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Representações dos alunos da 2ª série do ensino 

médio sobre as aulas de Educação Física no CETEP, Barreto

Representaciones de los alumnos de segundo año de escuela media sobre las clases de Educación Física en el CETEP, Barreto

 

*Mestrando em Educação Física da UNIVERSO

**Doutorando na UGF

Professores do CETEP, Barreto

(Brasil)

Edson Farret da Costa Júnior*

Carlos Henrique Ribeiro**

edsonfarret@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem por objetivo identificar as representações dos alunos do 2º ano do ensino médio tem sobre a Educação Física no CETEP (Centro Tecnológico de Ensino Profissionalizante) - Barreto, no município de Niterói-RJ, na rede de ensino FAETEC. Sabendo que o aluno pode escolher qual modalidade esportiva que quer praticar no bimestre (etapa), procuro investigar e analisar qual(is) significado(s) da Educação Física para estes alunos. Um questionário com 05 questões, realizada com 60 alunos, foi o instrumento utilizado. Sendo analisado o(s) significado(s) das respostas.

          Unitermos: Educação Física. Aulas. Representações dos alunos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Este estudo tem por objetivo identificar, pelos olhares dos alunos, a situação da Educação Física enquanto componente curricular da Escola Técnica Estadual Henrique Lage no Bairro Barreto, município de Niterói, da rede de ensino FAETEC.

    O que me levou a investigar a EF (Educação Física) no CETEP, Barreto, são as características particulares da EF neste CETEP. Entre elas podemos destacar:

  • 1º. É o aluno que escolhe qual modalidade irá fazer durante o bimestre (etapa), sendo assim a turma de EF é uma turma diferente da turma da sala, pois pode ser formada por alunos de várias turmas diferentes;

  • 2º. Um outro diferencial da EF na rede FAETEC é a diversidade de modalidades esportivas oferecidas aos alunos, no CETEP, Barreto são 14. Sendo elas: Futsal, futebol, handebol, voleibol, basquetebol, atletismo, natação, Ginástica, Dança, Judô, Taekwondo, Jiu-jitsu, capoeira e xadrez. É importante lembrar que nem todos os CETEPs oferecem todas essas modalidades, mas uma boa parte dessas modalidades são oferecidas em quase todos;

  • 3º. Um outro diferencial é que o aluno pode ou não ter vários professores de EF no mesmo ano letivo, pois é só ele mudar de modalidade que também irá mudar de professor. Ou seja, o aluno mudando de modalidade muda também para um professor “especialista” na área.

    O motivo que justifica a EF organizada assim, é que o aluno irá escolher a modalidade pelo gosto (prazer) e não pela obrigação, supondo que desta maneira o aluno não faltará às aulas ou faltará bem menos e a fará com muito mais prazer.

    É nesta afirmação que está o motivo da minha inquietação. Sendo assim eu me questiono: será realmente esta a mudança que a EF Escolar necessita? Tendo o aluno tantas opções e muita das vezes pratica somente uma modalidade durante os três anos de ensino médio, não estaria indo contra um dos objetivos da EF na Escola que é vivenciar o aluno uma diversidade de movimentos e conteúdos que só a EF pode proporcionar?

    Este assunto não tem a pretensão de se esgotar aqui, mas de começar. Ser um ponto de partida.

A Educação Física e a FAETEC. Um pouco de história

    Na década de 70, com a crise estrutural do capitalismo, se busca novos paradigmas de produção, produzindo outras formas de reprodução, nascendo de um desgaste do padrão produtivo industrial taylorista/fordista, produção baseada na alta especialização e conseqüentemente a fragmentação do trabalho. Exigindo do trabalhador pouca qualificação tecnológica, comunicativa, e gerencial.

    Hoje, com novos padrões de consumo, nasce uma nova produção industrial em que as empresas dão ênfase à qualidade dos produtos em detrimento da quantidade produzida. Com vistas a essa reestruturação as empresas se baseiam em novos conceitos de produção em uma administração participativa.

    Neste sentido, o “novo papel” do trabalhador nesse padrão de desenvolvimento requer, então, uma qualificação mais abrangente, polivalente e polissêmica. Pensando nessa formação integral do aluno e de num novo trabalhador criou o CEI (Centro de Educação Integral) em Quintino no ano de 1996, que logo depois ficou fazendo parte da FAETEC (Fundação de Apoio à Escola Técnica). Assim as Escolas Técnicas do Estado do Rio de Janeiro passaram a se chamar CEI, que eram assistidas pela FAETEC que surgiu com a extinção da FAEP (Fundação de Apoio à Escola Pública). Com a mudança do Governador Marcelo Alencar para Governador Anthony Garotinho o CEI tornou-se CETEP (Centro de Educação Tecnológica e Profissionalizante), ressaltando que o motivo desta mudança não é um ponto relevante nem objetivo deste estudo.

