisiológicos do treinamento concorrente de força e resistência aeróbia nos ganhos de força e nos ganhos aeróbios. Participaram do estudo 45 sujeitos que mantinham atividades físicas regulares. Eram 27 homens e 18 mulheres divididos em 4 grupos: Concorrente (GFA), Força (GF), Aeróbio (GA) e Controle (GC). O treinamento foi realizado 3 vezes por semana durante 12 semanas, no entanto, o GFA treinava em dias alternados. O treinamento de força era realizado entre 70 e 80% de uma RM, e a intensidade aumentava a cada 3 semanas. Os resultados relatam a dificuldade no desenvolvimento de força para o grupo concorrente, devido à falta de hipertrofia das fibras do tipo I, que são recrutadas a partir de um baixo estímulo, ao contrário do grupo que treinou somente força, que teve aumento na área desse tipo de fibra. Nesse mesmo estudo, o grupo GF, teve um aumento na RM para extensão dos joelhos, ao contrário do grupo GFA, que teve um pequeno aumento, mostrando que o treinamento aeróbio interferiu nos ganhos de força. Um dos fatores que pode ter ocasionado isso é o fato da enzima ATPase ter diminuído sua atividade durante o treinamento de resistência aeróbia, sendo que o grupo que treinou força teve um significativo aumento na atividade dessa enzima. Dessa forma, o estudo de Bell et. al3 mostrou que treinamento concorrente pode mascarar adaptações de força.

    Hennessy et. al8 utilizou 56 sujeitos que integravam uma equipe de Rugby e foram divididos em 4 grupos: Concorrente (GFA), Força (GF), Aeróbio (GA) e Grupo Controle (GC). O objetivo desse estudo foi analisar os efeitos do treinamento concorrente de força e aeróbio no desenvolvimento da força, potência e velocidade em jogadores de Rugby. Seu estudo durou 8 semanas, o grupo GF treinava 3 dias na semana com 3 séries de 10 RM. Já o grupo GA realizou treinamento durante todo o tempo, a 70% da FC máxima, calculada pela fórmula convencional de 220- idade. Foram encontradas diferenças significativas para os valores de força entre os grupos GFA que aumentou 5,4% a força para exercícios de membros inferiores e o grupo GF que apresentou aumento de 16,7%, sugerindo, dessa forma que treinamento de força, realizado simultaneamente com treinamento de resistência provoca alterações fisiológicas específicas, e isso não está associado com ganhos de força.

    Hakkinen et. al7 utilizou 22 semanas para realizar os treinos, período maior que o observado em outros estudos. Participaram do estudo 27 homens, jovens e saudáveis com idade entre 37 e 38 anos que não mantinham atividades físicas regulares. Sendo que 16 participaram do grupo GFA e 11 do grupo GF, no entanto, realizava o treinamento somente duas vezes por semana, tanto para o grupo GA, quanto para o grupo GF. Todos realizavam seus treinamentos aeróbios no cicloergômetro. Para o grupo que realizou treinamento aeróbio, o protocolo consistiu em pedaladas de 30 minutos contínuos no cicloergômetro abaixo do limiar aeróbio até a sétima semana; da oitava até a décima quarta semana, pedalada de 15 minutos abaixo do limiar aeróbio, 10 minutos entre o limiar aeróbio e anaeróbio, 4 minutos acima do limiar anaeróbio, e 15 abaixo do limiar aeróbio novamente, como recuperação. Para o grupo GF, a maioria dos exercícios eram realizados no leg press.

    Foram encontradas diferenças significativas no aumento de 21% e 22% de 1RM no período de treinamento nos valores dos extensores para os grupos de força e concorrente respectivamente. Nos valores de força isométrica analisada pela eletromiografia foram encontrados aumentos significativos de força (22% e 21% respectivamente) para os grupos de força e concorrente. Para os valores máximos da EMG do vasto lateral, foi averiguado um aumento significativo para os grupos de força e concorrente (26% e 29% respectivamente).

    Durante as 21 semanas de treinamento, os dois grupos demonstraram um significante aumento no desenvolvimento da força, e não foi averiguada diferença significativa entre os grupos. Em relação a área de secção muscular (CSA), não houve diferenças significativas entre os grupos. O grupo que treinou força aumentou 6% e o grupo concorrente 9% da área de secção.

