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Análise do chute de bola parada em indivíduos não praticantes de futebol

Analysis of kick ball stopped in non practicing soccer

 

*Alunos do Curso de Educação Física

Universidade Presbiteriana Mackenzie

**Docentes do Curso de Educação Física

Universidade Presbiteriana Mackenzie

***Professor Associado da Faculdade de Educação Física da UNICAMP

****Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus Bauru

Faculdade de Ciências – Departamento de Educação Física

(Brasil)

Carlos Alberto Abujabra Merege Filho*

Elias de França*

Vinicius Barroso Hirota**

André dos Santos Costa**

Ademir de Marco***

Carlos Eduardo Lopes Verardi****

vhirota@mackenzie.com.br

 

 

 

 

Resumo

          No futebol, o jogo implica ao futebolista estar pronto para atender as exigências delineadas em momentos táticos diferentes. Os fundamentos do futebol otimizam sua participação em uma partida, porém, uma correta execução dos movimentos pode garantir sua eficiência no jogo. Destes fundamentos destacamos o chute, executado com os membros inferiores, caracteriza-se principalmente por ser um recurso em jogadas ofensivas, em movimento ou parada. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi de avaliar a habilidade do chute em indivíduos não praticantes da modalidade. Através de uma pesquisa descritiva atendemos o objetivo seguindo o protocolo proposto por Mor-Christian em 1979. A amostra foi composta por 48 indivíduos de ambos os sexos com idades entre 19 e 43 anos, alunos do curso de Educação Física de uma Universidade particular do Estado de São Paulo - Brasil. A média do Arco 01 foi de 15,92 pontos, o Arco 02 média de 3,83 pontos, o Arco 03 apresentou uma média de 4,75 pontos; por fim, o Arco 04 a média foi de 10,33. A partir dos resultados observamos que o Arco 01 foi o que obteve a maior pontuação em relação aos outros arcos. Concluímos que, os arcos inferiores demonstraram ser mais propícios a acertos em comparação aos arcos superiores para indivíduos não praticantes de futebol.

          Unitermos: Futebol. Chute. Habilidade motora específica.

 

Abstract

          In the soccer game, the player needs to be ready to attend the outlined requirements in differents extrategic moments. The fundamentals of soccer optimize their participation in a game, however, a correct execution of the movements can ensure their efficiency. From those fundamentals, we highlight the kick executed with the lower limbs characterized mainly by being an appeal of offensive played moving or stopped. Therefore, the objective of this review was to evaluate the kick's ability in the non- practitioners of this modality. Through a descripitive search, the objective followed by the protocol proposed by Mor-Cristian in 1979 was reached. The sample consisted of 48 individuals from both sexes, aged between 19 and 43 years old, students of Physics’ Education of a private University in the State of São Paulo - Brazil. The average of target 01 was 15.92 points, target 02 was 3.83, target 03 showed an average of 4.75 points and the target 04 had the average of 10.33. From the results we can observe that the target 01 have received the highest score over the other arcs. We conclude that the lower arches shown to be more likely to hit compared to the upper arches as being individuals who do not practice soccer.

          Keywords: Soccer. Kick. Specific motor skills.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 163, Diciembre de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Durante a realização do jogo de futebol, os jogadores executam diversos fundamentos para alcançarem os objetivos delineados em diferentes momentos em uma partida, que exige do futebolista o máximo de aperfeiçoamento das técnicas deste desporto. Um dos fundamentos se não o mais importante do futebol é o chute, que é um fundamento executado pelos membros inferiores do individuo, e representa a melhor forma de alcançar o objetivo principal do jogo, o gol (AMADIO; SERRÃO, 2004).

    Para Frisselli e Mantovani (1990), um grande número de gols efetuados durante as partidas de futebol é concretizado pelo chute, esta execução pode ser efetuada de diversas maneiras, sendo necessário que o praticante tenha conhecimento da forma correta de execução, a fim de atingir ótimo nível de eficiência no movimento requerido.

    Neste sentido, a forma correta de execução do chute é descrito de diferentes formas (TAGLIARI, 2009; AMADIO; SERRÃO, 2004; WICKSTROM, 1975 citado por REILLY; WILLIAMS 2003) sendo divididas em fases, porém, todas propõem o mesmo objetivo, a transferência de velocidades angulares das articulações para velocidade linear no contato com a bola, que nada mais é que a correta ordenação das fases e dos movimentos do chute, simulando um chicote (CARR, 1998).