    Acredito que a EF torna-se um meio potencial para o desenvolvimento e a capacitação dos alunos e alunas da FAETEC para o agir solidário, cooperativo e participativo. Kunz (1994) afirma que, além de contribuir para o agir solidário nas aulas de EF, pode levar os alunos à compreensão dos diferentes papéis sociais existentes no esporte, fazendo-os se sentirem preparados para assumir esses diferentes papéis e entender/compreender os outros nos mesmos papéis ou em papéis diferentes.

Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa empírica de caráter descritivo que se valeu de técnicas qualitativas e quantitativas. A amostra foi constituída de 60 alunos do 2º ano do Ensino Médio do CETEP- Barreto em Niterói- RJ. O instrumento de coleta dos dados foi a entrevista semi-estruturada e um questionário no período e 19 a 30 de Maio de 2003.

    Por que investigar a representação dos alunos sobre a Educação Física Escolar do CETEP, Barreto?

    Oferecer subsídios para uma mudança/renovação ou para uma continuidade do trabalho já desenvolvido, partindo da representação que os alunos tem da EF é de fundamental importância. Assim entender quais as principais influências na construção desta representação, além de saber como os alunos avaliam a atual prática pedagógica em EF na Escola Técnica Estadual Henrique Lage (CETEP, Barreto) se faz necessário.

A Educação Física e os alunos

    Ao analisar as respostas da pergunta: Na sua opinião para serve a Educação Física? Percebemos que os alunos têm o entendimento que a EF está ligada diretamente as idéias da saúde e cuidar do corpo, pois dos 60 alunos entrevistados 30 tiveram esta resposta. Já 10 alunos responderam que a EF “serve para aprender esportes”, 5 para relaxar das disciplinas da sala de aula, 5 para o lazer 6 não serve para nada e 4 que serve para preparar alunos atletas.

    Acredito que este resultado representa uma ideologia mercadológica que os meios de comunicação fazem do corpo. Pois os corpos esculturais e cheios de saúde são melhores aceitos (vendidos, utilizados) na sociedade. Sendo a EF a disciplina que está mais associada ao corpo, acaba o aluno refletindo na EF objetivos meramente corporais e não intelectuais.

    Já o item que é “aprender esportes”, com 16,6%, os alunos entendem que a EF é um espaço onde aprenderão a jogar o esporte. Esta idéia muitas das vezes é reforçada por professores que se limitam a dar somente os quatro esportes coletivos de quadra (vôlei, handebol, basquetebol e Futsal) durante todo os ensinos fundamental e médio.

    Um outro item colocado, com 8,3%, foi que a EF serve como “lazer”. Neste sentido a EF representa um lugar na escola destinado a brincar, se divertir e não ter necessidade de aprender algo. Num caminho parecido, 8,3% das repostas, acham que a “EF serve para relaxar das disciplinas da sala de aula”, ou seja, a EF serve somente para compensar o esforço intelectual feito em sala de aula, reforçando a idéia de que para fazer EF não precisa pensar, não precisa usar a cabeça.

    Um outro item respondido pelos alunos sobre a pergunta: Para que serve a EF? Na Escola, 10% responderam que “não serve para nada”, ou seja, apesar da EF ser legalizada, para alguns alunos ela ainda não é uma disciplina legítima. Apesar da EF ser uma obrigatoriedade nas escolas de ensino médio (exceto no horário noturno) , muitos alunos acham que ela não tem utilidade ou importância alguma para nada.

    A respostas “para formar alunos atletas”, foi respondida por 6,6% dos alunos. Ou seja, um número reduzido de alunos ainda acha que o professor de EF é um técnico e ele um atleta na escola. Penso que este pensamento é reforçado pelos meios de comunicação, onde são exibidas reportagens de alunos que pertenceram a família de baixa renda, estudaram em escolas públicas e hoje são grandes atletas.

    Numa Segunda pergunta que foi: Se as aulas de EF deveriam ser obrigatórias ou não, ou se nem deveriam existir?, 49 alunos (81%) responderam que a EF não deveria ser obrigatória, 10 alunos (16,6%) responderam que deveria ser obrigatória e somente um (1,6%) acha que não deveria ter EF no Ensino Médio.

    Mais uma vez podemos verificar que a EF representa para o aluno uma disciplina descartável e sem grande importância na escola. Assim ele poderia fazer a aula quando bem entender e se sentir necessidade.