    O primeiro achado desse estudo foi que os dois tipos de treinamento apresentaram ganhos em força máxima e na área de secção das fibras do QF (Quadríceps femoral). Corroborando com isso, aumentos na ativação neural foram observados.

    Leveritt et. al11 realizou um treinamento aeróbio de alta intensidade para averiguar se os ganhos de força seriam prejudicados. Participaram do estudo 5 homens e 1 mulher, estudantes universitários que mantinham atividades físicas regulares. Seu protocolo para o grupo GA consistia em 5 minutos no cicloergômetro a 40% do VO2max, fazendo recuperação passiva de 5 minutos entre as séries, depois a 50%, 60% até 100%, sempre realizando intervalo passivo entre as séries. Já para o grupo GF, realizava 3 séries a 80% de uma RM, até a fadiga. Em seus achados ele encontrou interferência nos ganhos de força com treinamento aeróbio de alta intensidade e observou que a ordem do treinamento também interferiu nas adaptações, e a força isocinética diminuiu após exercício aeróbio. Já Glowaki et. al6 tinha o objetivo de analisar os efeitos do treinamento concorrente de força e resistência, com a hipótese de que os ganhos de força são menores quando for realizado treinamento simultâneo de força e resistência. Analisou 41 homens com idade entre 18 e 40 anos que não mantinham atividades físicas regulares. Todos eles foram testados antes, durante e após o período de treinamento, em cada uma das seguintes variáveis: Peso corporal, % de Gordura, VO2max, Torque e potência durante flexão e extensão de joelho, 1RM no leg press, barbel banch press e Salto Vertical e os testes iniciais foram feitos na semana inicial do período de treinamento, na semana 7 foram testados novamente, e os testes finais foram feitos na 13° semana. Os membros de cada grupo foram submetidos a 12 semanas de treinamento, com a 7° semana para retestes. Os sujeitos do GF realizaram treinamento 2 vezes por semana em semanas ímpares, e 3 vezes por semana em semanas pares, com 3 séries variando de 6 a 10 repetições e a porcentagem de RM foi utilizada para determinar a intensidade do exercício. O grupo GA foi submetido ao mesmo modelo semanal de treinos. A intensidade do treinamento aeróbio foi determinada pela porcentagem de FC calculada de acordo com a idade. As sessões variavam entre 20 e 40 minutos, e eram monitoradas por POLAR. Já para o grupo GFA, toda semana par treinavam 3 vezes força e 2 vezes resistência. Dessa forma, eles completaram o mesmo número de treinos dos outros dois grupos.

    Em relação ao torque, o grupo que treinou força apresentou diferença significativa na flexão a 60 e 180°. Houve também um aumento no grupo GFA e entre o grupo GFA e GA não houveram diferenças significativas. No leg press, a diferença foi significativa para todos os grupos em todos os pontos. Os grupos de GF e GFA, apresentaram diferenças significativas em relação ao grupo GA. Em relação a potência, não foram encontradas diferenças significativas durante o salto vertical. No entanto, o grupo GF, apresentou mudança significativa do pré para o pós teste. Esses achados estão de acordo com McCarthy et. al12 que não encontrou interferência do treinamento aeróbio juntamente com o treinamento de força. No entanto, Kraemer et. al15 reporta interferência no ganho de força do grupo que realizou treinamento concorrente. Os ganhos de força do grupo de resistência não foram significantes se comparados com o grupo concorrente. Sale cita que exercícios com alta intensidade em resistência não apresentam melhoras significativas na força. Na impulsão, Kraemer et. al15 relata ganhos para o grupo que treinou força, e a única diferença significativa na impulsão, foi do grupo GF para o GA, isso pode ser explicado, pela característica particular do tipo de treinamento. Os achados do presente estudo, não dão suporte ao fenômeno da interferência, pois os ganhos de força para o grupo GF e GFA foram semelhantes.

    Frente aos inúmeros estudos, conseguimos observar que o treinamento concorrente provoca adaptações centrais e periféricas, tanto em homens quanto em mulheres, e que dependendo da amostra selecionada e das variáveis adotadas durante o treinamento, podem ocorrer significativas adaptações aeróbias e de força.

Referências bibliográficas

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