    Assim, o chute de bola parada do futebol pode ser divido em quatro fases:

    A 1ª fase é a de recuo, na qual a perna que chuta é primeira recuada e fletida sobre o joelho. Simultaneamente, a perna de apoio encontra-se ao lado e ligeiramente atrás da linha da bola (AMADIO; SERRÃO, 2004). Ainda nesta fase, Carr (1998) nos esclarece ao destacar que quando acontece este recuo da perna que chuta, a musculatura anterior envolvida na execução do movimento alonga-se gerando uma capacidade de produzir maior força, em uma longa distância, em maior período de tempo. A esse respeito, os músculos glúteo médio, semitendinoso, semimembranoso exercem função agonista neste momento, enquanto há o alongamento do vasto lateral e vasto medial que exerceram função antagonista (AMADIO, SERRÃO, 2004);

    A 2ª fase é a de balanço (WICKSTROM, 1975 citado por REILLY; WILLIAMS 2003), onde Kollath (1996) descreve como sendo um movimento para frente que se inicia pela rotação da perna de apoio sobre o quadril e pelo avanço da coxa para frente. Para os autores, nesta fase, a perna encontra-se ainda fletida sobre o joelho. Ainda neste momento, iniciam-se os movimentos produtores de força, específicos, importantes na geração de um grande potencial muscular que irá posteriormente ser transferidos para a bola em velocidade linear. A musculatura nesta fase deve aplicar uma força na intensidade correta (CARR, 1998), além disso, para o chute, Amadio e Serrão (2004) nos explicam a existência de uma complexa coordenação na ativação entre os músculos agonistas e antagonistas, tendo cada um sua importância no movimento e no desempenho da habilidade.

    A fase de número 03 é caracterizada em um momento precedente o contato do pé de chute com a bola, onde a coxa começa a desacelerar até que esteja praticamente parada quando ocorre o contato com a bola (WICKSTROM, 1975 citado por REILLY; WILLIAMS 2003; KOLLATH, 1996).

    A 4ª e ultima fase é a de finalização. Nesta fase o membro inferior (perna de chute) permanece em extensão e depois desse momento começa a fletir (WICKSTROM, 1975 citado por REILLY; WILLIAMS, 2003; KOLLATH, 1996), também sendo denominada como fase de continuidade ou acompanhamento (CARR, 1998). Toda a velocidade produzida pelas articulações será transferida para a bola. No chute de precisão em comparação ao de força, parece existir neste momento uma diminuição da velocidade do pé em direção à bola, como resultado de uma reformulação cognitiva do individuo para propiciar a bola uma direção mais precisa (AMADIO; SERRÃO, 2004). Neste sentido, para Tagliari (2009), a execução do chute engloba diversos fatores, porém, em específico para o chute de precisão, deve-se ater para uma diminuição da força.

    Ainda que o indivíduo, aprendiz no chute, apresente a correta execução o padrão maduro da habilidade do chute requer que este passe por uma formação motora diversificada, estratégia esta que permitirá o desempenho da habilidade do chute com maior segurança durante a vida adulta (ROAH; HIROTA, 2011). Por outro lado, deve ser lembrado sempre que os processos de aprendizagem motora, não ocorrem de forma dissociada do meio no qual o indivíduo participa, portanto, diferentes fatores do desenvolvimento humano estão presentes neste contexto, fatores sociais e culturais (meio ambiente e tarefa) e aspectos individuais como os psicológicos (percepção, emoção, cognição) e a própria motivação que constitui importante variável para o processo de aprendizagem, além do histórico pessoal (HIROTA; DE MARCO, 2004).

    A execução do chute requer do individuo uma aprendizagem motora continua, na qual se deve praticar a habilidade para aprender e não desaprendê-la (BENDA, 2006). Sob esta ótica, Tagliari (2009) salienta a necessidade de treinamento sistematizado para que alcance os objetivos específicos do futebol em indivíduos jovens e adultos.

    No entanto, na ausência de um treinamento sistematizado, é plausível supor que o enriquecimento motor, durante as vivências esportivas anteriores, irá subsidiar a prática esportiva durante a vida adulta (ROAH; HIROTA, 2011), portanto, diante deste contexto hipoteticamente analisado para a aquisição da habilidade de chutar por indivíduos não especializados na tarefa, é que os objetivos deste estudo foram planejados e se justificam. Assim, o objetivo do presente estudo foi o de analisar a habilidade do chute de bola parada do futebol em indivíduos de ambos os sexos não praticantes da modalidade.