    Numa terceira pergunta: O que você mudaria para as aulas de EF na escola dentre os itens: horário invertido, tempo de aula, espaço e conteúdo? Percebemos que o horário invertido é o que mais incomoda os alunos, pois 48,3% marcaram este item. O item pouco tempo da aula veio logo após com 33,3%, o conteúdo com 10% e o espaço físico com 8,3%. Assim percebemos que o aluno prefere a EF dentro o horário normal das aulas, e com esse descontentamento o aluno pode ir a fazer desanimado e por vezes até faltar a aula.

    Na Quarta pergunta: Se o aluno gosta do esporte como principal conteúdo na escola?, 44 alunos (73,3%) responderam que não e 16 alunos (26,6%) responderam que sim. Ou seja, há um descontentamento com o esporte sendo o principal eixo das aulas de EF, assim podemos deduzir que os alunos discordam dos professores que só colocam o esporte como conteúdo nas aulas. Isso implica em dizer que o aluno se interessa por uma diversidade de conteúdo que seja de competência da EF. Não estaria, a FAETEC, com esta proposta organizacional vir a negligenciar a transmissão de conhecimentos sobre as práticas corporais que permitiriam ao aluno desenvolver uma visão mais crítica dos fenômenos que são objeto desta disciplina do currículo das escolas? Ou seja, o CETEP, Barreto tem à oferecer 14 modalidades, mas como o aluno escolhe qual modalidade fazer, por muita das vezes ele pratica somente uma o ano todo, parecendo-me que esta proposta vem na contramão de uma EF diversificada.

    Na quinta pergunta: Se o aluno mudaria na maneira organizacional da escolha das modalidades na EF?, 30% responderam que não mudariam nada pois assim está bom, 28,3% dos alunos almejam alguma mudança nesta maneira de escolha, , 13,3% dos alunos responderam que não querem é nada com a EF e outros 13,3% responderam que tanto faz eles querem é jogar. Já 15% não mudariam de modalidade nunca, porém dos 8 alunos que responderam este item 6 são atletas da escola. Percebe-se aí uma divisão na opinião, e num consenso como se era esperado.

    Podemos ver que 26,6% apresentam um descaso com a disciplina EF na escola e somente 28,3% dos entrevistados querem alguma mudança significativa.

    Observou-se que os alunos que discordam desta organização preferem fazer a aula de EF com amigos da mesma turma, pois como não dominam a pratica do esporte, ficam com vergonha de jogar quando os alunos são de outras turmas da escola. E acham que o conteúdo da aula deve sempre mudar. Assim 11, desses 17 que responderam que preferem mudanças , preferem continuar com o mesmo professor o ano todo, ou seja, a figura do professor mais uma vez é de fundamental importância no processo escolar. Outro fator qualitativo é que o aluno tem a vontade de aprender, mas o constrangimento por vezes o impede de fazer as aulas.

    Percebe-se também que tem alunos que não querem mudar de modalidades, mas vimos também que alguns deles são atletas. Ficando assim mais que justificado as suas respostas, pois como são atletas da escola preferem fazer na EF o mesmo esporte que representam a escola.

Concluindo

    Podemos chegar as seguintes conclusões:

  • Cuidar do corpo e da saúde são referências centrais dos alunos quando eles pensam para que serve as aulas de EF, pois através dos meios de comunicações o cuidar do corpo e da saúde é um fato comum. E na escola a disciplina que mais se aproxima do movimento corporal é a EF.

  • Mais de 80% não vêem na EF uma disciplina legítima na escola. Ou seja, ela pode ser uma disciplina descartável.

  • Mais de 50% dos alunos querem algum tipo de mudança, seja no horário ou no tempo da aula, mas principalmente na diversidade de conteúdos.

  • Mais de 50% dos alunos não vêem nesta forma organizacional do CETEP - Barreto uma forma tão “ideal” para o contentamento mais amplo dos alunos da EF na escola.

  • Mesmo com uma maneira diferenciada de organizar a EF, as representações dos alunos dessa escola não parece muito das representações encontradas em alunos de outras escolas.

  • Desta forma, acredito para que a EF na escola se torne mais legítima, o compromisso na conduta pedagógica crítica do professor de Educação Física deve se fazer prevalecer sob qualquer forma dita “ideal” para a EF Escolar.

Referências bibliográficas

  • GADOTTI, M. (1991). Educação e Poder. São Paulo: Cortes Editora.

  • KUNZ, Elenor (1994). Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: UNIJUÍ.

  • LIBÂNEO, José C. (1995). Didática. São Paulo: Cortez Editora

  • LOVISOLO, H. (1997). Estética, Esporte e Educação Física. Rio de Janeiro: Sprint.

  • SILVA, Tomas Tadeu (1999). Documento de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica.

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