Descrição metodológica

Tipo de pesquisa

    Esta pesquisa se caracterizou como sendo do tipo descritiva, pois esta observa, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los (CERVO; BERVIAN, 2004).

Amostra

    A amostra foi composta por 48 indivíduos de ambos os sexos com idades entre 19 e 43 anos, alunos do curso de Educação Física de uma Universidade da Cidade de Barueri, São Paulo Capital – Brasil.

Instrumentação e procedimentos para coleta de dados

    Para analisar a habilidade do chute, utilizamos o teste de Mar – Christian de Habilidades e Destrezas Gerais do Futebol (1979), citado por Tritschler (2003). Os recursos materiais utilizados foram: 03 bolas oficiais de campo da marca penalty™, uma corda de 9,0 metros de comprimento, 04 arcos de alumínio, 1 trena de 50 metros e uma planilha de anotação.

    Para o procedimento da coleta de dados, foi determinada uma distância de 14,50 metros do centro do gol para a zona de cobrança. Os arcos (alvos) foram distribuídos no gol de acordo com o protocolo de Mor-Christian (1979), citado por Tritschler (2003), sendo dois fixados na intersecção da trave superior com as traves laterais (dois alvos superiores) e nas traves laterais com o gramado (dois alvos inferiores). Foram determinadas 04 tentativas para cada alvo, totalizando 16 chances, observe a figura:

Figura 01. Esquema do campo e alvos para o Teste de Chute de Mor-Christian (TRITSCHLER, 2003)

    Para atribuição dos escores (pontos), a cada acerto no arco (transpassar a bola no meio do arco, ou tocar no arco da vez) foram computados 10 pontos, e a cada acerto em outro arco, que não fosse o da vez, foram atribuídos 04 pontos. Desta forma a pontuação máxima do teste foi de 160 pontos, pontos estes divididos por cada arco.

    Durante a coleta dos dados não foram dados nenhum tipo de feedback para os avaliados, ou seja, nenhuma instrução verbal, ou visual foi determinada, pois havia o interesse de não influenciar durante as execuções dos sujeitos.

    Foram adotados procedimentos éticos que garantiram a participação voluntária dos universitários, bem como estes foram informados que poderiam desistir a qualquer momento dos testes e também ficou assegurado que os nomes e o local de realização da pesquisa seriam mantidos no mais absoluto sigilo.

Tratamento dos dados

    Os dados foram tratados por meio de cálculos da estatística descritiva, sendo contabilizados os números de acertos dos participantes e com formulação da média e do desvio padrão.

Resultados e discussão

    A análise dos dados obtidos com o desempenho da habilidade motora do chute no futebol de indivíduos universitários, não treinados, permitiu observar que existe uma diferença entre os acertos no diferentes alvos identificados pelo protocolo aplicado.

    O gráfico 01, mostra a média total do grupo dividido por arco. A média esta descrita em pontos, seguindo o modelo de tratamento de dados.

Gráfico 01. Média parcial de pontos obtidos pelos voluntários da pesquisa

no desempenho da habilidade de chute em cada um dos quatro arcos

    Analisando o gráfico 01, o arco 01 (inferior direito) apresentou uma média de 15,92 (±2,47) pontos. O arco 02 (superior direito) apresentou uma média de 3,83 (±1,12) pontos. Os arcos 03 (superior esquerdo) e 04 (inferior esquerdo) apresentaram uma média de pontos de 4,75 (±1,51) e 10,33 (±1,82), respectivamente. Com base nos resultados, podemos observar uma diferença significativa entre as médias de pontos por arco.

    O arco 01 apresentou a maior média, seguido do arco 04 e 03. O arco 02 foi o que obteve uma menor média. Desta forma, pode-se induzir que os arcos 01 e 04 mostraram-se mais suscetíveis a acertos em indivíduos não praticantes de futebol, do que os arcos 02 e 03. No tocante a localização espacial dos arcos no gol, os que apresentaram maior resultado estão localizados nos dois cantos inferiores do gol (01 e 04), já os arcos 02 e 03 se localizam nas intersecções das traves laterais com o travessão, ou seja, cantos superiores.

    Corroborando parcialmente com os achados do presente estudo, Soares e Merege Filho et al. (2010) em um estudo com universitários, observaram maior incidência de acertos para o arco 04 em relação aos demais, que obtiveram resultados semelhantes entre si. Com isto é possível inferir que para a execução do chute nos arcos 01 e 04 em relação aos arcos 02 e 03, indivíduos não praticantes de futebol teriam menor exigência de precisão e menor domínio técnico para projetar a bola contra estes arcos.

    Apesar do presente estudo não explorar a análise mecânica do chute nos indivíduos desta amostra, a hipótese de que estes variaram a forma como executaram a habilidade de chutar entre os arcos, pode ser pensada novamente. A exigência de precisão dos arcos 02 e 03 e o domínio técnico dos indivíduos se relacionam diretamente com a forma de execução do chute.

    Tagliari (2009) utilizando dicas de performance na habilidade do chute de bola parada, observou que indivíduos inexperientes na modalidade obtiveram melhores resultados no teste de chute, após receberam dicas verbais de execução corretada da habilidade.

    Como descrito no processo metodológico, em nosso estudo nenhuma instrução, ou seja, nenhum feedback, foi oferecido durante a execução dos chutes.

    Partindo da premissa de que indivíduos praticantes de futebol apresentam maior experiência e competência técnica para um dos fundamentos que é o chute, novos estudos se mostram necessários e adequados para o estabelecimento de comparações, uma vez que se espera que os resultados destes indivíduos sejam superiores para os chutes nos arcos 02 e 03 quando comparados ao desempenho obtido pela amostra deste estudo.

Considerações finais

    A análise dos resultados obtidos neste estudo nos permite constar que os arcos inferiores (01 e 04) demonstraram ser mais propícios a acertos em comparação aos arcos superiores (02 e 03) em indivíduos não praticantes de futebol, podendo estar relacionado com a menor exigência de precisão e com o menor domínio da técnica durante a realização do chute para estes sujeitos.

    A vivência esportiva nesta modalidade é um fator importante no desempenho técnico de praticantes de futebol, porém, o enriquecimento do repertório motor se torna relevante para que o indivíduo possa realizar atividades esportivas com maior segurança e satisfação.

    A oportunidade de prática do futebol se estende para diversos contextos na sociedade atual, mas é indispensável o cuidado para que esta não se torne um meio para o abandono ou frustração no esporte por parte do praticante que inicia esta modalidade.

Referências

  • AMADIO, A.C.; SERRÃO, J.C. A biomecânica e seus métodos para análise de movimentos aplicados ao futebol. In: BARROS NETO, T. L.; GUERRA, I.. Ciência do Futebol. Barueri, SP: Manole, 2004.

  • BENDA, R.N. Sobre a natureza da aprendizagem motora: mudança e estabilidade... e mudança. Rev. Bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, p.43-45, set. 2006.

  • CARR, G. Biomecânica dos esportes: um guia prático. São Paulo: Manole, 1998.

  • CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.. Metodologia Cientifica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

  • FRISSELLI, A.; MANTOVANI, M. Futebol, Teoria e Prática. São Paulo: Phorte, 1990.

  • HIROTA, V. B.; DE MARCO, A.. Resolução de uma tarefa (saque) em habilidade não treinada em uma aprendizagem motora no tênis de mesa: um estudo piloto. In: Anais 3º Congresso Científico Latino Americano de Educação Física - UNIMEP, 1º Simpósio Latino Americano da Universidade do Futebol e 1º Simpósio Latino Americano de Motricidade Humana, Piracicaba, 2004.

  • KOLLATH, E. Bewegunganalyse in der Sportspielen. Sport & Buch Strauss, Köln (1996).

  • REILLY T, WILLIAMS A. M, editors. Science and soccer. 2nd ed. London: Routledge, 2003.

  • ROAH, R.; HIROTA, V.B. Analise da habilidade motora ‘drible’ do futebol e resposta da frequência cardíaca em alunas não treinadas. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 159, Agosto de 2011. http://www.efdeportes.com/efd159/analise-da-habilidade-drible-do-futebol.htm

  • SOARES, F. R.; MEREGE FILHO, C. A. A.; FRANÇA, E. ; HIROTA, V. B.; DE MARCO, A.. Avaliação da habilidade motora chute do futebol: um estudo com universitários.. In: 3º Simpósio de Iniciação Científica-UNIABC, 2010, Santo André. 3º Simpósio de Iniciação Científica-UNIABC, 2010.

  • TAGLIARI, C.C. A utilização aguda de dicas na performance do chute de precisão no futebol. Curitiba, 2009. Dissertação de Mestrado em Educação Física, Universidade Federal do Paraná.

  • TRITSCHLER, K. A. Medida e Avaliação em Educação Física e Esportes de Barrow & McGee. Barueri, São Paulo: Manole, 2003.

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